SOCIALISMO INSEPULTO
Comecei a publicar meus textos em livros, jornais e revistas a partir da vigência do regime militar, sob a rígida censura e o pérfido monitoramento, recursos casuísticos que tanto sujaram as páginas de nossa história, sem, no entanto, jamais ter sido molestado fisicamente pelos inescrupulosos fiscais de plantão diuturno. Conseguia levar adiante meu trabalho de crítica indireta ao cerceamento das liberdades não só dos artistas e intelectuais como de toda a população. Sempre que os desconfiados indagavam se eu era comunista, eu tinha a resposta pronta: não sou comunista nem capitalista, sou democrata. Na medida do possível alinhava meus esforços intelectuais à causa dos opositores, não como militante socialista, que para mim sempre foi apenas um recurso teórico, afeito mais ao campo da dialética do que da ação política. Mas comungando do mesmo sentimento de repulsa à violência de ação e de situação, nacionalmente imposta, restringia-me, como disse, ao malabarismo da crítica indireta de dar uma batida no casco e outra na ferradura. Até hoje sinto-me bem ficando alheio aos radicalismos de direita e de esquerda, ambos sobremodo desumanos, na minha opinião. Felizmente o céu mundial está hoje mais desanuviado, com a conversão do totalitarismo, excetuando apenas os nojentos respingos cubanos, venezuelanos e brasileiros, todos a reboque, por assim dizer, do fundamentalismo de outras regiões secularmente atritadas. Alexander Soljenitsin (1918-2008), autor do livro famoso (e merecedor do Prêmio Nobel) “Arquipélago Gulag”, a maior e mais poderosa condenação de um regime político (ver a revista VEJA, de 13/08/08), que mereceu do próprio Nikita Kruchev a aprovação editorial com as palavras: “Existe um stalinista dentro de cada um de nós. É preciso extrair esse mal”. Exilado de seu país em 1974, Soljenitsin foi viver numa cidade do interior dos EUA, onde continuou a escrever seus romances históricos, sem se encantar “com a democracia e a liberdade de mercado”, condenando no Ocidente o que chamou de “degeneração espiritual, cujos sintomas seriam a televisão e o rock”. Sem jamais perder a fé na queda completa do comunismo, que a história confirmou: a União Soviética dissolveu-se em 1991. E o da China não passa, hoje, de um capitalismo disfarçado. Na reportagem especial sobre a Educação Brasileira, a revista VEJA de 20/08/08 desmonta a falsa idéia de que tudo vai bem no setor.Mostra à exaustão que tudo vai mal, muito mal: “Os melhores alunos brasileiros ficam nas últimas colocações – abaixo da qüinquagésima posição em competição com apenas 57 países”. A pedagogia oficial prega abertamente os princípios esclerosados de um socialismo falido, que apenas decepcionou onde ao longo do tempo vigorou. Lê-se na página 77 o que as jornalistas Mônica Weinberg e Camila Pereira expõem como razão da falência: O comunismo destruiu a si próprio em miséria, assassinatos e injustiças durante suas experiências reais no século passado.... Os professores esquerdistas veneram muito (ainda!) aquele senhor que viveu às custas de um amigo industrial, fez um filho na empregada da casa e, atacado pela furunculose, sofreu como um mártir...Fariam tudo por ele, menos, é claro, lê-lo”. Idolatram personagem sem contribuição efetiva à civilização ocidental como Che Guevara ( cujo único mérito é o de enriquecer os fabricantes de camisetas) e Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, ele goleia o físico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da humanidade, por 29 a 6 votos. O petismo no poder quer ressuscitar ou sepultar o socialismo de bandeira vermelha? Gustavo Ioschpe, no artigo que arremata a reportagem, é bem explícito: “Pela mesma razão que o Estado é laico, as aulas do Estado deveriam ser politicamente neutras”. O pior de toda a demonstração de miséria educacional é o que a pesquisa aponta como resultado (encomendado?): a maioria absoluta dos alunos, dos pais dos alunos e dos “professores” dos alunos, consideram que a educação no Brasil está boa, muito boa. Infelizmente é assim mesmo o resultado mais cômodo e digerível: os alunos não são inspirados a estudar, os pais não precisam preocupar com o futuro dos filhos, os “professores” não precisam ensinar – e assim os alunos “pensam” que estão indo bem; os pais batem palmas pela “excelência dos resultados”; os “professores” manterão seus empregos sem o menor temor de concorrência, uma vez que a mediocridade nivelou por baixo. Definitivamente?
1 Comments:
Lázaro, fazia muito tempo que eu não lia uma crítica tão profunda e coerente como a sua. Pelo jeito temos muito em comum mesmo; democracia (a de verdade!), Einstein e Soljenitsin.
Quanto a Che, tenho para mim que ele hoje só é reconhecido mesmo por conta da bela fotografia que lhe fizeram. Mas mesmo os que usam as camisetas que você diz, desconhecem o verdadeiro Che... Soubessem-lhe os profundos, não as usariam. Com certeza!
Copiei em papel seu belo texto; merece o carinho de enriquecer meus alfarrábios... Obrigado. Parabéns. abração
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