JOAMIR E MIRAFÉLIA
Cada estrada é uma linha de demonstração. A lembrança de Mirafélia é a boa notícia. Se não há caminho assinalado, é nos ramos fechados que devo entrar e seguir. Se uma folha nova brilha e acena da árvore, é o sinal dela a chamar-me. Suas palavras são escassas e grandes como as dos livros de rezas, que cheiram a rosas imarcescíveis: mas apenas uma delas, dita ao acaso no instante apropriado, alimenta-me a semana inteira. De manhã as palavras sobem à laje da tapera, levadas pelo sol ruidoso e temporão; de noite elas descem carregadas de silêncio, descansadas dos atavios intemporais. A laje não apenas escorrega, também balança e roda, afunda aqui, submerge ali, igual uma nave avariada no mar bravio. O bom de tudo é um açude vulnerável, o ruim de tudo nem precisa se defender: ataca, ciclópico. O duelo sem trégua dos dois, é o que garante a vida no planeta? Com o sonho nas mãos no leve corpo a corpo, ela dança comigo no baile da Casa do Rosário. Ai vêm os afagos de seus haveres, a brisa da janela, o vento da porta, as estrelas dos olhares do céu, as belas canções encadeadas. As cores trocam de cores algumas vezes: quando os seios dela esbarram no meu peito, onde bate um coração aprisionado!
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