quinta-feira, fevereiro 17, 2011

PINGOS E RESPINGOS

Ronaldo Fenômeno. Comovente a pública despedida do craque Ronaldo dos fervorosos palcos do futebol mundial. Acompanhei sua trajetória desde quando revelou-se no CRUZEIRO como uma pessoa excepcional não apenas dentro do campo, na qualidade de um craque inigualável, como na vida comum, sendo como sempre foi: uma pessoa simples, bonita, briosa, amistosa, honesta e honrada. Mas não entendo porque a mídia de um modo geral teima em considerar o Pelé como o maior craque brasileiro de todos os tempos. Na verdade, apesar de ser também um craque fora de série, ele não chega aos pés do Ronaldo nem como jogador nem como pessoa humana. Até nos erros cometidos o Fenômeno foi sempre muito leal e elegante, ao contrário do Pelé, uma figura intolerante, raivosa e ambiciosa, para.não dizer picareta. Cinema, Literatura. Na comparação entre cinema e a literatura o filme tem uma vantagem óbvia: “nós vemos as cenas e ouvimos os diálogos. Mas na questão de pôr leitor dentro da cabeça do personagem ou dar-lhe consciência da vasta gama que a vida oferece em termos de status, o cinema se frustra”. Assim afirma o escritor e pesquisador Tom Wolfe. Violência e Piedade. Todo pesquisador da História da Civilização, se for atencioso e diligente, vai distinguir em cada ação humana ao longo do tempo uma característica piedosa (poética) ou violenta (política). Qualquer ação de qualquer pessoa civilizada, incluindo as crianças e os idosos, em qualquer parte do mundo e em qualquer parte do tempo pode ser definida por uma ou por outra dessas características comportamentais. Às vezes pode até haver uma espécie de transfusão de uma com a outra, mas sempre uma delas prepondera – e logo a definição de piedosa ou de violenta pode ser usada. A mesma correlação existe entre a poesia e a política? Não na teoria (que teoria é dialética), mas sim na prática – e mesmo não pegando o todo da ação, mas do que nela prepondera. E é por isso que um agente político pode ser piedoso (e poético) e um agente poético não pode ser violento nem político. A disfunção moral dos dois termos (poesia e política) é necessária para estabelecer a oposição, por assim dizer diametral, entre as duas formas e as duas imagens empregadas no sentido do comportamento humano, seja ele natural ou convencional. Ecologia. A umidade da floresta é recebida no ar e cai sob a forma de chuva – e assim parte da umidade retorna para a massa de ar, por meio da evaporação, a partir das superfícies complexas da floresta e por meio da transpiração das árvores e de outras plantas (Ilação de leitura de um artigo de Thomas Lovejoy). Grãos de Pólen. Netos: quando Deus tem pena de nós e manda anjos para alegrar-nos. Sexo: é quando se ama tanto que se tem até vontade de morar dentro da outra pessoa. Arte: “as pérolas são o resultado de uma contaminação. A arte por vezes também. A arte é quase sempre a transformação da dor” – Heloisa Seixas. Herança Remota. Um antepassado de GTO (na vida, na obra e, quase, no nome) é o que senti ao ler na página 155 do capitulo “O Artista Invisível” do livro “Ficar Ou Não Ficar”, de Tom Wolfe: “Por volta de 1280, Giotto era um pastorzinho que, aos doze anos de idade, foi certo dia para o prado com o rebanho e usou um pedaço de sílex para desenhar uma ovelha na face de um rochedo; foi quando o artista florentino Cimabue, de férias, por acaso passou perto e descobriu seu gênio infantil”. A parecença dos nomes GIOTTO e GTO, deu-me a lembrança de que foi mais ou menos assim que em Divinópolis o pintor Heraldo Alvim “descobriu” em 1967, ali mesmo na rua Rubis o genial escultor GTO. Os Olhos de Um Animal. “Os olhos de um animal que observam um homem são desconfiados e atentos.... O animal examina o homem através do abismo de sua não-compreensão” – John Coetzee. Se o animal pensa, o que faz é escrever poemas no pensamento, isso (assim mais ou menos) é o que quis dizer Derrida na abalizada opinião da poeta Maria Esther Maciel, que acrescenta: “Ninguém garante que um boi, uma serpente, uma águia ou um gato não tenham também uma visão do mundo, um olhar único, que a cada um deles pertence. Ninguém pode saber ao certo se eles estão, realmente, impedidos de pensar; ou se pensam, ainda que de uma forma muito diferente da nossa”.