sábado, julho 23, 2011

O MAL DOS PECADOS

Da minha infância em Marilândia (década de 40 do séc.20) guardo na lembrança as imagens e os nomes de seres então vivos, inquietos (rastejantes saltitantes, voadores e até subterrâneos) de muitas modalidades: inhambu, juriti, codorna, tico-tico, azulão, saracura, perdiz, curió, canarinho, pintassilgo, ema, siriema; tatu, tiú, lobo, onça, macaco, mico, gato do mato (ou raposa), paca, viado, marreco, carneiro, cabrito, porco-espinho; pacu, bagre, cará (peixe e vegetal com o mesmo nome), tanajura, vagalume, siririca, bicho-preguiça, lesma, borboleta, cotia, besouro, formiga-cabeçuda, marimbondo, gambá, minhoca, jacaré, tamanduá-bandeira, tutarana, carrapatinho, perereca, carangueijo, frando-d’áagua, bicho-de-pé, redoleiro, piolho, lêndea. tiriziu – e tantos outros que no momento a memória não alcança. A falta deles agora no meio vegetal, mineral e animal de nossas paisagens desmatadas (e eucaliptadas) suscita suspiros e arrepios nos saudosistas, nos amantes da natureza, nos defensores do equilíbrio ecológico e nos técnicos especialistas da SUSTENTABILIDADE, José Eustáquio Diniz Alves é um deles, a dizer que “o ser humano não é dono, mas sim inquilino da terra e do sistema solar”. E acrescenta que “o crescimento da riqueza das nações se deu à custa da pauperização do planeta”, constatando melancolicamente que “já ultrapassamos a capacidade de regeneração”. “As fábricas movidas a carvão criaram vilarejos doentes, nos quais a taxa de tumores malignos é altíssima”, declara Gabriela Carelli. O geólogo Cláudio Maretti acrescenta à pilha de constatações e lamentações: “Necessitamos da biodiversidade para sobreviver: 70% da produção agrícola mundial depende da polinização feita naturalmente pelos insetos”. E a constatação arrematante é que “de todas as espécies que já viveram neste planeta 99% estão desaparecidas”. Obra da civilização, claro. Sinto saudades das manhãs coloridas daquele tempo, no quintal e na rua, do namoro do sol com as árvores agradecidas. Depois chegava a parte do dia referente aos deveres escolares – e logo a parte da tarde chegava com a recreação dos jogos de bola e de dados, de malhas e de grãos de bilosca. E ao entardecer começava o prelúdio das noites enluaradas, carregadas de anjos e em outras épocas do ano vinha a escuridão trazendo seus fantasmas e os ícones do aperreio e da temeridade. Como era bela a rua repleta de bilosqueiras e magnólias sempre floridas com seus cachos e seus pássaros. Assim o cenário propiciava a ciranda-cirandinha das danças e cantigas de rodas – e também dos jogos de pique-será, das advinhações e das vovós contando estórias à beira do fogo na porta das casas iluminadas à lamparinas e lampiões. Dentro das casas as pipocas rebentando na panela de ferro, asa broas de fubá assadas na hora, o café com leite adoçado com rapadura..... E os outros ícones da saudade? Os floridos cipós de São João e de São Caetano abrilhantando os muros e cercas de arame e de bambus? E as frutas dos quintais? As mangas, ameixas, laranjas, melancias, bananas, mamões, limas, mexericas, marmelos, cajus, jabuticabas, abacates, abacaxis, uvas, pitangas...; e nas roças das imediações do arraial oferecendo as gabirobas, bacoparis, araçás, cocos e coquinhos, olhos de mosquito, muricis, bostas de cachorro, pequis, goiabas, articuns e articunzinhos, cagaiteiras, gravatás, ananás... Além do quintal imenso cercado nas laterais e nos fundos por valos recheiados de matos, vinham as roças e pastos e capoeiras que sumiam nos horizontes – um festival de sombras e cintilações em forma de relvas, aguadas e o arvoredo escrevendo os belos nomes de brauna, murici, jatobá, folha-miuda, aroeira, pombeiro, açoita-cavalo, ipê, amburana, goiabeira, assapeixe, cedro, sucupira, vinhático, bilosca, pequi, araticum, coqueiro, carvalho, bambu, cascudo, jacarandá, etc e tal, como se diz.... Até o medo que sentíamos naquele tempo era diferente do de hoje: as assombrações dos lugares fechados e escuros, as figuras hediondas e mitológicas da mula-sem-cabeça, a figura bizarra do saci-pererê, o pássaro chamado Acauã rogando pragas na tristeza dos telhados noturnos, ah tantas lendas e casos.... Mas tudo isso agora é pagina virada. Não se teme mais aqueles seres notívagos do outro mundo. Mas a quantidade e o tamanho do medo humano aumentou, redobrou em nosso tempo. Hoje pouca gente tem coragem de andar pelas da cidade nas horas mortas da noite, Medo de novas assombrações? Não. Medo de assaltantes, usuários de drogas, malfeitores em geral. Os jornais de hoje em dia, asa revistas e os canais de televisão estão aí, diariamente, contando os casos escabrosos do dia-a-dia nos lugares de nosso temível tempo.

FLORES E ESPINHOS

O PARQUE DA ILHA. A extensa área do Parque da Ilha, em pleno centro da cidade de Divinópolis, enfaticamente chamada de área verde está, agora, a merecer o cognome de área queimada, tanto que o fogo tem debastado a vegetação de seu arredondado e belo interior cercado pelos braços do Rio Itapecerica. Dezenas de árvores enormes continuam de pé, mas com as folhas, os galhos, os troncos e até as raízes enegrecidas pelas chamas criminosas perpetradas pelos vadios da cidade. Poucas verdes restam de pé, engolidas pela macega e os espinheiros que aguardam novos fogos de isqueiros e paus de fósforos. A Prefeitura devia fazer uma boa limpeza, sem desmatar mais, coordenada por quem entende de fertilidade do solo e de sua necessária proteção e impulso. Assim, quem sabe, poderemos ter, pelo Centenário, um parque florestal em pleno centro da cidade, a exemplo (mesmo em escala menor) dos de Belo Horizonte, São Paulo, Viena, Nova York e tantas outras cidades que cultuam o bom gosto, o prazer da saúde ecológica e o primor visual das cores da Natureza, que é, sem dúvida, a Mãe da Humanidade. PIEDADE E VIOLÊNCIA. No ser humano o amor (a graça) e o ódio (a desgraça) interagem mantendo a contradição em graus díspares: mais benfazejos em algumas pessoas, mais malfazejos em outras. A qualidade da cultura predominante no meio social é o que, então, prevalece. Assim acontece que o amor (corrompido) de uma pessoa a outra pessoa pode até mais mal do que bem a ambas as partes. RELANCE NEBULOSO. O escritor James Joyce (até hoje mal amado e mal entendido) teve que mergulhar nos abismos de águas tempestuosas para revelar à luz do dia os bichinhos da inquietação humana. Um trabalho nebuloso a favor da claridade? O resultado prático da reflexão da leitura é a visão que o leito do rio da vida estranha, tenta repudiar, mas logo prevê alguma certeza radiante na voracidade do nevoeiro. RELANCE DESCONTRAIDO. - Por maior que seja o buraco em que se encontra, sorria, pois ainda não há terra em cima. - Se o horário oficial no Brasil é o de Brasília, por que a gente tem que trabalhar na segunda e na sexta? - Homem é que nem vassoura: sem o pau não serve para nada. - Marido é igual menstruação: quando chega incomoda; quando atrasa, preocupa. - Se o dinheiro falasse, o meu só diria tchau.... - A calcinha não é a melhor coisa do mundo, mas está bem perto. - Na meia-idade o trabalho não dá prazer – e o prazer começa a dar trabalho. AS SEMELHANÇAS, AS DIFERENÇAS. Um rosto lembra sempre outro rosto. Daí a nossa simpatia ou antipatia espontânea-instantânea. Isso é constante desde a minha antiga cinefilia: quando vejo uma Adelina que me lembra Laraine Day, quando vejo uma Anália que me lembra Paullete Goddard: ah! A luz verde acende logo no sinal do trânsito! Mas se quem vejo me lembra Bette Davis depois dos 40, nos papéis de megera, ou Jack Pallance nos papéis de bandidões : ah ! a luz vermelha interceptante logo acende : é o bloqueio de minhas pobres afeições. Creio que a fiança das semelhanças é bem mais garantida, desde que haja o crédito e não o débito das diferenças: a irmã ou a prima, mesmo que por parte de Adão e Eva, é melhor, muito melhor, pois: tem muito de nós nela, tem muito dela em nós. PRESSIONADO PELAS IRRESOLUÇÕES. O dia espouca e esplende, indiferente aos problemas físicos e mentais dos seres humanos, desnorteados na progressiva desumanidade, pelo jugo da incúria, da possessão demoníaca do salve-se quem puder, do poder espúrio do crime muito mais organizado que sua pálida repressãi.

QUADRÚPEDE ANDRÓIDE

As quatro eleições tuteladas as quatro gestões executivas os quatro cavaleiros do apocalipse as quatro estações do inverno as quatro quadrilhas de brasília os quatro vezes quatro vezes os quatro ases da corrupção os quatro apelidos da tristeza os quatro gritos da leviandade: o homenzinho da vassoura apressada, o aiatolá de butique da casa da dinda o atual descalabro da crassa ignorância as quatro portas de saída do purgatório as quatro portas de entrada no inferno.

CURRICULO LITERÁRIO DE LÁZARO BARRETO

Nasceu em Marilândia, município de Itapecerica, MG, a 06/01/1934. Filho de José Valentim Barreto e Isolina Gonçalves Guimarães, casado com Inês Belém Barreto, pai de Ana Paula Barreto Lopasso e Paulo Henrique Belém Barreto. É formado em Ciências Sociais e exerce o jornalismo desde 1966, em Divinópolis, onde reside e onde fundou e dirigiu, com amigos o Jornal Literário AGORA e o tablóide (também literário) DIADORIM. Colabora em todos os jornais da cidade desde 1966. No momento mantém uma coluna semanal no jornal diário GAZETA DO OESTE, da mesma cidade e também um blog literário na Internet com mais de 800 textos inseridos (http://lazarobarreto.blogsp.com). Escreveu e publicou os seguintes livros: 1 – Árvore no Telhado, poesia, 1968, edição do Movimento AGORA, Divinópolis, MG. 2 – A Cabeça de Ouro do Profeta, contos, 1969, Imprensa Oficial, Belo Horizonte, MG. 3 – A Lapinha de Jesus (com Adélia Prado), texto de Natal, 1971, editora Vozes, Petrópolis, RJ. 4 – Mel e Veneno, poesia, 1984, Edit. Expresso, Divinópolis, MG. 5 – Aço Frio de Um Punhal, contos, 1986, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, livro que inspirou a tese de Mestrado na PUC/BH, “Estratégias da Representação”, 150 páginas, do Professor universitário Maurício José de Faria. 6 – Memorial de Divinópolis, pesquisa sociológica, Edição da Prefeitura Municipal de Divinópolis, 1992. 7 - História de Arcos, pesquisa sociológica, 1992, ed. da Prefeitura de Arcos, MG. 8 – Memorial do Desterro, pesquisa sociológica, 1995, edição do Autor. 9 – Família Oliveira Barreto (Genealogia, Notas e Comentários, 2005, Edição do Autor. Ascendência paterna: filho de José Valentim Barreto e Isolina Gonçalves Guimarães; neto de José de Oliveira Barreto e Maria Tereza de Jesus; bisneto de Antônio José de Oliveira Barreto e da divinopolitana Maria Arcângela Tavares; trineto de Bernardo José de Oliveira Barreto e Josepha Maria de Jesus; tetraneto de Antônio José de Oliveira Barreto e de Anna Joaquina Cândida de Castro; pentaneto do Português do Arcebispado de Braga, Gregório Francisco de Oliveira Barreto e Maria Rosária Ribeira de Freitas. Ascendência materna: Filho de Isolina, conforme acima; neto de Alfredo Gonçalves Guimarães e Etelvita Cândida do Nascimento; bisneto de Antônio Gonçalves Guimarães e Maria Cândida do Nascimento; trineto de Cristóvão José Gonçalves Guimarães e Rosa Victoria dos Passos; pentaneto José Antônio Gonçalves Guimarães (Ajudante de Ordenanças e Procurador do Senado da Câmara de Pitangui) e de Eufrásia Maria de Jesus, pais do Padre Francisco Guarita Pitangui (1814-1883), Pároco nos Distritos de Desterro e de Divino Espírito Santo das Itapecericas, quando acumulava as funções de Pároco com as de deputado Provincial e Deputado Geral em várias Legislaturas. Participou de diversas antologias de contos e poemas no Brasil e no exterior (Argentina, Estados Unidos, Uruguai, Polônia). Mantém inédito um livro sobre a Cultura Popular de Minas Gerais, intitulado “Os Horizontes do Itambé”, outro de ensaios, “Mosaico Mimético”, dois livros de contos (Dois Patinhos na Lagoa, Os Contos do Apocalipse Clube) dois de poemas (Crepúsculo Verde, A Janela dos Anos) e sete romances. (Monólogo e Pranto, Joamir e Mirafélia, Barra Funda, O Pião entrou na Roda, O Dia do Casamento, Cantagalo, Tentação Noturna) e cinco peças teatrais, duas já apresentadas ao público e três inéditas.

quinta-feira, julho 14, 2011

MOMENTOS DO DIA-A-DIA

O atualmente horrível trecho paisagístico entre o rio e a linha férrea.do Viaduto da Esplanada ao Viaduto do Porto Velho, com toda aquela algaravia de lixo na montoeira dos trastes, causa náusea e angústia aos passantes dos arredores. Uma área fértil de belas e fecundas possibilidades, que pode ser transformada num parque ecológico (um cartão postal da visão poética divinopolitana. E por falar nisso é bom lembrar que o centenário vem aí, repleto de boas inspirações). - A infância é marcante, transborda em toda a extensão da história humana. A felicidade, na opinião de Freud “é a satisfação adiada de um desejo pré-histórico. É porisso que a riqueza proporciona tão pouca felicidade: o dinheiro não é um desejo infantil”. - A atriz Lucille Ball (estrela cinematográfica da década de 50), ao responder a pergunta sobre o segredo de sua duradoura juventude, afirmou: “Vivo honestamente, como devagar e minto a respeito de minha idade”. - Por que a China é hoje a segunda maior economia do mundo? Maílson da Nóbrega responde: porque buscou “uma ascensão pacífica. Algo muito diferente do anti-americanismo da diplomacia (?) petista”. - O programa “Brasil Urgente” do Datena, da Bandeirantes, é de um realismo que chega a ser deprimente ao revelar enfaticamente todo tipo de violência que ocorre nos círculos e quadrantes da nacionalidade. É um mal necessário, tal programa televisivo? Sei que ninguém deve fugir da realidade, nem torcer o nariz, fechar os olhos e tampar os ouvidos. Mas o fato de presenciar habitualmente tanta contundência, tanto desmando, desregramento, tanto comportamento criminoso, tudo isso (e o inferno também) pode influir negativamente na aquisição de um vírus da morbidez – e assim a violência retratada pode transformar-se numa espécie de doença depressiva nas mentes imaturas e susceptíveis. - A civilização é a imitação humana da natureza, afirma Northrop Trye, que acrescenta: “e é impelida por aquela força que chamamos Desejo. O desejo de comida e de casa não é satisfeito pelas raízes e pelas cavernas, produzindo aquelas formas humanas da natureza que definimos o Cultivo e a Arquitetura”. - O silêncio não traz respostas e sim perguntas. As esferas distantes se aproximam, flutuantes. Um pensamento não pode ser tocado, mas pode criar robustas armações concretas e prever a materialidade das nuvens, disfarçando o tangível na fluidez. Assim o sólido evapora – o olhar perfura a dimensão e aproxima a infinitude. - “Os mecanismos da repressão sexual estavam em toda parte”, escreve Mary Del Priori no livro “O Príncipe Maldito” (biografia do neto de D, Pedro II), citando Freud, segundo o qual é necessário um obstáculo para levar a libido ao ápice. - Luiz Felipe Ponde, filósofo brasileiro, é leal e incisivo na definição da religiosidade vigente em nossos dias. Para ele a esquerda (política) não tendo “a tensão do pecado, é pior do que o cristianismo” – acrescentando em sua entrevista nas páginas amarelas da revista VEJA que, “enquanto a Teologia da Libertação fez a opção pelo pobre, o pobre fez a opção pelo Pentecostalismo”. - Um poemeto para variar, de meu livro inédito “Crepúsculo Verde”: O intercambio entre o grande e o pequeno é uma viagem dos olhos nas esferas e nos ciscos. O grande não é a aglutinação dos pequenos, o pequeno não é uma redução do grande. Uma dor, coisa abstrata, invisível, pode ser maior que a montanha. Mas a fome, o desespero e a morte, sendo realidades ao mesmo tempo abstratas e concretas, são mais que grandes, são imensas, e suas garras desnutrem, enlouquecem, pulverizam os pequenos valores fundamentais da Vida e do Mundo.