ALGUMAS LIÇÕES DE ARISTÓTELES
Numa tardia mas certamente ainda oportuna leitura da Arte Poética de Aristóteles (texto integral da edit. Martin Claret, SP, 2004), pinço algumas considerações para uso próprio e proveito dos leitores-aprendizes-de-poesia-como-eu. Seguintes: - O erotismo e a pornografia na poesia têm suas origens, certamente, nos cantos fálicos citados na página 32, espécies de farsas licenciosas e satíricas “que não eram feitos para as virgens” nem recomendados para menores. - A beleza contém em si a magnanimidade e a grandeza (e a verdade, eu acrescentaria, a qual no entanto pode prescindir da magnanimidade e da grandeza). - A beleza da tragédia advém da complexidade de sua composição e não da simplicidade. - O temor e a compaixão, e também o terror, são os principais condimentos da tragédia. - Clitemnestra, irmã de Helena, e esposa de Agamenon (por ela assassinado com a ajuda de Egisto) é morta, em vingança, por Orestes. Todos participam do elenco de escol dos personagens de Ésquilo e Sófocles. - Aristóteles condena o emprego da perversidade gratuita, como sendo um recurso antinatural. Ao que tudo indica era raro em seu tempo tal procedimento, que hoje é recorrente e banalizado. - A poesia reclama ânimos bem dotados ou capazes de se entusiasmarem. - O Coro representava um dos atores. Seus cantos são como interlúdios no contexto. - Por tantas razões Homero é admirável, entre os quais o fato de evitar contar por inteiro a guerra de Tróia. - As idéias fecundas sobre a arte influenciam o conhecimento humano desde o séc. IV a.C. O poeta pode mascarar o absurdo por meio de atavios, intercalando o verossímil com o irracional. - Quando o incrível é digno de fé, segundo Píndaro: “a graça do discurso espalha sobre as sedutoras mentiras da fábula uma beleza persuasiva, e então até o incrível se torna digno de fé”. -A metafísica aristotélica reformula a noção do ser, contrariando Parmênides, que afirmava que o ser era necessariamente único. Os atomistas (Demócrito e outros) defendiam que o ser era tanto o corpóreo (os átomos) como o incorpóreo (o vazio). Para Platão o não ser seria o outro, a alteridade, que complementa a própria identidade. A dúvida hamletiana, ser ou não ser, fica fora de questão, pois ser e não ser se complementam. Proposição que Aristóteles reforça, acrescentando a concepção analógica, ou seja, a de que o ser é dotado de diferentes sentidos, diversas acepções e categorias, aprofundando a noção de amplitude (imponderabilidade?) do conhecimento. Aristóteles nasceu em Estagira em 384 a.C, filhode Nicômaco (por que quase nunca acrescentavam o nome da mãe? O machismo é tão antigo assim?) – e faleceu em 322 a.C. Faleceu?, ele, imortal? A GRANDEZA É NECESSÁRIA Fico às vezes, dialeticamente, a esquadrinhar blocos temáticos, avaliando comportamentos segundo uma determinada régua e um compasso discutíveis genericamente, mas plausíveis particularmente. Num grupo de pessoas (família, colegas de trabalho ou de estudo ou de lazer), por exemplo: vou lembrando e instintivamente analisando e classificando, segundo as três categorias principais assomadas em minha precária opinião para a definição dos caracteres pessoais: os que assumem a baixeza, os que se elevam ao patamar da grandeza e os que se planificam na mornidão da mediocridade. Quase sempre o resultado é humanamente desonroso e deprimente: 50% estão atolados até ao pescoço na mediocridade; 30% assumindo, desgraçadamente, o nível hediondo da baixeza comportamental e apenas 20% preocupados em manter e aperfeiçoar as virtudes que Deus tinha dados a todos, mas que só essa minoria conserva a duras penas, neste mundo inóspito ( conserva apesar dos pesares, com o recalcitrante amor e a penosa obstinação). A grandeza de caráter nas pessoas: é só reparar e perceber. Já a baixeza dos outros salta aos olhos, repugna os olhos das pessoas não atoladas na barrica das imundícies comportamentais.