FRAGMENTOS TEATRAIS (*)
- Um ator a outro ator, durante os ensaios de uma peça dramática: “Se teus esforços forem vistos com indiferença, não desanime: o próprio sol, ao nascer, dá um espetáculo todo especial e, no entanto, a grande maioria da platéia continua dormindo”. Assim falava um autor, cujo nome esqueci. - Uma atriz, recitando um texto de almanaque, humorístico: “Não há motivo algum para você se incomodar. Pode ser que seja bem sucedido na vida ou pode ser que seja mal sucedido. Se for bem sucedido, tudo bem. Se for mal sucedido, das duas uma: ou você conserva a saúde ou fica doente. Se ficar doente, das duas uma: ou você sara ou morre. Se morrer, das duas uma: ou você vai pro inferno ou pro céu. Se for pro céu, tudo bem. Se for pro inferno, terá que cumprimentar tantos amigos e conhecidos que não terá tempo para se incomodar”. - Um ator, recitando: Pelas estradas da vida subi morros, desci ladeiras e afinal ao meu cão eu digo: se entre amigos encontrei cachorros, entre cachorros encontrei-te, amigo. - Uma atriz: Todo mundo se admira da macaca fazer renda. Pois eu já vi uma perua ser caixeira duma venda. - O ator: A maré que enche e vaza, deixa o mangue a descoberto. Vai-se um amor, vem outro amor, nunca vi nada mais certo. - A atriz: Meu amor é uma laje, bem lá no meio do mar. Dá-lhe o vento, dá-lhe a onda, e ela nunca sai do lugar. - O ator: Alecrim da beira d’água, chora a terra que nasceu. Eu também vivo chorando pelo amor que já foi meu. - A atriz: A lua entrou na nuvem, todo o mundo escureceu. Não pode encontrar ventura, quem sem ventura nasceu. - O ator: Botei meu pé no estribo, meu cavalo estremeceu. Adeus vocês que ficam, quem vai embora sou eu. - A atriz: Rodai comigo, canoa, rodai no ribeirão que vai pro mar. Se é de amor que se vive, que morra quem não sabe amar. - O ator: No enterro da raimunda, foi aquela confusão: uma parte de seu corpo ficou de fora no caixão. - A atriz: A rosa branca se soubesse o cheiro que a roxa tem, ficava de noite no sereno pra ficar roxa também. - Ator: Era uma vez, na eterna caatinga do velho nordeste, estando um bando de retirantes em volta de um cacto, um deles levantou-se e disse: era uma vez, na mísera favela do Rio de Janeiro, estando seis desempregados em torno de uma mesa de jogo do bicho, um deles levantou-se e disse: era uma vez, na enorme bancada da assembléia legislativa de todo o gigantesco país, estando um bando de parlamentares aprovando a lei de aumento dos próprios proventos, um deles levantou-se e disse para os contribuintes: pá! Pá! Pá! – Fazendo o gesto obsceno de quem está a mandar balas de fogo contra a platéia incauta e boquiaberta.
(*) ´Fragmentos não aproveitados na peça BAR, DOCE LAR, cuja primeira e única encenação no Theatron (Divinópolis, MG) foi premiada, em 1997. As trovas são de autores anônimos do cancioneiro popular brasileiro.
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