segunda-feira, março 01, 2010

INFERÊNCIAS

TEATRALIDADE: “TOC-TOC” –comédia francesa de LAUREN BAFIIE, representada em São Paulo na direção de Alexandre Reineck, com Flávia Garrafa, Sérgio Guizé, Sandra Pêra, Marat Descartes,Andréia Mattar, Riba Carlovich e Caro Parra. TOC – Transtorno- Obscessivo-Compulsivo. Espetáculo hilariante, diante do qual o público começa a rir (e gargalhar) no primeiro minuto e não pára no decorrer dos outros noventa. O primeiro ator que entra em cena, um altão careca, manda um palavrão cabeludo ao outro ator que entra em seguida ( este obcecado pelo cálculo matemático). O público espantado, já ia renegar a chulice, quando a expressão fisionômica do altão mostra logo que é portador do tal de toc-toc (não confundir com o obsceno gesto do”ministro”). Na seqüência vão entrando os outros quatro personagens, todos portadores do tal transtorno. E aí a hilariedade contamina toda a platéia que lota o teatro. Ninguém (nem as pessoas do sexo feminino nem os idosos) estranha mais a linguagem, livre, espontânea, desabusada. Ao contrário – aceita-a com incessantes e copiosos aplausos. 

SENSUALIDADE: Acredito, superficialmente pensando, que o potencial sexual feminino é bem maior do que o masculino. Isso porque de um modo geral nas relações entre os dois, a mulher nem sempre precisa “agir” mas apenas “aceitar” o andamento do ato. No que toca à “oferta”, ela pontifica mais com seus dons e prendas, e ele “procura” mais, julgando-se elemento decisivo do ato, quando não passa de um coadjuvante que tem de agir e não apenas de aceitar. É por isso que ela consegue repetir o ato com muitos parceiros na mesma noite, proeza que ele normalmente não consegue. O que propicia a inferência que toda mulher tem em si mesma uma propensão para a libertinagem (se o lado psicológico quiser)? 

AVATAR: Na fila dos ingressos para ver o filme AVATAR (segundo o Aurélio a palavra quer dizer cada uma das encarnações de Deus; transfiguração; metamorfose), uma mocinha verbalmente articulada estava a dizer que ia ver a fita pela terceira vez. Exagero? Talvez. Vi e gostei, entendendo-a como uma metáfora sobre a transformação (destruição) da natureza pelo ser humano. De certa forma evoca, assustadoramente, o desmatamento da Amazônia. Um filme de efeitos gráficos espetaculares, mostrando um mundo diferente de uma forma igualmente diferente. 

LITERATURA. O crítico literário Wilson Martins, autor de “História da Inteligência Brasileira”, falecido recentemente, abre um imenso vazio na cultura do país, tão destratado neste aspecto, ultimamente. Dele o professor Alcir Pécora diz no caderno “mais!” da folha de SP que “num ambiente em que o jornalismo literário e de erudição já perdeu há muito tempo o prestigio diante da especialização universitária, compreende-se que Martins soe antiquado. (...) Quer dizer, quando a própria literatura sai de cena, o nome de Martins é só mais um que sai junto com ela”. 

IDÉIAS SOLTAS: - O amor não tripudia, não arenga, não ofende. Ao contrário, ele aplaude, estimula, felicita. Está perto do ódio, mas é o seu contrário. É a luz e a força da vida, enquanto que o ódio é o empurrão, o precipício da morte. - Adilson Roberto Gonçalves, de Lorena, SP, escreve em cartas do “Leitor” da VEJA de 17/02/10, sobre as chuvas em São Paulo: “A população ocupa áreas de várzea acreditando que a tecnologia é competente para drenar o local de forma permanente. Os aproveitadores apóiam essa versão porque dá votos. As águas saber ocupar seu lugar, coisa que nós não aprendemos ainda”. - Na mesma edição da revista, Sérgio Emiliano, de Piauí, informa que lá “os urubus voam apenas com uma das asas (com a outra eles abanam). São 40 graus eternos. Enquanto isso os políticos vão tirando proveito eleitoral da tragédia: são os famigerados carros-pipas, cestas básicas e poços tubulares em fazendas de amigos do governo”, etc. - Se a política virou corrupção é porque já estamos ns páginas do apocalipse. - O extraterrestre em AVATAR, o vampiro em CREPÚSCULO, o monstro em LOBISOMEM: três sucessos de bilheteria em todo o mundo. A humanidade está optando pela anormalidade? O ser humano está corrompido ou a realidade cotidiana está insuportavelmente enfadonha? 

CAINDO AOS PEDAÇOS. Estarrecidos, boquiabertos e impotentes, testemunhamos, lamentamos e sofremos, neste nosso tempo tão agressivo, a humanidade como que caindo aos pedaços em todas as partes do mundo. Terremotos, ciclones, enchentes, crise econômica, corrupção desmedida, violência social institucionalizada, mortos e mais mortes numa guerra diária não declarada entre os seres humanos e uma natureza ofendida e revoltada. Urge uma tomada de consciência para debelar pelo menos a parte que toca de responsabilidade do ser humano? Urge, sim. Urge!