sábado, dezembro 09, 2006

TURISMO RURAL? (*)

O que mais leva as pessoas em geral procurar o lazer regenerador é a beleza da saúde e a saúde da beleza – o mais lídimo usufruto da cultura popular. A beleza da saúde e a saúde da beleza são facilmente encontráveis na Natureza e na Civilização através dos sítios arqueológicos, ecológicos, paisagísticos e históricos. A região centro-oeste mineira, escassa de oferta e de procura turísticas convencionais, é fartamente dotada dessas virtudes antropogeográficas. Os nossos sítios arqueológicos são, no entanto, praticamente desconhecidos, quase virgens em seus refolhos. Quem já procurou e conseguiu descobrir, esmiuçar e divulgar os possíveis tesouros soterrados dos primitivos habitantes da região? As grutas, lapas e furnas estão aí nas encostas e nos grotões, nas cavidades e protuberâncias das rochas e dos terrenos, com suas inscrições parietais, os artefatos líticos e cerâmicos, as urnas funerárias, as ferramentas de lascas de quartzo, outras peças, ossos e sinais, aguardando os esclarecimentos de abalizadas pesquisas. Eu mesmo conservo algumas dessas raridades fósseis, encontradas na área rural de Marilândia. Não seria o caso de cada município mapear e tratar paleontologicamente de suas locas e grutas, de seus valos, muros de pedras, quilombos extintos, ruínas de escavações e de edificações, de seus lugares emblemáticos em geral? Não está na hora de aproveitar o embalo das experiências de outras regiões e levantarmos aqui os lineamentos geográficos das famosas Picadas de Goiás, através das quais a Minas Colonial descobriu o caminho da agricultura e da pecuária, anexando o Triângulo com todas suas boas terras de plantio e de pastagem? Não está passando da hora de os municípios de Itapecerica (a antiga Villa de São Bento do Tamanduá), Pitangui e Paracatu serem oficialmente integrados no chamado Circuito Histórico de Minas Gerais? Os três municípios não fazem parte das dez primeiras (grandes e auríferas) Villas criadas no Estado? Tanto ouro existia no Tamanduá que o rio que banha o lugar adquiriu o nome de Rio Vermelho. Hoje tem a maior jazida de grafite da América do Sul, um Arquivo Judiciário dos melhores de Minas, uma arquitetura que é um verdadeiro mosaico de estilos de épocas. E um de seus Distritos (a já referida Marilândia, que se chamava Desterro até 1930) possui a Igreja mais antiga de toda a região, a de Nossa Senhora do Desterro, fundava em 1754. As três Villas Coloniais emendadas abrangiam quase um terço do Estado. O território da Villa do Tamanduá começava no Sul de Minas e culminava em São Gotardo, nas imediações das planícies triangulinas. O paisagem rural da área possui os mesmos encantos das regiões polarizadas pelo turismo convencional dos dias atuais. A nossa região só falta mesmo é trato (infra-estrutura, principalmente, e vontade política), para melhormente realçar a soberba magnitude das infinitas aquarelas de reverberações e tonalidades magnéticas dos conteúdos e adornos da Natureza. É só sair da cidade e começamos a descortinar o edenismo desdobrado em matizes e figurações circulares, mobilizando os horizontes. E pensar que tudo isso está inscrito no infeliz processo de extinção, que só será retardada se conseguirmos uma solução de vida em vez da sentença pragmática-capitalista de morte da salubridade ambiental A profilática proposta do turismo rural tem também a função reparadora dos atentados contra o equilíbrio ecológico-paisagístico. A infra-estrutura necessária está ao alcance da boa vontade política das lideranças e dos liderados da vida pública. As Pousadas e Hotéis-Fazendas (Itapecerica possui dois dos melhores do Estado), a polícia florestal, os ambientalistas, as populações urbanas carentes do lazer recreativo, todos poderão colaborar no esforço da gestão de recuperar e aperfeiçoar o melhor antídoto do estress e da depressão epidêmicas dos dias que correm. O escritor Norman Mailler disse, certa vez, que a diferença fundamental entre a Europa e as Américas estava no ângulo da estética. Qualquer paisagem da Europa parece uma obra de arte, ele disse. Ele disse porque sabe que, nas Américas, o pragmatismo capitalista arranca os olhos e lambe as órbitas da Natureza. Se Deus, o Esteta da Criação, fez o homem à Sua imagem e semelhança, isso quer dizer que temos de exercitar e propagar nossos hereditários dons estéticos. 

(*) Texto publicado na edição de 27 de setembro de 2003 do jornal Magazine, Divinópolis, MG.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi
Queria saber se em marilandia MG
perto de Divinopolis MG tem alguma
gruta como chegar la.
Tem como vc fazer um mapinha para
min.

Muito Obrigado.

matrixsgc@bol.com.br

8:05 PM  

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