quinta-feira, janeiro 14, 2010

MISTÉRIO MAIS RASTEIRO

Morosa na infância, amorosa na elegância. Silenciosa seguia a lesma na superfície rugosa do passeio, ladeado de mato rasteiro... Fiquei bobo de ver! A lesma, o molusco da família dos vaginúlidas (uma fada em sua moradia andante, diria Proust): a beleza minúscula, inimaginável, que dá vontade de pegar e levar pra casa... A graça esperta na lerdeza, a conduzir a valva de nácar ou de esmalte (que ela mesmo criou!), crivada de pintas e desenhos delineados no mais fino equilíbrio de vida requintada, garrida, abrigada “no torreão ameiado de seu búzio”, como diria Proust, de uma de suas raparigas em flor, nas imorredouras praias de Balbec. De onde vem, Para onde vai, pergunto à vida insólita, que ela carrega nas costas, (a)morosamente no passeio da rua de meu bairro.