sexta-feira, dezembro 11, 2009

AS CATARATAS OCULARES

Insone e atrelado na cama, depois da delicada cirurgia de cataratas, hibernando na noite e dia de cada minuto, a desfolhar cada instância multiplicada da referida cirurgia. Ainda assim (inabilitado na semi-cegueira) eu via e sentia a chuva de versos sobre o telhado da casa (as pretéritas manhãs da realidade descontínua, refeitas nas vindouras noites anímicas descontínuas). Agora Ouço que da mangueira sobre parte da casa desaba a madura e suculenta manga-rosa, quebrando mais uma telha do desejo de estar bem longe de mim. Agora a fruta pendida no galho quer voar? É um pássaro que acorda e canta? Uma flor cheirosa abrindo suas pétalas? É o apelo do meu íntimo a penar a disfunção hipermetrópica, chegando ao ponto que chegou? Será que mesmo assim alcançarei alguma doçura nos olhos vendados? Agora as mangas-rosas chovem e cantam nas profundezas de um sol ainda noturno, molhando e lavando minha dor estética, no momento parcialmente anestesiada? É assim que o rio do sono segue o curso no rumo do mar de outras águas, encimado de andorinhas augurando-me boa-sorte na travessia desta para a outra vida.