domingo, julho 25, 2004

A VIDA MAIS HUMANA

Kurt Schilling, ao traçar o quadro evolutivo da técnica humana, observa que a humanidade marcou três etapas econômicas, do Neandterdal à época da máquina: a primeira, da caça e da coleta dos grupos errantes e predatórios, durou cerca de 30.000 anos; a segunda, a da agricultura e da pecuária de subsistência, dos grupos sedentários e conservacionistas, durou 7.000 anos; a terceira, a da agro-indústria de nossa atualidade, está com apenas 30 anos e já mudou a face do planeta. E vemos por outro lado, que a mensagem do Gêneses é bem explícita: Deus quer que o homem domine a terra, que a trabalhe e a coloque a seu favor, mas isso é para todo o sempre e não apocalipticamente para a ganância momentânea, como se o planeta fosse acabar no fim do ano do século. Vemos nitidamente que mesmo no meio urbano ainda não foi lançada a ponte entre as tecnologias da roda e a dos circuitos elétricos. E a conseqüência é desastrosa, pois a abrupta substituição das tecnologias é sempre traumática: em vez do mutirão dos enxadeiros na roça, vem o rolo compressor do maquinário, em vez da comunhão social das conversas e dos cantos, vem a solidão do tratorista na peleja destroçadora da máquina barulhenta. o que se perde em humanismo pode ser, de alguma forma, remediado? As atividades humanas da vida roceira eram (no Brasil anterior à monocultura e à mecanização) semelhantes às da própria natureza e perfaziam, no contexto, a fusão geo-social, o inter-ajuste ecológico, no qual a natureza e a cultura (como afirma Antônio Cândido, citado por Lélia coelho Frota) são dois pólos da mesma realidade. Mondrian  afirmou que a arte é um sucedâneo numa época que a própria vida carece de beleza. Mas em Minas, onde moramos, ainda existem regiões bonitas que concorrem no embelezamento da própria existência humana. Dia e noite o espetáculo estético das paisagens naturais (as gradações de cores, sons e luzes) enternecem a sensibilidade e a mentalidade. Uma terra enfeitada de árvores e águas e animais e pássaros e colinas e vales e montanhas e céus de nuvens e astros e estrelas é como uma casa enfeitada de predispostos sorrisos. A escritora Ana Hatherly escreveu que “o mito aproxima da a natureza, dos aspectos misteriosos da natureza”, e que só as sociedades afastadas da natureza desmitificam-se e por isso têm necessidade de criar sempre novos mitos. Mas infelizmente a tecnologia patológica já desencadeou a terceira guerra mundial, agora contra os seres indefesos da natureza. Para dessacralizá-la e bombardeá-la, o técnico começa desmontando criticamente o panteísmo, empreitada fácil, pois toda idéia de Deus é vulnerável, já que ele próprio não se defende quando é atacado. e a exacerbação gananciosa desse domínio da natureza fere a ética humanística e devia ficar à mercê de uma criteriosa e rigorosa disciplina jurídica. E fere também o que há de mais sagrado na face da terra: a forma sutil e delicada da vida de todas as criaturas do numinoso caleidoscópio da biodiversidade.   

Bibliografia: SCHILLING, Kurt. A História das Idéias Sociais. Zahar Editores, RJ, 1974 HATHERLY, Ana. Nove Incursões, Sociedade em Expansão Cultural. Lisboa, 1962. FROTA, Lélia Coelho. Mitopoética de Nove Artistas Brasileiros. Edições Funarte, RJ, 1978.

A JANELA DOS ANOS - Poesias

O Moinho Rifoneiro   A navalha esconde estranhas palavras em seu rosto de neve: uma gota de sangue e outra de leite uma, duas argolinhas na mão cheia de dedos do amor. De manhã as palavras sobem à laje da tapera levadas pelo sol ruidoso e temporão de noite elas descem carregadas de silêncio, descansadas dos atavios intemporais. A laje não apenas escorregava mas também balançava e rodava afundava aqui e submergia ali qual nave avariada no mar bravio. O bom é um açude vulnerável o ruim nem precisa defender ataca, ciclópico o duelo sem tréguas dos dois garante a vida no planeta. A moça chamada Irilda dizia (não sei em que ponto de minhas leituras) que o peso da hereditariedade é muito grande mas que não sabia se era maior o dos pais viciosos ou o dos pais virtuosos. O inexistente me chama do lado de fora vou atender sem ter a menor idéia do que quer comigo (está em riste na boca de espera? Furado de projéteis no âmago?) - o inexistente (a boca diz aos ouvidos) fica atrás de si mesmo mas os olhos castanhos não cansam de procurar os chifres na cabeça dos cavalos. Os Vazios Cintilantes Falta luz ou falta quem acende a luz? é o Padre Zezinho, respondedor, que pergunta a própria realidade estremece acende e apaga nas vielas, quer saber se falta quem sonha ou se faltam os sonhos no coração. Ainda subsiste em nós os resíduos da divindade? onde? nos bolsos desapareciso do corpo? nas pálidas reflexões da alma? o passado avança no futuro - os ritos africanos viraram feitiço no Brasil? a própria fé a serviço a violência em todo mundo? a nau dos insensatos! o ergástulo dos excluídos! a dessacralização da natureza! é assim que se perde sem ver o amor convivial? Vamos fazer dos olhos uma arma? cantemos em voz baixa a metáfora dos vazios cintilantes - não temos noites a perder no derrame de insetos - a vida é uma criança: gosta mas tem medo.   

A Cantora O corpo vai do abstrato da partitura musical vai de leve e cheio de graça vai e chega ao concreto da dança aérea de pés no chão exuberante e soberbo ele não é apenas o som e a imagem da flor e do pássaro é a flor do pássaro. O corpo não seria móvel e vívido se não tivesse virilhas e axilas o fogo não seria água de luz verde se a cantora não debulhasse Ari e Noel a vida não é rodeada de abismos? a curva é boa porque faz de conta vai para sempre e chega a toda hora a vida é boa quando a morte abre quando ela abre uma das curvas da vida a perna não seria bela se não despontasse a cabeça é bela porque arredonda é assim que a cantora vai e vem a piorra no tablado da canção atenção dobrada dos trovadores toda a pressa da beleza a urdir blocos diáfanos assim vai e vem nos olhos dos ouvidos até esbarrar na sombra inversa o amor tem os passos da canção. 

Juliette Binoche A estrela do lado de fora do céu declinava dos caminhos secundários da viagem, reclinava no colo da moça a partir dos carinhos inversos, em versos a chuva pianística borbulhava nas pedras que eram espumas antes de serem lágrimas as luzes respingam as almácegas do rosto demoram nos olhos demorados da âncora convivial no meio dos marmelos andadeiras e agapantos. Os anelos contidos tocam flautas e glândulas modelam o corpo na elasticidade a voz de meio-soprano canta nos olhos a revoada dos harpejos a inspiração das baladas o piano a cair na emboscada o vviolino a cair no vendaval uma das pernas toma vinho doce a outra toca a flauta doce. “A minha liberdade é dos bichos”, ela solfeja em compasse ternário já bem longe do coro e da orquesta no palco de paredes trincadas de outras miragens.   

Diamantina Edificada sobre a rocha a cidade chega aos poucos de longe as crateras lunares aqui despenhadas o frio impessoal dos horizontes cada arrojo é uma vontade diáfana cada casa é uma igreja no morro os olhos ao lado da paixão, esculpidos nos beijos do desejo os olhos verdes e amarelos, esculpidos no adeus de cada esquina ali outra lua pousada nos galhos da pedra vivo antes de viver o que vem depois já é lembrança.   

Delírios Momentâneos Agora que dinheiro é poesia... Dinheiro é poesia? Salamandra é pirâmide? Agora que a formiga tem catarro (tem tutano?), pega um ou dois estereótipos de pernas curtas (uma grama de sal aqui, uma pitada de açúcar ali) e espere a vida, para depois morrer. Vamos esquadrinhar a fantasia e rir da lógica cartesiana? Vamos aplicar um eletro-choque no ego do narciso? A ponte vai ruir se você mijar na pilastra dela! Você que diz um absurdo desses, diz que dinheiro é poesia? que vai nascer cabelo na garrafa? As palavras viajam ilhas e continentes nas pupilas dos poetas na respiração das mulheres (de erro em erro o pensamento acerta, uma vez ou outra), dependuram máscaras nos galhos da laranjeira - uma delas corre mais que eu, chega na frente. É o dinheiro no altar de eros? Tudo então está perdido?  

Paráfase de Jill Wofman   É no sonho que ouço o chamado (o grito simbólico de meu nome). Num instante pulo da cama em silêncio para não acordar o marido que ressona. Encontro o chamador no quanto contíguo. E agarrados formamos outro casal na escassa luz da madrugada. Sua boca voraz me esvazia e me enche. Como é bom ficarmos assim na cama o longo tempo a brilhar nos espaços as gotas de leite escorrem no seu rosto meu corpo flui e boceja na entrega. Novamente a dormir no paraíso na área vívida das pétalas momentâneas ele dispensa minha companhia. Então levanto na frente da outra porta retorno ao ninho anterior e logo reaqueço no corpo de outro homem.  

A Imprensa do Interior   Homens teimosos, de palavra fácil, arremessam dardos plantam os jornais no chão às vezes sáfaro às vezes fértil da cidade que espreguiça nos horizontes sertanejos. Nomes satíricos e falazes como A Sogra, a Gazeta Sanitária, A Carta, bolados certamente por filhos mórbidos da vida que sabem do amargo salutar da face humana. Procuram quem está na berlinda? brilham no escuro, escurecem na claridade sabem que a floração nos escaninhos do poder não influi na tremedeira do medo alvar. Carregam os nomes de Sentinela e de O Clarão recolhidos nas dobras de uma bandeira hasteada aos ventos contraditórios. assim cumprem umdestino, adubam os campos enchem de perguntas os terrenos baldios - os nomes portadores de lírios como Diadorim, Bilhete, Arrebol, colecionam incertezas escrutinam os fazeres e as omissões do cotidiano. Caramba! às vezes procuram a flor e encontram a ferida Caramba! às vezes até conseguem interceptar o malfeitor interrompem a deportação de mendigos em caminhões sem freio. É o gosto que provam, que aprovam da vida.  

O Santo Forte   O que mais te desejo no dia-a-dia agora que andas achacada de males é a proteção de um santo forte a cada hora do dia e da noite: Santa Terezinha do Menino Jesus, a das rosas para manter intacto o encanto de teu rosto São Jerônimo  

TODO DIA É DIA DE NATAL - Conto

O dia inteiro de caminhada nas subidas e descidas do trajeto de  cinco léguas de Ermida dos Campos à Divinópolis. José e Maria, Maria e José, os dois, lado a lado no ritmo intermitente e moroso das subidas e no persistente e apressado das descidas e baixadas. As horas passavam nas posições do sol, ora na frente deles, ora dos lados, até fixar-se no centro do céu, mais quente na cabeça do que nos pés. Depois de uma rápida parada para a matula, na sombra da árvore dos óleos, eles recomeçam a andança, refeitos de ânimo. Esperam chegar à cidade antes do anoitecer, a tempo de encontrarem um pouso decente numa pensão barata, que escolheriam pela aparência, antes de contratarem. Descansariam a noite para reencetarem viagem, ainda à pé , logo de manhã, até o Arraial do Desterro, terra natal deles, onde esperam obter dos parentes a boa acolhida para propiciar à Maria um parto feliz do primogênito, que enchia seu ventre e sinalizava com apalpadelas e empurrões internos o desejo e a necessidade de vir à luz. - O nosso Jesuzinho está chutando muito?, ele pergunta à mulher, limpando o suor do rosto e trocando de ombros o saco de roupas e os bornais de objeto de uso pessoal e alguns artifícios de madeira que burilou em sua pequena oficina para presentear os parentes e amigos do Desterro: uma imagem de Cristo de dois palmos de diâmetro, esculpida num toco de pequi; um carrinho de bois, miniaturado; meia-dúzia de piões e piorras e muitas colheres de pau e consolos para coar café. - Ele agora sossegou um muncado, coitadinho, - ela responde. - E a enjoação do estômago embrulhado? - Graças à  Deus, passou. Foi só de manhã, quando começamos andar. - Tudo bem então, né? Quando quiser parar um pouco para descansar, é só dizer. - Carece não, Zé. O meninozinho está tão perto que arreceio dele querer sair de mim antes do prazo combinado. E estrada pedregosa castiga os pés de José, dentro da velha botina gomeira e os de Maria, inchados dentro da velha sandália de fitas. Os sulcos dos carros de bois e os cascos dos animais misturavam-se na terra salpicada de ramos rasteiros aos rastros levíssimos dos pássaros, cobras e lagartixas. Durante o longo percurso, eles conseguiram carona duas vezes, em carros de bois, em um deles levando rapaduras de uma fazenda a uma venda de beira de estrada e outro conduzindo milho em palha de uma roça a uma fazenda na matinha dos juncos. O sol já estava morrendo no horizonte das costas deles, quando avistaram o profuso e vivíssimo casario da cidade do Divino. Quando viram, de longe, a torre do Santuário, pararam, persignaram e rezaram. Escurecia quando entraram na rua comprida que dá acesso ao centro da cidade. Prestavam atenção nas casas, na esperança de verem as tabuletas indicativas de pensões familiares. Andaram dezenas de quarteirões iluminados por lâmpadas pendentes de braços da tosca posteação de aroeira do sertão. As pessoas transitavam as artérias públicas, no meio de alguns barulhentos automóveis, silenciosas carroças, no meio de cães, cabritos e montes de pedras. - É bom perguntar a quem sabe, Zé, - ela disse, encostando-se um pouco num muro de terreno baldio. José, debaixo do poste, lia no pensamento as palavras de Jeremias: “O Senhor vai castigar os pastores que não tomaram conta de suas ovelhas. Ele reunirá as que não se dispersaram e as fará voltar a seus campos, onde se reproduzirão e multiplicarão. E na boa onda dos novos dias o Senhor fará nascer um descendente de David, que reinará na sabedoria, na justiça e na retidão de toda a terra abençoada”. Mas alertado pelas palavras de Maria, ele abordou o primeiro passante, um homem alto, barrigudo e bundudo, de calva adentrada no alto da cabeça e uma barba negra, cerrada. - O senhor pode me dizer onde fica a pensão mais perto daqui? O homem estacou, reparou bem no casal, coçou a barba e o saco, aproximou-se para saber de mais detalhes: quem eram, de onde vinham, o que queriam na cidade, para onde iam depois. José, de boa vontade, deu as informações. - Antes de mais nada vocês precisam de uma boa acomodação, onde possam tomar banho, comer e dormir. Amanhã vocês pegam o trem que passa no Desterro. À pé vocês não vão, nem ver. É loucura fazerem outra caminhada de cinco léguas, estando ela no estado em que está. - Mas não queria desinteirar o dinheiro do parto e do resguardo dela, lá no Desterro. - Isso veremos, - diz o homem careca e barbudo. “Vamos atravessar a rua. Do outro lado tem uma pracinha com bancos de cimento, onde poderão descansar, enquanto conversamos”. E conversaram por mais de meia-hora. Ficou combinado que o homem iria  à pensão mais próxima, para reservar a vaga do pernoite e de lá iria à estação ferroviária comprar as passagens para a viagem no trem de ferro da manhã seguinte. - Você está me dando um conto de réis, em dez notas de cem... - É todo o dinheiro que consegui juntar nos nove meses da gravidez dela..., disse o José, constrangido e apreensivo, vendo o maço de notas nas mãos do barbudo. - Vou levar comigo para prevenir um contratempo. O senhor não pode ficar com tanto dinheiro dando sopa, sem saber que cada pessoa que passa para lá e para cá é um ladrão em  potencial. - Mas quanto o senhor acha que vai precisar para as despesas? _ Nem um décimo deste total, - o careca diz, embolsando o maço e levantando-se do banco. “Dentro de meia-hora, no mais tardar um pouco mais, estarei aqui com o recibo da pensão e as passagens do trem”. - Mas como o senhor chama?, pergunta Maria, preocupada com o desembaraço do homem e a desconfiança do marido. - Meu nome é Judas, - ele disse, já um pouco distante, prestes a embrenhar-se nas sombras da rua noturna. Maria achou o nome esquisito, mas abanou os pensamentos que queriam entrar em sua cabeça. José cabeceava um pouco, despojado no assento e encosto do banco; o nascituro da mulher fazia o mesmo dentro de seu ventre remansoso. Ela então aproveitou para reativar os fiapos de um salmo responsorial em sua adocicada memória: “Se o senhor é o pastar que me conduz, nada me faltará. Sei que me guia nos caminhos mais seguros, pelos prados e campinas verdejantes, em nome da honra de seu nome. Para as águas repousantes, ele me encaminha, enquanto restaura minhas forças. Assim há de ser. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal hei de temer, pois com os óleos benfazejos ele ungirá minha cabeça, enquanto o cálice de meu esposo transbordará no caminho da felicidade de nossa vida”. Três horas depois, eles perguntaram a um outro passante se não tinha vista um homem alto e barrigudo, de barba negra e reluzente, chamado Judas. O passante depois de ouvir a estória, gargalhou e disse: : “Vocês caíram no conto do vigário! Vocês são mesmo uns capiaus da roça, hein?”. Desnorteados e desenxabidos, saíram pela noite e pelas ruas, a procurar, primeiro o tal de Judas e depois uma hospedaria que pudesse acolhê-los. Bateram nas portas de todas as pensões familiares que encontraram, mas nenhuma quis hospedá-los, já que não dispunham do dinheiro para o pagamento antecipado. Maria já não agüentava de tanta canseira e cismava que a bolsa do nenen ia rebentar antes da hora, dentro de si. Amargando e chorando a desdita, foram parar na fila da previdência social, quando já passava da meia-noite. A fila dobrava o quarteirão, eles entraram na rabeira, na frente de outras pessoas que chegavam sem parar, de forma que, em pouco tempo,  ela já dobrava o outro quarteirão. José forrou o passeio com uma toalha, sentou-se, deixando espaço para Maria deitar-se, espichando o corpo e encostando a cabeça no colo dele. Depois, um dos associados da previdência, vendo-a gemer naquele estado, condoeu-se, foi até a vanguarda da fila, rogando uma troca de lugares, a fim de que fosse atendida entre os primeiros, ao amanhecer. Conseguiu um adiantamento de alguns filantes, mas depois, diante do agravamento do estado dela, outro pensionista conseguiu passar na frente de mais alguns filantes e por fim, quando já estava clareando, os primeiros da fila, que mostravam irredutíveis em seus lugares, arredaram de suas posições, deixando que  a pobre roceira grávida tomasse o primeiro lugar. José não sabia o que fazer de suas preocupações. O filho ia nascer naquela cidade? em casa de quem? na santa casa de misericórdia, através da ficha da previdência? E depois, como fariam para seguir viagem até Desterro, sem um tostão no bolso? Assim pensando tirou da sacola a imagem de Jesus Crucificado e ficou a olhá-la. O toco de pequi, em forma de coração, a figura maltratada do Filho de Deus pregado na cruz, parcialmente despido, os cabelos compridos sobre o pescoço, as pernas dobradas para que os pés pudesses ser jungidos ao madeiro no furo de um só prego; os braços estendidos, musculosos e sensuais; o rosto perturbado no transe da paixão pelo destino redentor, na contradição da extrema dor física das fincadas e macerações da judiação carnal. - Que imagem bonita!, - um filante exclamou. “Quanto quer por ela?” José, espantado diante da admiração daquele filante e dos outros, que se debruçavam para ver a imagem, respondeu: - Esta imagem é um presente que vou levar à minha mãe. Não é de vender! Depois de quase uma eternidade na espera, a portinhola do guichê abre, e a fisionomia cansada do atendente assoma, impaciente, exigindo a documentação de José. - Documentação? Qual documento?, diz o carpinteiro dos arrabaldes de Ermida dos Campos. - Está fazendo hora com minha cara? Cadê a carteira de trabalho? - A carteira? A mulher sofrendo as dores do parto não serve? O atendente bilioso faz um sinal violento, exigindo que ele dê o  lugar na fila ao que está logo atrás. Ao sair da fila, Maria desfalece e é carregado por José até o canto do muro, onde ele a envolve em panos tirados da sacola, abaixando ao mesmo tempo a roupa íntima dela, já  toda molhada. E como se fosse um médico escolado e experiente, ele mesmo ajuda a mulher nas contrações e puxa, jeitosamente, o nenen chorão para resguardá-lo numa infinidade de panos que retira da sacola, para depois cortar o cordão umbilical com a lâmina bem amolada do canivete de cabo de osso. Sentindo que tudo deu certo, ele ri em si e olha para a apaziguada Maria, que lhe pergunta: “Ele nasceu direitinho? não está faltando nada nele?”    

PROCISSÃO DO ENTERRO - Conto

Uma lua esfarelava no bambual do Morro da Fonte outra esparzia flores brancas nos telhados do casario. A procissão, que partiu da Matriz, pela rua de cima, começa agora a contornar o Largo do Cemitério e voltar à origem, pela rua de baixo (que é a mesma, em outro plano). Cada acompanhante é um penitente, a carregar o velho feixe das dores, nos lugares sagrados, que estão sempre onde nascemos, vivemos e morremos. Já são algumas horas da noite, as sombras caíram sobre a terra e em certo ponto da rua, alguma pessoa, fora da procissão, toma a forma de árvore e seus olhos enigmáticos analisam as figuras anoitecidas. O moço da Bemposta quer agradar a moça da Estiva (o amor é uma cobra de duas cabeças?) ele na ala masculina, ela na feminina: os olhos deles conversam, bem entendidos. Ele queria mandar um recado, uma flor de homenagem? Onde encontrar, no momento, a melhor mensagem? Manda, na boa intenção, uma vela acesa, que o menino vendedor traz de volta, com as palavras: “Ela mandou dizer que ainda não morreu”. Ele demove os esgueirados impulsos, pois acaba de perder um novo olhar! A procissão do enterro do Senhor morto evolui lentamente na noite de sexta-feira da Paixão: de espaços a minutos pára nos passinhos da via-sacra. É quando a moça de cabelos compridos  sobre o rosto, em cima do tamborete, desenrola o sudário e sobrepõe ao velado silêncio, a voz de seu epicédio: a luz que veio da treva, à treva retorna a moça chamada Verônica canta sozinha os centuriões protegem o esquife a tristitia exibe a face judiada a paixão da alma cai na tristeza onde está a grandeza que estava aqui? Aí a Banda entoa outra marcha fúnebre se fazem isso ao ramo verde, que dirá ao seco? Dizem que a paixão leva três vezes à queda e apenas uma vez à secessão, que acende a luz do aposento onde esteja e apaga a dos outros cômodos da casa.  Por que é assim tão atrabiliária? O Furricoco sopra o berrante, insulta a virtude, desafia a piedade dos cristãos. Os centuriões armados de lanças e espadas, afugentam-no para boa distância no interior das alas, de onde negaceia e enceta a reaproximação. O esquife embala-se nos ombros dos apóstolos, que se revezam no encargo da lenta e pesada caminhada. O silêncio é absoluto em todo o arraial e ninguém diz “essa boca é minha”, até mesmo a tosse persistente do asmático é sufocada. Na retaguarda vem o andor com Nossa Senhora das Dores, carregado pelas Piedosas Mulheres. Mais atrás,  a Banda de Música, regida pelo Toneco, sente o peso dos pecados (o pecado é uma linda mulher, de dentes pretos, de nome antigo, a mesma Trisititia?) O elo da alma do homem com a alma do mundo é tênue, porém inquebrável... os anciões da Banda fazem o Nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo na clave do sol noturno: rezam na beleza o toque da piedade na dor... a alma de pluma e flauta está a dizer que a escuridão é uma clareza diferente. Ao lado de cada tocador de instrumentos, um rapazinho segura a vela acesa e a pauta aberta. O espírito enluariza o corpo, por fora e por dentro, o nome da paixão se escreve em vermelho. No alto a lua está cheia de velas votivas, umas de cera e outras de espermacete: assim ela está a chorar, toda trêmula. A arte, a interação conflitiva da arte, pereniza o quinhão de vida nas coisas. Cada fiel leva a vela acesa como se levasse o tição sagrado: a ala direita formada de homens e meninos; a da esquerda, de mulheres e meninas. Os olhares cruzam-se, frontais e enviesados. O espírito é a segunda dimensão, o segundo nome do corpo, que às vezes não merece alma que tem: anima pathema, cupiditas! É pecado namorar diante de Deus? A íntima identificação dos signos e das cenas - se as palavras não rimam, as significações rimam. Algumas mulheres carregam crianças dormindo, outras cumprem promessas (carregam enormes pedras nas cabeças, andam ajoelhadas, a intervalos)l. O estampado das roupas brilham diante das velas e das luas. Os homens, empalitozados e botinizados, de braços pendidos, dão à impressão de que neles o espírito em repouso aceita e afaga (mesmo quando ficam a dois passos do abismo) a custosa luta da subsistência. Na angustura do entrever e do entrevem das partes afins das alas próximas e separadas os olhares sinceros na fé da sensualidade cortam os lados indo e vindo nos remendos da inteireza às vezes chispa afoita às vezes um descuido atônito assim a tentação agride os ferrolhos da sujeição - não é que um namoro arretado vai começar ali, depois de tanto tempo e de tantos ensaios?! Pois antes era assim: quando ia chegando perto, retrocedia. Mas agora a intimidade confirma o entendimento sem alarde a vontade é do coração. A verdade sobrepaira como o azeite na água. Toda mulher devota se crê impecável, a arder em súplicas, a suspirar nos pensamentos dos desejos. A Virgem Maria é o perpétuo socorro nas calamidades: ecce mater tua, Ele disse, antes de expirar na cruz. Os dobrados intercalantes ferem o silêncio: as pencas de culpas desabam no chão, os gemidos sobem ao céu nas frases da clarineta do Zequinha Tavares: “eu te exaltei com grande poder e tu me suspendeste em patíbulo da cruz”! As exéquias do bombardino do Genésio purgavam: a redenção ia pro beleléu?  o remorso é a lâmina do coração? Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste na lavoura gorada? o que te fiz, em que te contristei? por que turva minhas idéias e bambeia minhas pernas? Na mesma lentidão, ao longo e no meio das alas, o sacerdote de estola preta, alva e cíngulo; os profetas do Velho Testamento, ajoelhados nos sentimentos; o afogueado Moisés, com a tábua dos mandamentos; o patriarca Nóe, de barbas brancas quase arrastando na grama da rua, o multissecular sacratíssimo; o mistério pascal; o anjo carregando a árvore da vida, num dos galhos da qual a serpente abocanha a goiaba madura; os ventos enrodilhados no vórtice, repentinamente cessados; as santas chagas que pingam, Adão e Eva (representados por um casal de crianças vestidas com trançados de folhas de café), cumprem o afoito trabalho da terra sazonal: ele com o cacumbu simbolicamente cavando, ela com a espiga de milho, descascada, a fazer de conta que deita as sementes nas hipotéticas covas do chão: assim os símbolos vão e voltam no meio das alas. A terra cansa minhas pernas, o céu cansa meus olhos: são duas horas de silente e caminhante oração - também nós e não apenas o Finado estamos entrando na eternidade? O som da Banda, o canto da Verônica e o silêncio das velas mortiças integram-se na massa das aflições transitivas; o silêncio coletivo abre sanjas de dor nos lugares, a dizer e repetir que ninguém é mau por livre escolha. O que vem das casas vazias e das vendas fechadas é a névoa da culpa, o quebranto da expiação o mundo inteiro fechou as portas, nesta hora: o mundo inteiro, menos o Beco do Buracão, onde, esquecidos da lei de Deus e dos homens, desobedientes às prescrições de jejum e abstinência, um punhado de impenitentes trai a santidade da Sexta-feira da Paixão, esquecidos da lei de Deus e dos homens. Eles, os excomungados de livre escolha, eles não sabem o que fazem? Os buracões do alto engolem mais uma estrela chorona os homens tentados pela gula da carne débil esquecem os estalos secos da matraca as inflorescências cimosas da cagaiteira são os roedores noturnos no dealbar dos malefícios os caiçaras dos roçados mal queimados um deles, bobo até falar chega mora na borda de cima da capoeira da fonte, perto da ninhada de guarás. Esses, os homens iníquos, fazem fila na moita de bananeiras, onde jaz, disponível, a rameira que veio da cidade e que ali jaz agora, de pernas abertas, deitada de costas. O beco é um trapo sujo a envolvê-los a libido é uma palmatória nas mãos deles? A realidade é um campo de árvores condenadas? Uma rua de casas ruídas? A pedra branca da chuva bem que podia gotejar! O que mais avulta nos olhos esganados dos bichos notívagos, de quatro dedos nas quatro mãos é a cicatriz do paraíso, onde agora viceja o inferno? A mulher é uma coitada que sofre de gota, de bouba, de erisipela? Estava entre os que atiraram a primeira pedra? ou é mais antiga ou mais moderna? ela sofre do mal de Parkinson? ou é boba assim mesmo? Eles fazem fila no beco pedregoso: quem já viu defunto enjeitar cova? E guarda-me, Senhor, da mão do pecador e dos homens iníquos, livra-me!” Ela aceita a escandecência situacional, esmiuça a penúria de uma estrelinha morta no céu vulgar das noites pífias: se a cabeça é  ruim, o corpo padece! Eles fazem fila no beco pedralhado, que leva escuramente, em outros dias e outras noites ao poço sem fundo do Buracão. A palavra amarga não canta. As lágrimas da Banda chegam às folhas da bilosqueira do milharal. O corpo é a vítima da alma, mas sabe errar sozinho. Ninguém presta atenção no contraponto do beco, na contradição abusiva: as folhas da bilosqueira interceptam os raios do céu pacífico, embebem na penumbra a montoeira, a buraqueira e o mato rasteiro. São dez homens na fila, alguns notoriamente malvados como o Zazá, o Jesué, o Caitá; os outros são tapados de fé e de esperança, não sabem viver: o Dico Ventania, borocochô; o Zecapião, amansador de cavalos; o Pedro Barbaça, veterano da Mantiqueira; outros, coitados: são viúvos e solteirões descabriados, condenados à abstinência de anos a fio. Mas no maio deles ressalta a figura atéia do Murilão, em mais de cem quilos de banha, em mais de trinta anos de pesquisa autodidática e de bobeira dialética. Seu peso afunda as pedrinhas no beco noturno, amassa a relva do quintal. Só agora ele vai conhecer a intimidade feminina: está, pois, afoito e desarvorado. “Não se afobe, Murilo”, os outros aconselham. O riso é a sinóvia, é a sevícia umedece a tessitura interna imprime articulação nas relvas e nos arbustos dá o tom e a linha da canção e do desenho das fontes grandes e pequenas - há fogo nas serras da Catiara, nas pastagens da Forquilha? quem aí já bebeu a erva má da enchente que vem do sul? o coral, ditirambo, a tragédia afecção indistinta na raiz dos joelhos - quem jogou a pedra na caixa de marimbondos? e diabo é uma desculpa esfarrapada? e a solidão?  é a desculpa para tirar meleca do nariz? A lentidão pontuada pelos dobrados da Banda...assim a procissão ganha o retorno da parte baixa da rua: demora mas não cansa. As mães carregam as crianças com firmeza; os homens de chapéus nas mãos dos braços pendidos, estão com os olhares distantes e vivos; os males impensados, uns sobre os outros: os bichos do mato enrodilham-se em nódoas quem pode evitar a consumação de sangue? todos somos irmãos aqui, primos ali: minha família vem dos longes de tão perto! A morte tem olhos de cobra e andar de lobo vem dos becos e carrascais enovelados - os personagens bíblicos cumprem as devoções, mas o padre não sabe o que fazer da fé concentrada do povo. Passeia no interior das alas, o livro nas mãos - um sacristão com o turíbulo aromático o outro a zumbir zoeira da matraca. Por mal dos pecados, no ninho de ciscos e folhas secas, debaixo das bananeiras, a meretriz agüenta firma a sina devotada, mantém as pernas abertas, o vestido levantado, o rosto torcido, a vagina ardendo: é a sacrílega madalena a dizer “ a mão que afaga é a mesma que apedreja”- a cartilagem bem alimentada de oxigênio, os braços da cruz antes do último suspiro. Come um biscoito de polvilho, de vez em quando, sorve uma golada de café de garrafa escura, apática a receber os homens pecaminosos, sem dizer: “guarda-me, Senhor, da mão do pecador”. Os homens, aliviados, vão deixando o dinheiro na folha do jornal, ao lado dela. Ela espirra, tosse, cospe - agüenta a trituragem do nheconheco, sem reclamar (ela é uma fantasia em carne e osso? eles são morcegos e coriangos nas ações?). Ela arrepende-se de ter nascido? mas a pobreza fala mais alto que o orgulho, alquebra o tino, empalidece a voz, descarna o corpo. Então o que fazer? beber um gole de cachaça ou de amor-deixado? maldizer o agouro da coruja no oco do pau? esmagar nódulos reumáticos, bolsas de tendões?   A extrema unção palmilha a grama da rua alguém já coloca o cibório no corporal? o padre chegou ao fundo da epístola? as mulheres carregam pedras na cabeça os homens confiam na complacência divina - a raiz desce, a haste sobe o avança visível depende da força retrógrada uma miasma vem do brejo para alojar nos ouvidos? o urubu de baixo caga no de cima? nossos medos provém de tuas ameaças e moléstias, ó destino! os santos, às vezes, são maus? por que sobrecarregam as feições na boca da noite? por que retaliações, os castigos dolorosos? a peste das ramas, nos ares, nas águas? por que? os muçulmanos estão chegando? os idólatras estão voltando? “as lágrimas se misturam ao que bebo”, reza o breviário - oremos também pelos pagãos que agora erram nas moitas de lobeiras, nos covis e babilônias do Buracão mesmo ali, descendo o morro de pedras e ervas daninhas.   Quando chega a vez do Murilão, ele, de olhos esbugalhados, o sectário do contra, ele se estorva, não sabe o que fazer. “Uma vez sempre é a primeira” alguém lhe diz (no ouvido ou no pensamento?). Quem já viu o curió cantar nos alecrins da fontinha? Ele pensa e repensa, tentando se encontrar. Exige que todos fiquem longe, não quer nenhuma testemunha. A bunda descomunal brilha no escuro da solidão. A mulher geme debaixo das arroubas, a pensar dele: ruim de carro, pior de arado. Mas qualquer cavaco ou graveto pode acender fogo no terreiro da casa. Ele demora nos inícios, custa a acertar o jeito de enfiar a coisa. Ele baba no rosto dela? A Banda recomeça a elegia, na rua de baixo, da qual desemboca o beco - toca mais um epicédio de cortar o coração, no frio de lua cheia: tenha dó e piedade!, parece dizer nos trinados e gorjeios e ribombos. Mas de repente o Murilão encontra o caminho, começa a debater, espernear e gritar: “ME MATA, GENTE, ME MATA COM A FACA DA COZINHA!” Os outros acodem, pensando que ele está a sofrer um ataque cardíaco ou epiléptico, mas logo estacam: ele está é a descobrir e desfrutar da chamada dor da bondade, do bem-bom da vida, isto sim, é o que está a acontecer com ele! A mulher não ouve os arremates fônicos que Vêm da rua, nem presta atenção nos arroubos dele: recorda-se de fininho, apalermada, da voz da tristinha Aracy de Almeida: “O pranto para mim não tem valor não choro quando estou triste sorrio sempre na dor”, que vinha através das escâmulas e sussurros de outros sertões, longe dali. Ele se debate em distúrbios e convulsões, a repetir, gritante: “ME MATA, GENTE, ME MATA COM A FACA DA COZINHA!” Era assim que ele atracava e enleava, a esquecer a embirrância em figura de gente, que era até então. Como se nada tivesse acontecido, antes, em sua vida. Na rua inocentada pela lua cheia das magnólias e bilosqueiras e absolvida na pia litúrgica das afeições populares, a procissão emparelha as duas pontas, na porta central da Matriz, de onde a vanguarda paramentada saíra duas horas antes. Os fiéis que chegam e os que partem não cansam de orar: até quando, Senhor, vamos chorar a vida? Somos fiéis à dor de teu olhar, aí no gólgota do extremo sacrifício. Salva-nos da dor que te feriu, que nós causamos. E se não for pedir muito, Senhor, salva-nos de nossa ignorância! Enquanto a vanguarda adentra o templo, a retaguarda ganha os primeiros espaços da rua. E no meio da solidão popular, o trinado da clarineta do Zequinha avança no sangue da alma: é o corpo que chega á sepultura.   ............... Identificação do autor: Lázaro Valentim dos Reis Barreto  

BREVE CURRÍCULO

O autor é formado em Ciências Sociais, vive em Divinópolis (MG), desde 1966, onde fundou e dirigiu dois jornais literários e ainda colabora com a imprensa (falada e escrita), estendendo essa colaboração a jornais de outras cidades, principalmente de Belo Horizonte. Já publicou os seguintes livros: “Árvore no Telhado”, poesia; “A Cabeça de Ouro do Profeta”, contos; “A Lapinha de Jesus”, texto de Natal; “Mel e Veneno”, poesia; “Aço Frio de um Punhal”, contos; “Memorial de Divinópolis”, pesquisa sociológica; “História de Arcos”, pesquisa histórica; “Memorial do Desterro”, pesquisa sociológica. Participou de antologias em Belo Horizonte (três), na Argentina e na Polônia. E tem os seguintes livros inéditos: “Terra de Cultura”, romance; “O Velho Feixe das Dores”, novela; “O Reinado”, teatro; “Dois Patinhos na Lagoa”, contos; “Tentação Noturna”, romance; “Barra Funda”, romance; “Onde Cair Morto”, contos, “Poemas e Paráfrases”, poesia; “Cantagalo”, romance; “Os Horizontes do Itambé”, Pesquisa sociológica sobre a cultura popular de Minas; “Aqui Neste Desterro”, teatro; “Tema em Desespero”, romance; “Quem Matou o filho da Onça?”, teatro infantil; e “O Dia do Casamento”, romance.