segunda-feira, junho 28, 2010

O DIA DESTRUÍDO

I O dia ignóbil chega aos becos do velho arraial, traça seus ponteiros negativos na pança do enfeitiçado que vomita torresmos sobre as ervas daninhas, emporcalhando as ervas orvalhadas, que curam quebrantos e maus-olhados, em troca de rapaduras e zombarias, que aguçam as doentias influências dos infestados de maldições e dos descorçoados penitentes daqueles casebres caindo aos pedaços na beira dos caminhos desbeiçados. Antes de ontem uma flor regada no sereno espetava suas pétalas nos mastros de bambus dos ritos dos reisados? Por que ninguém mais está a favor do enfeitiçado? Por que todo mundo prefere alinhar-se à direita do poderoso? As nuvens escuras pintam e bordam nas alturas emergentes imagens dos reveses, e as trituradas facetas dos embriões, e as maceradas efígies dos bandidos; pintam e bordam os versículos do pináculo, de onde surge mais um dia destruído na estreita forma de uma estrela pífia, avermelhada nas olheiras e nas tranças e rabichos, a chover os foguetes das desavenças de um ex-amor da falida, extinta humanidade, da extinta sinceridade dos mutantes da atualidade. 

II O dia ignóbil chega ao arraial da Serra Negra do Curral. O pássaro leva a casa de pau a pique nas garras. A flor regada no sereno espeta as pétalas nos mastros de pombeiros. No açougue a rês e o suíno, esquartejados: asas sinistras nos ganchos de ferro em brasa. E debaixo das vísceras e em torno das gorduras e dos coágulos sanguíneos, os fariseus e os publicanos contam as moedas do ganho desleal. O dia ignóbil sobe na laje mais alta das redondezas e proclama que o Diabo agora é Deus. Uma estrela vermelha queima os caibros da casa, que desaba sobre as cabeças dos inocentes. Em vão.