segunda-feira, outubro 15, 2007

AS SEREIAS E OS DRAGÕES

Venho observando ao longo da vida que a contenda da Piedade (Poesia) com a Violência (Política) é repetitiva, incansável. Para retroagir apenas aos tempos pré-modernos, vemos o sanguinário Napoleão esfarelar o formoso legado enciclopedista de Rousseau e Voltaire. Depois, já nas manhãs do século vinte até às infelizes noites de nossos dias, pontificam as marcas dos revezes do paradoxo entre a idéia e a imagem, a teoria e a prática. Estamos ainda infestados de sangue, suor e lágrima das unhadas e dentadas dos gorilas e crocodilos, transparentes nas terríveis feições de Stalin, Lênin, Mao, Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Vargas, Perón, Pinochet, Prestes, Fidel, Guevara, Kennedy, Médici, Figueiredo, Golbery, Hussein, Buss (pai e filho), Bin Laden, Lula, PT e Quejandos. São os dragões das peripécias do bicho-homem, que se alimenta do próprio veneno contaminador. E quanto às sereias ideológicas supracitadas? Ah, meu Deus, infelizmente tenho que fechar os olhos e comprimir o coração para citar os belos e gloriosos nomes dos inocentes úteis chamados Marx, Gorki, Brecht, Graciliano, Frei Beto, Trotsky, Althusser, Henfil e o Irmão Betinho, os sociólogos de esquerda e tantos outros intelectuais bem intencionados, todos ignominiosamente traídos pelos gulosos oportunistas (gorilas e crocodilos) de plantão. Plantão do subsolo da tortura e do extermínio. E pensar que tantas vezes entoei loas às referidas sereias ideológicas, que ingenuamente municiaram as lâminas e os estampidos do terror “revolucionário” dos incontentáveis prepotentes. Que sempre ágeis e aptos passam da ilusão teórica (do idealismo que segundo Nietzsche não é uma cegueira, mas sim uma covardia) à prática premente e acachapante. Deus que me perdoe. Se o arrependimento matasse, ah, não estaria agora aqui para, mesmo de longe e timidamente, confessar meus balbucios de “mea culpa” no logro das convicções abalroadas: participar da fundação do diretório do pt ( grafia minúscula mesmo) local, votar e pedir votos três vezes (há uma frase feita na cultura popular que diz que errar “três vezes é sinal de merecer a forca”) a favor do presidente que não sabe de nada que acontece nem mesmo na sala ao lado de seu gabinete presidencial. Ah, mas pelo menos tenho desferido minhas diatribes aos que, abertamente convictos, professam e praticam não só a violência de ação (a empáfia das fraudes, a indecorosidade comportamental) como a violência de situação (o guloso apropriar-se dos bens materiais e imateriais, públicos e populares), de acordo com a espúria norma do arrivismo mais deslavado e impune do nosso cada vez mais empobrecido país. Empobrecido material e moralmente.