quinta-feira, fevereiro 21, 2008

NOVAS PÍLULAS DE VIDA

- A revolução política que não tenha os lados da estética e da ética preservados e funcionais, não passa de repressão idêntica a que Stalin, Hitler, Mao e Fidel conduziram Rússia, Alemanha, China e Cuba aos limites do horror e do terror. - A preguiça que tenho para lidar (ler e escrever) com a literatura convencional baseada em consagrados estereótipos. Quem não tenta inovar, cai no ramerrão. - “Hay Gobierno?” – Pergunta o adventício. Recebendo a resposta positiva, ele exclama, convictamente: “Soy contra!” - O pessoal do PASQUIM costumava rotular a imprensa a serviço do governo como um simples armazém de secos e molhados. Na verdade, a imprensa, nos países sérios é o quarto poder. Sempre empenhada em lembrar ao leitor que os réus abatidos e não sepultados merecem continuadas acusações - que não poderão, jamais, serem apagadas dos anais e inventários e da memória da nacionalidade. Mostra de Cinema em Tiradentes. A deste ano (de 18 a 26 de janeiro) foi espetacular como as dos anos anteriores, que tive a ventura de ver. Vi (acompanhado da esposa) muitos filmes, estabeleci muitos contatos, encontrei-me com o velho e querido amigo (a quem tanto admiro) Helvécio Ratton, que apresentou, com muito sucesso, sua nova obra-prima “Pequenas Histórias”, filme de prender a respiração do mais exigente cinéfilo. Estar diante dele e de seus filmes é, para mim, como estar diante de Ingmar Bergman, Cassavettes, Antonioni e de suas respectivas obras-primas cinematográficas. Vimos, também, “Mutum”, de Sandra Kagut, outra bela incursão da sétima arte na primeira arte de nosso mineireiro Guimarães Rosa; “Os Porralokinhas”, empolgante comédia de Lui Farias; “Onde Andará Dulce Veiga?”, de Guilherme de Almeida Prado e o brilhantismo interpretativo de Carolina Dieckamn; e vários Curtas e algumas participações nas palestras e debates Trecho não aproveitado de um dos meus romances inéditos: “O que fiz para merecer tanta desdita? – Perguntei, aflito, ao Onipotente Deus das Alturas. E um impotente deusinho das miniaturas respondeu-me com a reprimenda mais certeira: “você esmigalhou milhões de vidas ao acender aquela fogueira nas Tabocas”. Mas eu não passava de uma criança na época, repliquei, nervosamente. “Uma criança?” – O inquisidor indagou, enfaticamente, para em seguida ajuizar: “uma criança munida da cultura dos adultos, ou seja, um adulto em forma de criança. Você vai para o inferno de cabeça para baixo!” Aí recobrei a lucidez, emagrecido de tanto suar.” - Comentário de Lizete Souza Passos, de Porto Alegre, RS, em 07/09/07, através de e-mail: “Oi amigo Lázaro acabei de fazer uma leitura neste teu belo blog. Adorei este trabalho (Colcha de Retalhos) de antropologia com nuances de filosofia e de psicologia da alma. Parabéns, amigo, realmente são estas idéias que ajudam as pessoas a se conhecerem sem a necessidade de darmos a receita pronta, pois cabe a cada qual a escolha da maneira de conduzir-se no Cosmos. Continue a divulgá-las. Abraços da amiga Lizete S. Passos”. - “Sonhamos com outras dimensões, com subtextos paranóicos, com submundos, porque quando acordamos a realidade nos prende em suas garras coisificantes e não conseguimos enxergar além do horizonte material, factual”. (Salman Rushdie, conto “O Ninho do Pássaro de Fogo”, do livro “Contando Histórias” – Companhia das Letras, SP. 2007.

PÍLULAS DA VIDA

- O alto daquela serra espera por mim, anos e anos. Quando irei lá, para ver de perto a camada de verdes palavras sobre a pedra escurecida e inconsútil, esférica e acolhedora? Quando irei lá descansar minha cabeça sobre a linha dos musgos sombrios? - Frio na alma, por que não estás comigo? – Canta, lamentoso, o bolero. - Por que uma boa estória arranca-me lágrimas e não sorrisos, quando a estou lendo, ouvindo ou vendo? Chorar diante da tristeza é normal, mas sentir a prevalência das lágrimas mesmo diante da alegria, não é contraditório? - Píndaro (muitos e muitos anos antes de Jesus) já sabia que a água é o mais nobre dos elementos. - A resignação é um pequeno e furtivo suicídio, como queria Balzac? - De uma coisa Conan Doyle tinha certeza: em toda história de crime o Mau Gosto é o personagem principal. - Moscas, elefantes, homens: tudo igual, como diria La Fontaine. - Se tens cabeça de manteiga, não seja padeiro, como lá diz o ditado. - É verdade o que Francis Bacon diz em sua obra: que toda beleza tem alguma desproporção? - Com quantos tolos se faz um público? – Eis a pergunta irrespondida de Goethe. A palavra PROGRESSO não está ficando, sob o ponto de vista ecológico e até humanístico, cada vez mais pejorativa, uma vez que dá nome a uma ação predatória contra a natureza e contra o bem estar social dos seres vivos do planeta? Tomemos Divinópolis como exemplo. Sempre foi considerada a cidade progressista por excelência, com o oba-oba e o viva dos que pensam apenas no presente e acham que o futuro é algo abstrato, que só a Deus pertence. Acontece que o próprio Deus está sendo atacado e destruído (se isso é possível) pela ação nefasta dos agentes do progresso. É uma cidade que sempre sofreu da ausência de previsão da classe dirigente no que concerne ao uso do solo urbano. O afã de levar vantagem em tudo propicia o irrompimento dessa selva de pedra no centro da cidade, onde cada edifício tira o ar e a luz do outro – e todo lote vago ou casa horizontal não passam de potenciais espigões. A cidade não desfruta de infra-estrutura para suportar o peso de tantas edificações. As redes de água, de esgoto, de energia elétrica foram projetadas e construídas quando a cidade era horizontal e tranqüila, sem o congestionamento do trânsito e dos pedestres. O que resulta é o marasmo, a sujeira incontrolável, o entupimento das bocas de lobos e das vias subterrâneas, as interrupções do sistema elétrico, o estresse social e não apenas individual. Que continue a crescer, mas horizontamente. A frase “devastação da natureza” é mais uma das copiosas e multifacetadas denominações do que antes queria revelar apenas a luta pelo progresso material da natureza humana. Hoje, diante das ações nefastas e funestas, constantes e volumosas, vulgarizaram a terminologia de tal maneira que o impacto dos malefícios caiu no jargão da normalidade imposta e consentida do indiferentismo social. Está chegando o tempo que a própria ação desnaturada (cortar árvores, jogar lixo no rio, matar seres vivos) é recebida e consentida como sendo algo trivial e natural? E quase ninguém move uma palha contra. Haja Deus!