Primeiro de Junho, aniversário de Divinópolis: oportunidade para lembrar e citar fatos e pessoas que marcaram a data, agora quase centenária desta que é uma das duzentas cidades mais desenvolvidas do Brasil. Opulenta em muitos sentidos, principalmente
na feição democrática de uma população dinâmica, saudável, isenta de bairrismos e de outros preconceitos. Acolhedora e aceitável em sua abrangência coletiva no sentido de uma filosofia comportamental dos habitantes para viver e deixar viver . Os fatos históricos de realce são muitos, e as pessoas também. É assim que a história municipal se escreve em letras brilhantes nas áreas da convivência humana. Os nomes (dos fatos e das pessoas) são muitos e extrapolam do espaço de nossa coluna neste jornal, que é divinopolitano por excelência. Limito-me, pois, a citar o conterrâneo que brilha como um raio de sol em nosso vislumbre histórico do Município.
Fabricio Augusto de Oliveira é o nome merecedor de nossa reverência. Filho de Wantuir Cassemiro de Oliveira e Geralda de Oliveira, nascido em 15/11/1947, na Rua Ceará, de nossa cidade. Fez o Curso Primário no Grupo Joaquim Nabuco e o Ginasial no Colégio Leão XIII. Depois fez Ciências Econômicas na UNICAMP, de Campinas, SP, onde depois cursou e concluiu o Mestrado e o Doutorado em Economia.. Foi professor da PUC em Belo Horizonte, Técnico em Planejamento na Fundação João Pinheiro, Professor na UFMG, na Universidade Federal do Espírito Santo, na Fundação Getulio Vargas e Sub-Secretário da Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, no Governo Itamar Franco. Escreveu e publicou, no período de 1966 a 2010 cerca de 15 livros de Ensaios sobre Economia (Reforma Tributária, Recessão e Inflação, Crise e Desordem do Sistema, Descentralização, Federalismo, Subprime, Capital Financeiro Mundial, Política das Finanças Públicas, As Muitas Minas Gerais, etc). Tudo isso acrescido de dezenas de capítulos sobre Economia em livros de outros autores, mais de 50 artigos publicados em revistas especializadas e mais de 500 artigos em jornais de várias parte do País. Todo esse trabalho científico acompanha seu labor poético que nunca esmoreceu em sua vida. É o que ele afirma: “economia e poesia rimam – e bem – e cada uma, a seu modo, tem sido para mim, importantes ferramentas na minha luta para ajudar e entender e contribuir para tentar melhorar, dentro de minhas condições e possibilidades, o mundo”.
No campo alto e profundo da literatura, ele lavra (planta e colhe) a poesia moderna desde a primeira juventude, quando fundou e dirigiu em nossa cidade o jornal “Disparada” e também “O Divinópolis Clube” e o “Oeste Jornal”, tudo no biênio 1967-1968. Além de toda a sobrecarga, ele foi também um dos fundadores do jornal literário “AGORA”, de feliz memória, de reconhecido e decantado sucesso local e de ampla ressonância nos meios literários estaduais, federais e internacionais, como atestam documentos em nosso arquivo. Em 1968 publicou seu primeiro livro de poemas, “Pássaro-Eu”; em 1970, publicou “Olhos-Caminho”; depois, em 1975 foi a vez de publicar “Vieram os Pássaros”, tudo isso além de participar de muitas antologias com poemas esparsos. E agora, depois de prolongada pausa (ocupado nas preocupações sociais da economia), ele volta a publicar o belo volume de poemas “CAMINHANDO”.
Na bela e bem concatenada profusão de temas nas 168 páginas de caprichada feição, ele aborda em outro tom e outro compasso os momentos de respiração e de aspiração (e de inspiração, claro) mais anímicos e intemporais, menos prementes e mais espirituais. Noto que na sua propensão poética a ligeireza e a naturalidade do esforço mental não se deixou abalar nos caminhos científicos percorridos durante tantos anos. Uma façanha, sem dúvida. Sinto na leitura que ele continua mantendo a duração até mesmo das vivências mais momentâneas, poetizando a seu modo, e bem, o prosaísmo circunstancial do mundo político (que não se coaduna muito bem com a vida poética). São poemas longos e belos – e nosso espaço aqui é dimensionado. Mas não posso omitir a transcrição de pelo menos uma estrofe do poema “No Ônibus”:
“O rapaz ao lado da moça,
deixa cair a mão no seu colo,
fingindo dormir:
ela mexe a cabeça,
como se também estivesse
- em sono profundo”.