quarta-feira, outubro 06, 2010

PAULINHO

Quem vem da vida para o mundo, depois de longa comunhão placentária, abençoa quem vivamente o esperava. O sopro da inocência acende a luz: é o gratificante milagre da Criação! A primavera aperfeiçoa a própria aura? A concepção (desejada e conseguida) de uma vida dentro de outra vida. Assim espelhada no ultrassom: as covinhas no queixo, os bracinhos erguidos nos balbucios: um chorinho a procura de um sorriso? Que venha a nós na infância dele as graças inaudíveis e indizíveis, concebidas e cerzidas ponto a ponto nos dias e noites de tantos meses da expectante vigência intra-uterina a criar os liames biológicos e anímicos do nascituro. Nutriz e auréola do sentimento? Prelúdio e voz do pensamento? O olhar sobre um mundo recomeçando? As feições delineadas, os traços verossímeis: marcante fusão da herança familiar? Agora o Paulinho está sorrindo, mesmo quando chora?

DITOS E FEITOS

Bons Votos! No meu histórico de eleitor constam alguns momentos depressivos, que prefiro esquecer. Mas confesso que já desfrutei de bons momentos e de melhores resultados, votando em JK, Milton Campos, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Itamar Franco, Fernando Henrique, Aécio Neves e Galileu Machado. E agora o resultado eleitoral do primeiro turno da pugna foi auspicioso e feliz. O papel inteligente, polido e sensível da Marina foi o brinde político que o povo brasileiro tanto merece. Graças à coligação dela com o Serra o complô devastador do PF (Partido Fisiológico) ficou momentaneamente derrotado, a um passo da definitiva e necessária defenestração. Serra é nosso velho conhecido, moralmente muito bem conceituado, portador de uma fecunda folha de serviços públicos prestados, ao longo do tempo, em todos os degraus da hierarquia do poder democrático. Marina é a doce criatura que reabilita o amargo cenário da política fisiológica. É feminina (uma vantagem neste cenário historicamente povoado de machões negligentes e, em grande parte, corruptos. É habilitada, comunicativa, humana, sobremodo humana. A coligação de ambos no segundo turno é uma lufada de um novo ar que virá, certamente, purificar o ar apodrecido que enfeia e adoece o Pais nos últimos anos. Ditos Propriamente Ditos. “Não nos importaríamos tanto com o que as pessoas pensam de nós se soubéssemos quão raramente elas pensam em nós” (John Lanchester, romancista inglês). Não aproveitamos escrevendo, pintando ou musicando as imagens que temos presenciado e as idéias que nos assaltam – o que representa uma perda enorme de mão de obra que a vida nos oferece, gratuitamente. A escritora Simone Weil afirma que “um homem sozinho no universo não teria absolutamente nenhum direito, mas teria muitas obrigações”. Viver é conviver. Não resisto à tentação de citar duas afirmações do cronista e poeta Ferreira Gullar (na Folha de São Paulo de 19/09/010): “A sociedade brasileira assiste hoje a despudorada manipulação da opinião pública, que é a campanha de Dilma Rousseff para a Presidência da República. Até alguns petistas não conseguem esconder seu constrangimento diante dos escândalos que surgem a cada dia e, sobretudo, do descaramento com que, de Lula a Dutra, os petistas pretendem, mais uma vez, passar por vítimas, quando são de fato os vilões”. (...) “Meu consolo é saber que, em menos de três meses, ele deixará a presidência. Garantiu que até lá vai fazer “muita miséria”. Disso não duvido, mas, após dezembro, não terei que vê-lo todos os dias na televisão, insultando a nossa inteligência”. F. T. Guzzo escreve na VEJA sobre o desapreço da opinião pública e douta sobre Fernando Henrique Cardoso. Uma injustiça, ele afirma. O pouco que há de certo e de bom no Brasil de hoje é fruto do trabalho dele como Presidente da República. E então, qual foi seu erro? O articulista não diz, mas deixa a entender que, graças a ele é que o tal de lula é considerado pelo povo (e não pela intelectualidade séria) como um herói (sic!) de nosso tempo. A leitora Regina Helena de Moraes Perez Ferraz (de Campinas, SP) representa as pessoas de bons costumes do País em carta publicada pela VEJA de 29/09, com a seguinte pergunta: “Vamos eleger um governo que nos levará a um futuro de mais falcatruas, desmandos e uma tendência a nos “venezuelar” com o cerceamento de nossos direitos?” Pergunta retórica? Não. Pergunta realista, sim! O despreparo da candidata Dilma para exercer o cargo que pleiteia é gritante. Fiquei bobo de ver na entrevista da TV Record do dia 26 a dificuldade dela para responder as perguntas mais simples. Ela não só titubeia ao falar como demonstra ignorar o que, tanto a pergunta como a resposta, exigem de alguém que assume uma incumbência tão grave e importante como o possível merecimento da confiança do povo (não devidamente esclarecido) da nação brasileira. O Logro das Loterias. O supracitado romancista inglês John Lanchester, fala da puerilidade masoquista dos viciados no jogo lotérico, que na verdade não passa de um novo e não-declarado tipo de imposto. A probabilidade de se ganhar na Mega Sena é de um apostador num lote semanal de catorze milhões de apostadores. É mais difícil do que morrer, ele diz, pois “a probabilidade de alguém morrer em uma dada semana é muito maior do que a chance de ganhar na lotearia. A média semanal de mortes na Inglaterra (ele acrescenta, depois de demonstrar toda a base de seu cálculo) é de dez mil, cento e oito. Conclui, então: “a chance de se ganhar na loteria é de 2.873 vezes menos do que a chance de estar morto quando o prêmio da loteria for sorteado”. Isso sem contar com as maracutaias da jogatina brasileira, onde há casos de um deputado federal ganhar dez vezes os milionários prêmios da tal de Mega Sena. Haja Deus!