sexta-feira, janeiro 21, 2011

CUIDADO COM O ANDOR

“A grande quantidade de eventos climáticos extremos acontecendo ao mesmo tempo, dizem os climatologistas, está relacionada com o aquecimento global. Mais calor deixa a atmosfera mais instável, causando chuvas e nevascas mais intensas”. (Editorial da Folha de S. Paulo de 16/01/2011). O aquecimento global está instaurando uma fase (fatídica) na vida planetária. As conseqüências evidenciadas (abalos sísmicos, temperatura desarticulada, tempestades catastróficas, erupções vulcânicas, o diabo a quatro) repetem-se em muitas partes do mundo, causando tumultos e tragédias incontornáveis, deixando o enxame de prejuízos materiais e morais, além de tantas vítimas fatais. A civilização, que é causa, sofre a conseqüência. E todo o progresso científico dos especialistas e dos laboratórios está sendo insuficiente para domar a truculenta resposta da natureza ofendida. A chamada economia de mercado impõe suas múltiplas inovações na crosta terrestre, ignorando o preceito popular de que não se deve mexer (atritar) com quem (a natureza) está quieto. A monumental fabricação de lixo (excesso da produção industrial) das nações desenvolvidas e em desenvolvimento econômico, quebra o equilíbrio atmosférico através da acumulação dos copiosos corpos estranhos, ferindo a terra, o ar e a água, elementos primordiais para a salubridade da vida mineral-vegetal-animal. O que fazer? É o que o cientista e empresário perguntam ao homem comum, que cordialmente responde: oh sejamos mais modestos, não avancemos na lua pensando que ela é um queijo. Ele, claro, responde em off, dos bastidores da polêmica, de tal maneira que nem é ouvido. E aí vem aquela altercação de quem (o déspota) julga que quanto pior, melhor: “de quem é o mundo? Não é meu nem seu. Então foda-se o raimundo!” O Peru, maravilhoso país sob o ponto de vista paisagístico, contendo (segundo o cientista Marcelo Leite) 70% das geleiras tropicais da terra, “já perdeu mais de um quinto (446 km2) de seus 2.042 km2 de “nevados” desde a década de 60.” Em seu artigo “Da Arte de Enxugar Geleiras” ele explica que “existem indicações convincentes de que o sistema ecológico planetário não suportará a expansão continuada do consumo de recursos naturais”. Para se ter uma idéia da irresponsabilidade dos atuais mandatários do planeta: “O Protocolo de Kyoto, de 1997, mandava reduzir em 5% os gazes estufa das nações desenvolvidas até 2012”. Pois é. “Desde então, as emissões globais, em vez de diminuirem, subiram 16%”. Esses antropocentristas de carteirinha encaram a Natureza “como mero insumo para a engenhosidade humana” (o Marcelo conclui). Lembro-me de minha infância em Marilândia, quando nadava e pescava nos córregos (dezenas) afluentes do Rio Itapecerica, agradavelmente participando da convivência dos bichos e pássaros, peixes e insetos que não existem mais, a não ser na lembrança cada vez mais pálida. Naquele tempo os lavradores apenas roçavam os pastos e capinavam as roças, não derrubavam o arvoredo dos campos e cerrados, das matas e capoeiras. Tudo virou fumaça e cinza através dos machados e moto-serras, para alimentar o inferno urbano das siderurgias movidas a carvão vegetal. Os carvoeiros da cidade engoliram os fazendeiros do meio rural, os lavradores da roça viraram operários urbanos. E foi assim que a vaca foi para o brejo. Hoje o país produz 260.000 toneladas de lixo por dia. O triplo do da China. Estima-se (diz o artigo sobre a SUSTENTABILIDADE, da revista Veja) que um bilhão de pessoas no mundo não tenha acesso a uma fonte de água limpa para beber..... O planeta acumula 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos de água.... O problema é que a água doce, apropriada ao consumo humano, corresponde a apenas 2,5% do total. “É preciso tomar uma decisão e reconhecer que o crescimento econômico consome recursos e produz resíduos que degradam o ecossistema” (inviabilizando) “a capacidade da espécie humana para se adaptar às mudanças”. É assim que Robert Constanza e Joshua Farley concluem o alentado artigo, com a pergunta mais do que necessária: “O prazer de possuir carros mais potentes é maior do que o de desfrutar amizade, família, água e ar limpos?... Temos, pois que optar por um futuro sustentável e desejável ou um declínio catastrófico”.... Ainda bem que nem todas as pessoas do mundo estão cegas, surdas e mudas, não é mesmo? Já existiu uma época na História em que as pessoas não podiam contradizer o sistema político implantado aleatoriamente. Quem o fizesse esturricava-se nas fogueiras da Inquisição e de outras Intolerâncias. Hoje a diversificação das teorias pensamentais abre o leque das discussões e muita derrapagem perigosa tem sido evitada. Mas, mesmo assim, a ordem que sempre vem de cima (que não é mais de um Deus aleatório, mas sim do chamado poder econômico, transitório e fundamentalmente corrupto) é imposta de forma ditatorial e virulenta, doa a quem doer desde que beneficie os cupinchas de plantão. Eles, meros demagogos inconseqüentes, não têm o menor cuidado com o andor, mesmo sabendo que o santo que carregam é de barro.