sexta-feira, fevereiro 26, 2010

CRÍTICA E AUTO-CRÍTICA EM SEBASTIÃO NUNES

O novo livro de Sebastião Nunes, ADÃO E EVA NO PARAÍSO AMAZÔNICO, que reúne 50 crônicas selecionadas pelas edições DUBOLSINHO, Sabará, MG, 2009, está bem aqui a meu lado, desfolhando-se no belo prazer de minha leitura.. O surrealismo e o neo-realismo conjugam-se nele resumindo um realismo no qual o mundo e a vida estão constantemente na mira de um anunciado Juízo Final que virá extirpar a desordem vigente, trazendo a Fúria que descerá dos céus e subirá dos infernos, obrigando os inválidos mortais a invejarem os ratos e baratas que “compreendem o medo mas não o terror”. No tortuoso clima do insólito paraíso, todos os seres vivos são contingentes, contrafeitos, bipolares, pairando nas espumas de uma doutrina cuja dialética possui muitos lados - sendo que o bom é também o ruim e vice-versa. Assim o Autor vai expondo as peripécias dos seres vivos sobre essa superfície movediça. Uma atabalhoada aglomeração de contradições. Depois de incorrer, recorrer e discorrer nas trepidações do humorismo criativo (oposto aos redundantes clichês da escrita e da oralidade), Sebastião Nunes agora incorre, recorre e discorre no terreno menos rugoso da crônica dos dias e das semanas da imprensa que se quer ativa, atuante e abrangente. Assim mesmo, sem perder a verve e as palhetadas de seu pessoalíssimo senso de humor que o distingue no cenário mineireiro da literatura. Um convite ao divertimento instrutivo e ao mergulho em águas vivas e profundas.... Um gênio do humorismo brasileiro do porte de um requintado Millôr Fernandes, introduzindo no cenário das instintivas (in)transigências morais “as narrativas cabeludas, desconexas e descabidas”, como confessa, em belo lance de auto-crítica na página 57? Afinal de contas, quem neste mundo conturbado consegue viver sem a pitada do riso ocasional, sem perder um tanto ou quanto da sanidade mental? - Assim ele vira e mexe as páginas da história humana e de lá extrai e desmistifica as figuras (exponenciais?) de vidas airadas que ganharam e perderam pendões e rugosidades, como Pedro Malasartes, Ali Babá, Jorge Amado, Adão e Eva, o próprio Deus do Céu e seu oposto, o Demônio do Inferno - sem dar continuidade a numerosa lista para, como diria, não dar nossa mão à palmatória.. - A estranha trindade:: Deus no trono, de um lado Jesus e do outro o Satanás. É assim que se consegue administrar o equilíbrio entre o Bem e o Mal na terra. E o Espírito Santo? É apenas um estranho nos arredores, ele assegura. - O ser humano é um projeto fracassado? Ele suscita a pergunta, na pág. 20- O texto sobre os poetas municipais, estaduais e federais é um tiro certeiro, um súbito estampido contra a mediocridade que vira moda em termos de revelação de talentos na desmesurada produção de contistas, de músicos e de poetas, criando confusão e deslustrando os conceitos de qualidade e de autenticidade. Grifei especialmente a parte em que ele fala sobre a música ao “vivo” dos botecos, que devia apelidar-se, na verdade, de música ao “morto”. Crítica necessária e que ninguém arrisca fazer. Creio que a diferença entre Sebastião e outro autor talentoso é a mesma entre o amante abstêmio e o levemente tocado, entre o ensaísta iconoclasta e o pragmático. Ele sai das linhas paralelas para entrar nas curvas, de onde (de cada escanteio) pode alvejar o bicho papão das leviandades. Percebo, ao longo da leitura de todos seus livros (incômodos em plácidas estantes ?) que ele ignora os autores ruins, tolera os bons e desconfia dos ótimos, sem depreciar ou vangloriar a própria competência criativa. O inusitado é a sua pedra de toque. Está sempre indo, indo e indo aos lugares aparentemente inóspitos, nos quais pululam as cobras e lagartos e outras matilhas intratáveis.Um criador de casos? Só vê marasmo na rotina? Não, não é tão refratário a ponto de omitir-se nas arenas das polêmicas. Sabemos que a normalidade dos seres e das coisas comporta, em suas múltiplas dimensões, uma gama enorme de variáveis, na qual desponta sempre (no claro e no escuro) um começo de precipício que pode estorvar a visibilidade das indicações aceitáveis, insinuando aqui, ali e acolá a magnífica abertura dos castelos e dos abismos feéricos. Facécias por assim dizer sebastiananescas: - Sobre os funcionários públicos (página 27): “Cargos públicos exigem dos ocupantes, para perfeito desempenho, mentiras inocentes e ocasionais. Dessas que não tiram pedaço, só aumentam o nariz e reduzem as pernas”. - Sobre os legendários garanhões: “Harum-Al-Rachid, o Favorito de Alá, reunira nos tempos de maior fausto apenas 1.460 jovenzinhas em flor, quatro para cada dia do ano. John F. Kennedy e Mick Jagger, conhecidos garanhões, nunca passaram de oito por noite, totalizando 2.920 anuais per capita” (pág. 44). - “A política –digam o que disserem – continua sendo a “ciência” da apropriação e da manutenção do poder sobre o restante da população”..., da qual, segundo Veblen, “extorquem seus meios de subsistência”. (pág. 71)- - Sobre os poetas municipais, na página 157: “São incontáveis. Tanto quanto os grãos de areia nas praias do Espírito Santo. Não levam poesia muito a sério, mas escrevem de vez em quando. Seus temas preferidos são os mendigos, as velhinhas desamparadas, a crueldade com os animais, as borboletas e os netos. Cometem erros monumentais de lógica, rima, ritmo, ortografia, história, política e o diabo a quatro.... Quando jovens escreviam versos para arranjar namoradas. Depois de velhos, continuam a escrever do mesmo jeito. Sua cultura parou no primeiro grau e já leram uns dez livros. Não dou exemplo porque não sou besta.”

terça-feira, fevereiro 09, 2010

POEMA COM PALAVRAS DE HERTA MULLER (*)

Adaptação de Lázaro Barreto. 

Onde estive? Na minha camisa e junto de você. Com uma mão batia, com a outra acariciava. Chega a hora que mesmo a mais fria das mulheres desabotoa a blusa... Os russos levam nossos cereais e nossa carne (é assim na Romênia ocupada): passar fome e levar surras, isso fica para nós. De vez em quando o marido diz à esposa: você é das que precisam apanhar de vez em quando - mas eu não sei bater. Você conta as cascas do segredo, não o cerne... Invisíveis vermes se arrastam na farinha, daí é que vem os buracos no pão... As pontas do bigode dele moviam-se como asas de andorinhas... Pobre coitado que não sabe tratar da própria infelicidade! A vergonha diminui os olhos, assim ele é e está enrolado num pano onde todos já se limparam: uma faca ficaria linda no pescoço dele? Ah, os olhares dela nos deles, como frutinhas azuis caindo na água parada.... Depois os cães estraçalharam o corpo de Lili que jazia no focinhos deles, vermelha como um canteiro de papoulas... Adeus frutinhas azuis de seu olhar! O mundo se abre e fecha. O mundo se fecha e abre. A viúva dorme com o segundo marido e se cobre com o corpo do finado, ela que tirava o vestido pela cabeça como se fosse um lenço. As árvores cambaleavam à luz da lua. A mulher sem outra alternativa, nas camas converteu-se ao comunismo através do sexo... O amor e as garras do gato no camundongo devorado, que some de vista... O coração do rapazinho raquítico (com as orelhas maiores do que os pés) parece uma pomba assustada. Quem vive se desespera, quem morre se decompõe. A alegria maligna de uma felicidade suja e torta das mulheres que sentem o vento soprar nas pererecas... No bar só as tílias no jarro não estavam bêbadas. Na cabeça daquele sambanga devia haver coisas para se tocar e não só pensamentos para ruminar... Meu coração tem uma neve falsa? O melro bicava a própria sombra. A mulher que entra na própria sombra imagina-se depravada e desejável, dança até ao som de portas guinchando ou de grilos cricrilando... Como toca flauta sua boca musical!... A grávida sem barriga está com o filho enfiado na bunda? Um copo de água tinha mais vida do que ela? Seu finado marido, ah, ele tem sobre o corpo um bando de mariposas como num tecido rendado... Ah, a lua que escolhera tem cara de cabra... A vida está toda cagada, só nos resta dar uma mijada. Ah, os latidos dos cães vagando pelo céu: é mais fácil perdoar por uma briga do que por uma mágoa... Se o menino chorar de mais, mija de menos. No sanitário público cada um levava a porta para, solitário, se aliviar. Ah, naquela sujeira sentia-me como se fosse um pedaço de merda humana... O pobre tornava-se comunista e o rico (que não queria ir para o campo de concentração) também! Ah, só a cópula preserva a lucidez. É preciso preparar para aceitar o dia seguinte. Por que todo idiota se levanta de manhã? Em algumas pessoas o dinheiro cresce como barba, mas eu estou sempre peladinha – diz a pobre mulher. Ah, onde estive o tempo todo? Na minha camisa e junto de você. 

(*) – autora alemã premiada com o Prêmio Nobel de Literatura do ano de 2009. As transcrições aleatórias e sem aspas e não rigorosamente literais são do belo romance “O Compromisso”, tradução de Lya Luft, Editora Globo – são Paulo, SP, 2009.

AS TRÊS MOÇAS DO SABONETE ARAXÁ - Conto

“Que outros, não eu, a pedra cortem Para brutais vos adorarem, Ó brancaranas azedas, Mulatas cor da lua vem saindo cor de prata Ou celestes africanas: Que eu vivo, padeço e morro só pelas três mulheres Do sabonete Araxá! (Manuel Bandeira). Naquele tempo eu freqüentava a agência local do Banco da Lavoura, para verificar o andamento dos financiamentos de eletrificação rural, projetados e orçados no escritório eletricitário em que trabalhava. Lilina, a moça que me atendia no balcão, estremecia minhas articulações, quando levantava da cadeira e andava na espaçosa sala, jogando nas pernas o balanço do corpo repleto de lábios e de olhos sorridentes. Solícita, protocolava a documentação, proferia algumas palavras burocráticas, imbuída de certa neutralidade encantadora e gentil, acrescida do beneplácito das boas maneiras. Eu regressava ao escritório trazendo nos olhos o olhar dela, um fulgor discreto de macia incisão, reprisando nos ares a magnética imagem ereta e curvada, a abrir e fechar pastas de papelada junto aos verdes arquivos de aço. E assim, chegando do impasse, sem me conter, eu tinha que prosear intimamente, versificando mentalmente: Os clientes aflitos debruçam no balcão do reduto burocrático da agência bancária: seguem a faina dos funcionários no manuseio dos papéis que controlam as ações humanas. Lá fora um sol de arrebentar mamonas derrete o tédio dos postes e das calçadas, o suor expele o estado de espírito dos operários, agora vergados nos canteiros de obras públicas. Aqui dentro (onde as roupas são as pessoas?) ouço o tinir inaudível das moedas desvalidas e sinto o cheiro das cédulas novinhas em folha (se a inflação solta os ratos no paiol não há correção monetária que agüente). Assim aos pressurosos zumbidos dos ventiladores, um dos cifrões desaparece na abertura da janela e de repente a máquina de escrever pára de escrever: o quê há?! Os andares de cima, do prédio, pegaram fogo? Os bárbaros invadiram a Europa novamente decrépita? O infarto fulminou o déspota de uma das máfias? Ou foi a moeda que readquiriu seu valor inerente? Nada disso, ó correntista insolvente! O que foi que aconteceu é que a moça mais brilhante, a que batia as teclas dos juros escorchantes, empertigou-se belíssima entre as mesas (a procura de um cadastro, de uma minuta de ofício?), ela mesma, sim, ensismesmada, julgando talvez que ninguém a vê, ela coça a seda mais íntima (o hiato de arco-íris de uma licença poética?), ela coça a parte mais íntima da extrema formosura, sim! Assim ela anda mais um pouco em si mesma, a imprimir novo ritmo ao movimento bancário, a citar, sem lembrar e sem prever, a palavra amor nos mínimos detalhes... Minutos depois ela volta dos verdes armários, como se fosse um luar numa tarde de verão. Olha-me sem querer e sem saber que é a idéia mais feliz de um corpo humano, a imagem que inventa a forma de dizer que a felicidade na terra nada tem a ver com a dinheirama da despesa e da receita. Tempos depois eu freqüentava as aulas noturnas do Colégio Leão XIII, cursando o último ano do Científico. O alunado era dispersivo e heterogêneo, enchia a sala imensa do vozerio, da dissonância e da trapalhada. A gente aprendia pouco, mas divertia muito. De minha parte, o aproveitamento era o melhor possível, pois flertava a moça mais bonita da sala, uma de nome Adelina, que tinha os olhos na privilegiada voltagem do iluminamento refinado. Dava a impressão que se a luz elétrica fosse embora, ninguém na sala ia sentir falta: a luz daquele olhar ali estava para não deixar ninguém no escuro. Era altiva e sensata, de poucas palavras e de muitos olhares. Exercia uma bela liderança moral no pequeno mundo de nosso colégio, um fascínio que me engrandecia na auto-estima dos sentidos inebriados. E sem saber se merecia a especial contemplação, mais uma vez, sem me conter, cometia os pecadinhos da prosódia versátil, escrevendo na lousa de minha fixação: Da terra do Egito chamei teus olhos cintilantes e logo acorreram-me os pássaros do belo prazer, os múltiplos pássaros saltitantes, pousados e voados na relva e no ar das folhagens noturnas das aulas do amor. De qual deles seria o olhar que me namora de escanteio nos confusos enredos de nossos contos? Eu perguntava. : - Do beija-flor, que é o menor de todos e paira, reverente, sobre a carnação perfumada da mais nítida maravilha? : - Do pássaro-lira, que mede um metro, da cauda à ponta do bico? : - da rolinha a cantar o fogo que apagou na palhada? : - Da siriema a desdobrar a invernada em verões e primaveras? : - da juriti (mas ela tem sardas e clitóris?)? : - da tesourinha (a cauda é longa e bifurcada mas não tem os grandes lábios de mel, nem umas pernas de seda e pérola acima do bem e do mal)? : - Serão do melro, do pintassilgo, do canarinho? Sabia que aqueles olhos eram de uma ave da ordem dos passeiformes, que me brindavam, esmirrado na dialética da ontologia. : - Seriam os olhos do pavó, que tem uma nódoa sanguínea no peito? Ou de outro que a ciência e a poesia ainda ignoram, sempre distanciados e só agora aproximados? Assim a aula prolongava, eu revia a saracura de olhar estatelado em seu engravetado ninho de tigela aérea. O que fazer? A noite do desterro voava dentro de minhas ruínas imaturas, mas os olhos dela, de pássara indefinida, abençoavam minha fixidez na outra extremidade, no ponto de vista e de apoio, no ponto e vírgula da mais alentada juventude. Tempos depois eu era enrolado na vida como bobina de condutores elétricos. Tinha uma namorada em cada bairro e outra em cada localidade vizinha, de forma que tinha o tempo todo tomado, o tempo da fogosa e inquieta juventude. Namorar e divertir eram a mesma aventura: chegar como água e sair como vento, praticando juvenilmente a licença poética de Garcia Lorca. Eu era arrimo de família e não podia dar-me ao luxo de assumir compromissos de noivado e de casamento – então me esparramava levianamente. Numa das noites juninas daqueles anos, sem derrapar nas chamadas curvas perigosas do amor, atravessei a linha férrea, entrei no trecho ramificado do terreno baldio, já ouvindo o canto romântico dos caipiras e seresteiros a perfumar a caminhada, com as flores da harmonia simples e o primado melódico do ritmo repensado: “na farinhada lá na casa do Teixeira/ namorei uma morena/ nunca vi tão feiticeira”. Quando vi, ao despetalar os sons da canção brejeira, estava no meio das barracas juninas de uma rua curta, que ia da linha férrea ao rio das itapecericas. Ela (a Cedalina das quenturas arrebatadas), já me esperava, meiga e propensa, morena aveludada em suas perolas e desejos a brilharem nos dentes sequiosos. Queria beijá-la logo, mas não ali no meio das pessoas. Fomos à beira do rio e custamos encontrar um lugar reservado, despovoado de outros pares de namoradores. Mas quando a sugava de tal maneira que quase arrancava suas entranhas pela boca, aí a dupla caipira, Tibaji e Miltinho, cantava: “Deus, meu Deus, traga pra junto de mim/ esse alguém que me faz chorar”, entrelaçando na memória o caudal emotivo do beijo melódico. Quando, minutos depois, Sérgio Reis substituía a dupla caipira no amplificador de som, com as palavras “se você pensa que meu coração é de papel/ não vai pensando porque não é”, sentimos, eu e ela, que do mato vinha um cochicho e um fluido, que nada mais era do que o tremido emocional de uma vara verde, diante de nosso abrasado amor. Quando outra música (“perto de ti me calo/ tudo penso, nada falo”) já se diluía na folhagem que o vento do rio acenava como mãos e lenços de despedida, então, aos beijos e abraços, entramos no círculo verde da solidão propiciatória, na redoma inviolável da fusão acalentada. Nem vimos o bando de rapazes e moças aos risos e aplausos. As gotas de luz escapavam dos dedos dela e de meus olhos. Assim ela escapou-me dos braços e mãos e nunca mais foi encontrada em sua intimidade. Assim perdemos a seqüência do mergulho e do vôo. Mas o sonho aperfeiçoa a beleza que não se esgota. Que ressoa e transborda, profusamente adjetivada.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

O CINEMA BRASILEIRO NOS ANOS 50 E 60

Guido Bilharinho, escritor, editor e diretor do Instituto Triangulino de Cultura, acaba de lançar em Uberaba o livro de título em epígrafe, no qual comenta criticamente 55 filmes, alguns dos quais dedico algumas palavras de grata satisfação e de sincera admiração. A respeito das fitas abaixo, que tive a felicidade de ver, ao longo do tempo, entre outros filmes nacionais de outras décadas. - Rio, 40 Graus, 1955, de Nelson Pereira dos Santos. Elogios irrestritos do autor e de minha modesta parte. - Vidas Secas, 1963, do mesmo Nelson – referências idênticas. - Tico-Tico no Fubá, de 1951, de Adolfo Celi. Acentuação das boas qualidades e de alguns senões. - O Cangaceiro, 1953, de Lima Barreto. Apreciação idêntica à anterior. - Amei Um Bicheiro, 1952, de Jorge Ileli. Acentua-se a bela interpretação do ator Grande Otelo. - Sinhá Moça, 1953, de Oswaldo Sampaio e Tom Payne. Água com açúcar bem temperada. - Floradas na Serra, 1954, de Luciano Salce, idem idem, sobressaindo a grande interpretação de Cacilda Becker. - Estranho Encontro, 1958, de Valter Hugo Curi. Elogios moderados. - O Grande Momento, 1958, de Roberto Santos. Elogios irrestritos. - Assalto ao Trem Pagador, 1962, de Roberto Farias. Elogios moderados. - Os Cafagestes, 1962, de Rui Guerra. Elogios irrestritos. - Cinco Vezes Favelas , de 1962, de Marcos Farias, Miguel Borges, Carlos Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman. Elogios moderados. - O Pagador de Promessas, de 1962, de Anselmo Duarte. Premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Canes (França). Elogios irrestritos. - Os Fuzis, 1963, de Rui Guerra – Elogios irrestritos. - Noite Vazia, 1964, de Valter Hugo Curi, com Odete Lara e Norma Benguell. Elogios irrestritos. - São Paulo S/A, 1964, de Luis Sérgio Person. Uma das obras-primas do cinema brasileiro, segundo Guido Bilharinho. - Viagem aos Seios de Duília, de 1964, de Carlos Hugo Christensen, baseado no romance de Aníbal Machado, estrelado por Rodolfo Maier. - A Falecida, 1965, de Leon Hirszman, baseado numa peça de Nelson Rodrigues. Elogios sirrestritos. - A Hora e a Vez de Augusto Matraga, 1965, de Roberto Santos, baseado num conto de Guimarães Rosa. “Uma das obras-primas do cinema brasileiro”, segundo o autor do livro. - O Padre e a Moça, 1965, de Joaquim Pedro de Andrade, baseado num poema de Carlos Drummond de Andrade. Elogios irrestritos. - O Caso dos Irmãos Naves, 1967, de Luís Sérgio Person. “A violência assume particular horror, porque emanada do Estado, teoricamente tido como organismo destinado a velar pela organização social, a convivência pacífica entre os seres humanos”, afirma o autor do livro sobre o filme. O Bandido da Luz Vermelha, 1968, de Rogério Sganzela. Elogios irrestritos. - Macunaíma, 1969, de Joaquim Pedro de Andrade (recordista de bons filmes brasileiros?), baseado num romance de Mário de Andrade. Elogios irrestritos. Aos cinéfilos recomendo a leitura dos trabalhos de Guido Bilharinho, crítico e escritor de uma obra muito bem conceituada. Seu site é: institutotriangulino.blogspot.com.

AYRTON SENNA

Uma Lenda a Toda Velocidade - Uma Jornada Interativa - Christopher Hilton - Tradução de Cláudio Blanc - Global Editora – São Paulo - . (Resenha de Lázaro Barreto). Edição de luxo, páginas coloridas. 10 Capítulos e 1 Apêndice, constando de estatísticas, transcrições e créditos de imagens (centenas delas), e dezenas de anexos contendo desde a cópia do certificado de batismo até a do convite para a inauguração do Instituto Ayrton Senna, bem cópias de fotos e de adesivos referentes aos eventos da vida profissional dele. O livro (volumoso e ricamente ilustrado) é uma relíquia da história do automobilismo competitivo, uma preciosidade editorial, a começar pela capa dura com o autógrafo impresso. Uma leitura destinada não apenas aos aficcionados, mas sobretudo às pessoas imbuídas do calor humano que extravasa da individualidade para exprimir e refletir os brios da nacionalidade brasileira. Em se tratando da prática e da divulgação do esporte, da arte visual e da literatura, temos motivos de sobra de orgulho e ufanismo. Além da face lisonjeira de suas notáveis atuações públicas (internacionais) na área automobilística, o livro tem a virtude de mostrar e demonstrar o lado humano da intimidade amável dele, pessoa profundamente sensível em seus relacionamentos pessoais e internacionais. Repontam nas páginas os múltiplos aspectos de sua vivência cotidiana, seu amor à família, às crianças e ao próximo de um modo geral. Sua autoconfiança contraída na infância e mantida no tempo vivido, seu otimismo na alegria de viver, o apetite da felicidade, a saúde física e mental, seu espírito de luta, a consciência tranqüila nas competições e nas vitórias. Três vezes campeão mundial de Fórmula I, centenas de outras vitórias, de outros títulos, em todo o mundo. Um verdadeiro herói nacional, não? Sim! A leitura do livro (presente da filha Ana Paula) chega a emocionar, de tão fascinante.

RETICÊNCIAS...

UM NOVO LIVRO NA PRAÇA. - Carlos Antônio Lopes Corrêa está abrilhantando o cenário literário da cidade com seu livro LÍNGUA BIFURKISTA –GREEC Publicações, Divinópolis : treze poemas e um enigma em edição caprichada no aspecto e na criatividade . Trabalhando na área da arte em geral, mais a favor dos outros, incentivando, ajudando, inspirando, ativando a plêiade de novos e velhos autores, ele cuida mais da obra dos outros do que da que, em silêncio, murmura a própria lavra em doses minguadas e salutares. Um perfeito amigo dos amigos, o produtor cultural sem custeio e sem cobrança. Enfim uma pessoa que, se não existisse, tinha que ser inventada. Mas para falar dele, nada melhor que suas próprias palavras em seus belos poemas. Transcrevo um deles - mas antes informo que é a primeira vez que leio na contracapa de um livro os dizeres: “Está permitida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio ou procedimento, incluindo a reprografia e os programas informáticos” – o poema é “UM LIVRO”: “Tempo de preparação para a colheita minuciosa escolha das palavras cultivadas quando se pode arar no imaginário terreno.” ILAÇÕES DE LEITURA - Do livro de Elizabeth Travassos, “Os Mandarins Milagrosos”, Edição FUNARTE Jorge Zahar Editor, RJ.: - A música e a poesia podem ser dividida em três classes de fronteiras imprecisas, segundo Bartok: arte urbana superior, criada por indivíduos de talento excepcional; arte urbana inferior -sentimentalismo repulsivo, didatismo estorvador, piadas de mau gosto etc; arte rural, criada por uma comunidade de educação urbana insignificante ou nula. - O popular calcado no primitivismo e mesmo no autodidatismo precede o erudito de característica acadêmica. - Tudo que é vivo neste mundo adorna seu ato reflexo com sua peculiar expressão. - A perfeição artística só pode ser alcançada por um camponês imune à cultura citadina ou por um gênio individual. Fora desses extremos o impulso criador resulta em obras estéreis e disformes. Ainda Bela Bartók. - Ponderável foi a entrada do Ano Novo daquele escritor ignorado pela mídia: o peso excessivo dos anos nas costas estreitas, o rol das insalubridades maléficas no resto do corpo, dezenas de originais engavetados, aguardando editoras que dão a impressão de nem existirem neste mundo completamente sem Deus. Mundo destampado, e sem fundo. - “As roupas íntimas e os políticos devem ser trocados regularmente, pelos mesmos motivos” – Barão de Itararé, - Diante de uma criancinha brincando, comendo e conversando, até o ateísta pondera, afirmando: “Deus existe”. Mas diante do ancião ranzinza, o mesmo ateísta afirma, até sem ponderar: “o Diabo existe”. – Barão de Itararé -de novo?. - Na beira de uma piscina ou ao longo de uma praia, o corpo feminino não é tão eroticamente aquinhoado como nos outros lugares comuns do mundo. - Que a música ruim dos autores fajutos enxameiem o mercado, azucrinem os ouvidos dos incautos, tudo bem. Mas que essa desarmonia barulhenta ocupe o lugar e o tempo da verdadeira música, ah, aí tudo mal. - Relativamente à criação do mundo e ao surgimento de Jesus Cristo, um velho de oitenta anos é mais novo do que uma criança de oito anos. - “Em Deus eu não acredito, mas tenho uma grande devoção por Nossa Senhora” – Murilo Rubião. - “Somos nossos piores inimigos e nossa única esperança. A natureza não vai nos ajudar” no trabalho que desenvolvemos contra a vivacidade dela – Marcelo Gleiser da parte entre aspas. - De repente as opções são meros paliativos - e aí você constata que o alvo da benquerença mais valiosa está nas entrelinhas difusas da notoriedade enfim deslumbrada e deslumbrante.

OPUS DE VIVALDI

O duelo O dueto do pensamento com o sentimento O nervosismo aqui A brandura ali A imaginação de uma paisagem A esfericidade da imaginação O cochicho no ouvido direito O estalo no ouvido esquerdo A dimensão sinfônica da alma O contraponto melodioso do corpo A sofreguidão apaziguada A anestesia dos violinos A transcendência das tonalidades Os olhos nas mãos e nos ouvidos da solidão O silêncio bem temperado nas ampliações da vital amplidão.