segunda-feira, novembro 25, 2013

ESCRITA

Perguntam-me sobre a minha opção pela literatura.

Respondo que não é opção: é uma imposição.

Ao reconhecer a importância da vida interior, o aprendiz literário assume essa vivência e, em consequência, a tentativa de exprimi-la.

Depois que reconheci e aceitei que tudo na vida e no mundo contém, sobretudo, os valores referentes às expressões da VERDADE e da BELEZA (corpo e alma, alegria e tristeza, suplício e felicidade), assumi os encargos das tentativas de comunicar em linguagem endereçada aos nossos semelhantes, dentro de minhas possibilidades e impossibilidades, as beiradas e meandros dessa arte que é, como já foi dito, o local de encontro de duas almas (a do leitor com a do escritor).

O infinito e difícil trabalho começa na fase de aprendizagem (interminável!) com a leitura dos mestres em prosa e verso - isso não para arremedá-los, mas para tentar superá-los, mesmo sabendo da provável impossibilidade.

É difícil, bem sei. Mas a facilidade nem sempre satisfaz o objetivo.

O escritor é sempre o melhor leitor de si mesmo e de seu trabalho. É necessário ler, ler muito os bons autores e reler, reler muito e corrigir os próprios textos.

 

sexta-feira, novembro 22, 2013

A POESIA FALA A VERDADE

Intróito:
O caderno ILUSTRÍSSIMA, suplemento domingueiro do jornal “Folha de São Paulo”, enriquece duas de suas belas páginas na típica homenagem póstuma à Poeta polonesa Wislava Szymborska, Prêmio Nobel de Literatura de 1996.

Leitura de tanto interesse geral que não me contenho em transcrever um dos poemas para repartir o prazer com os leitores.

O poema intitulado COAÇÃO é traduzido por Regina Przybycien. Bom proveito, leitores amigos.

COAÇÃO

“Comemos a vida de outros para viver.
A falecida costeleta com o finado repolho.
O cardápio é um necrológio.

Mesmo as melhores pessoas
Precisam morder, digerir algo morto,
Para que seus corações sensíveis
Não parem de bater.

Mesmo os poetas mais líricos.
Mesmo os ascetas mais severos
Mastigam e engolem algo
Que, afinal, ia crescendo.

Custa-me conciliar isso com os bons deuses.
Talvez crédulos,
Talvez ingênuos,
Deram à natureza todo o poder sobre o mundo.
E é ela, louca, que nos impõe a fome,
E ali onde há fome
Finda a inocência.

À fome se juntam logo os sentidos:
O paladar, o olfato, o tato e a visão,
Pois não é indiferente quais iguarias
E em quais pratos

Até a audição participa
No que sucede, pois à mesa
Não raro há conversas alegres.”

Justifico a transcrição considerando que, no meu entender, só ela poderia dizer palavras (em conceitos e imagens) tão abertamente inaceitáveis na prática e verdadeiras no fundo, no meio e na superfície de toda vivência animal, mormente a vivência racional, especificamente humana. E insoluvelmente humana?
 Afinal: não passamos de viventes errôneos?

Pausa para meditação.
Penso que deveríamos ser menos carniceiros e carnívoros, menos pescadores e matadores, mais plantadores e cultivadores e humanos. E menos destruidores...

QUEM NÃO AMA GUIMARÃES ROSA? VAMOS À FONTE DO AMOR?

Amar é querer se abraçar como o pássaro que voa... Espero a lua nova como o cão espera o dono... Podia ser um caranguejo ou um coração... O peixe sem rastro na água sem nenhuma memória... O esquecimento é voluntária covardia... Se todo animal inspira sempre ternura, que houve, então, com o homem?...O medo grande que de dia e de noite esvoaça pousa na testa da rês como uma dor... Também os defeitos dos outros são horríveis espelhos... A queda do Homem persiste, como a das cachoeiras... Nós todos viemos do Inferno; alguns ainda estão quentes de lá... Os santos foram homens que alguma vez acordaram e andaram nos desertos de gelo... Não ter medo: o mar não se destrói com nenhuma tempestade... As velhas pedras influem, como os astros; mas só as árvores convivem com a terra impunemente... A memória nem mesmo sabe andar de costas: o que ela quer é passar a olhar apenas para a diante... Aviso: as sombras todas se equivalem... Só as pessoas não morrem: tornam a ficar encantadas... Que vamos, que vamos, até os ponteiros estão afirmando... Só na foz do rio é que se ouvem os murmúrios de todas as fontes... A água que não teme os abismos: a grande incólume... O bagre tem sempre as barbas de molho... Em alguma treva – como os mariscos no rochedo – as almas estarão secretando seus possíveis futuros corpos?



TICO-TICO NO FUBÁ

- Subir é mais fácil do que descer? Pode ser que sim, pode ser que não. Exemplifico: uma criança nos primeiros anos de vida consegue, engatinhando, subir a íngreme escada que vai até ao pavimento de cobertura do apartamento onde reside. Sobe célere, sem problema. Mas descer pela mesma escada ela não consegue, a não ser acidentando-se.

- As duas fases vivenciais dos comunistas brasileiros: nos chamados “anos de chumbo da ditadura militar” eles roubavam bancos em nome do povo. Hoje, no poder, eles roubam o povo em nomes deles mesmos, na contraditória aflição de se tornarem capitalistas. O que estou dizendo foi baseado em trecho de uma carta do leitor Marcos Máximo na edição de 20\10\2011 do jornal “Estado de São Paulo”.

- O atrito inevitável: as pessoas mais idosas não são entendidas pelas mais novas e vice-versa. A diferença etária predomina nos comportamentos de ambas as partes. Os velhos alegam que os novos sentem falta de umas boas palmadas na infância. Os novos acham que os velhos estão caducando, não aceitando o rol de novidades modernosas.

- O vínculo que mantemos com os nossos antepassados é algo proveniente de nosso subconsciente e que modela o nosso caráter, definitivamente. É o principal sintoma de nossa herança genética.

- Michael Shermer, psicólogo americano, em entrevista à revista VEJA, edição de 22\08\2012: “As Igrejas se tornaram um fator de corrupção. Motivo de guerras e perseguições. Por sorte, presenciamos o declínio da crença no sobrenatural. Países do norte europeu, onde apenas um quarto da população segue alguma religião, têm índices de criminalidade, suicídios e doenças sexualmente transmissíveis inferiores aos de estados em que a maioria dos habitantes é de crentes, como os Estados Unidos e o Brasil. Se a religião se declara um bastião de bondade, por que historicamente tais estados teocráticos são mais susceptíveis à criminalidade do que os seculares?”

- Nas mais vivas das horas mortas dos dias mais noturnos da atualidade, costumo pensar que meu passado viaja comigo, de avião, para o futuro mais duvidoso desta vida neste mundo. Vejo pela janela da aeronave as nuvens escuras embaixo e o deserto enigmático em cima... Fico sem saber que fim levará meu passado no futuro dessa viagem por enquanto ininterrupta... Pois, como já dizia Millôr Fernandes: “Onde quer que a gente vá, há sempre um passado pela frente”.

- Ainda e sempre a VEJA. Numa edição de outubro de 2011 constata-se que o governo federal brasileiro emprega 90.000 pessoas em cargos de confiança, ou seja, sem concurso e com salário acima do normal.  E a comparação é feita: nos Estados Unidos a quantidade de pessoas detentoras do mesmo tipo de cargo é de 9.051. Na Inglaterra, cerca de apenas 300 pessoas. A explicação da exorbitância da diferenciação: no Brasil os chamados servidores públicos trabalham para os partidos políticos e não para o povo, que é seu verdadeiro patrão.

AS PALAVRAS


As palavras não correm como os cães que perseguem o automóvel,
Nem estacionam como as buganvílias e os mimos de Vênus
Que enfeitam a cerca de arame farpado.
Elas falam e silenciam.
E aguardam respostas
No silêncio crepuscular dos dias próximos e passados.
Elas esquecem de si mesmas, desaparecendo nos ares.
Ou ficam a dormir e a sonhar eternamente?

DE GRÃO EM GRÃO...

- O Rio de Janeiro, na opinião de Carlos Heitor Cony: panoramicamente é a cidade mais bonita do mundo. Mas em close é horrível.

- Coincidência de parentesco: em 1934, ano de meu nascimento, foi lançado nos Estados Unidos o filme “A Família Barrett”, e, sem saber disso, publiquei em 2005 o livro de genealogia “Família Oliveira Barreto”. O fundador da cidade de Barretos (SP), Francisco José Barreto, egresso de Minas Gerais, tinha um neto (filho de seu filho José Francisco Barreto) chamado Valentim José Barreto, nascido em 1869, sendo que o nome de meu pai era José Valentim Barreto (nascido em 1878). E segundo os autores do livro “Barretos – Primeiros Povoadores e Fazendas”, Francisco Gabriel Junqueira Machione e Roseli Aparecida Fineli, as duas famílias (a de lá e a de cá) eram frutos da mesma árvore genealógica.

 - Uma contradição em termos? A ditadura militar de 1964-1985 inspirou e revelou os momentos mais musicalmente sensíveis e expressivos daquelas décadas, enriquecendo sobremaneira a popular história de nossa música popular... Já o período posterior, da fase lulista-petista em diante, a nossa música perdeu a leveza do ritmo e a beleza da significação, caindo no marasmo da barulheira. Creio que nada tendo a defender e a combater, a não ser a intenção governamental de perpetuação no poder esse (des)governo nada pode inspirar e revelar de válido culturalmente. As enxurradas e trovoadas dos grupos desocupados só atordoam nossos ouvidos com as ínfimas produções de compositores (?) e cantores (?) e cantoras (?) e musicistas (?) que gritam, esbravejam e esperneiam baboseiras, conspurcando a tradição melódica de nosso cancioneiro criado pela alma do povo através de musicistas do naipe de Lupicínio Rodrigues, Ataulfo Alves, Ary Barroso, Zequinha de Abreu, Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Morais, Chico Alves, Orlando Silva, Jorge Veiga, Noel Rosa, Maria Bethânia, Silvio Caldas, Linda Batista, Aracy de Almeida, Pixinguinha, Luiz Gonzaga e Dorival Caymi. Ah Saudades!...

 - Ian McEwan, escritor inglês, afirma: “Todos os romances são de espionagem: investigam o que deixamos em segredo, o que resguardamos na intimidade. Em qualquer relacionamento há coisas que escondemos, que não dizemos diretamente. Estamos todos envolvidos no controle das informações”.

 - Dos 180 países que participam da ONU, o Brasil é o único que paga salários aos seus vereadores. Até 1977 apenas os vereadores das capitais dos estados recebiam um modesto valor a título de ajuda de custo. Lembro-me que minha irmã, Maria José, exerceu através de eleições, dois mandatos consecutivos no município de Itapecerica, representando o distrito de Marilândia. Não ganhava um tostão, nem mesmo para pagar as passagens de ônibus nas idas e voltas das mensais reuniões da Câmara. Quando o cargo passou a ser remunerado, ela não resistiu à desenfreada competição dos candidatos que surgiram como que por encanto. Aí ela desistiu de concorrer.

 - Meu Deus, para quê céu? Indagava, atônito, olhando pro céu, o persistente paquerador, ao ver uma beldade atravessar a rua da cidade.

 - Antigamente, nos bons tempos da verdejante vegetação de nosso hoje desmatado Oeste de Minas, o roceiro remediado viajava no lombo de seu cavalo de estimação, todo lampeiro, chegando ao arraial e diante da pergunta: “Como vai, Amigo?”, ele invariavelmente respondia: “Ah, Beleza só. A Bondade vem aí...”. Bons tempos. Depois veio o êxodo rural, pondo fim na Beleza e na Bondade das pessoas então decepcionadas com as novas modas comportamentais.

 - Do filósofo Luc Ferry: “Os homens morriam por Deus, pela Pátria e pelas Revoluções. Essas instituições perderam a importância, e a Família emergiu como a nova Entidade Sagrada do mundo atual. Os filhos são a única razão pela qual vale a pena viver e morrer nos dias de hoje”.