COMPLEMENTO: ONTEM, HOJE, SEMPRE
A chamada “Geração Complemento” do início da década de 50 do século passado em Belo Horizonte: não cheguei a conhecer pessoalmente nenhum dos elementos constituintes do grupo que publicava além de uma revista literária, as plaquetas mensais de poesia representativa da formação humana-social da Turma daquela geração. Mantive um contato mais aproximado com o poeta Ary Xavier e com a boa leitura dos textos de Terezinha Pereira, Heitor Martins, Silviano Santiago, Pierre Santos, Ivan Ângelo, Afonso Romano de Santana, do próprio Ary e de Manuel Soares Ramos. Este último era irmão do saudoso amigo, Joaquim Ramos, então colega da CEMIG, empresa na qual trabalhei durante trinta anos, cinco dos quais em Salto Grande, numa espécie de exílio voluntário da juventude, nos acampamentos das obras de construção da então maior usina hidrelétrica de Minas Gerais. Nos intervalos do trabalho e do sono, eu lia e estudava numa infinidade de livros - e publicava alguma coisa num jornal interno (ERG era o nome dele) da Empresa – e mantinha correspondência com Ary Xavier, através do qual de certa forma me integrei ao Grupo – e já ia até mesmo publicar um opúsculo intitulado “Crepúsculo Verde – poemas”), quando a chamada Geração COMPLEMENTO se desfez A maioria dos integrantes saíram de Minas rumo as capitais do Rio e de São Paulo, onde brilham até hoje na imprensa e nas editoras. O casal Terezinha Pereira e Heitor Martins (elementos de liderança do Grupo), foram lecionar literatura brasileira nos Estados Unidos, onde afirmaram-se não só como Professores como Autores de renomes. A Terezinha, que se naturalizou norte-americana (agora atende por Terezinka), continua sempre como a boa autora e amiga que sempre foi e é de deus e de todo o mundo. Coleciona títulos e comendas, entre os quais o de Membro da International Writers and Artists Association. Gentilmente cumprimentou-me com um belo poema, que abaixo transcrevo. E mandou, também, para o meu regalo, os poemas AMBIÇÃO, ESCAPAR, SEMPRE DISTÃNCIA, JARDINEIRO e POETA DE CEM ANOS (este uma homenagem a Adriano Augusto da Costa, nascido em 1902. Fico sabendo agora, com muita satisfação que ela, além de participar ativamente da vida intelectual na cultura norte-americana, de criar, amar e zelar pelos filhos Pedrinho, Luzia e Emilia e os netos Noah e Gabriel, continua vivendo e escrevendo poesia, ou seja: não se desencantou até hoje dos eflúvios da primeira juventude em Belo Horizonte, cidade que facilitou-lhe o ingresso em outros belos horizontes da vida e do mundo. Transcrevo abaixo dois poemas dela, um deles é o que se refere ao meu neto Paulinho. O primeiro é: “Homenagem Aos Artistas, Escritores e Trabalhadores de Idade”: Não há chuva nem falta de sombra quando o prazer nos enche o dia de trabalho. Queremos ser e colher os frutos que semeamos no planeta com resplendor de sol e fogo nas veias. Não contamos o tempo, em vez, contamos as pombas brancas que voam pelo céu cada dia que passa. O segundo tem o título de “O NETO (Para Lázaro Barreto, orgulhoso de seu neto).” O neto é uma paisagem de doçura que nos lembra de nossa própria infância. Também representa o re-armamento mental das revoluções libertárias da adolescência, e talvez prometa a tranqüilidade do nosso descanso na última idade. Sem dúvida alguma, o neto é a nossa imortalidade terrestre.