segunda-feira, agosto 23, 2010

O ETERNO FEMININO

Se dividimos a história humana em duas fases, uma para o paganismo e outra para o cristianismo, veremos que o papel da mulher no cômputo das ações mais salientes é mais ativo na era pagã e mais passivo na era cristã. Na primeira sobressaem as figuras lúcidas e épicas de seres do naipe das Helenas, Jocastas, Antigonas, Fedras, Clitenestras e Cassandras, enquanto que na outra fase as que mais pontificam no cenário são as de imagens nubladas e líricas das mulheres santificadas na passividade feminina das irmandades religiosas e das beatificaçõs e inquisições medievais. Ao longo da história da literatura elas marcam presenças mais como inspiradoras do que autoras dos melhores textos. É ai que o elemento masculino, onipresente, brilha cantando as virtudes femininas, usando e abusando da eterna temática em suas obras sagradas e profanas. Só modernamente é que a página foi sobremaneira virada e autoras esclarecidas romperam os limites da segregação feminina e assumiram a voz ativa da expressão de idéias e sentimentos numa escrita na mais intrínseca linguagem de sua verdadeira identidade. Assim, antes tarde do que nunca, livraram-se do diapasão masculino, exprimindo o que flui diretamente da alma e da condição de um ser auto-suficiente, deixando no retrovisor aquela “cara-metade” dependente do machão-tirano em casa, na rua, no trabalho, em toda parte. A literatura serviu de ponte para a cristalização da autonomia que identifica a feminilidade da mulher cônscia de seu papel e de seu valor no contexto humanitário da sociedade. Estamos cientes disso, não? Elas agora marcam presença nos lugares públicos em todo o mundo numa proporção idêntica a dos homens, seus ao mesmo tempo iguais e diferentes. E a paisagem que se vê em toda parte hoje em dia ficou mais bonita, mais colorida no contexto de uma população agora mais humanizada, mais adocicada, muito mais amável. Estou acaso exagerando? Na minha modesta opinião, as mulheres que mais concorreram para estabelecer e fixar essa imagem de relação democrática, através da convincente e portentosa linguagem literária (a que flui diretamente da verdade e da beleza no dia-a-dia existencial em todas as dimensões de todo o mundo), são, principalmente: Virginia Wolf, Marguerite Yourcenar, Marguerite Duras, Clarice Lispector, Adélia Prado, Lélia Coelho Frota, Lélia Parreira Duarte, Simone de Beauvoir, Emily Dickinson, Ana Cristina César, Patrícia Melo, Marly de Oliveira, Yeda Prates Bernis, Lara de Lemos, Henriqueta Lisboa, Anna Akhmátova, Elizabeth Bishop, Ana Hatherly, Adriana Versiani, Chistine Rosseti, Florbela Espanca. Sylvia Plat, Mariane Moore, Laís Corrêa de Araújo, Maria Esther Maciel, Leila Miccols, Cecília Meireles. À guisa de ilustração do que acima foi dito a respeito da genérica exemplificação da essencial magnitude feminina (uma inspiração poética a criar e difundir seus próprios versos) não encontro símile mais adequada do que a citação de algumas estrofes da linda poesia (feminina por excelência e autenticidade) de Yeda Prates Bernis. Autora dos livros (já publicados) Entre a Rosa e o Azul, Enquanto é Noite, Palavra Ferida, Grão de Arroz, O Rosto do Silêncio, À Beira do Outono, Pêndula, Encostada na Paisagem, Viandante, seleciono aleatoriamente algumas estrofes que iluminam os livros e a estante do meu modesto escritório. Do livro VIANDANTE: “A palavra saudade treme de frio, quando a escrevo”. Tudo está escrito ali”. - “Teu silêncio acorda em mim palavras antigas”. Do livro PÊNDULA: -O que há de mais alvo a graça é garça pousada no alto da alma.” - “Fascinam-me as mulheres do campo ............................................................. ...................Suas vidas são plenas como árvores absorvendo o sol das manhãs”. Do livro ENCOSTADA NA PAISAGAEM: - “Líquida certeza nestas veias navega: também em mim Deus respira”. - “A água do lago, pranto dos chorões, que moram ao lado?” - “Na carta guardada sempre murmura o silêncio.” - “Não retire de seus olhos este fiapo de sol”.