quinta-feira, março 31, 2011

COMPLEMENTO: ONTEM, HOJE, SEMPRE

A chamada “Geração Complemento” do início da década de 50 do século passado em Belo Horizonte: não cheguei a conhecer pessoalmente nenhum dos elementos constituintes do grupo que publicava além de uma revista literária, as plaquetas mensais de poesia representativa da formação humana-social da Turma daquela geração. Mantive um contato mais aproximado com o poeta Ary Xavier e com a boa leitura dos textos de Terezinha Pereira, Heitor Martins, Silviano Santiago, Pierre Santos, Ivan Ângelo, Afonso Romano de Santana, do próprio Ary e de Manuel Soares Ramos. Este último era irmão do saudoso amigo, Joaquim Ramos, então colega da CEMIG, empresa na qual trabalhei durante trinta anos, cinco dos quais em Salto Grande, numa espécie de exílio voluntário da juventude, nos acampamentos das obras de construção da então maior usina hidrelétrica de Minas Gerais. Nos intervalos do trabalho e do sono, eu lia e estudava numa infinidade de livros - e publicava alguma coisa num jornal interno (ERG era o nome dele) da Empresa – e mantinha correspondência com Ary Xavier, através do qual de certa forma me integrei ao Grupo – e já ia até mesmo publicar um opúsculo intitulado “Crepúsculo Verde – poemas”), quando a chamada Geração COMPLEMENTO se desfez A maioria dos integrantes saíram de Minas rumo as capitais do Rio e de São Paulo, onde brilham até hoje na imprensa e nas editoras. O casal Terezinha Pereira e Heitor Martins (elementos de liderança do Grupo), foram lecionar literatura brasileira nos Estados Unidos, onde afirmaram-se não só como Professores como Autores de renomes. A Terezinha, que se naturalizou norte-americana (agora atende por Terezinka), continua sempre como a boa autora e amiga que sempre foi e é de deus e de todo o mundo. Coleciona títulos e comendas, entre os quais o de Membro da International Writers and Artists Association. Gentilmente cumprimentou-me com um belo poema, que abaixo transcrevo. E mandou, também, para o meu regalo, os poemas AMBIÇÃO, ESCAPAR, SEMPRE DISTÃNCIA, JARDINEIRO e POETA DE CEM ANOS (este uma homenagem a Adriano Augusto da Costa, nascido em 1902. Fico sabendo agora, com muita satisfação que ela, além de participar ativamente da vida intelectual na cultura norte-americana, de criar, amar e zelar pelos filhos Pedrinho, Luzia e Emilia e os netos Noah e Gabriel, continua vivendo e escrevendo poesia, ou seja: não se desencantou até hoje dos eflúvios da primeira juventude em Belo Horizonte, cidade que facilitou-lhe o ingresso em outros belos horizontes da vida e do mundo. Transcrevo abaixo dois poemas dela, um deles é o que se refere ao meu neto Paulinho. O primeiro é: “Homenagem Aos Artistas, Escritores e Trabalhadores de Idade”: Não há chuva nem falta de sombra quando o prazer nos enche o dia de trabalho. Queremos ser e colher os frutos que semeamos no planeta com resplendor de sol e fogo nas veias. Não contamos o tempo, em vez, contamos as pombas brancas que voam pelo céu cada dia que passa. O segundo tem o título de “O NETO (Para Lázaro Barreto, orgulhoso de seu neto).” O neto é uma paisagem de doçura que nos lembra de nossa própria infância. Também representa o re-armamento mental das revoluções libertárias da adolescência, e talvez prometa a tranqüilidade do nosso descanso na última idade. Sem dúvida alguma, o neto é a nossa imortalidade terrestre.

terça-feira, março 29, 2011

EM CADA LIVRO A VIDA SE ABRE - II

(Compilação de Lázaro Barreto com os agradecimentos aos filhos Paulo Henrique e Ana Paula, que presentearam-me os livros citados, no Natal de 2010). 

 - No livro (obra prima) O ESTRANGEIRO, Albert Camus apregoa a indiferença como clima ambiental da existência humana. Tanto faz, tanto fez, como se diz, geralmente. Era um enfastiado, que nada esperava da vida? Sei não. Sei que, animado pela destreza em escrever, é um dos melhores ficcionistas da modernidade internacional. Seu personagem (primeira pessoa da narração) confessa na página 81: “Pensei muitas vezes que se me obrigassem a viver dentro de um tronco seco de árvore, sem outra ocupação além de olhar a flor do céu acima de minha cabeça, eu teria me habituado aos poucos”. Um personagem assim desestimula o leitor em sua leitura comum? Não. Não mesmo. Em Camus a apatia é repleta de vivacidade. (Editora Record, RJ-SP, 2007). - “A vida em escritório é uma conspiração erótica. Todas as pessoas que trabalham em escritórios pensam em sexo o tempo todo.... A coisa mais excitante do mundo.... O famoso ator Tony Curtis dissera, quando lhe perguntaram qual era o segredo da eterna juventude. “A saliva das garotas”, ele respondeu.... (Diante do catálogo de uma agência de modelos femininos, o autor monologa: “Uma garota bonita não pode mais ser, simplesmente, uma garota bonita, pois tal qualidade deve ser um trabalho de uma ambição”....(John Lanchester, páginas 12, 24, 52, 238 do romance MR. PHILLIPS, Editora Best Seller, SP, 2003). - “O marinheiro é errante, mas também sedentário. Tem o espírito caseiro e carrega consigo a casa – o navio; e também sua terra – o mar.... De vez em quando a voz das ondas era um autêntico prazer, como a fala de um irmão. Tinha algo de genuíno, uma razão, um sentido.... Enormes moscas zumbiam medonhamente, não picavam, esfaqueavam.... como se acenasse, num desonroso floreio à face da terra banhada pelo sol do anoitecer, para a morte à espreita na selva, ao demônio oculto, às trevas profundas do coração.... E lá estava ela, seca, murcha, de olhos fechados – uma cabeça que parecia dormir no alto daquela estaca, tendo nos lábios secos e contraídos, uma fileira de dentes brancos também sorrindo, no meio daquele sono sem fim... Se algum dia alguém já lutou com uma alma, esse alguém sou eu....Para pagar meus pecados. (Joseph Conrad, no romance CORAÇÃO DAS TREVAS, páginas 15, 37, 62, 104 e 118 – Editora Nova Alexandria, SP 2001). “Detesto ter que dar esta notícia à tribo,... mas a verdade nua e crua é que a Web, a Internet, faz apenas uma coisa. Acelera a obtenção e a disseminação de informações, eliminando parcialmente tarefas como ir até à caixa postal, visitar uma livraria, telefonar e reunir amigos para jogar conversa fora. Isso a internet faz, e só isso. Todo o resto é digbesteira.... O neuro-cientista Edward O. Wilson afirmava em seu livro “Sociobiologia: A Nova Síntese”, “que o homem, e todas as obras do homem, eram produtos de padrões profundos que percorriam toda a história da evolução, desde as formigas milimétricas à espécie do Homo Sapiens”... Todo cérebro humano, disse ele, nasce não como uma lousa em branco à espera de ser preenchida pela experiência, mas como “um negativo exposto à espera de ser mergulhado no fluido da revelação”. O negativo poderia ser bem ou mal revelado, mas só se conseguiria ver o que já estava no negativo ao nascimento. (Tom Wolfe, páginas 92 e 97 do livro FICAR OU NÃO FICAR, Editora Rocco, RJ, 2001. - “Quando os homens me tocavam, eu não ficava tão excitada... era sempre um desapontamento. Mas sei que há outras mulheres que não são assim. – eu me sinto humilhada – disse uma ruiva. Acho que meu corpo não é meu, que não tem mais qualquer valor, sendo assim visto por todo mundo” (Anais Nin, página 71 do livro “PEQUENOS PÁSSAROS”, L&PM Pocket, Porto Alegre, 2010). - “As coisas que a literatura pode buscar e ensinar são poucas, mas insubstituíveis: a maneira de olhar o próximo e a si próprio, de relacionar fatos pessoais e fatos gerais, de atribuir valor a pequenas coisas ou a grandes, de considerar os próprios limites e vícios e os dos outros, de encontrar as proporções da vida e o lugar do amor nela, e sua força e seu ritmo, e o lugar da morte, o modo de pensar ou de não pensar nela; a literatura pode ensinar a dureza, a piedade, a tristeza, a ironia, o humor e muitas outras coisas assim necessárias e difíceis. O resto, que se vá aprender em algum outro lugar, da ciência, da história, da vida, como nós todos temos de ir aprender continuamente” (Ítalo Calvino, contracapa do livro ASSUNTO ENCERRADO – Discursos Sobre Literatura e Sociedade - Cia das Letras – SP. 2002).

EM CADA LIVRO A VIDA SE ABRE – I

Compilação de Lázaro Barreto e agradecimentos aos filhos Paulo Henrique e Ana Paula, que presentearam-me com os livros citados, no Natal de 2010. 

 - “A literatura filosófica do mundo pode servir tanto para confirmar como para pôr em crise o que já sabemos...; Tudo depende de como o escritor penetra por baixo da crosta das coisas. Joyce projetava numa praia esquálida as perguntas teológicas e ontológicas que aprendera na escola, distantes das preocupações atuais, mas tudo o que tocava: sapatos arrebentados, ovas de peixes, seixos rolados, aparecia perturbado até sua última essência”. (Ítalo Calvino, página 184 do livro ASSUNTO ENCERRADO, Cia. das Letras, SP, 2009. - “Como será ser avô? Como pai não foi muito bem-sucedido, apesar de ter tentado com mais afinco que a maioria. Como avô provavelmente ficará abaixo da média também. Faltam-lhe as virtudes dos velhos: serenidade, gentileza, paciência. Mas talvez essas virtudes venham quando outras virtudes se vão: a virtude da paixão, por exemplo. Tem de dar uma olhada em Victor Hugo de novo, o poeta-avô. Talvez possa aprender alguma coisa”. (J.M.Coetzee, página 244 do romance DESONRA, Cia. das Letras, SP 2000). - “O seu corpo numa ilha descoberta pelo sedento náufrago. Sem a marca na areia de pé estranho – rósea e perfumada. Golfo e promontório. Baia e península....Na límpida fonte nadam hipocampo e lambari de rabo dourado. Búzio com cantiquinho de corruíra madrugadora. Passagem secreta para gruta encantada. Dunas calipígias movediças. Ninho escondido de beija-flores. Em vôo rasante garça-azul de bico sanguíneo”. (Dalton Trevisan, página 19 do livro O MANÍACO DO OLHO VERDE, Edit. Record, RJ, 2008). - “Na solidão da escuridão, quase consegui sentir a finitude da vida e sua preciosidade. Não damos valor, mas ela é frágil, precária, capaz de terminar a qualquer momento, sem aviso. Lembrei-me do que deveria ser óbvio, mas nem sempre é: que cada dia, cada hora e cada minuto merecem ser apreciados”. (John Grogan, página 239 do livro MARLEY & EU – Ediouro Publicações, SP, 2006). - “Meu pai e minha mãe, por sua vez, não conseguiam sequer discutir a temperatura sem se lançarem numa série de acusações mútuas, que quase se faziam atirar-se às carótidas um do outro.... Só sei que, enquanto dirigia por aquela noite de outono, tinha a impressão de que, em algum lugar, Freud, Sófocles e Eugene O’Neil deviam estar morrendo de rir”. (Woody Allen, páginas 14 e 15 do livro QUE LOUCURA!, L&PM Pocket, Porto Alegre, 2010). - “Não podemos conceber nada mais pernicioso para uma criança do que uma consciência prematura da seriedade da vida.... Com certeza, não há nenhum escritor vivo que tenha realizado o feito que o senhor James realiza aqui, analisando e purificando as paixões mais vis de nossa natureza ao fazê-las passar pela mente pura de uma criancinha”. (Henry James, páginas 14 e 16 do romance PELOS OLHOS DE MAISIE”, Cia. das Letras, SP 2010). - “O Zequinha desconsidera que o Brasil é o maior canal de escoamento de droga do mundo.... Pecadora e educada, a Dona Juliana (assim pensava Alzira, sua empregada doméstica). Isso era bom, melhor do que ser uma pecadora sem educação. Vaidade era pecado. Fornicar era pecado. Adultério era pecado. Gula era pecado. Alzira já tentara salvar a patroa das garras do demônio. Oferecera-se para trazer o pastor Walmir para uma conversa. Sou católica, respondeu Juliana (a adúltera). Alzira entendeu muito bem o significado daquele tipo de resposta. Não estou nem aí com Deus, era isso, o catolicismo”.... Miltão levou Bidezinho para a parte alta da favela. Sentaram no mirante e observaram a cidade, o Cristo iluminado. Fumaram um baseado, riram e falaram bobagens, e, depois de tudo isso, Milton explodiu a cabeça do Bidezinho com uma submetralhadora Uzi”. (Patricia Melo, páginas 169 e 248 do romance INFERNO, Cia. das Letras, SP, 2000. Ver continuação em “Em Cada Livro a Vida se Abre II).

domingo, março 27, 2011

CATAGUASES E UBERABA

Os Verdes e os Maduros. Aclamado pela crítica como o principal herdeiro da fortuna literária dos notáveis participantes (Rosário Fusco, Francisco Inácio Peixoto, Ascânio Lopes, Guilhermino César) da famosa geração VERDE de Cataguases (uma ressonância interiorana ao nível das fontes principais de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), o poeta e ensaista Joaquim Branco prima não só pela qualidade do trabalho de acréscimo aos dotes da poesia discursiva e visual dos autores mais renomados como também pela manutenção do culto vanguardista através de sucessivos de outros estudos e publicações. É assim que posso dizer, com toda certeza e validade, que o Movimento VERDE não parou nem pode parar, uma vez que participa da fé e do ofício poéticos, que são eternos no calendário universal da criatividade humana. Com o novo livro que agora publica,” TOTEM e as Vanguardas dos Anos 1960/70”, Joaquim Branco (joaquimb@gmail.com) reconhece e esclarece o desafio que o grupo enfrentou de entrar no trem da história, não simplesmente para viajar e deleitar, mas para aprender e ensinar as novidades que chegam e que não podem passar em branco, impunemente. É preciso, sempre, ao acolhê-las, animá-las e enriquecê-las? Esse é o agravante que normalmente acontece ao amante das belas artes em sua solidão pelo mundo afora. E é da solidão, não raramente, que nascem as belas flores e os frutos mais sadios. Mais ainda quando a recepção das mensagens explícitas e implícitas no trem dinâmico dos novos tempos são acolhidas, assimiladas e enriquecidas por um grupo afinado na cadência de uma forma e de um conteúdo que identificam um sinal nesse tempo, válido como referência histórica. A propósito transcrevo da página 29 trecho de uma carta do grande poeta Dantas Motta: “...visam vocês reeditar a façanha dos antigos rapazes da VERDE. O tempo é propício para tal. As formas vão indo, ficam gastas e a gente se acostuma com certos conceitos, certas frases, certas palavras. Então se vê que há necessidade de um novo sopro, de uma nova viração”. O Filme Dramático Europeu – Uma Análise de Crítica Cinematográfica de Guido Bilharinho, Diretor do Instituto Triangulino de Cultura – Uberaba, MG. Crítica rigorosa, em linguagem técnica, de quem realmente conhece os princípios, meios e fins da realidade fílmica em sua expansiva generalidade. É uma leitura bem difícil, mormente para quem, como eu, um cinéfilo declarado, devotado e satisfeito na experiência apreciativa ao longo dos anos. Sob esse crivo perfeccionista, Guido Bilharinho, em exímias palhetadas desmonta e analisa rigorosamente as engrenagens produtivas de dezenas de filmes famosos (e não necessariamente obras-primas) do cinema europeu nas décadas de 30 até às de 80 do século 20. Na relação constam obras de renomados autores (que aprendi a admirar em minha longa faina cinéfila): Jean Cocteau, René Clair, Jean Renoir, Jacques Becquer, Max Ophuls, Claude Antant-Lara (autor do antológico filme com Gerard Phillipe – um dos poucos atores-criadores do cinema – e Micheline Presle - erroneamente traduzido com o nome de “Adúltera”, quando o titulo em francês queria dizer “O Diabo no Corpo”), Alain Resnais, Jaques Tati, Giuseppe de Santis, Roberto Rosselini, Luchino Visconti, Vittorio de Sica, Federico Fellini, Bernardo Bertoluci, Ettore Scola, Carlos Saura, Pedro Almodóvar, David Lean, Carol Reed, Akira Kurosawa, Fritz Lang,, Win Enders, Michel Cacoyannis, Jean Vigo, Claude Chabrol, Costa Gravas, etc, etc. Cito parte da numerosa prole dos melhores cineastas do referido período, pesaroso por não citar os filmes resumidamente analisados pelo perspicaz Guido, realmente um cinéfilo de mão cheia, mente perscrutadora e coração afeiçoado às belezas e verdades da sétima arte. Como cinéfilo, leitor e admirador de Guido Bilharinho, aqui fico desejando que ele faça uma nova pesquisa e escreva um novo livro comentando os melhores filmes de Holliwood, produzidos no mesmo período (décadas de 30 até a de 80). Ninguém melhor do que ele para empenhar-se em tal empreitada. Bem haja, pois.

MELHOR ASSIM?

Poucos e parcos regalos (na vida de uma pessoa sensata?). Muitas renúncias e frustrações (na vida de uma pessoa afobada?). Quantos livros e filmes (sensacionais e pouco badalados) contaram e recontaram os idílios extraordinários (as minhazinhas imagens momentâneas e definidas e definitivas!) que a juventude não aproveitou como devia e podia. Tantos desvelos frenéticos, quantos carinhos mentalizados: tanta felicidade então meramente intuída (mas de certa forma infimamente vivida?), que hoje a velhice não desfaz....

terça-feira, março 15, 2011

TROVINHAS POPULARES SIGNIFICATIVAS E PITORESCAS

Compilação de Lázaro Barreto. 

Cravo branco na janela é sinal de casamento. Tira o branco e põe o roxo, pra casar tem muito tempo. Fui ao mar buscar laranja, fruta que o mar não tem. Vim de lá todo molhado. O tatu é bicho manso, nunca mordeu em ninguém. Mesmo que queira morder, o tatu dente não tem. Sete e sete são catorze. Com mais sete, vinte e um. Todo mundo tem seu bem, só eu não tenho nenhum. Quem tem amor não dorme nem de noite nem de dia. Fica revirando na cama, igual peixe na água fria. Você diz que bala mata. Bala não mata ninguém. As bala que mais me matam são as dos olhos de meu bem. Coloquei meu pé no estribo, meu cavalo estremeceu. Adeus você vocês que ficam, quem vai embora sou eu. Joguei meu chapéu pra cima, pra ver onde ele caia. Caiu no colo da moça: isso mesmo que eu queria. Marmelo é fruta gostosa, que dá na ponta da vara. Mulher que chora por homem, não tem vergonha na cara. Quando eu era galo novo, comia milho na mão. Agora que sou galo velho, bato com o bico no chão. Batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão. Mamãezinha quando me beija, põe a mão no coração. Sexta-feira faz um ano que meu coração fechou. Quem morava dentro dele, tirou a chave e levou. Do amor nasce o olhar. Dão olhar, uma paixão. Do sorriso, uma saudade que não sai do coração. Deus vos salve casa santa, onde Ele fez a morada, onde mora o cálice bento e a hóstia consagrada. Rosa branca se soubesse o cheiro que a roxa tem, ficava no sol e no sereno para ficar roxa também. Cachaça é moça branca, filha de um homem trigueiro. Quem contrair amor por ela, nunca vai juntar dinheiro. Fui andando num caminho. Santo Antônio me chamou: se um santo chama a gente, que dirá um pecador? No lugar onde eu canto todos tiram o chapéu. Cada repente que eu tiro corre uma estrela no céu. Amor de perto é querido, de longe é mais estimado. De perto dá-me um alívio, de longe muito cuidado. A mulher quando desanda a falar da vida alheia, começa na lua nova e só termina na lua cheia. Você de lá e eu de cá, o ribeirão passa no meio. Você de lá dá um suspiro, eu de cá, suspiro e meio. A garça pôs o pé na água, lá ficou quarenta dias. eu longe de meu benzinho, não aguento nem um dia. Em cima daquele morro tem um pé de maravilha. Eu converso com a mãe, mas meu sentido está na filha. Lá no alto daquele morro passa boi, passa boiada. Também passa a moreninha, com seu cabelo cacheado.

sábado, março 12, 2011

ANOTAÇÕES ESPORÁDICAS

Reclamação. As pessoas reclamam, inutilmente, da morosidade dos ônibus coletivos da cidade, que percorrem as linhas nas direções da Rodoviária e do Hospital São João de Deus. Antes de chegar aos destinos os veículos dão enormes voltas nos bairros, como se prestassem um serviço turístico e não de primeira necessidade, como são os casos das pessoas com horários marcados para viajar e/ou para tratar da saúde. Reclamar não adianta, mas aceitar calado é pior. A Farra Política. Creio que toda pessoa lúcida que acompanha o desenrolar da vida social brasileira sabe que a significação atual de um Partido Político não quer dizer nada de louvável. Virou uma mixórdia. O pessoal envolvido perdeu a compostura, atolando-se nas peripécias dos descaminhos arrivistas. Tanto que o cientista político Roberto Romano chega dizer que “o Congresso abriu mão de uma de suas funções primordiais, que é a de fiscalizar o Executivo....Os deputados só querem verbas”. E todo o desastre nacional não fica só nisso. As verbas votadas pelos congressistas são muletas de campanha eleitoral. Depois de eleitos e empossados vão todos aos potes da gastança em obras superfaturadas. Por mal dos pecados está acontecendo, agora mesmo, que o fundo monetário do governo é insuficiente para cobrir os gastos prometidos. Aí então surge o fenômeno do corte das verbas no orçamento. É só raciocinar para saber que a verba que elegeu tanta gente não existia, era apenas uma promessa eleitoral. O cúmulo da safadeza, não? E além desse desplante, vem lá dos cafundós o tal de Lula contratando palestras para os empresários desonestos – que mais querem é mamar nas tetas da mãe-pátria, a preço exorbitante, que os interessados pagam ao palestrante de arremedo, sabendo de antemão que o tal palestrante (?) vai intermediar o superfaturamento dos gastos junto à comprometida pupila. Assim caminha nossa pobre nacionalidade. Ateu ou Agnóstico? A Criação descrita no Gênesis: “pode ser”, como Karen Armstrong presume, “uma narrativa alegórica”. O que ela afirma, segundo as palavras de Jerônimo Teixeira (articulista da VEJA) é que “o impulso religioso sempre acompanhou a humanidade, dando forma a seus anseios por beleza, bondade, transcendência. E assim a religião constitui um patrimônio simbólico que não pode ser descartado”. Ou seja: o ser humano entra em pânico toda vez que perde o apoio, não suporta a solidão de arcar com toda a imensidão mundial que o rodeia. O verdadeiro ateu tem que ser um poeta assumido, munido das chaves da inteligência e da sensibilidade, da coragem de enfrentar e conviver com as surpresas da poesia que o rodeia para saber se ele é forte o suficiente para agüentar os arrancos e apelos da inspiração e da respiração. Só assim qualquer pessoa poderá exercer um ateísmo convicto, sadio e destemido, ou seja, o agnosticismo consciente e exeqüível. Thomas Hobbes, no livro “Leviatã”, assegura que “o medo de coisas invisíveis é a semente natural daquilo que todo mundo, em seu íntimo, chama de religião”. As Duas Faces do Apetite. O Estômago. A Libido. O primeiro visa o alimento biológico do corpo, o segundo prefere (psicologicamente?) a inteireza corporal do sexo oposto, em ânsias anímicas e não meramente físicas. O corpo inteiro da pessoa amada atrai, instiga o desejo. A materialidade aí é mais abstrata do que concreta, se assim posso dizer. É uma espécie de halo, estalo, uma premonição. Mais subentendido do que demonstrado em relação ao apetite meramente estomacal. A cozinha e o quarto; a mesa e a cama. O corpo, no amor sexual é, ao mesmo tempo, alma. Paisagismo Bucólico. Os dois lados ao longo da rodovia Divinópolis-Belo Horizonte, vistos das janelas dos ônibus, são aprazíveis, mormente no trecho que abrange os municípios de Itaúna, Azurita e Mateus Leme. Uma beleza. O paisagismo descortinado oferece visões realmente espetaculares, quase paradisíacas, nesta época do ano. A sucessão das serras e morros e baixadas sob a verdejante vestimenta das relvas e arvoredos nos campos e florestas ecologicamente bem tratados. É um alívio para os olhos cansados de tanta poluição ambiental de nossa diuturna vivência urbana. Ali e nos arredores não se vê a mínima erosão nos roçados, nas pastagens, nas grotas e matas fechadas, que sobem e descem graciosamente os relevos do terreno, formando as, por assim dizer, serras das boas esperanças da conservação de uma miraculosa beleza da saúde vegetal, assim exposta publicamente.