sábado, julho 12, 2008

O FILME DOS IRMÃOS COEN

No cáustico deserto texano a vilania mordaz do algoz vai à caça mortífera, ensangüentando a poeira do pedregulho. É um facínora por assim dizer ubíquo, inelutável e poderoso (o diabo em figura de gente?), dos que sabem fazer o bom ficar ruim e o ruim ficar pior? Bárbaro, fanático, niilista,, como diria o filósofo André Comte-Sponville. Nada o detém na prática da teoria negativa que assombra os caminhos circunstanciais, até onde a hediondez emplaca no deserto moral sua efígie terrorífica, estabelecendo ali o progressivo sortimento dos maus costumes. De tal maneira que a fera no homem fala mais alto, enquanto o sol chove no deserto os raios e trovões da mortandade serial. De tal maneira que amedronta até o cinéfilo inveterado, pois que a hediondez crestou de vez a vegetação da coragem, imobilizou de vez a piedade da educação moral, disseminou de vez a insânia da sangria desatada da tortura, do martírio, do que mata sem sepultar, a própria humanidade. Mas...: repare bem numa das cenas finais: a vítima não lança seu último olhar ao espectador, dizendo sem dizer, que há algo idêntico e talvez pior no meio de vocês aí, na platéia abismada? É assim mesmo que ele fala antes de exalar o último suspiro?