sábado, junho 30, 2007

MEMÓRIAS LITERÁRIAS

A revista literária POEMA CONVIDADO, editada por Terezinka Pereira (University of Colorado – Dept. of Spanish & Port. , Boulder, Colorado, 80302 USA), faz no número 16 de março de 1976 a reprodução de uma carta que mandei à Terezinha, na página 10, acompanhada da resposta: “De uma carta de LÁZARO BARRETO Há muito tempo que pretendo escrever-lhe, mas esperava publicar a nota sobre a turma da GERAÇÃO COMPLEMENTO, que finalmente saiu no “Suplemento Literário do Minas Gerais”. Você viu? Depois de sair é que vi como o trabalho é pequeno em relação ao assunto, e falho, omisso, dando talvez até uma idéia errônea do que foi o Movimento. Quem sabe eu não deveria ter publicado? Acho que o assunto está a merecer estudo de maior fôlego, mais completo e profundo. Quem se aventuraria? De minha parte, estou canhestro. Não participei de dentro da coisa, fui mais um espectador, com raras participações. Estava muito verde naquele tempo, não tinha a competência nem o arroubo para ombrear em qualificações com os demais membros. Então, por pudor, retraia-me. Mas fico muito feliz observando os grandes e belos frutos que produziu. É toda uma geração que agora se dispersou, mantendo porém o cordão umbelical da mesma fonte de desespero floral e ânsia libertária”. Resposta da Terezinka (na época assinava Terezinha. Esposa do grande poeta e crítico Heitor Martins que, com ela migrou para os Estados Unidos, onde estão até hoje): “Querido e Distante Amigo Lázaro: Seu artigo estava excelente. E você representou um papel único e talvez o mais importante da “Geração Complemento”, o de espectador consciente: Nenhum de nós tínha consciência do que estava passando, embora com vaidade nos chamávamos de uma “Geração Complemento” (deve ter sido um termo inventado por Heitor) e não houve outro espectador. Só você sentiu a importância do acontecimento, talvez porque fosse demasiado jovem ou tivesse demasiada auto-crítica para participar. Mas você tem razão, o fato vai ter de merecer algum estudo. Qualquer pesquisador literário que estudar a minha obra, vai ter de buscar as raízes lá naqueles encontros da “Tiroleza”.

DOIS LANCES (*)

Eis abaixo o que julgo ser um dos primeiros poemas de Oswaldo André de Melo, publicado no “Diário Mercantil” de Juiz de Fora em 08/07/1969. Escrito na ocasião de uma visita que fez à minha mãe, quando o arraial era mais antigo e bucólico. 

“RECONHECIMENTO DA TERRA
(p/ Lauzinho porque Marilândia é dele com todo seu entendimento). 

primeiro a objetiva da máquina fotográfica guardará os verdes diversos da terra - o cansaço as lajes menininho jesus são pedro afundado na pedra na fé do povo – o rio: água limpa para a sede areia na rasura para os pés viajantes - a máquina fotográfica perpassa a laranja leite tirado na hora as falas do sabasquá bordado inácio solteiro - depois beija a face da virgem barroca seu séqüito de são sebastião sagrada família nosso senhor escondido na gaveta: aguardo da morte na semana santa decifra os cabelos de angélica corpos do sino suas vozes - a máquina fotográfica entre o forro da igreja nossa senhora do desterro o pagode no meio da noite. 

Em seguida, uma tentativa de poema deste bloguista, publicado no mesmo jornal de Juiz de Fora em 11/10/1968, na coluna dominical intitulada genericamente de “Poesia de Vanguarda” - vanguarda na época, é claro. 

DOIS LANCES DE MOÇA (para tática: lázaro barreto). Ela olhando: se essa rua fosse um rio e me levasse para mim, o chão erétil sob os pés na manhã colegial, é absurdo existir assim a fruta do meu ser em dia tosco-bobo, e todos me verão enxuta na chuva sorrindo o poema geral. Ela olhada: de dentro para fora a vibração do que na epiderme exulta, exasperando sem contatar, nem é bom pensar é tessétera nos recônditos ônditos mussica cantada inaudível vem ela reversível desenhando um sistema de carícias que punge na epiderme e derrama a cor da fala e filtra águas do murmúrio universal é tessétera e etcetéra. 

(*) Mantínhamos em Divinópolis, naquela época, um jornal literário chamado “AGORA”, através do qual intercambiávamos publicações com outros jornais literários do Brasil e até do Exterior. Em Juiz de Fora os amigos (afeiçoados, de ambas as partes até hoje, graças a Deus) editores eram Wagner Corrêa de Araújo e Clevane Pessoa de Araújo).

ALGUNS CHISTES DE 1976 (*)

- Ficou cego de tanto pagar aluguel que custava os olhos da cara. 

- A Santinha do Pau Oco tem tudo para ser uma personagem de Faulkner: presbiteriana à mesa e herética (ou erótica) na cama. 

- Gostava muito da esposa. Não teria as amantes que tem se pudesse tirar xérox dela. 

- Era um cara feio pra chuchu. Em réplica fazia caretas no espelho. 

- O desconsolo do careca é não ter feito uma ondulação permanente quando ainda possuía uma vasta cabeleira. 

- Se Copérnico descentrou o homem do universo físico, se Darwin deslocou o homem do centro da criação, se Marx tirou o homem do centro da história, se Freud o expulsou do centro de si mesmo (como lá diz o Eduardo Mascarenhas), então...: a solução é contratar logo um centro-médio tipo Piazza ou Ademir da Guia para marcar e apoiar no jogo existencial. 

- Os apologistas da esperteza judaica estão eufóricos. Uri Geller entortou o cano, os estrategistas israelenses ludibriaram o Idi Amim, seus estetas dobraram o júri de Honk-Kong para elegerem a Miss Universo deste ano. Três a zero sem Gol da Meir. 

(*) Pequeno texto publicado no jornal O ITAPECERICA, da cidade de igual nome, editado pela querida amiga, até os dias de hoje, graças a Deus, Célia Lamounier de Araújo.

quarta-feira, junho 27, 2007

DIANTE DOS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS

(Em Memória do poeta Carlos Drummond de Andrade)

Neste país de grilheiros e trapaceiros (para não dizer um palavrão), não basta indignar-se, socar o ar, esmurrar a mesa, não adianta replicar, oposicionar,se ardorosamente. Pois que à revelia de qualquer racionalização (destemperada ou concisa), os olhos espantados e fulminados do expectador, na manhã enevoada e ensangüentada do nosso amargo e letal brasil brasileiro, os olhos derramam lágrimas quentes e copiosas e não há lenço nem barra de camisa que possa enxugar tal avalanche de angústia de tristeza de amargura, do azedume da terrível realidade de uma terra assim tão maltratada pela incúria geral, institucionalizada. Ái de ti, Brasilônia!

terça-feira, junho 26, 2007

OS ETERNOS ANOS SESSENTA

Fiz um enorme esforço, físico e mental, para ler o calhamaço de quase quatrocentas páginas da biografia “MAYSA – Só Numa Multidão de Amores”, de Lira Neto, Editora Globo, São Paulo, 2007. Falando assim dou a impressão que o livro não é bom? Sei que uma leitura cansa quando ultrapassa a linha demarcatória da boa qualidade. Nada sabia do autor nem de seu trabalho. Sabia da importância da autora na vida das pessoas da mesma faixa de minha idade, que se desprenderam musicalmente (e existencialmente) do histórico repertório do samba-rasgado e de breque e do samba-canção e do chorinho, para defrontarem, assimilarem e agüentarem o peso do cancioneiro da fossa e da bossa, do iêiêiê, do rock, do tropicalismo e de todo o purgatório público e notório dos anos sessenta. A voz dela, aquele soluço de sua renhida intimidade, é o que mais valia, o que mais importava, e que mais emocionalmente influenciava, com todas as ressonâncias mórbidas inevitáveis e marcantes. Levei semanas para ler o livro, mas li, tim-tim por tim-tim, como se diz. Maysa, no lusco-fusco de sua voz pausada e sentimental, tão sincera numa convicta melancolia, não se desfazia na vida que levava, nos atos deseducados e desordenados que, ao contrário, mais alimentavam sua inspirada criatividade. O espírito lhe dizia uma coisa e a inteligência outra? Exprimia a desavença da fossa com os novos tempos, num rompimento formal e conteudístico com o lirismo das penumbras de uma solidão não-solidária dos estilos musicais de épocas anteriores? Ela, uma artista, não sabia perdoar as incongruências sociais, predispondo-se a contra-atacar os atritos de seus dessemelhantes? Filha mimada da vida, não sabia acautelar-se do revés, para neutralizá-lo? Almejava uma resposta cor de rosa para suas cinzentas interrogações na chamada vida prática? E, assim, de revolucionária, passava à reacionária? Tornava-se um tanto máscula no ato mesmo de impor-se como feminista? “Antes dessa história de feminismo”, ela é citada na página 256, “eu já mandava na minha vida e não dependia de nenhum homem para falar o que eu devia ou não fazer”. Sem compreender as incompreensões, tornava-se irritada e irritante, atropelando os amigos, os amantes, os colegas e o próprio público que, não raro, se decepcionava na própria adoração. Daí a perpetração de atos falhos virou uma constância, manifestada no alcoolismo, na obesidade, degradando sua talentosa criatividade, enfeiando-a fisicamente na ressaca dos desregramentos. Uma pessoa no palco das multidões e sozinha no desgostoso ensimesmamento. Ela era também um mau caráter, no sentido mais banal e estrito da denominação? O que aprontava com os amigos, amantes, desafetos e concorrentes, denunciam o estopim curto de suas reações nervosas diante de situações até mesmo da vida cotidiana em família e em sociedade.Reação não propriamente esquisóide, mas fisiológica, como a do animal ofendido ou mimado pelo lado erógeno de sua natureza. Os gatos e cães perdem a docilidade quando acariciados como se fossem erroneamente açoitados. Se coçarmos o corpo de um desses seres, principalmente o de um gato, tudo bem, ele gosta e agradece, mas experimente coçar ao longo da espinha dorsal no sentido da nuca ao rabo: ele vira “bicho”, como se diz, e reage com os espinhos de suas unhas e dentes. Isso por que? O que é bom demais fica ruim? O que na cultura popular chamam de “dor da bondade”, referente ao orgasmo dos seres humanos, é assim previamente repelido pelos gatos e cães? Mesmo na roça (quando lá vivi) existia no meio da meninada um que imitava os frenéticos miados dos gatos na hora do bem-bom deles. No auge libidinal, quando todas as preliminares (o corre-corre pelos muros e telhados) estavam cumpridas, no momento do ímpeto crucial e final do tesão mais gritante, o macho chega a gritar quase que humanamente com as palavras por assim dizer maiúsculas, para a fêmea: “CADÊ A CALCINHA DE RENDA QUE EU TE DEI?!” E ela, não menos enfurecidamente tesada, responde: “RASGA-A, DANADO!” Com os seres humanos também pode acontecer essa contradição, esse prazer como que à revelia? Quem ama demais quer possuir, maltratar, subjugar e, até, matar? Quantos casos a imprensa não noticia a respeito! Bernard Shaw queixava, através de um personagem (celibatário convicto) que não caia nas graças de uma mulher porque sabia que nenhuma delas aceitaria que ele possuísse uma alma incólume. Maysa também foi assim, desavisada, rancorosa, possessiva, zangada com seus inúmeros amantes. Toda sua infelicidade afetiva (fonte de sua riqueza musical) resultava dessa contradição, por assim dizer, sexo-emocional? Penso que ao autor da biografia repleta de dados vivenciais, às vezes deslustrados de quinquilharias adjacentes, faltou priorizar a parte zangada e deprimente da capacidade natural de amar e de altercar dela, de seu desequilíbrio emocional – um drama sempre caminhando para o esbarrancado da tragédia. “Adeus, logo mais eu telefono/ Eu agora estou com sono/ Vou dormir, pois amanhece”. Esta é uma das estrofes da canção “Adeus” , que ela compôs aos doze anos de idade, lembrando de longe a precocidade de Rimbaud.

quinta-feira, junho 21, 2007

UMA LEITURA ESTIMULANTE

Depois que me aposentei do emprego, passei a trabalhar dobrado no desemprego não remunerado. Ainda bem, pois: de qualquer maneira o trabalho é considerado uma terapia preventiva para todos os males do corpo e da alma – e Freud já dizia que quem não trabalha não é capaz nem de amar. Há sete anos que estou aqui, embevecido diante de um livro que só agora li e que é “Posicionamento de Shopping Centers Especializados de Belo Horizonte: Uma Análise Através de Segmentação de Mercado e Mapeamento Perceptual”, de Ana Paula Belém Barreto (Tese de Mestrado em Administração, UFMG -Belo Horizonte, MG). Envolvido em pesquisas sociológicas e genealógicas, nem senti o tempo passar, mas agora não posso protelar mais, dei-me todo na atenciosa leitura do alentado volume. Apesar da linguagem técnico-acadêmica vigente nas disciplinas e publicações das universidades federais brasileiras, passei bons momentos de leitura estimulante, refestelado em praia que não é propriamente a minha, mas que afeta todos os seres humanos. Felizmente. O primeiro passo da primeira leitura foi o de tomar conhecimento do vocabulário especializado da temática, surgindo logo na nona página a explicação sobre a evolução do marketing (o novo horizonte da publicidade e da comunicação): até 1920 prevalecia no mundo o chamado “mercado comprador” (muita demanda em produtos e oferta escassa). A partir da década de 30 até à de 50, a produção começa a ultrapassar a demanda, surgindo só a persuasão do vendedor diante do comprador reticente e satisfeito com o volume das ofertas. Mas é a partir de 1950 que o surto e o culto do consumo começam a pontificar, surgindo então a chamada Era do Marketing (ou Era do Consumidor). O mercado vendedor fica à mercê do mercado comprador, fazendo do produtor uma espécie de refém do comprador. “O conceito de marketing” , afirma a autora, “até então secundário e sinônimo de vendas, emergiu e se tornou prioritário, passando a integrar e permear todo o processo conceitual e produtivo das empresas”. A partir de então e até os dias de hoje, o foco de luz foi direcionado para o consumidor, “a fim de descobrir e satisfazer suas necessidades e seus desejos”, ela acrescenta. Aí a Publicidade adquire status substantivo e amplia seu reinado para as sucessivas temporadas posteriores, agora ostentando o galardão de Ciência e a auréola de requisitada profissão. “A Era do Relacionamento” (assim a autora dá seqüência ao raciocínio) “iniciou-se na década de 90, marcada pela tendência das empresas de tentarem construir relacionamentos com consumidores e fornecedores em busca de fidelização e alianças estratégicas”. E assim o livro desenrola suas páginas, fluente, legível até à página 147, frisando e dissertando os temas do marketing estratégico, a segmentação do mercado, o mapeamento perceptual, um histórico do desenvolvimento dos shopping centers no Brasil e no Mundo, a estrutura, a classificação e as peculiaridades deles, desde os genéricos até os especializados ou temáticos. E assim a autora analisa os dados pesquisados na rede dos shopping de Belo Horizonte, incluindo o demonstrativo dos resultados, os mapas perceptuais e também um mapa da capital mineira com a localização dos estabelecimentos estudados e as respectivas divisões das administrações regionais da Prefeitura, incluindo os bairros, segundo a classe de renda, as referências da densidade telefônica, e a distribuição de domicílios por classe de rendimentos financeiros. E também uma Lista de Figuras: a dinâmica dos temas abordados, a estrutura básica de um shopping centers, as motivações para que as pessoas visitem ou não um shopping, e também o posicionamento deles em móveis, decoração e acabamento, em todas as regiões da cidade. Acrescenta à relação uma Lista de Tabelas sobre os períodos de evolução do marketing, outra das variações para a segmentação do mercado, um quadro comparativo da evolução no Brasil e nos Estados Unidos, e os números, as divisões, as diferenças, as coordenadas e correlações dos estabelecimentos estudados. Uma leitura acessível e estimulante, considerando a consistência, o alcance e a comunicabilidade do trabalho, que naturalmente alia a forma ao conteúdo, confirmando a suficiência e a validez da economia de mercado num mundo então (ano 2000, época da pesquisa) em fase de globalização política. Uma temática propícia aos novos tempos – e que afeta até mesmo os leitores comuns da vida e do mundo, e não apenas os da área econômica.

segunda-feira, junho 18, 2007

OS COMPOSITORES TAMBÉM SÃO SERES HUMANOS

Lamartine Babo morava em São Paulo e correspondia epistolarmente (que língua a nossa!) com uma fã da cidade sul-mineira de Boa Esperança. Carta para lá e carta para cá, a relação foi se intensificando afetuosamente. De tal maneira que lá num belo dia o Lamartine resolveu descer a Mantiqueira e aportar, sem aviso-prévio, na boa e bela Boa esperança. Sofreu terrível decepção ao constatar que a fã apaixonada não passava de um fã enrustido. Dando a volta por cima, ele regressou a São Paulo, escrevendo a bela canção “Serra da Boa Esperança”, no meio da qual surgem, airosamente, os versos: “levo na minha cantiga a imagem da Serra.../ Sei que Jesus não castiga um poeta que erra...”. E por falar em compositor, lembro-me da tirada verbal do Juca Chaves, referindo-se à cantora Wanderleia, da antiga Jovem Guarda (ela freqüentava, na década de 60 a cidade de Divinópolis, quando vivia aqui sua tia, esposa do Salim, do “Copo Limpo”): “Ela tem um rosto maravilhoso, quando está de costas”. O Ary Barroso era realmente folclórico na vida real – e exageradamente flamenguista. Uma vez irradiando (sim, ele era, também, locutor esportivo, de enorme audiência) uma partida entre Botafogo e Flamengo, ele, propositalmente, enfatizava os lances e os nomes dos jogadores rubronegros e depreciava os alvinegros. Mais ou menos assim: “Bola com Joel que entrega à Rubens e este à Dida, que deixa um par de zagueiros na saudade...”- assim ele ia narrando e não haveria nada de errado se não fosse o fato do placar estar apontando quatro a zero a favor do Botafogo. Pois é. Num lance assim de troca de nomes sai mais um gol do Botafogo. Aí o Ary quase perdeu a fala, gaguejou, gaguejou, até que encontrou a saída, exclamando contra a vontade e apaticamente o gol do time adversário, justificando: “É difícil acreditar no que aconteceu. Depois de uma saraivada de bolas do ataque rubronegro contra a meta botafoguense, o Quarentinha pegou um rebote e disparou um chute despretencioso da intermediária e o nosso Luís Borracha aceitou” (O Luís Borracha era goleiro do Flamengo e da Seleção Brasileira, na época). E a contragosto, ele complementa a locução: “O placar injusto agora assinala: Flamengo zero, Botafogo cinco. Ele, Ary, gostava muito de prosear e bebericar com um rapaz muito conhecido dele, o qual estava interessadíssimo em namorar sua filha . Passaram dias e meses, até que um dia o rapaz criou coragem e disse: “Ary, quero sua licença, sua licença para namorar, para namorar sua filha”. O autor de “Risque” e de “Folhas Mortas”, deu um murro na mesa e respondeu: “Quem é você para almejar tanto?” O rapaz retrucou, agora impávido: “Sou seu melhor amigo!” “E daí?”, voltou a perguntar, irado , o autor de “Na Baixa do Sapateiro”. O rapaz, um pouco atordoado, replicou: “Não somos amigos? Não bebemos juntos? Não temos tanta coisa em comum?” O autor de “Aquarela do Brasil” e de “Maria” exacerbou: “Você acha que eu deixaria minha filha namorar um pau d’água que nem você?” O rapaz, ainda gaguejando, treplicou: “Mas Ary, se eu sou um pau d’água, você também é: não bebemos sempre juntos?” O Ary não esperava tal argumento, mas não se deu por vencido: “Bebo sim, e muito, mas por acaso estou querendo namorar sua filha?” E por falar em bebida e impulsão etílica, vale lembrar a estorinha envolvendo o Goethe abstêmio, cuja namorada (ou amante?) um dia lhe disse: “Se sóbrio você é tão maravilhoso, que dirá levemente tocado?” Mas geralmente os compositores são, mesmo, pródigos em lições de abismos, de preferência abismos de rosas. Uma vez o agente musical de Mozart encontrou-o dançando agarradinho com a esposa na sala da casa sem lareira, numa noite de agudíssimo inverno europeu. Estavam namorando? Não. Estavam apenas esquentando um ao outro, na falta de outros aquecedores na casa.

LEITURAS INQUIETANTES III

Os Escritores Também Vivem 

1 – Notas à Margem do Tempo – Marguerite Yourcenar , trad. de Vera Azambuja Harvey e Ecila de Azevedo, Edit. Nova Fronteira, RJ, 1982. A Veracidade: “as orgias dos tempos remotos nos surpreenderiam menos se a história secreta de nossos contemporâneos fosse melhormente conhecida. A História: “a história é uma arte e uma ciência e, mais do que uma maneira de registrar fatos, é um meio de progredir no conhecimento do homem”. A Realidade: “a própria realidade é que, muitas vezes, vai muito além da imaginação: os genocídios, os expurgos, os campos de concentração, as bombas atômicas, as pestes, a fome, as guerras de sempre”. As Memórias: “os bons versos nascem das recordações: e é preciso esquecê-las, e depois ter a grande paciência de esperar que elas voltem”. É o que afirma Rilke no livro “Malte Laurids Brigge. A Memória: “ A imagem que atravessa anos e anos e depois vem morar num poema como um filho pródigo que retorna ao lar paterno”. 

2 – Peregrina e Estrangeira, idem, trad. de Miriam Campelo, mesma editora, RJ, 1989. O close: “os homens são pequenos. Só o homem é grande”. A Música: “a música nos cria um passado que ignorávamos”. O Amor; “o amor, o mel das trevas”. O Neologismo: “Qualquer pensamento profundo continua em parte secreto, por falta de palavras para exprimi-lo – assim todas as coisas permanecem parcialmente escondidas de nós”. O Desvario: “o homem que jamais se sentiu desvairado, a esse falta alguma coisa, disse, Roger Callois”. Borges: “todo escritor, todo homem, deve ver em tudo que lhe acontece: o fracasso, a humilhação e a desgraça, um instrumento, um material para a sua arte, do qual deve tirar proveito. Tais coisas nos foram dadas para que nós as transformássemos para que fizéssemos das miseráveis circunstâncias de nossa vida coisas eternas, ou que aspiram a sê-lo”. 

3 – Memórias de Adriano, da mesma autora, trad. de Martha Calderaro, Editora Record, RJ, 1974. Liberdade: “Quase todos os seres humanos desconhecem igualmente sua exata liberdade e sua verdadeira servidão. Amaldiçoam seus grilhões, embora, às vezes, deles se vangloriem.... Com seus inúteis desregramentos, não sabem tecer para si próprios o mais leve jugo”. O Cálice Amargo: “se alguma coisa me repugnava, eu a transformava em objeto de estudo, forçando-me a retirar dela algum motivo de alegria”. A Dor: “não sabia ainda que a dor contém em si estanhos labirintos, através dos quais eu não terminara minha longa caminhada”. A Morte: “a morte penetrava em toda parte sob o aspecto da decrepitude e podridão: a nódoa inicial do fruto maduro demais.... Minhas mãos pareciam-me sempre um pouco sujas”. Alma: “Alma minha, bela, esvoaçante, hóspede e sócia de meu corpo, por que não te vais embora – já que pálida, rígida, nua, não mais tens a alegria de outrora? Memória e não Diário: “um homem de ação raramente mantém um diário: é quase sempre mais tarde, do fundo de um período de inatividade que ele recorda, anota e, na maioria das vezes, se surpreende”.

LEITURAS INQUIETANTES III

1 – Notas à Margem do Tempo – Marguerite Yourcenar , trad. de Vera Azambuja Harvey e Ecila de Azevedo, Edit. Nova Fronteira, RJ, 1982. A Veracidade: “as orgias dos tempos remotos nos surpreenderiam menos se a história secreta de nossos contemporâneos fosse melhormente conhecida. A História: “a história é uma arte e uma ciência e, mais do que uma maneira de registrar fatos, é um meio de progredir no conhecimento do homem”. A Realidade: “a própria realidade é que, muitas vezes, vai muito além da imaginação: os genocídios, os expurgos, os campos de concentração, as bombas atômicas, as pestes, a fome, as guerras de sempre”. As Memórias: “os bons versos nascem das recordações: e é preciso esquecê-las, e depois ter a grande paciência de esperar que elas voltem”. É o que afirma Rilke no livro “Malte Laurids Brigge. A Memória: “ A imagem que atravessa anos e anos e depois vem morar num poema como um filho pródigo que retorna ao lar paterno”. 2 – Peregrina e Estrangeira, idem, trad. de Miriam Campelo, mesma editora, RJ, 1989. O close: “os homens são pequenos. Só o homem é grande”. A Música: “a música nos cria um passado que ignorávamos”. O Amor; “o amor, o mel das trevas”. O Neologismo: “Qualquer pensamento profundo continua em parte secreto, por falta de palavras para exprimi-lo – assim todas as coisas permanecem parcialmente escondidas de nós”. O Desvario: “o homem que jamais se sentiu desvairado, a esse falta alguma coisa, disse, Roger Callois”. Borges: “todo escritor, todo homem, deve ver em tudo que lhe acontece: o fracasso, a humilhação e a desgraça, um instrumento, um material para a sua arte, do qual deve tirar proveito. Tais coisas nos foram dadas para que nós as transformássemos para que fizéssemos das miseráveis circunstâncias de nossa vida coisas eternas, ou que aspiram a sê-lo”. 3 – Memórias de Adriano, da mesma autora, trad. de Martha Calderaro, Editora Record, RJ, 1974. Liberdade: “Quase todos os seres humanos desconhecem igualmente sua exata liberdade e sua verdadeira servidão. Amaldiçoam seus grilhões, embora, às vezes, deles se vangloriem.... Com seus inúteis desregramentos, não sabem tecer para si próprios o mais leve jugo”. O Cálice Amargo: “se alguma coisa me repugnava, eu a transformava em objeto de estudo, forçando-me a retirar dela algum motivo de alegria”. A Dor: “não sabia ainda que a dor contém em si estanhos labirintos, através dos quais eu não terminara minha longa caminhada”. A Morte: “a morte penetrava em toda parte sob o aspecto da decrepitude e podridão: a nódoa inicial do fruto maduro demais.... Minhas mãos pareciam-me sempre um pouco sujas”. Alma: “Alma minha, bela, esvoaçante, hóspede e sócia de meu corpo, por que não te vais embora – já que pálida, rígida, nua, não mais tens a alegria de outrora? Memória e não Diário: “um homem de ação raramente mantém um diário: é quase sempre mais tarde, do fundo de um período de inatividade que ele recorda, anota e, na maioria das vezes, se surpreende”.

domingo, junho 17, 2007

VIVALMA!

Fragmento do romance inédito “Apenas Um Coração Solitário”  (*)

Mais uma vez a força do olhar que atrai, subjuga e ama! Tudo isso e o céu também, como diria a mensagem de outro filme romântico, no encantamento dos lugares propícios e abalados nas veementes idades do desprendido namorar dos recíprocos olhares cintilantes, absortos na procura da correspondência afetiva, assim incontida, assim ardorosa, a mandar beijos e abraços carinhosos, a receber beijos e abraços carinhosos. Ah, bem sabemos que o amor com amor se paga, e mesmo assim fica devendo porque pagar é contrair nova dívida contra os bens penhorados, é conservar os indícios assoberbados de contratempos, anos a fio no vai e vem das promessas, no entra e sai dos redutos e dos recursos da ficção vivíssima! nos arredores da realidade fugidia. Assim o flerte é a voz do silêncio, o amálgama dos lampejos ocasionais finalmente aglutinados? Aglutinados momentaneamente na penca de flores e frutas de memoriais arquivos esquivos, tão esquivos e infundados, tão esquivos e intimidados, no doce conluio das afeições compartilhadas, compartilhadas (não obstante a distância de dois corpos) em virtude da proximidade de duas almas. 

(*) Terceira parte da trilogia “Monólogo e Pranto”.

sexta-feira, junho 15, 2007

CIRCUITO DAS LUZES

Campinas, quem diria, uma cidade maior que Belo Horizonte. Ao longo de um terreno baldio, visto da janela do hotel, a escória industrial adquire a deprimida feição de um grupo de animais subitamente e para sempre imobilizado. A chuva cai e não escorre, por falta de declive. A cidade é uma campina arborizadíssima, na qual as ruas brotaram naturalmente, ao longo do tempo, todas sinalizadíssimas, levando-nos através do filho Paulo, que mora lá, aos belos recantos estudantis, religiosos, recreativos e aos requintados restaurantes e shoppings. E para ilustrar o bucolismo, o passeio inesquecível a Jaguariúna, no trem maria fumaça, um percurso de 24 km, passando em 6 estações, entre antigas fazendas de café. Em São Paulo, no Mosteiro de São Bento, o concerto sinfônico de uma espécie de dueto entre Mozart e Beethoven: as flautas e oboés e violinos e pianos nas sonatas e sonetos, a dor é uma flor ignorada, reduzida a espinhos? A flauta da mocinha, o violino do rapazinho: são os relicários das beatitudes? Acenos de anjos e santos nos altares, os soluços de pecadores abençoados pelas mãos e olhos de Deus, os acenos de anjos e santos ajoelhados diante dos altares, de mãos postas apontam os caminhos que nos atraem, que nos afetam. Depois vem o jogo de luzes e sombras do Teatro Negro de Praga, bem ali na Avenida Jamaris (Moema), representando os distanciados vestígios da inefável cidade dos palácios e castelos, onde o inverno é uma primavera, e vice-versa, a nórdica beleza das pessoas (a brancura imaculada do corpo e da alma?): aprazível terra de nossa querida amiga Pavla Lidmilová, escritora tcheca especializada em literatura de língua portuguesa. Dela conservo carinhosamente os livros que ela traduziu e publicou – e teve a bondade de enviar-me - : “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, “Perto do Coração Selvagem”, de Clarice Lispector, e os “Contos” mágicos de Murilo Rubião, todos no idioma para mim ilegível, e mesmo assim prenhes de vida bem temperada na afetividade e na racionalidade do que há de melhor no espírito humano. Quanto ao espetáculo, ah, no cenário escuro (do fundo) e claro (do primeiro plano), os personagens visíveis e invisíveis encenam o romance duplamente poético do realismo e da magia de um surrealismo dinâmico e inteligível. A fantasia dento do contexto da realidade. A exposição da Casa Cor 2007, no Jockey Club de São Paulo, apresenta 67 ambientes criados por 87 profissionais da arte decorativa, que aproveita e embeleza o espaço da convivência, de forma ágil e suave, expansiva e aconchegante. A formatação espacial vai da calçada de uma edificação ao preciosismo de uma iluminação interna com sacolas pendentes recheiadas de cristais luzentes no bojo. O percurso dos arranjos passa pelo gazebo das flores, os lounge e jardins, atravessa terraços e estúdios, salas multimídias, espaço goumert e boudoir, closet de casal, brinquedoteca, academia de ginástica, adega, biblioteca, cozinha, sala de jantar, quartos de crianças, salas de beleza e saúde. Algo impensável fora do grand monde das zelites (como diria o presidente). Haja dinheiro porque o bom gosto está até nas pessoas desaquinhoadas. Até água colorida tem na decoração dos interiores sofisticados, riquíssimos. Haja moeda corrente, fria ou quente. Mas o que se há de fazer? A estética é também um formidável componente da felicidade. No mega- teatro ALPHA, onde já tínhamos visto do Grupo Corpo o maravilhoso “Ongotô”, vimos agora (com a regalia da primeira fila, encomendada com antecedência pela filha Ana Paula) o espetáculo encantatório, de duas horas e trinta minutos, “My Fair Lady”, de 10 cenários rotatórios, com 20 músicos, 40 artistas, 65 técnicos e 300 figurinos, baseado na peça de Bernard Shaw (“Pygmalion”), com texto e letras de Alan Jay Lerner, música de Frederick Loewe, versão brasileira de Cláudio Botelho, direção geral de Jorge Takla, com a interpretação de Daniel Boaventura, Amanda Acosta e Francarlos Reis, nos papeis principais dos personagens. Uma espécie de telepatia coletiva tão possessiva que os aplausos repetiam-se, eufóricos, a cada mudança de quadro. Até parecia que estávamos diante de um espetáculo do melhor Shakespeare dos famosos palcos elizabetanos de Londres ou dos não menos renomados da Broadway dos Estados Unidos. Um vigoroso eco do humorismo socialista de Shaw, que marcou uma época e continua marcando outras épocas através da habilidade de exprimir, em termos assimiláveis, a sua enternecida paixão pela igualdade social dos seres humanos. Algo ao mesmo tempo inesquecível e esperançoso. Dias depois acontece o desfecho vitorioso da viagem com a demorada e atenciosa visita à Exposição de Charles Darwin, Vida e Obra, no MASP, que valeu mais do que a leitura de muitos livros sobre o assunto. Há mesmo uma inegável grandeza na visão de vida do revolucionário cientista: perceber e anotar a partir de um início simples, infinitas formas, belas e verazes, que evoluíram e continuam evoluindo, inspirando-lhe, forçosamente, o grande tema de sua persuasiva pesquisa: a evolução pela seleção natural,a partir da qual ele pôde explorar a Variação e a Adaptação das espécies. Advindo, logicamente, a certeza de que as espécies são ligadas a uma única árvore genealógica. As mãos, as asas, as nadadeiras...: os mamíferos compartilham da mesma ancestralidade; as semelhanças e as diferenças conjugam-se no processo da hereditariedade: os netos parecidos com os avós. Os bichos feios e bonitos (ou todos são principalmente bonitos?) facilitam o entendimento do registro fóssil da terra em sua rica biodiversidade. Quanto aos seres humanos, ele sabia que todos têm os mesmos sentimentos, demonstrados nos semblantes da mesma maneira. Sua esposa Emma “o protegia de qualquer aborrecimento” que pudesse estorvar seu trabalho. Sobre a filha ele escreveu que “seu querido rosto brilhava o tempo todo”, mesmo na lembrança, depois do falecimento dela aos oito anos de idade. Susannah, sua mãe, era amiga do poeta Coleridge. E o avô paterno, Erasmus, era poeta, o poeta que inspirou Mary Shelley no romance dela, “Frankenstein”. Darwin escreveu muitos livros, desde os sobre as plantas trepadeiras até sobre as minhocas. Garantiu que as espécies mudam com o passar do tempo – e que a própria terra já sofreu enormes mudanças: ao longo de milhões de anos montanhas tomam formas diferenciadas e até as árvores são petrificadas. Conclui, assim, que o mesmo pode acontecer com as espécies vivas: não são imutáveis. Aluno indiferente: a escola o aborrecia, sabia que havia outras verdades ignoradas ou camufladas. Não cansava de estudar os detalhes da natureza, mas temia afrontar a doutrina cristã – e chegou a dizer que publicar sua teoria era como que confessar um assassinato. Mas sua teoria é confirmada e reforçada continuamente pela genética moderna, e continua a inspirar novas descobertas no mundo natural. A Evolução é que faz com que a biologia tenha sentido. E advertiu que nascem mais animais do que podem, naturalmente, sobreviver. A luta deles por espaço e comida faz com que só sobrevivem os que possuem vantagens competitivas (como tolerância à seca ou a posse de uma pelagem mais espessa que a média). Sua atualidade se justifica porque ele atingiu a verdadeira verdade – e isso é o que vale para todos os estudos posteriores, ontem, hoje, e amanhã. (Divinópolis 12/06/2007).

ENTREVISTA NÃO PUBLICADA

Prezado Giuliano, tenho uma dívida de gratidão com o Hoje Em Dia, pelo prazer dos contátos e colaborações com a Luciene Queiroz e o Alécio Cunha. Tenho, pois, muito prazer em atendê-lo no que estiver ao meu alcance. No caso da entrevista que propõe, aceito de bom grado e, para início de conversa, adianto-lhe alguns pontos que julgo essencias no enfoque da história do Município de Divinópolis, necessitada, como toda História de ocasionais revisões e atualizações. Passo-lhe, então, alguns pontos, para sua apreciação e aproveitamento, se for o caso, no trabalho que pretende publicar, ao que parece, no ensejo do aniversário da cidade em primeiro de junho próximo. Os pontos são: 

1 - A importância da cidade como pólo regional: enquanto permanecer polarizando a região, continuará progressista, com boa circulação monetária. Não há pessimismo quanto a isso, uma vez que na região não existe nas proximidades outro município que possa competir em termos de estrutura logística (boa localização geográfica). 

2 - A parte negativa é a ausência de eficientes serviços públicos, como segurança, saúde, estética, infra-estrutura e proteção ambiental. A parte positiva é a oferta educacional prodigiosa: muitos órgãos atuante em todos os níveis, tantos que chegam ao ponto de a quantidade estorvar a qualidade, o que precisa ser pensado e corrigido. 

3 - A cultura também tem boa representação: escritores, jornalistas e professores conceituados, em assídua atividade. Destaque para nomes intermunicipais como os de Adélia Prado (cortejada até no estrangeiro), Osvaldo André de Mello, Fernando Teixeira, Pedro Pires Bessa, Linfolfo Fagundes, Mercemiro de Oliveira e, agora, a notável revelação da escritora Yara Ferreira Etto. 

4 - O que de melhor ficou da História, até agora: a ação política de homens públicos íntegros e competentes como Antônio Olimpio de Morais, Antônio Gonçalves de Matos (o Dr. Didi), Jovelino Rabelo, os Franciscanos, Walchir Jesus de Resende Costa, Antônio Martins Guimarães. 

5 - O que ficou de pior: o pragmataismo da classe dirigente que sobrepõe o interessse do lucro financeiro à qualidade de vida da população, instaurando uma das maiores poluições urbanas do Estado de Minas. 

6 - O traço fisionômico principal: a indiscriminação que, se por um lado, proporciona muita liberdade aos munícipes, por outro lado descaracteriza uma cor local definida em termos de cultura popular que, aqui, é miscigenada, constituida de fragmentos que não se aglutinam num todo homogêneo. Isso porque a população é preponderantemente adventícia, formada de portadores de outras heranças culturais de outras regiões, formatando uma espécie de mosáico sempre mimético. Isto no País está se tornando corriqueiro, através do crescimento desordenado das grandes cidades e a irupção dessa engrenagem caótica que é a da chamada região metropolitana. Todos os municípios apensos à Capital Metropolina sofrem as consequências dos refugos e desregramentos comportamentais de uma população desnorteada e desassistida.. Um problema genérico, e não apenas localizado.