FELIZES, OS NORMAIS
(Paráfrase de um poema de Roberto Fernandez Retamar, traduzido do castelhano por Marco Antônio C. Guimarães e publicado no jornal literário AGORA, de Divinópolis, MG, na edição de março de 1969, e republicado por mim em forma de paráfrase no livro “Mel e Veneno” (Edições Expresso, Divinópolis, 1984).
Não sofreram mãe demente, pai alcóolatra,
filho delinquente
Não amargaram a casa de
parentes,
nem choraram uma doença
incurável.
Esbanjando roupas e sapatos,
Eles vivem os inumeráveis
rostos da alegria,
atravessam crises e epidemias
incólumes,
eles que nasceram com a bunda
para a lua.
Eles de carro esporte e elas
de fio dental,
homens vestidos de trovão e
mulheres de relâmpagos,
altos funcionários, se querem
um emprego,
elegantes pleibóis, se não
querem.
São felizes como as aves, o
estrume, os chafarizes.
Mas que deem passagem aos que
fazem os mundos,
que não estorvem os criadores
de palavras sinfônicas
e outros sonhos.
Que não barrem a passagem dos
que são
mais dementes que as mães,
mais bêbados que os pais
mais delinquentes que os
filhos
e muito mais devorados por
amores calcinantes.
Que a esses réprobos devoradores
de paixões,
deixem ao menos deixem um
lugar no inferno.
É o quanto basta.
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