sexta-feira, março 28, 2008

POETAS DIVINOPOLITANOS

Adélia, Três Vezes Adélia. Três constantes temáticas atravessam, como linhas circulares, o mundo poético de Adélia Prado: a cidade natal, a sensualidade vital e a divindade. São as linhas principais de um mapeamento multifacetado de imagens e conceitos não obrigatoriamente coniventes.Estou a ler o número nove dos Cadernos de Literatura Brasileira, dedicado à poeta, que estampa na contracapa o poema da cidade de Divinópolis, que ela já tinha cantado meigamente na adolescência em tom laudatório, enaltecendo as fábricas, os prédios, as oficinas, os trabalhadores braçais, alavancas do progresso que a cidade começava a conhecer. O novo poema é de um amor menos ostensivo, que responde em toda sua obra pelas menções afetivas das coisas e seres da terra: a beira da linha e seus moradores, a faina ferroviária de toda a vizinhança, a freqüência litúrgica nos templos católicos, as festas populares nas ruas e praças, os pungentes relacionamentos dos amigos e parentes, entre os quais avulta, luminosa, a figura do pai da poeta (autor metafórico, por assim dizer, de muitos de seus mais belos versos, que ela enfaticamente cita na sucessão de suas publicações). Divinópolis é, para ela, a dona de uma luz que nasce da verdadeira luz eterna. A sensualidade que sobressai de seus versos é a do princípio vital da natureza e da humanidade, sem a qual as aparências não teriam intensidade, as ações não teriam graça, os sonhos não seriam lembrados nem antes nem depois do sono. “Se me tocar, desencandeio as chusmas”, ela diz num verso e noutro, falando do sexo, de modo doce diz que ele é sapiente e tem o modo realmente doce “pleno de si, mas com fome”. A poesia é Eros, ela conclui, com toda razão, espalhando em seus versos a essência mais perfumosa da libido em todo o curso da natureza: a cor e o som, intensos no viveiro das folhas aéreas e rasteiras e em todo voar e cantar dos pássaros e no álacre existir das coisas e seres, glorificando o princípio do prazer em sua finalidade, em sua felicidade humana, esfericamente planetária. E Deus? O Deus dela é talvez mais belo no Velho Testamento e mais verdadeiro no Novo Testamento? Interessante notar que Ele é onisciente, onipresente, onímodo, oniparente, mas nunca chega a ser o onipotente tantas vezes apregoado nos catecismos católicos. Ele também vacila de vez em quando, diante de alguns estrepes misteriosos, por mal do resguardo de alguns dos pecados? Seria esse um traço dostoievscano de nossa querida Adélia? “A uns Deus quer doentes, a outros quer escrevendo”, ela diz num verso que prenuncia o outro “Deus quer falar e me usa”. Pois que fazer Poesia para ela é fazer o Pão de Deus. E esta é a mais bela forma de orar, afirma Frei Beto, a respeito do trabalho dela. Uma atmosfera de conflitos evanescentes, de machucados revigorantes. Quantas vezes, muitos caminhos, quantas fontes. O Outro Nome da Poesia. A mais recente publicação de Osvaldo André de Melo, a plaqueta intitulada “Meditação da Carne” (Orbital Poesia, BH 97), é obra e madura, o transe andante nas vertentes da sutileza, lépido nas articulações e belamente revestido do lirismo mais humanista. Cada palavra é a pedra, o barro, a madeira, o formão, a talhadeira, todas as ferramentas e materiais de construção das catedrais ao mesmo tempo cotidianas e seculares. Um nome, outro nome, todas as palavras que procuram dizer o outro nome da carne:quem sabe o enredo e o coração do sonho? o dobre de vivências infinitas? Sei não. Osvaldo André de Melo nunca teve pressa de partir nem de chegar. Nunca atropelou os embargos dos caminhos. Foi sempre o que é; é o que sempre foi: o poeta da bipolaridade da prudência e da ousadia, da ousadia e da prudência na alternância das dietas e das canções, das atrações e expansões dos momentâneos da permanência. Cônscio da própria luz, não precisa de lanternas alheias para cumprir sigilosamente sua escalada orbital, indo e vindo no mesmo endereço da infância-adolescência-juventude-maturidade, sem ferir ninguém a não ser com os gumes da afabilidade, da auto-estima, do amor-próprio de toda a humanidade. É por isso, e por muito mais, que estamos diante de um livro que engrandece toda a poesia de nosso tempo – não só pela carga lírica (quer dizer que o amor continua sendo a melhor coisa do mundo), como pela validez da palavra (os muitos nomes, as muitas coisas de cada uma delas): a poesia tornada ramo de oliveira que a pomba de Noé trouxe para a arca nos dias posteriores ao dilúvio. Sursum corda, é o que temos a dizer, antes e depois de ler os poemas de “Meditação da Carne”.

O LIVRO DOS NOMES (*)

A perícia da autora com as palavras – como se debulhasse uma espiga ou formatasse uma espiga debulhada – é a sua varinha de condão que a leva onde ela bem quer na ida e na volta, colhendo e oferecendo as flores e as frutas da poesia fora do verso e dentro dos objetivos mais visados: uma passagem feliz pelos obstáculos infelizes, uma reflexão filosófica na sombra psicológica, uma incerteza novíssima em cima de uma certeza sobrepujada, as evasivas que (com jeito) se solidificam, as firmezas que se abalam ou vice-versa – e assim o repertório das idéias e imagens feitas fazem do balaio de gatos um outro de pérolas. O viés da finura feminina, no qual as palavras preenchem seu papel com uma naturalidade que parece independer da mão humana, como se, femininamente, chegassem onde querem como brisas de chuvas e não como nuvens tempestuosas. É o marco inicial de uma descoberta, o livro dela? Creio que as autoras exponenciais: Virginia Woolff, Marguerite Yourcenar, Marguerite Duras, Emily Dickson, Nadine Gordimer, Clarisse Lispector, Susan Sontag, Ana Hatherly e Adélia Prado, começaram marcando não só o raio de ação, mas todo o campo de sementes de suas lavouras pessoais. Com o tino e o destino, Maria Esther Maciel.... A prosa, leve e profunda, é poética; a narração, como que imperceptível, é sutil; a descrição, enxuta e elegante, embevece e agracia o leitor, conduzindo-o na felicidade de ver e sentir pelas janelas das páginas as imagens que são ao mesmo tempo conceitos na mesma leveza, na mesma fluência de uma profundidade plenamente hospitaleira. Puro enlace matrimonial das palavras com os signos. Enlevo e elevação, riqueza e beleza. Machado de Assis comedido. Guimarães Rosa filtrado. Jóias no ar, quitutes na mesa, sonhos na cama, sol e chuva lá fora – e as outras pessoas no mundo nosso de cada dia. Antologias expositivas da imaterialidade. O leitor, repentinamente ávido, não pára de ler, prevendo mais estímulo na próxima página, mais propensão, mais fulgor. Transido na precisão de ter que deixar uma parte para saborear depois, e premido pela necessidade de seguir aflorando a continuidade caleidoscópica, ele continua lendo, sabendo que depois pode ler de novo (uma nova leitura que nunca será uma mera releitura), uma vez que as novidades saltam das páginas em momentos revezados. Mestre no traçamento psicofísico dos personagens de seu sintético e ao mesmo tempo expansivo romanceiro familiar, ela esbanja assertivas e metáforas, confirmando a fecunda vocação poética demonstrada em seus livros anteriormente publicados. Impossível evitar as eventuais transcrições: “Odília é daquelas pessoas que sempre aparecem quando não são desejadas e que, mesmo quando saem de fininho, deixam rastros” (pág. 93); “...passou a sentir um desejo oblíquo por algo ainda sem nome e sem origem” (pág. 18); “será que só se tem verdadeiramente uma pessoa na hora de perdê-la?” (pág. 19); “não sei o que fiz para merecer este rosto” (pág. 23); “que amor é esse dos cães, que não descansa?” (pág. 85). Assim por diante nos períodos e parágrafos das 170 páginas – em todas as múltiplas direções que a autora leva os personagens (e com eles os leitores) de maneira subjetiva e espontânea. As páginas não são fisicamente caudalosas, mas transbordam do livro imaterialmente torrenciais, criando fantásticas superposições nas pausas do mimético mosaico. O leitor fica muito à vontade diante das páginas abertas: como se andasse por ruas e caminhos que conhecia apenas “de vista” e que agora toma conhecimento de outros ângulos e de outros sons, das particularidades contextuais e genéricas – tudo agora fluindo e aproximando de sua mente e de seu coração. Munido de muitos óculos de graus variados e contando com a familiaridade temática da toponímia e da cultura popular do cenário (que parte de Patos de Minas e vai pelo mundo afora em belas e verazes pinceladas) ela, cônscia do étimo e do léxico, evoca um respaldo de Nietzsche, segundo o qual o poeta carismático não precisa procurar as palavras: elas procuram-no para melhormente florescerem, frutificarem, cantarem no festival das entidades beneplácitas. É assim que diante do texto dela, o leitor atenta para cada palavra, vírgula, reticência. Não perde um detalhe sequer, porque sente que o vocabulário, mais do que exprimir, representa as coisas e os seres metaforicamente, quase literalmente. E assim, depois de abrir a frase no período e desenvolver o parágrafo, ela, Maria Esther Maciel, depois de satisfazer a expectativa do leitor sequioso pelo melhor dos textos, ela impregna o teor de acréscimos inesperados em forma de adornos que fazem do bom o melhor, ainda e sempre. Ela consegue falar o que quer, não só porque é amiga das palavras. Mais porque as palavras gostam dela, adoram ficar em suas mãos, falar em seus pensamentos. Neste ponto, é uma escritora invejável, iniludível. “É nos desvios que as coisas acontecem”, ela afirma na primeira volta de sua roda gigante, que oferece as sucessivas vistas crescentes e decrescentes das casas e das pessoas de muitos ângulos em movimento rotativo. “Conhecer as serpentes é tão relevante quanto conhecer as orquídeas”, ela escreve, concluindo o périplo vertiginoso. E assim afortunadamente recebemos o feixe de páginas e de estórias que se alinham e se deslocam ao sabor de nossos olhos enriquecidos no trânsito novidadeiro da vida e do mundo. 

(*) De Maria Esther Maciel - Editora Companhia das Letras, São Paulo, SP, 2008.

quinta-feira, março 20, 2008

OS DOIS LADOS DA MOEDA

1 – A importância da cidade de Divinópolis como pólo regional: enquanto continuar polarizando a região, continuará progressista, com boa circulação monetária. Não há pessimismo quanto a isso, uma vez que na região não existe outro município que possa competir em termos de estrutura logística (boa localização geográfica no contexto territorial estadual). Essa é a parte positiva da cidade. A negativa é a ausência de eficientes serviços públicos, como segurança, saúde, estética, ética, infra-estrutura e proteção ambiental. A parte positiva é a oferta educacional prodigiosa: muitos órgãos atuantes em todos os níveis, tantos que chegam ao ponto de a quantidade estorvar a qualidade – o que precisa ser pensado e corrigido. A cultura também tem boa representação: muitos escritores, jornalistas e artistas conceituados, em assídua atividade. Destaque para os nomes intermunicipais como os de Adélia Prado (cortejada até no estrangeiro), Oswaldo André de Melo (se ele “aparecesse” mais na mídia, seria certamente considerando um dos melhores poetas brasileiros da atualidade), Fernando Teixeira, Pedro Pires Bessa, Lindolfo Fagundes, Mercemiro de Oliveira, Antônio Domingos Franco, Yara Ferreira Etto, e Outros. O que de melhor ficou na história municipal, até agora: a ação política de homens públicos íntegros e competentes como Antônio Olimpio de Morais, Antônio Gonçalves de Matos, Jovelino Rabelo, os Franciscanos, Walchir Jesus de Resende Costa, Antônio Martins Guimarães, Galileu Teixeira Machado e João Augusto Dias. O que ficou de pior: o pragmatismo da classe dirigente que sobrepõe o interesse do lucro financeiro à qualidade de vida da população, instaurando uma das maiores poluições urbanas do Estado de Minas. O traço fisionômico preponderante da cidade: a indiscriminação que, se por um lado proporciona muita liberdade aos munícipes, por outro lado descaracteriza uma cor local definida em termos de cultura popular que, aqui, miscigenada (constituída de fragmentos), não se aglutina num todo homogêneo. Isso porque a população é na maioria adventícia, formada de outras heranças culturais, resultando, por isso, numa espécie de mosaico mimético (como deixei bem claro em meu livro “Memorial de Divinópolis”). Essa deformação está se tornando corriqueira em muitas partes do País, através do crescimento desordenado das grandes cidades, resultando na engrenagem caótica que é a chamada Região Metropolitana, em que todos municípios apensos sofrem as conseqüências dos refugos e desregramentos comportamentais de uma população desnorteada e desassistida. 2 – O outro lado da moeda histórica, que geralmente é ignorado ou camuflado nas pesquisas, fica subentendido nas entrelinhas das narrativas, e só assim nebuloso chega ao leitor e ao estudioso da História. As omissões, contrafações, acintes e abusos ficam na meia-luz da surdina que o correr do tempo dilui e quase apaga. No decorrer dos quinhentos anos da história brasileira: quantos acontecimentos negativos foram obliterados, sem falar no incrível genocídio dos índios e dos quilombolas? E na História do Estado de Minas (o desmatamento, a mineração, entre tantos outros desmandos)? E na História do Município de Divinópolis? Para não ir longe no tempo e no espaço, levantamos apenas algumas perguntas: quem aprovou o loteamento urbano de grande parte da área rural do município, sem o menor critério, criando o caos atual em toda a periferia? Quem autorizou a construção de imóveis na beira do rio? Quem autorizou a construção de muitos blocos de quatro pavimentos em apenas um lote quando a Lei prevê a construção de apenas um prédio de quatro pavimentos em cada lote? Quem autorizou e continua autorizando o calçamento irregular em todas as ruas, de tal modo que o mesmo apenas acompanha as saliências e depressões do solo, sem nivelá-lo como seria necessário? E esse asfalto chinfrim, de terceira, quando o projeto prevê um asfalto de primeira? Quem só fez coisas ruins, quando foi eleito para só fazer coisas boas? Quem vai reescrever a História, sem mistificá-la?

segunda-feira, março 10, 2008

A CULTURA E A CULTURA POPULAR

- Kafka, em um de seus contos expansivos (“Investigações de Um Cachorro”), levanta a pergunta: “De onde tira a terra nosso alimento?” Uma página adiante vem a resposta, ao mesmo tempo lúcida e nebulosa, fiel à tônica literária do autor: “os que conservem certa equanimidade com respeito à ciência – e por certo são poucos, já que os círculos que ela traça são cada vez mais amplos – comprovarão com facilidade, embora não façam observações muito minuciosas, que a parte principal do alimento que encontramos sobre a terra vem do alto”. E para arrematar o juízo, ele acrescenta ao raciocínio: “Pormenores, nada mais que pormenores, e todos incertos: rega tudo o que possas para a obtenção do alimento, com o trabalho propriamente dito e os trabalhos acessórios ou de refinamento em forma de aforismos, dança e canto”. 
Era assim que faziam os lavradores em minha região rural, antes do advento da predatória agro-indústria: muniam-se dos ditados populares, das danças e dos cantos no desempenho de suas técnicas de subsistência. 

- Quando cursava Ciências Sociais, andei pesquisando alguns elementos de sociolingüística e notei que o item da apelidação tem valor histórico e conotação carinhosa – e que alguns apelidos como Tiradentes e Aleijadinho absorveram os próprios nomes das pessoas. Getúlio Vargas era conhecido por Gegê, Juscelino por Nonô e JK. E o Neguinho da escola da Samba Beija Flor: quem sabe seu verdadeiro nome? Hildo Honório do Couto, doutor em lingüística pela Universidade de Colônia (Alemanha), publicou em três línguas (português, castelhano e inglês) o ensaio “Os Apelidos de Cláudio”, no qual ressalta que afinal de contas todo brasileiro tem lá, público ou reconditamente, seu apelido – e não adianta espernear nem estrilar. Na vizinha cidade de Cláudio a apelidação é tão rotineira e generalizada que até já mereceu reportagens de sucesso na imprensa nacional de ampla audiência. Na verdade lá é assim, conta o Hildo: você olha a pessoa que chega e se acha que ela tem a cara de alguma coisa, põe logo o apelido. O Tico-Tico, como vai? Bom dia, dona Fiíca! E o Cascudo, levantou com o pé direito hoje? E o Chico do Joãozinho do Dadá como vai indo? É sempre assim em todos os quadrantes da cidade. Aprendi que o exercício de pesquisar apelidos é uma forma de estudar a metalinguagem. Em 1894 ele, o Hildo, relacionou 685, enquanto conversava com um morador, que informava de memória. Pincei alguns da relação: Tampinha (foi craque de futebol e prefeito de lá), Titranca (o grande Tancredo Neves, casado lá), Paquinha, Marruco, Canarinho (pai de Walchir Jésus de Resende Costa, nosso ex-prefeito, saudoso), Dez Pras Duas, Camucho, Catuquinha, Binga, Quilinho, Breviado, Frecata, Tibumba, Tucano, Girafa, Cabelinho, Pardal, etc. 

Também em Aracati é assim: o forasteiro mal acabou de chegar e já vai ganhando apelido. Ninguém conhece ninguém por nome, só pela alcunha. Uma vez um habitante da cidade plantou um coqueiro em frente à casa e imediatamente ficou conhecido como Totonho do Coqueiro. Indignado com tal afronta, mandou cortar o coqueiro. Passaram, então, a chamá-lo de Totonho do Toco. Aí ele mandou arrancar o toco. Passou a ser chamado de Totonho do Buraco. Mais que depressa, ele mandou tampar o buraco, mas depois desistiu de interceptar a apelidação. A verdade é que depois ficou conhecido como o Totonho do Buraco Tampado. (Li esta piada no semanário PASQUIM, em 1980, e reproduzo aqui, de memória).

domingo, março 09, 2008

LETRA PARA ADRIANA CALCANHOTTO

Quando ela vem chegando onde eu nem esperava é o céu que na terra se funde é o seu antigo dentinho de leite é a sua futura ruguinha na testa a mecha de cabelos nas costas o sorriso nublado da aquiescência o cheiro suado do amor o cheiro suado do amor. Se ela morde ou lambe os lábios é a mim que assim acaricia se apalpa um dos seios é a mim que assim acaricia é assim que tão meiga aparece nas campinas da infância nos ocasos posteriores na instância de minha pressão alta os perfumes da súbita primavera ao beijar suas axilas e virilhas suas maminhas suas maminhas seus pequenos e grandes lábios de mel os perfumes da súbita primavera a redondidade sedosa escorregadia o corpo inteiro do amor o corpo inteiro do amor. A linha de luz nos pés dinâmicos o volume de oferendas nas mãos as palavras audíveis do olhar as palavras legíveis no olhar a lícita a tácita revelação repentina e prolongada do cheiro amado da flor do amado cheiro do amor. Se pára de tocar e continua a cantar a musicalidade é a mesma as inflexões naturais do corpo bemposto (os passos e gestos dela dentro da roupa também cantam na envoltura da voz) perfazem o brilho íntimo e superficial na mesma conjugação do verbo amar na mesma conjugação do verbo viver.