A CRISE ECONÔMICA
Na condição de um ser humano vivo e interessado no bem estar social da humanidade, lembro-me de minha desconfiança quando a tal de globalização, o neoliberalismo e a economia de mercado (um trio maldito?) assomaram o primeiro plano do cenário político mundial. Lembro-me muito bem da impressão que nutria na época (últimas décadas do século passado) de que tantas conquistas da tomada econômica tinham lá em seu bojo uma linhagem e um revestimento suspeitos: as melhorias não seguiriam por um caminho de mão dupla de um desenvolvimento de fachada e respectivo colapso fatídico. Não foi o que acabou acontecendo? A repulsa que passei a nutrir pela metodologia do governo FHC (que ajudei a eleger) e depois pela bagunça institucional do governo Lula (que ajudei a eleger no desastrado primeiro mandado) tinha evidente razão de ser. A tal de economia de mercado, que fazia sucesso na mídia não deixa de ser um flagrante incentivo à soberania do engodo publicitário que passou a vigorar, privilegiando claramente a prevalência do lucro imediato, tanto moral como material, em todas as realizações não só do poder público como do poder privado. Sentia que de repente o mundo das oportunidades alardeadas democraticamente, proporcionadas ao homem comum de todas as classes sociais tinha encolhido, estava ao alcance apenas dos personagens bafejados pela mídia influenciadora de um governo que a alimentava. Isso ocorria principalmente na área cultural, na qual os novos talentos intelectuais e artísticos tiveram o natural acesso interditado. De repente os novos poetas e escritores, os novos músicos e pintores sentiram que as portas dos horizontes fechavam hermeticamente. Quem não era vendável, praticamente era alijado. A cegueira da classe dominante, parceira do governo, só pleiteava rentabilidade em suas ações. E dói assim, penso, que deu no que deu. O governo e seus apaniguados, sob a bênção da mídia lograram, pelo menos, um bom resultado: conseguiu esvaziar e desmistificar o socialismo marxista, que já tinha derrapado no fracasso comunista da União Soviética, de infeliz memória. Fica claro, na leitura literária (a que comumente sei fazer) que todo sistema operacional, para não ter problema de continuidade através dos anos, precisa ter seu próprio equilíbrio – e esse é um ponto crucial. A crise atual podia ser prevista e evitada, se o sistema operacional da economia tivesse mantido o necessário equilíbrio em todo o tempo de duração e de percurso. Estariam cegos os que operavam no mercado das hipotecas habitacionais e no crescimento “subprime”dos ativos podres dos créditos hipotecários cegamente manejados pela busca desenfreada do lucro? Sobre o ciclo da construção civil nos Estados Unidos, que descambou na expansão desnecessária do crédito e, consequentemente na bolha financeira da crise. Na página 35 do livro de Fabrício Augusto de Oliveira e Cláudio Gontijo está bem explícito que a “redução da taxa de juros” (nos investimentos) “e o processo de securitização (seguros firmados)..., transformaram o “boom” do mercado residencial em verdadeiro frenesi..., atraindo os tomadores de maior risco, mesmo quando o comprador-devedor não é capaz de dar qualquer entrada, desprovido que é de qualquer renda comprovada”. Tal procedimento pode ser chamado de cegueira ou de irresponsabilidade? Nietzsche já dizia, muito antes que “o erro, a fé no ideal, não é apenas cegueira, é sobretudo covardia”. Sabemos que a ciência de economia, de um modo geral, é notória produtora de textos de leituras bem áridas, para quem não é do ramo. Conheço o Fabrício desde a juventude (segunda metade da década de 60), quando ele militava numa associação estudantil, a famosa UED, promovendo reuniões, palestras, publicando boletins e jornais estudantis. Partilhei com ele do trabalho de fundação e de direção do jornal AGORA LITERÁRIO (de tão boa memória!), batalhando no levantamento do numerário de custeio através de vendas de assinaturas, estabelecendo contatos com os meios culturais, encomendando textos para cada edição bimensal, levando os originais, para uma gráfica em Pium-i, depois de formatar: tínhamos que contar os toques (espaços) nas linhas horizontais e verticais de cada texto, de tal forma que a diagramação de cada edição sempre saía de acordo com a disposição visual estampada em folhas de cartolina com os originais datilografados em anexo. Em 24 meses de circulação publicamos 105 autores brasileiros e estrangeiros, muitos deles com textos diversos em números seguidos nas doze edições de agosto de 1967 a julho de 1969. Em todo esse tempo Fabrício Augusto era um produtor de cultura e um ponto de apoio em sua jovem disponibilidade estudantil. Publicou livros de poemas - um deles “Pássaro-EU” muito requisitado na época. Muito bem integrado com os companheiros na amizade, na lealdade às convicções da moralidade, da ética, da arte e da literatura e da oposição (não guerrilheira) à ditadura militar da época. Quem diria, no entanto, que depois de migrar, ainda na juventude, para os grandes centros, ia deixar a literatura em suspenso e formar-se em Mestrado e Doutorado em Economia, lecionar nas Universidades Federais de Campinas, Belo Horizonte e Espírito Santo, além de exercer as funções de Secretário-Adjunto-Geral da Secretaria da Fazenda de Minas Gerais, no Governo Itamar Franco, e além de tudo publicar vários livros e numerosos artigos em revistas nacionais e internacionais. Um comportamento humano invejável, muito bem planejado e realizado e conquistado graças ao próprio esforço aliado ao arraigado talento intelectual de sua personalidade felizmente vitoriosa. Agora acaba de publicar, justamente o livro “ Os 100 Dias Que Abalaram o Capital Financeiro Mundial e os Efeitos da Crise Sobre o Brasil”. Tenho certeza que é, pois, digno de nota que um divinopolitano contemporâneo esteja estudando e explicando, nos devidos termos da especialização, o que muitos outros conterrâneos no passado e no presente enxovalharam o bom nome da cidade com ações condizentes com a dos políticos e empresários corruptos que fizeram com que a CRISE atual seja a maior e mais danosa da História da Humanidade. É uma honra para todos os munícipes que professam os mesmos princípios dignos da verdadeira cidadania humana.
Como diria o Drummond: “o que se perdeu, cristal não era”. Brilha como diamante.