sexta-feira, novembro 25, 2011

GRATIFICAÇÕES

SESC PALLADIUM BH. A luta pela vida saudável (individual e social) é bem penosa no ininterrupto tempo brasileiro. As perguntas dolorosas pululam, sem respostas. Mas de vez em quando vem uma pausa no azáfama – e assim nos reconciliamos com o otimismo da sonhada e real beatitude. Um período excepcional de gratificações deve ser, pois, mencionado. 

É o que faço citando a homenagem que o SESC PALLADIUM, de Belo Horizonte, prestou à memória de nosso saudoso e criativo GTO – um escultor que a poeta e artista plástica portuguesa, Anna Hatherly, julga ser mais importante do que Aleijadinho, herdeiro de uma tradição estilística, enquanto que GTO era sim o original criador de uma característica formal na melhor expressão de seu pertinente conteúdo. O evento festejou duas noites de sublime evocação num local maravilhoso dos belos jogos visuais das belas artes eternas e universais. Fiquei muito emocionado diante da projeção que deram à minha participação. Meus sinceros agradecimentos à toda equipe do SESC\ BH, coordenada por Luciana Felix. 

OSVALDO ANDRÉ DE MELLO. Minha atividade literária começada na juventude, nunca sofreu quedas de continuidade. Comecei escrevendo através de lápis, caneta, passei para a datilografia e ultimamente luto com as facilidades e dificuldades do computador. Recebi outro dia, em meu blog (http://lazarobarreto.blogspot.com), que já contém mais de oitocentas inserções de texto em prosa e verso, o comentário: “Publicação legal – este é realmente um blog bacana que você faz. Continue com este bom trabalho, eu voltarei. Saudações, assinado Bily Cletus”. Sirvo-me dele e da coluna semanal do diário de nossa cidade, “Gazeta do Oeste”, para externar o que me ocorre e assedia. Tempos atrás havia mais receptividade na imprensa das grandes cidades aos autores do interior. Publicava textos em quase todos os veículos especializados do Brasil e em alguns do estrangeiro. Publiquei livro nas editoras VOZES DE PETROPOLIS e GUANABARA, do Rio de Janeiro. O Suplemento Literário do Minas, no tempo do Murilo Rubião, nunca recusou um trabalho que eu mandasse. Hoje a história é outra: as editoras preferem os autores bafejados pela mídia, mais vendáveis. Nesse longo período venho acumulando os originais de contos, poemas ensaios e romances – mais de dez volumes já digitados, robustos e inéditos. Cito estes fatos para ressaltar o belo gesto do poeta e amigo Osvaldo André de Mello, que se dispôs a publicar meu romance CANTAGALO – a Bacia das Almas, com prefácio de Irene Amaral, uma intelectual que entende de tudo e um tanto mais. Muita generosidade de ambos (Osvaldo e Irene). 

OUTROS PRESENTES. Voltei do SESC PALLADIUM com os belos e expressivos presentes: além dos belíssimos impressos de textos e informações sobre a obra de GTO: o “Um Dia a Árvore dos Sonhos Inopinados” , outro intitulado “Projeto DIGAS! Especial GTO” e o livro “GTO”, belíssimo na encadernação, na ilustração e na inserção de textos sobre a obra e a vida do escultor. Além de todas essas preciosidades, fui presenteado pelo poeta Wilmar Silva, com o livro lúdico, lírico, lindo “Arranjos de Pássaros e Flores” – e o romance de Pedro Maciel “como deixei de ser DEUS”, com ótimas referências críticas de Luiz Fernando Veríssimo, Antônio Cícero e Moacyr Scliar. 

Chegando em casa deparei com outros presentes em forma de livros: de Luiz Augusto Cassas: “A Mulher Que Matou” (poema-romance) e “A Ceia Sagrada de Míriam” (oferenda lírica) – e recebi, também, a agradável visita de Dieter Dross, escritor alemão, com a esposa e o filho de 2 anos, que vivem na Alemanha, com os livros: “A Pequena Cidade”, de Heinrich Mann, e “Herr Und Hund”, de Thomas Mann, ambos filhos de uma brasileira casada com um embaixador alemão, ainda no tempo do império. Dieter ainda teve a bondade de acrescentar o último livro de poemas-imagens dele: “Sugestões Para Pintar Sobre Paredes de Cavernas”. 
Belos e extensos momentos boa leitura me aguardam, pois. 

PAULO BARRETO LOPASSO. Na Festa do primeiro aniversario do primeiro netinho, ocorrida no mês passado na capital de São Paulo, quem ganhou o melhor presente foi o avô, eu: uma lembrança que jamais esquecerei. Indo daqui, com a família, ao chegar ao salão da festa, ele ao me ver, abriu os bracinhos, rindo, todo feliz. E recusou todas as outras ofertas de abraços e colos.... Ficou comigo a maior parte do tempo. Jamais vou esquecer a expressão de felicidade (que é uma constante em todo seu primeiro ano de vida, cercado que é de tantos carinhos) e otimismo. O leitor que me perdoe – não sei nem posso camuflar a felicidade.

terça-feira, novembro 22, 2011

PROJETO DIGAS - especial GTO no SESC Palladium - BH

segunda-feira, novembro 21, 2011

SUSSURROS DO INCONSCIENTE

Os paraísos perdidos: consegui deter ao menos um deles algum dia? Penso que sim: - no quintal de Marilândia, durante muito tempo... - nas terras da Fontinha, durante pouco tempo.... Nos bastidores da mente muitos atores de língua presa tentam expressar suas crises existenciais. Muitos insetos aéreos fazem coro ao turbilhão da atmosfera, em redemoinho. Uma pétala de repente vira uma pedra ou vice-versa? Um verso resmunga, inaudível, do estribilho das engrenagens intransigentes. De repente o silêncio grita mais alto – e ninguém responde. A multiplicação dos ecos enche os abismos da noite de vorazes carrapatinhos. Você está ficando doido? Alguém pergunta e alguém responde, perguntando: doido ou doído? E assim um parágrafo de comédia engole outro, anunciando a introdução da tragédia no palco desolado. Cadê a platéia? O ator pergunta ao silêncio. De repente o índio solitário seguia aos trancos e barrancos pelos campos e matas de sua terra natal, agora tão desnaturalizada. O capim revolvido, as árvores chorando copiosamente. O gato do mato assobiava uma canção desventurada, a cobra coral subia nas grimpas do coqueiro e de lá sumia de vista. De repente as pessoas desconhecidas surgiam e desapareciam nas moitas de japecangas dos aclives e desníveis mineireiros. As moitas de capim-gordura e de gravatás querem interpelar-me neste ponto do itinerário? Perguntam-me por que ando tão impávido e solerte nessas paragens? Onde foi que amarrei minha égua, por que errei tanto nesses caminhos enviesados? O certo é que caí nesta perdição ao mesmo tempo ínfima e infinita. Está ficando doido, a maitaca perguntava do galho de uma goiabeira frutificada. A noite tem mil caminhos. Tenho que encontrar o meu, esteja onde estiver. Quem sabe ele começa naquele bambual gigante? O dia seguinte trazia um político (um dos anões do orçamento) dizendo: “De quem é o mundo? Se não é meu nem seu, então foda-se o Raimundo!” O pardal de galho em galho a perguntar se o comunista bom nasceu morto... A roubalheira deslavada avança nos quadrantes da nação. A fonte de renda dos corruptos entram e saem dos vasos de infames privadas. Ninguém tem vergonha na cara nesse desmiolado congresso governista? “Se você estivesse lá faria o mesmo” – o debochado diz ao pasmado. “Eu? Você me conhece. Sou incapaz de embolsar um tostão sequer do alheio...”. Ah, mas é aí que te pego, responde o acusador, acrescentando: “assim como é nunca chegará lá, ora pois!” Os cavalos da insônia galopam no deserto empoeirado. Seus cascos retinem no chão pedregoso, seus focinhos famigerados suplicam clemência ao céu impiedoso. São animais sobre-humanos no afã de captar alguma transparência miraculosa. O falso poeta que se vale da falsa poesia para faturar sexualmente as mulheres ociosas ignora que do alto os urubus estão defecando em suas cabeças desmioladas. Entrementes os jornais não-governistas afirmam que só no período de 2003 a 2010 a corrupção política roubou dos cofres públicos 67 bilhões de reais... Todo o mal do país vem de cima para baixo – e o pessoal de cima só sabe conjugar a frase: “Mateus, primeiro os teus!” Até parece brincadeira, não? A fina película de vida que cobre a terra Está se afinando cada vez mais? Os lugares da infância não cansam de chamar: Sentem saudades da antiga salubridade? O sucesso, ah que ilusão! Se um dia vier (sei que não virá), não será bem recebido. Nas dobras do pensamento incansável surgem as cálidas palavras: “Quem tem amor não dorme\ nem de noite nem de dia.\ fica virando na cama\ igual peixe na água fria”.

quarta-feira, novembro 16, 2011

AS SURPRESAS DA MEMÓRIA

Vou muito a São Paulo onde vivem meus queridos membros da Família. Cansado de enfrentar e de sofrer o congestionamento da Fernão Dias: esperar horas e horas diante dos constantes e trágicos engarrafamentos, ah, não há cristão que agüenta. Ultimamente temos ido (eu e esposa) através da ponte aérea Confins – São Paulo, apesar de mesmo assim sofrermos o também constante engarrafamento na ida e na volta na área da chamada Grande-BH. O percurso só fica tranqüilo depois da Pampulha. E sempre que passo na região fico pensando nos percalços das tropas dos participantes da famosa Revolução Liberal das Guardas Nacionais em 1842. Meu trisavô paterno Bernardo José de Oliveira Barreto era, na época, o Comandante General da Companhia do Desterro, distrito do Tamanduá, constituída de um contingente de mais de cem militares com toda a escala hierárquica tradicional. O Desterro da época era imenso e muito povoado: mais de dez tabernas (nome das pensões) e a Igreja (inaugurada em 1754) não estava de costas, mas de frente para a população que descia o Morro do Areião e se esparramava até a região que hoje é chamada de Lavapés. “A Revolução Liberal de 1842”, está na página 29 do livro do Cônego Marinho: “começou em Sorocaba, (SP) e propagou em Minas, e visava, não derrubar o Império, mas sim o Ministério que dissolveu as Assembléias, amordaçou a oposição, centralizou o poder executivo, limitando o poder político dos municípios”. Objetivo dos Liberais da Guarda era a marcha contra os governos provinciais atrelados ao poder central do Império. A Guarda do Desterro, reunida à de Oliveira e de Cláudio marcharam na direção de Ouro Preto (então capital da Província de Minas), passando pela mesma direção que hoje faço para chegar ao aeroporto de Confins – mas foram interceptados na região de Santa Luzia pelas forças do exército nacional comandadas por Duque de Caxias. Alguma parte dos rebelados foi presa, alguns foram mortos e outros feridos e muitos foragidos, inclusive meu trisavô. O Cônego Marinho, no mesmo livro, informa que “a maior parte dos rebelados refugiaram-se nas matas onde eram buscados como se caçam as feras”. O nosso Bernardo escapou, mas aos trancos e barrancos pelo mato afora e adentro, seguindo as trilhas dos tropeiros (ele mesmo comercializava um grupo de tropeiros que baldeava do sertão de Minas para o litoral (Paraty, hoje no Estado do Rio de Janeiro) aguardente de cana, rapadura, carne e toucinho salgados e na volta traziam os produtos do estrangeiro (macarrão, perfumes, remédios, tecidos). De forma que a muito custo e depois de bom tempo chegou à região de Cláudio, terra de sua esposa Josepha Maria de Jesus, onde conseguiu um esconderijo seguro (conheço o local: o buracão de um esbarrancado repleto de vegetação e de regos de água límpida). Mas a represália aconteceu na devassa que fizeram em sua fazenda do Bonsucesso (a sede ainda existe e é sede de um órgão chamado “Criança Esperança” para a educação de menores desvalidos, mantido por uma corporação assistencialista alemã). Seqüestram os bens de seu armazém e loja no arraial e os bens móveis da fazenda, inclusive 140 bois. Passado algum tempo a ordem de sua prisão foi anulada. E logo depois, numa eleição para preencher o cargo de Comandante da Guarda do Desterro, ele obteve 110 votos dos 126 votantes, mesmo não sendo candidato. Não é uma prova inequívoca do prestigio que desfrutava junto à tropa e de que não incorrera em erro ao apoiar a insurreição? Logo depois foi absolvido no processo que tramitava na Justiça e, ato contínuo, o Presidente da Província de Minas nomeou-o Comandante do Primeiro Batalhão da Guarda Nacional do Tamanduá, órgão mais importante - por ser de maior abrangência e de maior contingente. A data da nomeação: 26\10\1845. O estudo da História é cheio de surpresas. A minha pesquisa para a escritura do “Memorial do Desterro” foi uma incursão belíssima e recompensadora, levando-me a dar mais um passo na direção de novos e desdobrados horizontes. Comecei a percorrer os caminhos da Genealogia – e logo no começo, no Arquivo da Diocese de São Del Rei descobri a certidão de nascimento do laureado Bernardo José de Oliveira Barreto, datada de 21\10\1797, constando ter nascido em 27 de agosto do mesmo ano, filho de Antônio José de Oliveira Barreto e de Anna Joaquina Cândida de Castro, neto paterno de Gregório Francisco de Oliveira e Maria Rosária de Freitas, da Vila de Guimarães, arcebispado de Braga, e neto materno de Faustino José de Castro, natural da Freguesia da Sé da cidade do Porto, e de Rosa Angélica da Luz, natural de Prados, Minas Gerais, sendo padrinho o ilustríssimo e excelentíssimo Sr. Bernardo José de Lorena, Governador e Capitão General da Capitania de Minas Gerais”, sendo a madrinha Hipólita Jacinta Teixeira de Mello, esposa do Inconfidente (ela também era uma inconfidente) Francisco Antônio de Oliveira Lopes.

sexta-feira, novembro 11, 2011

UMA FIGURA INESQUECÍVEL (*)

Sebastião Gomes Guimarães nasceu em Nova Serrana, em 1917. Diplomou-se em Belo Horizonte em Clínica Geral e Cirurgia em 1941 – e veio trabalhar em Divinópolis em 1942. Eleito Prefeito do Município para o período de 1951-1955, quando ampliou os serviços de água, esgoto e calçamento na cidade, construiu a estação rodoviária, concluiu a construção do Colégio Estadual, abriu ruas e criou bairros e estradas vicinais. Já desfrutava de grande notoriedade exercendo as funções de Médico com muita competência, beneficiando muitas gerações, principalmente da classe pobre, inclusive dos municípios vizinhos. Exerceu o segundo mandato no período de 1959-1962 e depois pela terceira vez no período de1971-1973. Fazia das duas atividades a mesma profissão de fé numa espécie de liturgia sagrada de amor aos semelhantes. A fidelidade ao critério de amor ao próximo mais do que a si mesmo é uma linha paralela ao seu amor do exercício da medicina. Creio até mesmo que não se casou temendo inibir a possível esposa na comunhão conjugal. Ela não aceitaria um marido absorvido em outro amor pessoal tão profundo – e assim ele teria que bancar o tirano no lar, desgostando a consorte, o que ao mesmo tempo contrariava seu amor próprio e ao próximo. Permaneceu celibatário por causa da arraigada constância afetiva de seus semelhantes, no que era plenamente correspondido pela inumerável clientela beneficiada. Estou propenso a dizer que ele foi a pessoa mais perfeita que conheci até hoje. Despido de defeitos, repleto de virtudes. Médico humanitário, que entrou na Política considerando que a boa política é um local de comunhão das pessoas, sejam elas pobres, ricas, novas, velhas, feias, bonitas. O livro “Bão É O Bastião”, de Anamaria Mourão mostra muito bem que nele a Luta é sinônimo de Vida. Sua mesa de trabalho no gabinete do prefeito e no consultório do médico era a mesma, sempre repleta de papéis anotados para o duplo exercício de sua faina cotidiana. Na opinião popular “ele tirava a doença com a mão”. Pessoa enigmática (de estranhos poderes?), carismática, confiante, persuasiva. Mediunidade ou competência acima do normal? As pessoas admiravam e agradeciam, mesmo estranhando tanta bondade afetuosa. Não cobrava as consultas. Se perdia o doente para a morte, assegura Anamaria Mourão, ele chorava. Não apalpava o doente, pedia que o próprio apalpasse. Sua finalidade, arguta e veraz, era extirpar a doença, curar o doente. Com toda e muita simplicidade, irreverência, obstinação. Sua vida é um romance de humor e seriedade, um realismo beirando o surrealismo, o pitoresco amenizando o dramático. Fatos até de níveis folclóricos pipocam no seu dia-a-dia dinâmico. Teve um Fusca roubado durante a noite porque não usava a garagem, sabendo que a qualquer momento deveria sair para atender um doente. Deixava a porta do carro sem trancar e a chave da direção e os documentos no interior. Conta-se também o caso de que, indo com o parente de um doente na zona rural, ouvir dele, calado, os xingamentos contra o mau estado da estrada. Sem saber que o médico que o atendia caridosamente era o prefeito municipal, ele vituperava: “filho da mãe desse Prefeito que não cuida das nossas estradas. Ah, se um dia eu o encontrar, vou dar uns bons tapas na cara dele, ah, isso vou!” E ele bem ali, bem calado, reprimindo os solavancos do veículo. Outro caso verídico (este Anamaria conta no livro citado): “no consultório repleto de gente, a fila das consultas alongando-se no passeio”, ele ouve a pobre mulher com a criança doente no colo queixar-se do fato de a enchente ter levado o barracão em que morava. Nesse momento chega um fazendeiro rico, agradecendo o médico, por ter curado a esposa, dizendo ao doutor: “Hoje o senhor vai receber, querendo ou não” – e coloca na mesa o maço de cédulas. A cena, presenciada por todos teve o seguinte desfecho: o doutor Sebastião, coça a cabeça, mas logo vira-se para a mulher do barraco e entrega-lhe o pacote de notas e diz: “É para a senhora consertar a moradia. E não esqueça de passar essa pomada na coceira do menino”. (*) Agradecimentos à Anamaria Mourão, pela amplitude da pesquisa contida no livro “Bão É O Bastião” – Editora O Lutador, BH, 1996.

terça-feira, novembro 01, 2011

OS FELIZES OITENT’ANOS

Há quarenta mil anos que procurava, Que procurava um livro, uma sombra, Que procurava em toda parte a cósmica alegria E a eterna lágrima Da dor que eu sentia como filho de Deus E enteado do Demônio. E foi num dia de chuva, numa praça de pedra, Que encontrei Carlos Drummond de Andrade, No município de Guanhães, fração do universo Mineiro que ele canta. Encontrei O canto, o livro, a sombra. Há quarenta mil anos que sondava a gruta Do Levante Espanhol e da Lagoa Santa, Procurava o papiro, a tábua da lei, a canção Que encontrei nas portas abertas das montanhas De Minas e de Drummond. Li os poemas do homem falando com o homem, Senti o choque e o repouso, o fluxo Que me retém na faixa do silêncio revolucionário, Onde cada palavra é um corpo que povoa o novo mundo. Encontrei retraídas fichas de identificação, Delicados meios e nuances de me comunicar Através de muros e de mares: Essa boa, farta e mansa, chuva de versos Que semeia adeuses e caminhos. Há quarenta mil anos que procurava A sombra e o fogo dessa árvore Que agora me embala e me sacode. (Divinópolis, MG, 1973). 

Anexo: Cópia de carta manuscrita de Drummond, datada de “Rio de Janeiro, 14 de março de 1983: “Meu caro Lázaro Barreto: “Seu poema, que o SL do “Minas Gerais” publicou, penetrou fundo no coração deste octogenário. É das coisas mais belas e magnânimas que já recebi, sem tê-las merecido. A você, num abraço caloroso, o profundo agradecimento de Carlos Drummond de Andrade.

O QUE HÁ DE MELHOR?

O desejo fala por mim em todos os sentidos do corpo e da alma. Ó lúbrica flor da montanha, a ínvia Dublin de James Joyce. A espiritual carnalidade do fervor: a verve musicando a vulva e a cútis, os sorridentes lábios verticais e horizontais dela. O inexplicável perfume da libido, as tronqueiras do caminho, as ramificações os planaltos e as planícies, as esfericidades, os pontos de exclamação das peripécias nos contornos e arredores da sede e da fome na hora de entrar no espaço hachurado das fontes, dos remansos e correntezas, dos pórticos, refúgios e sótãos.... Tudo de bom mesmo antes de entrar nas grutas encantadas do prazer remoçado e nadar e e fluir e mergulhar e aflorar nos mundos e fundos da posse instantânea e permanente do imorredouro deleite diante dos pequenos e grandes lábios de mel, do imorredouro deleite jorrando luzes na minha obscuridade, antes de ver e ter o paraíso instantâneo e permanente.

JUSTIÇA INJUSTA

Dois assuntos desconcertantes que hoje transitam na mídia brasileira: alguns executores e funcionários do Direito Civil, exorbitando de seus deveres, negativamente – e as indenizações milionárias de alguns apaniguados do sistema, incluindo aí os humoristas (sic!) Ziraldo e Jaguar, extraidas do (nosso) dinheiro público, simplesmente por terem sido presos no espaço de apenas seis dias, pela chamada repressão governamental do regime militar. Um absurdo tão grande que até o colega deles, Millôr Fernandes, fez uma piada, dizendo não saber que os dois tinham feito um investimento tão rendoso.

Pois é. Quando penso nas vicissitudes que minha família passou ao longo de tantos anos, com minha mãe viúva, com quatro filhos na primeira infância para criar, sinto que a maledicência brasileira não é de hoje – mas que já podia ter sido exorcizada. Meu pai celebrou seu primeiro casamento com Maria Archangela de São José em 14/06/1901 e ficou viúva dela (sem filhos, mas os dois adotaram e criaram sete crianças, de pais paupérrimos, da infância até o casamento de todos) em 23\01\1931. Consegui estes dados em pesquisas de cartórios e no Arquivo Público de Itapecerica. 

No inventário pós-morte consta, além dos bens no arraial do Desterro (hoje Marilândia), a Fazenda Nova do Lavapés,uma enorme e bela área de campos, cerrados, córregos e cultura. Pois é. Depois de enviuvar-se, ele casou com Isolina Gonçalves Guimarães em 12\07\1932, com quem teve quatro filhos: Devanir, Lázaro, Vitória e Maria José, falecendo em 01\11\1940. No Inventário (fajuto) dos bens deixados consta apenas a pequena fazenda da Fontinha, quatro casas e um quintalão enorme todo cercado de valos (os ascendentes de meu pai – José Valentim Barreto – eram ricos e poderosos, praticamente os fundadores do arraial). 

O fato de a enorme Fazenda Nova do Lavapés não constar no Inventário indica claramente que houve fraude das chamadas “autoridades”. Alguém apropriou-se dela, indevidamente, no espaço de tempo que vai do falecimento em 1940 até a data do inventário, anos depois. E depois dizem que a terra é um bem que não pode ser roubado. Minha mãe não a vendeu, mas ficou sem ela. Infelizmente ela era analfabeta, órfã de pai e possuidora de parentes intelectualmente desvalidos. Pois é. Ela foi ludibriada. Não posso entender como e porque a “justiça” da época aceitou o fato de ela ser analfabeta e passar Procuração a um advogado (rábula?) com os dizeres de estar escrevendo o texto “do próprio punho de livre e espontânea vontade”- tudo assim com uma caligrafia feminina de professora (meu espanto foi tão grande que até consegui uma cópia de tal inventário). 

Ela, exercendo suas exímias aptidões de costureira e bordadeira conseguiu criar os filhos nos bons conceitos da civilização cristã. Mas o que mais me aborrece e indigna é o calote (de que somos vítimas) do depósito de oito contos de réis (muito dinheiro em 1945) depositados na antiga Caixa Econômica Estadual (que repassou depois para a Caixa Econômica Federal e depois para o Banco do Brasil), em nome de Devanir, Lázaro e Maria José. O depósito a juros fixos só poderia ser sacado depois que os clientes atingissem a maioridade (naquele tempo não existia esta assombração chamada inflação)... Esse dinheiro é originário da venda (legal) por minha mãe já viúva da Fazendinha da Fontinha, uma beleza de propriedade cercada de valos e arame farpado, com três nascentes de água potável, uma enorme capoeira, um pasto repleto de goiabeiras, araticuns e araçás, que começava na porteira em plena rua do Arraial e descia na divisa da rua do Areião e seguia pelo caminho de terra até a da Estação da Estrada de Ferro da Rede Mineira de Viação. Foi vendida, na época, por dezesseis contos de réis – e hoje cada uma das três partes em que foi dividida deve valer uma fortuna. Pois é. A Vitória foi a única que conseguiu sacar sua parte porque contraiu núpcias antes de atingir a maioridade. Mas o dinheiro dos outros foi desvalorizando através dos anos por artes e ofícios do sistema financeiro, de tal maneira que hoje nem sei se ainda existe alguma migalha. 

E é aí que não posso entender porque uns pilantras apaniguados recebem milhões de uma vez e continuam recebendo polpudas mensalidades.... E foi assim que a nossa Fazenda Nova ficou velha nas mãos indignas de outras pessoas. Não foi vendida. Não foi doada. Foi perdida, lamentavelmente, como se fosse um bem imaterial. Era, na verdade, uma prenda,uma herança familiar. Um bem valioso , roubado sub-repticiamente por ladrões safados e vulgares. 

Porca miséria, heim?

DESCRENÇA

No alto do céu está o fundo do mar. Parreiras de uvas transbordam nos barrancos, oferecem seus cachos maduros aos comedores de bagaços. A cidade que uma vez abriu-me os braços, agora encolhe suas ruas repletas de fatais automóveis. Sobre a cabeça do proscrito paira a névoa da descrença nas instituições. Ele almeja apenas sumir de vista. Na encruzilhada dos sofredores ele carrega um porco espinho na alma, acirrando as insoluções pensamentais. Só se avista coisas medonhas nos lugares das pessoas: um lobo na cara do vendeiro, um galho de espinhos no lugar de uma velha casa. Um campo desmatado no lugar da rua. Assim mesmo ou então uma rua desdeixada no lugar do campo desmatado.

CITAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS (6)

FRANÇOIS FORESTIER: Seu livro de 214 páginas bem que poderia chamar-se “O desnudamento das estrelas e dos políticos dos EUA”. O pente fino do autor não deixa ninguém de moral em pé. Os homens são patifes, canalhas, criminosos; as mulheres, bem as mulheres são as vítimas mais próximas da cambada de tarados. A ação localiza-se nos anos 60 da famigerada família Kennedy no poder. Limito-me aqui a citar algumas frases das páginas 138 e 139, que mostram o que na verdade é o ludibrio da fantasia publicitária que doura a pílula venenosa da sociedade política. Na página 139: “Por mais triste e deprimida que esteja, Marilyn Monroe sabe provocar desejo; é seu trabalho, sua paixão, sua razão de ser, sua missão na via...”. Na página anterior, 138: “Presa entre os conselhos de Lee Strasberg (professor dela no Actor Studio), que ela consulta por telefone, e as indicações de Ralph Greenson, psicanalista que ouve suas queixas e nos intervalos faz sexo com ela - entre as quais a de que nunca ter tido um orgasmo na vida, ela oscila”. Em “Marilyn e JFK”, trad. de Jorge Bastos, Edit. Objetiva – Rio de Janeiro, 2009. MARLI FANTINI SCARPELLI e MARIA ESTHER MACIEL: “... Todos sabemos que a literatura é superior ao cinema como forma de narração. Ela potencializa a imaginação como nenhuma outra” (Peter Greenaway, pag. 9). “As adaptações fílmicas, consideradas como traduções de outros textos – como romances, peças ou contos – também nas criações intertextuais para cuja interpretação o leitor deve estabelecer relações entre os sistemas de signos literário e cinematográfico” (Thais Flores Nogueira Diniz, pag. 34. “Os jovens inventaram o desemprego?... Não, pelo menos, eles não procuraram... É preciso procurar... Van Gogh procurou um pouco de amarelo, quando o sol desapareceu. É preciso procurar... É preciso procurar” (Jean Paul Godard, paag. 65, citação de Anita Leandro). Em “ALETRIA” – Revista de Estudos de Literatura”, Edit. UFMG, Belo Horizonte, MG, 2001. AMIR LABAKI: Arnaldo Jabor ocupa as páginas 175 e 176, com o texto “Carmen Miranda – Bananas Is My Busines”, do qual pinço alguns trechos: “Helena Solberg e David Meyer... Redesenharam não só a ascensão e queda de Carmen Miranda, mas também um retrato de nossa fragilidade... Como era e é frágil o Brasil, tão desamparado diante dos desejos estrangeiros, tão mal filmado, tão mal preservado.. Nos filmes antigos passa a sensação de que todos morreram sem conhecer os seus melhores dias. Mesmo os filmes de ficção são documentários de nossas carências...”. Em “O Cinema Brasileiro”, edição Publifolha, texto em português e em inglês, de 222 páginas. São Paulo, SP, 1998. PAULINE KAEL: O livro é de 568 páginas, sendo 60 delas de três colunas cada, referentes ao Índice Remissivo dos títulos originais dos filmes resenhados pela Pauline – e um Índice Onomástico, citando 1.200 filmes vistos em 1.001 noites. “Mestra da sinopse, Pauline Kael consegue contar-nos, nos limites de um livro, o que são oito décadas de filmes, quem está neles e por trás deles, e refletir, rápida mas inteligentemente, sobre o que cada um deles significa. Ninguém mais fez isso, ninguém mais seria capaz”. Palavras de William Shaws, na página 12. É um livro que busca não apenas informar e sugerir, mas também motivar: transformar leitores curiosos em expectadores apaixonados e deixar claro que a pressão é imensa, o tempo é curto e o número de filmes que devem ser assistidos se tornou realmente grande”, - palavras de Steven Jay Schneider. De minha parte (LB), cinéfilo inveterado desde à infância, contei e conferi que dos 1001 filmes assisti nada menos que 878, ou seja, da relação só não vi 123 filmes. Além dos que vi na televisão, em vídeo-cassete, em DVD e cine-clubes, nunca perdi um bom filme nos lugares em que vivi depois da adolescência: Belo Horizonte, Salto Grande onde até mesmo projetava filmes nas noites ao ar livre para gáudio dos operários das obras de construção da maior usina hidrelétrica de Minas, na época (1953 a 1958). Continuei a ver filmes em Uberaba, Cachoeira Dourada e em Divinópolis,onde vivo desde 1966. Em: “1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER”, Trad. de Carlos Irineu da Costa, Fabiano Morais e Lívia Almeida, Edit. Sextante, Rio de Janeiro, 2008.

CITAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS (5)

ALBERTO SILVA: “O Cinema Novo, que abrangeu toda a extensão da última década (1960-70), fundou uma linguagem autônoma para a filmografia brasileira, conferiu dimensões internacionais para a filmografia brasileira... através de dezenas de prêmios que levantou em festivais do mundo inteiro, e finalmente impulsionou o celulóide a discutir a realidade nacional sob uma ótica própria, utilizando uma linguagem inequivocamente escrita por brasileiros e fixando na tela a nossa paisagem física e humana” (pag. 17). Exemplifica com a citação nas páginas seguintes de vários filmes, entre os quais “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Vidas Secas”, “Os Inconfidentes”, “Como Era Gostoso o Meu Francês”,”O Pagador de Promessas”, “O Cangaceiro” e Outros. Em “ Cinema e Humanismo”, Edit. Pallas, Rio de Janeiro, RJ, 1975. AVA GARDNER: “Ele tinha andado flertando comigo desde o primeiro dia, mas isto era o previsível nos homens italianos: se eles não estão atrás de uma mulher é porque a vida deixou de ter valor” (pag. 243). Suponho que uma das coisas mais estranhas nos meus três casamentos – e devo acrescentar que não pedi um tostão de pensão a nenhum dos meus “ex” – foi o fato de que os laços matrimoniais pareciam ser algemas que nos prendiam” (pag. 216). Em “AVA – Minha História”, trad. de Celso Loureiro Chaves, Edit. LPM,são Paulo, SP, 1991. LILLIAN ROSS: “Para o papel do jovem (no filme “A Glória de Um Covarde”) John Huston queria Audie Murphy, o herói mais condecorado da Segunda Guerra Mundial, mas cuja carreira cinematográfica era limitada a alguns papéis secundários. Huston disse que estava tendo dificuldades em persuadir os produtores: “Eles prefeririam um medalhão”, disse indignado. “É que eles não vêem Audie do mesmo modo que eu vejo. Essa criatura pequena é de olhar tão doce! Mas na guerra se transformava completamente e saia por conta própria a descobrir alemães para matar. É um pequeno e amável matador” (pg. 114).Em”Cinema e Outras Reportagens”, trad. de Maria Silviano silva, editora AGIR – Rio de Janeiro, 1977. MICKY MARCY: “É difícil explicar cientificamente o sucesso de Brigitte Bardot, feito de um complexo de fatores. Além de sua presença magnética na tela, devem ter contribuído a propaganda das empresas cinematográficas e os golpes publicitários provocados pelos inúmeros escândalos que sempre acompanharam sua vida particular – para muito, bem mais picante do que os papéis vividos nos filmes. Depois de separar-se de Vadim, em 1956,, circulou por diversos”maridos”, além de incontáveis “casinhos” mal revelados pelas colunas fofoqueiras dos jornais. Depois de Jean Louis Trintignant, vieram o cantor Sacha Distel, Jacques Charrier (com o qual se casou e teve um filho), o célebre diretor François Truffant, o ator Samy Frei, o brasileiro Bob Zaguri, o playboy Günter Sachs...” (pag. 19). Em “A Vida Íntima de Brigitte Bardot”, trad. de Fiorani Defino, Edit. TAIKA, São Paulo, SP, 1977. IARA RODRIGUES E OUTROS: Mini-biografias das seguintes estrelas: Isabelle Adjani, Anouk Aimeé, Nancy Allen, Mia Farrow, Tânia Alves, Julie Andrews, Ann-Margret, Laura Antonelli, Anne Archer, Fanny Ardant,Rosanna Arquette, Elizabeth Ashley, Stephane Audran,Lauren Bacall, Pamela Reed, Anne Bancoft, Brigitte Bardot, Ellen Barkin,Kim Basinzer,Norma Bengel, Ingrid Bergman,Jaqueline Bisset,Karen Black, Linda Blair, Débora Bloch, Katharine Hepburn, Sandrine Bonnaire, Sônia Braga, Ellen Brennan, Lidia Brandi, Genevieve Bujold, Carol Burnett,Ellen Burstyn, Kate Capshaw, Cláudia Cardinale, Louise Cardoso, Leslie Caron,Tônia Carrero, Marcélia Cartaxo, Cláudia Raia, Regina Casé, Joanna Cassidy, Kim Cattall, Geraldine Chaplin.... Assim segue a relação, acompanhada de textos, em 86 páginas num total de 448 páginas.Belas mulheres, grandes talentos, colírios nos olhos dos expectadores em todo o mundo. Em “Astros Estrelas e Seus Filmes em Vídeo” – Edit. Nova Cultural, São Paulo,SP, 1990.

CITAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS (4)

MARLENE DIETRICH: “Decidi-me converter em atriz de teatro, porque o teatro era o único lugar onde se podia recitar belos textos e belos versos, como os de Rilke, que me rasgavam o coração, e ao mesmo tempo me davam ânimo” (pag.49). Em (no livro) “Marlene Dietrich”, trad. de Janer Cristaldo, Edit. Nórdica, Rio de Janeiro, 1984. THOMAS KIERNAN: “Era, em 1955, o tipo de universidade para onde eram enviados os jovens privilegiados e inteligentes, a fim de completarem sua educação formal, adquirirem um verniz de cultura sofisticada e prepararem-se para o “matrimônio, a maternidade, a menopausa”, segundo as palavras das jovens mais sarcásticas que lá se formavam” (pag. 45). Em JANE FONDA – Mulher do Nosso Tempo”, trad. de Berta Amoroso Cordeiro Batista e Silva – Difel Editora – São Paulo, SP, 1983. LUIS CANALEH: “Contra a vontade dos israelitas e de Jeová, a Bíblia relata que Salomão havia esposado muitas mulheres de outras terras, incluindo a filha do Rei do Egito, e que tinha um total de 700 princesas e 300 concubinas em seu harém (pag. 30). Em “GINA LOLLOBRIGIDA”, Edit. Nórdica, Rio de Janeiro, 1996. JÚLIO BRESSANE: “Uma pessoa com quem você cruza na rua não é, a principio, nada mais do que uma estátua que caminha, mas, a partir do momento em que seu olhar e o dela se cruzam, um calor se produzirá e ela passará a ser um ser humano” (pag.28). “Emerson, o eterno observador, nos diz: “As fontes da invenção e beleza na sociedade estão tudo, menos secas” (pag.72). “Na natureza encontra-se uma santidade que envergonha nossas religiões” – ainda é Emerson quem afirma, na pag. 78. Em “CINEMANCIA”, Eit. Imago, Rio de Janeiro,2000. JOE MORELLA e EDWARD Z. EPSTEIN: “ Rita Hayworth se sentia orgulhosa de ter dado as filhas uma excelente educação. Obviamente, Rebecca não tinha nenhum interesse em seguir carreira artística. Nem Yasmin. O que as duas meninas presenciaram durante toda a vida foi o suficiente para não desejarem o aplauso do público e o odor da maquilagem teatral no seu cotidiano” (pag, 281). Em”RITA – A Deusa do Amor”, trad. de Eduardo Viváqua, Editorial Nórdica, Rio de Janeiro, 1983. ANDRZEJ WAJDA: “Quero dizer que qualquer história narrada ao redor de uma mesa, lida nas notícias de um jornal, ouvida na rua, pode conter uma tragédia digna de Sófocles. Basta saber discernir seu sentido, estabelecer seu verdadeiro herói e, assim, de que lado se colocará o narrador” (pag. 6). Em “Um Cinema Chamado Desejo”, Edit. Campus, trad. de Vera Mourão, rio de Janeiro, 1989. LAUREN BACALL: “Em todas as fontes e lagos de Versailles existe um lúcio voraz que mantém todas as carpas em atividade, para evitar que engordem excessivamente e morram. Humphrey Bogart sentia um raro prazer em desenhar papel semelhante nas fontes e lagos hollywoodianos. Não obstante, poucas de suas vítimas lhe guardavam rancor, e quando o faziam era por pouco tempo. Seus arpões eram feitos para atingir apenas a camada externa de autocomplascência, não penetrando nas regiões do espírito onde os verdadeiros danos são causados” (pag. 338). Em “BACALL Fenomenal”, trad. de Luis Horácio da Matta, Edit. Nórdica, Rio de Janeiro, 1978.

CITAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS (3)

ALAIN RESNAIS: “Pessoalmente, não vejo grandes diferenças entre o conteúdo e a forma, pois entre um e outro aspecto se verifica uma interpenetração contínua” (pag. 31). Em “Cadernos de Cinema”, trad. de Antônio Landeira, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Portugal, 1969. VINICIUS DE MORAIS: “Não, eu não irei ver Pier Angeli – e eis que ao afirmá-lo já me vou pierangelificando de novo. E não apenas eu, também a tarde. Ao olhar agora pela janela verifiquei que a tarde está de um grande pierangelismo, e que o seu âmbar dulcificou maravilhosamente a fisionomia antes tensa dos homens que comigo trabalham” (pag. 1810. Em “O Cinema de Meus Olhos” (organização, introdução e notas de Carlos Augusto Calil), Edit. Cia das Letras, São Paulo, SP, 1996. ORSON WELLES: “Eu não gosto de falar de meus filmes. O cinema é ingrato. É verdade que hoje em dia o diretor é considerado um verdadeiro artista, o artista com letra maiúscula, mas é um erro. São os atores que fazem um filme. Mozart, Wagner, Beethoven, Velásquez, eles sim é que são grandes artistas. Se eu fosse pintor, teria pintado milhares de telas. Como cineasta, fiz apenas treze filmes. É ridículo” (pag. 78). Em “O Pensamento Vivo de Orson Welles” (livro com a epígrafe na capa: “o trabalho é ainda o melhor antídoto contra a loucura” – Coordenação Editorial de Martin Claret, Ediouro, Rio de Janeiro, 1980. ANDRÉ BAZIN: “Nada melhor do que citar esta profissão de fé de Akira Kurosawa: “um filme de ação pode ser apenas um filme de ação. Mas que coisa maravilhosa se ele conseguir, ao mesmo tempo, pintar a humanidade! Este foi sempre o meu sonho desde a época em que eu era assistente de direção. Há dez anos desejo reconsiderar o drama antigo sob este novo ponto de vista” (pag. 187). Em “Opus 86 – O Cinema da Crueldade”, trad. de Antônio de Pádua Danesi eMaarina Appenzeller, Edit. Martins Fontes, são Paulo, SP, 1989. E. ANN KAPLAN: Citando Marguerite Duras: “por que não há escritores entre o proletariado? Por que não há músicos entre os trabalhadores? É exatamente a mesma coisa. Não há músicos entre os trabalhadores da mesma forma que não há músicos entre as mulheres. E vice-versa. Para ser um compositor, você deve ter a posse total de sua liberdade. A música é uma atividade de excesso, é loucura, uma loucura livremente consentida” (pag, 137) Em “A Mulher e o Cinema – Os Dois Lados da Câmera” (trad.de Helen Márcia Potter Pessoa, Edit. ROCCO – Rio de Janeiro, 1995. MARLON BRANDO e ROBERT LINDSEY: “De certa forma quem está na Máfia vive de acordo com um código mais severo do que o de muitos presidentes e políticos; fico imaginando o que aconteceria se, em vez de fazermos os políticos jurarem com a mão na Bíblia, exigíssemos que prometessem ser honestos sob pena de terem os pés presos em cimentos e serem atirados no Rio Potomac se não fossem. A corrupção política diminuiria sensacionalmente” (pag. 32). Em “BRANDO – Canções Que Minha Mãe Me Ensinou”, trad. de J. E. Smith Caldas, Edit. Siciliano, S. Paulo, SP, 1994. ANNE EDWARDS: “Gertrude...uma noite organizou um jantar e convidou todas as mulheres (com seus maridos) que suspeitava estarem tendo um caso com Ernest. Como era ela a responsável pela lista dos convidados nas festas, o pobre Hartley desceu para jantar despreparado para enfrentar uma sala cheia de mulheres com quem ia para a cama e um grupo de homens em quem pusera chifres. Foi uma noite que jamais esqueceu e que Gertrude lembrou-lhe com freqüência no correr dos anos. Mas isso não acabou com a sua infidelidade” (pag. 17). Em “Vivien Leigh”, trad. de Áurea Brito Weissnbreg, Edit. Francisco Alves, rio de Janeiro, 1985.

CITAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS (2)

JERÔME PRIEUR: “O cinema torna as pessoas estranhas em suas próprias casas, estupefatas de serem observadoras de suas vidas, de seus anseios e medos, atônitas pelas sensações e as encarnações que nos transpassam, e nos ensinam lentamente a caminhar em terra desconhecida” (pag. 11). “Escolhi um cinema onde, nas fotos, havia mulheres de combinação, e que coxas! Senhores! Pesadas1 Amplas! Precisas! E depois cabeças bonitinhas lá por cima, como desenhadas por contraste, delicadas, frágeis, a lápis, sem retoques a fazer, perfeitas, nem uma só negligência...Tudo o que a vida pode desabrochar de mais perigoso, de verdadeiras imprudências de belezas, essas indiscrições sobre as divinas e profundas harmonias possíveis” (pag. 158). Em “O Expectador Noturno – Os Escritores e o Cinema”. Trad. de Roberto Paulino e Fernanda Borges – Edit. Nova Fronteira –Rio de Janeiro, 1995. FRANÇOIS TRUFFAUT: “Ingmar Bergman afirmou: “Todas as mulheres me impressionam: velhas, jovens, altas, baixas, gordas, magras, grosseiras, pesadas, leves, bonitas, atraentes, desengonçadas, vivas ou mortas... O mundo das mulheres é o meu universo. Eu talvez evolua mal dentro dele, mas não há nenhum homem que possa se gabar de fazê-lo inteiramente bem” (pag.280. Em “Os Filmes de Minha Vida” – trad. de Vera Adami, Edit. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1989. FRANZ WEYERGANS: “O filme, em primeiro lugar, é uma história, mas uma história contada com beleza” (pag. 6). “O cenário natural, uma riqueza que Bergman sabe utilizar” (pag. 55). De um terreno baldio pode jorrar uma fonte” (nos filmes de Fellini,pag. 64). “A miséria desprezada tem várias faces e um só rosto” (pag. 178). Em “Tu e o Cinema”, trad. de Ruth Delgado, Edit. Civilização, Porto, Portugal, 1976. ANTHONY SUMMERS: Palavras de Anton Tchecov à Marilyn Monroe: “Você é uma jovem mulher que emite vibrações sexuais, não importa o que esteja fazendo ou sentindo. E seus chefes no estúdio estão interessados só nas vibrações sexuais. Agora entendo porque eles se recusam a considerá-la uma atriz. Você é mais valiosa para eles como uma estimuladora do sexo” (pag.80). Em “A Deusa – As Vidas Secretas de Marilyn Monroe”, trad. de Evelyn Kay Massaro – Edit. Best Seller, São Paulo, SP, 1986. LIV ULLMANN “Um homem pode ir para um restaurante sozinho, à noite, mas eu não posso fazer o mesmo e evitar:a) críticas; b) oferecimento de companhia masculina na qual não estou interessada; c) causar pena” (pag. 143). Em “Mutações”, trad. de Sônia Coutinho, Edit. Nórdica, Rio de Janeiro, 1978. J. C. ISMAEL: “Assim está escrito no Coro de “ANTÍGONA”, de Sófocles: “Muitas coisas grandiosas vivem, mas nada supera o ser humano na majestade”. No entanto, penso que, em arte somente o realismo pode fornecer o retrato o quanto possível aproximado e os caracteres mais nítidos desse animal que se alimenta de transcendentais” (pag. 55). Em “Cinema e Circunstância”, Edit. Buriti, São Paulo, SP, 1965. JULIETA DE GODÓI LADEIRA: Transcrição da parte O Espectro de Ray Milland, assinada por Silvio Fiorani: “Não sei, pode ser que eu esteja errado, que venha amanhã a reconsiderar tudo o que estou dizendo agora, não sou uma fortaleza de convicções, mas acho que alguns filmes nos ajudaram a ter sonhos, a aspirar a uma condição para a qual nós parecíamos não estar destinados, nos ajudaram a compreender que, nós também tínhamos sido feitos para brilhar” (pag.48). Em “Memórias de Hollywood”, Vários Autores, Editora Livraria Nobel, São Paulo, SP, 1987.

CITAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS (1)

OTTO FRIEDRICH: “Em 1939 (nos Estados Unidos) existiam mais cinemas (15.115) do que bancos (14.952). Mais de 50 milhões de americanos iam ao cinema toda semana. Havia cerca de 400 novos filmes por ano para se ver. A receita das bilheterias que jorrava em Hollywood totalizava 637 milhões de dólares. Os filmes constituíam a décima quarta industria em termos de volume (400.855.095 dólares) e a décima primeira em termos de patrimônio (529.950.444 dólares, mais que a de máquinas para escritórios, maior que as cadeias de super-mercado” (página 27). Em “A Cidade das Redes – Hollywood nos Anos 40”, tradução de Ângela Melin – editora Companhia das Letras, São Paulo, SP, 1988. CHARLOTTE CHANDLER: O diretor de filmes Billy Wilder fala de sua timidez com as belas atrizes de seus belos filmes: “Escrevo as minhas idéias e guardo-as porque não sabemos quando a musa vai nos tocar a fronte. É bom estar preparado... sempre fui um anotador” (pág.127). Na página 185 outras palavras dele: “Humphrey Bogart achava que eu amava a querida e linda Audrey Hepburn. Quem não a amava? Ela era uma criação única. Deus deu-lhe um beijo na bochecha”. Em “Ninguém é Perfeito – Billy Wilder, Uma Biografia Pessoal”, trad. de Cássia Zanoa, Edit. Landscape, São Paulo, SP, 2003. PETER BUCLKA: “Como não existe uma vida verdadeira num contexto falso, como diz Adorno, todos os personagens de Wim Wenders sofrem com essa situação, tornam-se ansiosos. Mas essa ansiedade, por sua vez, é a primeira a lhes dar forças para continuarem cultivando o sonho de uma vida verdadeira” (pag. 83). Em “Olhos Não se Compram – Win Wenders e Seus Filmes”, trad. de Lúcia Nagib, Cia. Das Letras, São Paulo, SP, 1987. THIERRY JOUSSE: “Em “FACES” (Nome do filme) uma sequência mostra Richard e Maria Forst na cama, num dueto amoroso em que os corpos entrelaçados dialogam diretamente, em que a palavra e o gesto são indiscerníveis, em que a linguagem, pelas onomatopéias ou gritinhos, retorna ao nível tátil e corporal. É o toque, o gesto, o corpo que, indo até a agressão, introduzem a comunicação imediata entre os seres” (pag. 82). Em “JOHN CASSAVETES – Biografia, Análise, Crítica e Filmografia Completa”, trad. de Newton Goldman e Tati Moraes – Edit. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1992. OCTAVIO DE FARIA: “Bérgson chegou à seguinte afirmação categórica e definitiva: “o mecanismo do nosso conhecimento é de natureza cinematográfica”. Coube, naturalmente, aos entusiastas do cinema como nova arte tirar desse aforismo a inevitável conseqüência: queiram ou não, a expressão por imagens é, do ponto de vista da criação artística, a mais poderosa, a mais rica de todas as formas de expressão” (pag. 20). Em “A História do cinema – Uma Pequena Introdução” EDIOURO, Rio de Janeiro, 1990.