TURISMO RURAL? (*)
O que mais leva as pessoas em geral procurar o lazer regenerador é a beleza da saúde e a saúde da beleza – o mais lídimo usufruto da cultura popular. A beleza da saúde e a saúde da beleza são facilmente encontráveis na Natureza e na Civilização através dos sítios arqueológicos, ecológicos, paisagísticos e históricos. A região centro-oeste mineira, escassa de oferta e de procura turísticas convencionais, é fartamente dotada dessas virtudes antropogeográficas. Os nossos sítios arqueológicos são, no entanto, praticamente desconhecidos, quase virgens em seus refolhos. Quem já procurou e conseguiu descobrir, esmiuçar e divulgar os possíveis tesouros soterrados dos primitivos habitantes da região? As grutas, lapas e furnas estão aí nas encostas e nos grotões, nas cavidades e protuberâncias das rochas e dos terrenos, com suas inscrições parietais, os artefatos líticos e cerâmicos, as urnas funerárias, as ferramentas de lascas de quartzo, outras peças, ossos e sinais, aguardando os esclarecimentos de abalizadas pesquisas. Eu mesmo conservo algumas dessas raridades fósseis, encontradas na área rural de Marilândia. Não seria o caso de cada município mapear e tratar paleontologicamente de suas locas e grutas, de seus valos, muros de pedras, quilombos extintos, ruínas de escavações e de edificações, de seus lugares emblemáticos em geral? Não está na hora de aproveitar o embalo das experiências de outras regiões e levantarmos aqui os lineamentos geográficos das famosas Picadas de Goiás, através das quais a Minas Colonial descobriu o caminho da agricultura e da pecuária, anexando o Triângulo com todas suas boas terras de plantio e de pastagem? Não está passando da hora de os municípios de Itapecerica (a antiga Villa de São Bento do Tamanduá), Pitangui e Paracatu serem oficialmente integrados no chamado Circuito Histórico de Minas Gerais? Os três municípios não fazem parte das dez primeiras (grandes e auríferas) Villas criadas no Estado? Tanto ouro existia no Tamanduá que o rio que banha o lugar adquiriu o nome de Rio Vermelho. Hoje tem a maior jazida de grafite da América do Sul, um Arquivo Judiciário dos melhores de Minas, uma arquitetura que é um verdadeiro mosaico de estilos de épocas. E um de seus Distritos (a já referida Marilândia, que se chamava Desterro até 1930) possui a Igreja mais antiga de toda a região, a de Nossa Senhora do Desterro, fundava em 1754. As três Villas Coloniais emendadas abrangiam quase um terço do Estado. O território da Villa do Tamanduá começava no Sul de Minas e culminava em São Gotardo, nas imediações das planícies triangulinas. O paisagem rural da área possui os mesmos encantos das regiões polarizadas pelo turismo convencional dos dias atuais. A nossa região só falta mesmo é trato (infra-estrutura, principalmente, e vontade política), para melhormente realçar a soberba magnitude das infinitas aquarelas de reverberações e tonalidades magnéticas dos conteúdos e adornos da Natureza. É só sair da cidade e começamos a descortinar o edenismo desdobrado em matizes e figurações circulares, mobilizando os horizontes. E pensar que tudo isso está inscrito no infeliz processo de extinção, que só será retardada se conseguirmos uma solução de vida em vez da sentença pragmática-capitalista de morte da salubridade ambiental A profilática proposta do turismo rural tem também a função reparadora dos atentados contra o equilíbrio ecológico-paisagístico. A infra-estrutura necessária está ao alcance da boa vontade política das lideranças e dos liderados da vida pública. As Pousadas e Hotéis-Fazendas (Itapecerica possui dois dos melhores do Estado), a polícia florestal, os ambientalistas, as populações urbanas carentes do lazer recreativo, todos poderão colaborar no esforço da gestão de recuperar e aperfeiçoar o melhor antídoto do estress e da depressão epidêmicas dos dias que correm. O escritor Norman Mailler disse, certa vez, que a diferença fundamental entre a Europa e as Américas estava no ângulo da estética. Qualquer paisagem da Europa parece uma obra de arte, ele disse. Ele disse porque sabe que, nas Américas, o pragmatismo capitalista arranca os olhos e lambe as órbitas da Natureza. Se Deus, o Esteta da Criação, fez o homem à Sua imagem e semelhança, isso quer dizer que temos de exercitar e propagar nossos hereditários dons estéticos.
(*) Texto publicado na edição de 27 de setembro de 2003 do jornal Magazine, Divinópolis, MG.
1 Comments:
Oi
Queria saber se em marilandia MG
perto de Divinopolis MG tem alguma
gruta como chegar la.
Tem como vc fazer um mapinha para
min.
Muito Obrigado.
matrixsgc@bol.com.br
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