quinta-feira, maio 14, 2009

A CRISE ECONÔMICA

Na condição de um ser humano vivo e interessado no bem estar social da humanidade, lembro-me de minha desconfiança quando a tal de globalização, o neoliberalismo e a economia de mercado (um trio maldito?) assomaram o primeiro plano do cenário político mundial. Lembro-me muito bem da impressão que nutria na época (últimas décadas do século passado) de que tantas conquistas da tomada econômica tinham lá em seu bojo uma linhagem e um revestimento suspeitos: as melhorias não seguiriam por um caminho de mão dupla de um desenvolvimento de fachada e respectivo colapso fatídico. Não foi o que acabou acontecendo? A repulsa que passei a nutrir pela metodologia do governo FHC (que ajudei a eleger) e depois pela bagunça institucional do governo Lula (que ajudei a eleger no desastrado primeiro mandado) tinha evidente razão de ser. A tal de economia de mercado, que fazia sucesso na mídia não deixa de ser um flagrante incentivo à soberania do engodo publicitário que passou a vigorar, privilegiando claramente a prevalência do lucro imediato, tanto moral como material, em todas as realizações não só do poder público como do poder privado. Sentia que de repente o mundo das oportunidades alardeadas democraticamente, proporcionadas ao homem comum de todas as classes sociais tinha encolhido, estava ao alcance apenas dos personagens bafejados pela mídia influenciadora de um governo que a alimentava. Isso ocorria principalmente na área cultural, na qual os novos talentos intelectuais e artísticos tiveram o natural acesso interditado. De repente os novos poetas e escritores, os novos músicos e pintores sentiram que as portas dos horizontes fechavam hermeticamente. Quem não era vendável, praticamente era alijado. A cegueira da classe dominante, parceira do governo, só pleiteava rentabilidade em suas ações. E dói assim, penso, que deu no que deu. O governo e seus apaniguados, sob a bênção da mídia lograram, pelo menos, um bom resultado: conseguiu esvaziar e desmistificar o socialismo marxista, que já tinha derrapado no fracasso comunista da  União Soviética, de infeliz memória. Fica claro, na leitura literária (a que comumente sei fazer) que todo sistema operacional, para não ter problema de continuidade através dos anos, precisa ter seu próprio equilíbrio – e esse é um ponto crucial. A crise atual podia ser prevista e evitada, se o sistema operacional da economia tivesse mantido o necessário equilíbrio em todo o tempo de duração e de percurso. Estariam cegos os que operavam no mercado das hipotecas habitacionais e no crescimento “subprime”dos ativos podres dos créditos hipotecários cegamente manejados pela busca desenfreada do lucro? Sobre o ciclo da construção civil nos Estados Unidos, que descambou na expansão desnecessária do crédito e, consequentemente na bolha financeira da crise. Na página 35 do livro de Fabrício Augusto de Oliveira e Cláudio Gontijo está bem explícito que a “redução da taxa de juros” (nos investimentos) “e o processo de securitização (seguros firmados)..., transformaram o “boom” do mercado residencial em verdadeiro frenesi..., atraindo os tomadores de maior risco, mesmo quando o comprador-devedor não é capaz de dar qualquer entrada, desprovido que é de qualquer renda comprovada”. Tal procedimento pode ser chamado de cegueira ou de irresponsabilidade? Nietzsche já dizia, muito antes que “o erro, a fé no ideal, não é apenas cegueira, é sobretudo covardia”. Sabemos que a ciência de economia, de um modo geral, é notória produtora de textos de leituras bem áridas, para quem não é do ramo. Conheço o Fabrício desde a juventude (segunda metade da década de 60), quando ele militava numa associação estudantil, a famosa UED, promovendo reuniões, palestras, publicando boletins e jornais estudantis. Partilhei com ele do trabalho de fundação e de direção do jornal AGORA LITERÁRIO (de tão boa memória!), batalhando no levantamento do numerário de custeio através de vendas de assinaturas, estabelecendo contatos com os meios culturais, encomendando textos para cada edição bimensal, levando os originais, para uma gráfica em Pium-i, depois de formatar: tínhamos que contar os toques (espaços) nas linhas horizontais e verticais de cada texto, de tal forma que a diagramação de cada edição sempre saía de acordo com a disposição visual estampada em folhas de cartolina com os originais datilografados em anexo. Em 24 meses de circulação publicamos 105 autores brasileiros e estrangeiros, muitos deles com textos diversos em números seguidos nas doze edições de agosto de 1967 a julho de 1969. Em todo esse tempo Fabrício Augusto era um produtor de cultura e um ponto de apoio em sua jovem disponibilidade estudantil. Publicou livros de poemas - um deles “Pássaro-EU” muito requisitado na época. Muito bem integrado com os companheiros na amizade, na lealdade às convicções da moralidade, da ética, da arte e da literatura e da oposição (não guerrilheira) à ditadura militar da época. Quem diria, no entanto, que depois de migrar, ainda na juventude, para os grandes centros, ia deixar a literatura em suspenso e formar-se em Mestrado e Doutorado em Economia, lecionar nas Universidades Federais de Campinas, Belo Horizonte e Espírito Santo, além de exercer as funções de Secretário-Adjunto-Geral da Secretaria da Fazenda de Minas Gerais, no Governo Itamar Franco, e além de tudo publicar vários livros e numerosos artigos em revistas nacionais e internacionais. Um comportamento humano invejável, muito bem planejado e realizado e conquistado graças ao próprio esforço aliado ao arraigado talento intelectual de sua personalidade felizmente vitoriosa. Agora acaba de publicar, justamente o livro “ Os 100 Dias Que Abalaram o Capital Financeiro Mundial e os Efeitos da Crise Sobre o Brasil”. Tenho certeza que é, pois, digno de nota que um divinopolitano contemporâneo esteja estudando e explicando, nos devidos termos da especialização, o que muitos outros conterrâneos no passado e no presente enxovalharam o bom nome da cidade com ações condizentes com a dos políticos e empresários corruptos que fizeram com que a CRISE atual seja a maior e mais danosa da História da Humanidade. É uma honra para todos os munícipes que professam os mesmos princípios dignos da verdadeira cidadania humana. 
Como diria o Drummond: “o que se perdeu, cristal não era”. Brilha como diamante.

sexta-feira, maio 08, 2009

O PRODÍGIO DA BELEZA

I - Tocata e Fuga. Palavras e trinados na manifesta simbiose: as aves (alvíssaras!) nas grimpas das árvores, as vozes (exuberantes!) nos dedos habilitados: os ares ensolarados da ida, os sons nublados da volta. O épico e o lírico em revezes e conluios. Os poetas franceses, os músicos alemães, os sambas rasgados de Noel e Luspicínio... A súbita relevância do lirismo na epopéia, um derramamento que remonta às origens: o sufoco da respiração, o alívio da aspiração. A cotia volta a cantar nos telhados caseiros (ela que andava tão sumida nas imediações): repete seus antigos recados cabalísticos? É assim que amanhece dentro da noite? É assim que anoitece em plena manhã? O Menino Prodígio. A música que comprova a existência da alma, que vai ao céu e volta ao chão, que exprime a ternura do amor nas três dimensões da sonoridade, garantindo a cálida fusão entre o ritmo, a melodia e a harmonia.... Para falar dela teríamos, primeiramente, que esmiuçar o espaço dos traços paralelos da pauta, com os meneios dos solfejos, dos compassos, das notas e dos tons melódicos das claves, dos bemóis e dos sustenidos, – e dentro do pentagrama musical desse nobre contexto os olhares e os suspiros, os abraços e beijos dos namoros e amores e também os contratempos das mágoas e desilusões de tantos corações apaixonados, as dores e as sofreguidões e os deleites e todos os encantadores sentimentos ali configurados, sintetizados no AMOR, na comunhão positiva dos seres humanos, de par em par no clima benfazejo, faça sol ou chuva, frio ou calor. A música clássica de Mozart, Bach, Chopin; a popular de Tom Jobim, Dorival Caymi, Ary Barroso. O repertório escolhe o palco e a platéia, o refrigério anímico e não o assanhamento etílico. Inspiradora e não estrépitosa, a música que eleva o corpo ao patamar da alma e não na do instinto ou da compulsão ou da arbitrariedade. Uma música assim tão pura é a revelada pelo jovem (poder-se-ia dizer pela criança prodígio, uma vez que há anos que ele é o mesmo artífice das magníficas execuções musicais) Rodrigo Thomasi, que mereceu a bela página TALENTO AO PIANO, da edição 437 do jornal MAGAZINE, depois de apresentar-se com sucesso no Teatro da Usina Gravatá, na TV Candidés e em muitos outros palcos divinopolitanos. E agora acaba de apresentar-se, sob enfáticos aplausos, na Sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes, de Belo Horizonte. O repórter Márcio Paulino, autor da bela reportagem mencionada, nem precisou remontar ao passado e evocar a influência genética do empenho e da habilidade demonstradas pelo jovem músico. O livro “A Família Oliveira Barreto”, na página 50, publica uma fotografia de 1905, de um grupo de músicos da Banda do antigo Distrito do Desterro (hoje Marilândia), ascendentes maternos diretos e colaterais do Rodrigo Thomasi. A foto foi um presente do Doutor Levy Beirigo Malachias, de Itapecerica, meses antes de seu prematuro e tão sentido falecimento. Nela figuram filhos e netos de meu bisavô paterno Antônio José de Oliveira Barreto, além de dois genros, entre os quais o Pedro Amaro Teixeira, bisavô do Rodrigo. O Pedro é o segundo marido de Galdina Cândida Barreto (segunda esposa e sobrinha do meu referido bisavô, que é trisavô do Rodrigo), pais de Braulina Teixeira Michelini, casada com José Afonso Michelini, pais de Maria José Michelini casada com Antônio Máximo de Oliveira, pais de Rita de Cássia Michelini, casada com Vicente Thomasi. Assim, pois, é que a velha assertiva de que “quem sai aos seus não degenera”, encontra uma grande e bela confirmação. A boa e bela e verdadeira música bem que merece cultores e executores desse nível, não é mesmo?

sexta-feira, maio 01, 2009

O DIA DAS MÃES

Mãe Só Tem Uma. O pessoal gozador do hebdomadário PASQUIM, de feliz memória, publicou num dos dias das mães, uma paráfrase de anúncio de meia página com a foto de um cara bonitão fazendo seu comercial com os dizeres em letras garrafais: “Mãe ainda é o melhor negócio. Pergunte a quem tem uma!” Pilhéria à parte, temos, sempre, que reverenciar, com a mão no coração a querida rainha de todos os lares do mundo em todos os tempos. Mãe só tem uma. Quanto aos pais, pode haver controvérsias.... Na incursão de minhas pesquisas genealógicas, fiquei estarrecido ao constatar como o nome dela é omitido na nomeação dos descendentes dos casais em todo o mundo, em todas as épocas. Cada pessoa só herda e só assina o sobrenome do pai, nunca o da mãe, quando sabemos que cada uma delas é muito mais filha da mãe do que do pai. Quem processa a fertilização dentro de si e guarda e resguarda a criatura durante meses e meses, caprichando no nascimento de uma flor humana que será o novo ponto de partida para as novas gerações? Quem alimenta o nascituro em si mesma durante os exaustivos dias e meses da gravidez e depois adorna e educa o rebento até que ele ganhe suas próprias asas? Toda a trabalheira e sofrimento e depois não merecer nenhuma citação de autoria?... Fiquei sabendo, depois de anos de pesquisa, como é difícil (e às vezes impossível) levantar a descendência familiar quando o parentesco chega pelo lado feminino aos filhos, netos e bisnetos. Neste caso todos os filhos de cada casal ganham apenas o sobrenome do pai. E como o pai não pertence à família pesquisada, toda a descendência fica fora da relação genealógica. Um problema, um absurdo. Na descendência de meu trisavô Bernardo José de Oliveira Barreto, fiquei no meio do caminho quando precisei localizar nos registros civis e religiosos os nomes dos filhos de Francisca Lucinda de Oliveira Barreto casada com Vicente Ferreira do Amaral. Dos nove filhos deste casal nenhum recebeu o sobrenome da mãe, só do pai, resultando então um problema insolúvel na pesquisa. Como saberia, no universo dos Amarais que nasceram posteriormente, os que eram realmente filhos de Francisca com o Vicente? Outra enorme contrafação está na própria escritura sagrada: a genealogia de Jesus, de Adão ao José e Maria (do Novo Testamento), publica apenas os nomes dos pais, omitindo os de todas as mães, de séculos e séculos procriativos. Esta constatação reforçou, pois, a minha desconfiança de uma injustificável misoginia cristã. Digo cristã porque sei que nas mitologias mais antigas os deuses compartilhavam a divindade com as deusas – ambos eram citados em pé de igualdade nos registros que chegaram aos nossos dias. Exercícios Maternais. A nossa Mãe do céu não é a mesma nossa mãe terrena? Cada uma, no decorrer do tempo, não seria a mesma, eternamente? No princípio a mãe de todos os seres humanos era uma Deusa. Creio que agora o mais humano nome do amor eterno e universal continua sendo a Mãe, não só dos seres humanos, mas sim de todos os seres vivos da terra. Antes a MÃE de todas as pessoas da terra era uma Deusa. Agora a MÃE de todas as pessoas da terra é o mais humano nome do AMOR, é o mais divino nome do AMOR. Um dia, no passado, Deus criou o homem e a mulher. E agora, quem cria o homem e a mulher? O homem e, principalmente, a mulher! Sem a Mãe não há vida. O que os homens de todas as partes do mundo são na vida de todas as partes do mundo? Filhos da MÃE, filhos da MÃE!