segunda-feira, junho 30, 2008

MÍMICA

A palavra, às vezes, tem o dom e o capricho de um pássaro que a gente procura no meio das árvores: canta seu mistério significativo sem dar o ar de sua graça física, escondendo-se no rol das folhas compactas, de galho em galho na interdição, deixando em dúvida o que quer dizer, no momento mais necessário. É mesmo assim que a palavra esconde o ar de sua graça: na densidade das trevas noturnas - e aí o bloqueio é ainda mais impertinente: as portas e janelas da escuridão são inamovíveis. O necessitado cansa de pelejar na insônia estéril! E nada da preciosa palavra dar o ar da graça de sua face luminosa. Então, munido de paciência, você se enrola no frio ou no calor da insônia, e espera que Deus acorde em sua amplidão e desperte os feixes e os flocos de luzes murmurantes e assim, religiosamente, o novo dia desabrocha de seus jardins, filtrando e publicando seu dicionário de infinitos vocábulos.