A MINHA AUTOPSICOGRAFIA
O meu mal (que me deixa pesaroso pelos prazeres não aproveitados nem proporcionados) advém do hábito de não ser afoito, de deixar as iniciativas para depois (o passo para ultrapassar o impasse é a tônica de minha inelutável postergação? Por qual motivo ou razão?), de ter sempre em mente dar um tempo ao tempo passageiro, que em suma e no entanto é na verdade o infindável amanhã de nossos dias de hoje. Ora pois, ora essa. O dia de amanhã nunca chega no dia de hoje! Quando chega já é outro dia de outro amanhã. É assim, pois, ora essa, que a vida passa em brancas nuvens na sucessão dos adiamentos e nos intervalos das noites. E quando chega o fatídico dia (até então inacreditável) na rebarba dos outros dias inconclusos e impassíveis, trazendo uma noite despojada de outras manhãs (a eterna noite sombria e vazia), aquém e além da almejada felicidade, que jamais me bafejou, é que me sinto enredado nos enganos de mim mesmo. Mas aí é tarde demais para tentar corrigir o que jamais soubemos se eram ou não erros comportamentais.
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