domingo, janeiro 30, 2011

FACÉCIAS, AQUARELAS E RELIQUIAS

A cena mais esdrúxula e degradante que se pode ver na cidade de Divinópolis: é a do ajudante de caminhão do matadouro atravessando a rua com a enorme banda do capado (porco) nas costas. Aquela coisa horrível, revestida de pele escura e do toucinho branco, parte da cabeça esgoelada e os mocotós apensos, tudo manchado de sangue e sujeira enganchado, dos ombros do pobre coitado. É inacreditável que a cena prenuncia o repasto apetitoso (para não dizer esganado) dos seres humanos carnívoros.... - Revendo o filme “A Menina de Ouro”, de Clint Eastwood, ocorreu-me que talvez (ou certamente?) o comportamento humano mais difícil de ser plenamente realizado é o de uma pessoa conseguir ser BOM e FELIZ o tempo todo ou pelo menos parte da VIDA. Eu sei que não consegui. Sei de muitas pessoas que possam ter conseguido – mas de tal mérito só mesmo cada uma delas sabe. Depois de rever o filme e indo da sala para o quarto revi (como sempre várias vezes por dia) a foto de meu primeiro netinho, aos dois meses de idade: a expressão fisionômica encantadora, bela e feliz, inspira confiança na vida e no mundo. E muito otimismo quanto ao próprio futuro e o de toda a humanidade. Uma nova esperança que nasce. Bem haja, pois! - A feiúra tem algo a ver com a ruindade e vice-versa? E a beleza? Ah tem que ser escrita com letras maiúsculas. - Musa é toda mulher que, pelos predicados sedutores de beleza, simpatia e romantismo, é sempre moça, mesmo sendo balzaquiana. É musa porque diante dela todo homem, de qualquer faixa etária, é sempre um poeta. - A mentira tem pernas curtas. O ex-presidente da república obteve uma veemente, terrível resposta para a sua extensa e obtusa megalomania ao se despedir (até que enfim!) de seu prolongado desgoverno, que nunca tinha acontecido igual neste país. Refiro-me à hedionda catástrofe na região serrana do Rio de Janeiro – uma região maravilhosa que de repente ficou tão feia. Vingança da Natureza? - Depois da catástrofe que matou quase mil pessoas no estado do Rio de Janeiro (a da Austrália, muito mais estupenda matou cerca de apenas vinte pessoas), o velho slogan patriótico “porque me ufano do meu país” pode ser mudado para “porque me envergonho do meu país”. Leitor inveterado que sempre fui, não posso deixar de citar alguns trechos do livro “A Cama na Varanda”, de Regina Navarro Lins: (da página 155): “Todas as pessoas são afetadas por estímulos sexuais novos vindos de outras pessoas que não os parceiros fixos. Esses estímulos existem e não podem ser eliminados”. Página 157: “Ninguém pensaria em condenar alguém por não querer usar a mesma roupa durante anos, ou por não querer comer todos os dias o mesmo prato”. Acréscimo em outras palavras de outro trecho na mesma página: no mundo animal só a cegonha e os pombos vivem em regime de monogamia, mesmo assim temporariamente – afirma Wilhelm Reich, que a mesma autora cita, acrescentando que a família não é um fenômeno natural, mas uma instituição social. - Seqüências Indeléveis de Filmes Clássicos: 1 – Janet Leigh na seqüência de sua fuga dirigindo o automóvel na longa rodovia depois de ter roubado o dinheiro da empresa em que trabalhava. Seus olhos atentos e assustados, ah, seus olhos brilhantes...! O filme é PSICOSE, de Alfred Hitchcock, de 1960. 2 – A sofreguidão de Dóris Day cantando “Que Será, Será”, do mesmo Hitchcock, de 1956. A lidima conexão da voz e da imagem, exprimindo e transferindo a carga emocional. Algo sublime. 3 – A aprazível magresa e o traseiro elegante, empinado, de Lauren Bacall, em Uma Aventura na Martinica”, de Howard Hawks, de 1943. O ambiente dramático de repente se torna lírico. 4 – A figura um tanto mirrada e temerosa de Mia Farrow, engrandecendo-se no papel da esposa sofrida, transcendendo-se na gravidez, mostrando as verdadeiras jóias humanas de seus inefáveis seios, momentaneamente grávidos. Filme de Roman Polanski. de 1968. 5 – A paixão enrustida e sofregamente vivenciada pro Ingrid Bergman no filme “Casablanca”, de Michael Curtiz, de 1942. Os líricos trinados de lembranças inesquecíveis apesar dos tórridos momentos da Segunda Grande Guerra. Uma elegia digna de Rainer Maria Rilke. 6 – A sensualidade natural da vida contrapondo-se à temeridade da morte. A poesia do epicédio de Ingmar Bergman derramando-se na noturna mansão das quatro belíssimas mulheres: Liv Ullman, Ingrid Thulin, Kari Sylwan e Harriet Andersson – todas musas familiares de Bergman. Filme antológico de 1972.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

VIAGEM DA LUA DE MEL

Aclimatação das circunstâncias subjetivas. A pronta exclusão das contrariedades. Assim ansiosos, ultrapassando a distância, Chegamos à praça enluarada da cidade premeditada... As redondezas erguidas, enevoadas nas doçuras da onírica realidade... O caule tenro da musicalidade. O temporal impávido dos anseios. A gostosa movimentação dos embalos. Na casa das luzes verdes e tremulantes. A quintessência dos átimos e dos étimos. A noite dos pirilampos atritados e cantantes. Os mergulhos as braçadas os estirões. Os tentáculos da orquídea a subir nas paredes. O amor com o amor se paga numa libido vindo de outra libido..... Os interiores chamam as superfícies: tudo se enlaça na coesão da fome com a vontade de comer. O frenesi fulgia, equilibrava p arroubo nas alturas das paredes, do teto, do céu. O quinhão sutil na oferta e na procura... A juriti cicia no ninho da rolinha? O inhambu de moita em moita está doido por mais um abraço? A dor da bondade e da beleza... Ó rútila frondosa tentação! Agora o mar recobre a montanha, uma nuvem inunda a floresta... A noiva prolonga o assédio. O noivo prolonga o ritmo. Ambos batem numa mesma porta. Querem arrombá-la? Mas já não estão dentro?

segunda-feira, janeiro 24, 2011

ODISSÉIA DA MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA

O texto abaixo, inspirado na leitura do livro da psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, “A Cama na Varanda” (Edit. Rocco, RJ, 1997) é um apanhado sui-generis do levantamento crítico que ela faz da odisséia feminina, mencionando dados retroativos às idades da pedra e dos metais, de passagem, mas seguramente. Não vou citar textualmente os registros, mas tentar adequá-los a uma explanação sintética e possivelmente legível. O seguinte: por volta dos remotos anos 3.000 a.C. a mulher pertencia a todos os homens e cada homem a todas as mulheres. Ninguém sabia que a procriação era o resultado do ato sexual, de forma que todos os filhos só tinham mães. Só existia a linhagem materna, pois. Todos viviam em harmonia com a natureza, até que um deus masculino decretou que a mulher era inferior ao homem e que deveria ser subserviente a ele. Aí o homem descobriu que a fertilidade e a fecundação não eram atributos exclusivamente femininos e o que fertilizava a fêmea era o sêmen do macho. Foi a partir de então que ele se transformou num déspota opressor (um imperador do Marrocos chegou a ter 888 filhos com a infinidade de mulheres de seu harém). A civilização judaico-cristã prega até hoje que Adão foi criado por Deus e que Eva não era filha de Deus: foi moldada a partir de uma costela de Adão, que tinha sido criado à semelhança do criador. Na mitologia grega a história se repete: Zeus é o único criador da espécie humana. A religião judaica, precursora do cristianismo, caracteriza-se pela masculinidade: iniciando com Abraão em 1800 a.C., desenvolve-se em .300 a.C, com Moisés conduzindo o povo judeu para a terra prometida da Palestina. Depois de muito litígio, muita derrota militar diante dos caldeus e de séculos no cativeiro, foram libertados pelos persas, puderam sair da Babilônia e retornarem a Jerusalém. Como a imagem de Deus era (e é) invisível, cresceu a idéia da superioridade da alma sobre o corpo e assim Deus perde a forma humana, afasta-se da sexualidade, restringindo a liberdade sexual até então preponderante. Com a escritura e difusão da Bíblia através do Velho e do Novo Testamentos fica instituída uma única divindade masculina, proclamando que as mulheres são inferiores aos homens. Eva, por exemplo, é uma figura mal feita e mal contada, ao contrário do imponente Adão. Assim está escrito (Gênesis 3:16) o que Deus disse à mulher: “Multiplicarei sobremodo o sofrimento de sua gravidez. Em meio a dores dará à luz filhos, o teu desejo será para o teu marido e ele te governará”. A mulher passa a ser, pois, um ser maligno, como a autora afirma na página 44 do citado livro. Na Idade Média (476-1453) recrudesce ainda mais o martírio feminino. Aos preconceitos originários do Oriente, os Pais da Igreja acrescentaram outros, inclusive o de que o sexo é um pecado. Os padres pregavam que tanto na mulher como no homem o que havia da cintura para baixo eram criações demoníacas. O sexo era uma experiência da serpente e o casamento “um sistema de vida repugnante e poluído”, com os acréscimos doutrinários: Agostinho disseminou entre os padres que o intercurso sexual era repulsivo; Amábio o chamou de sujo e degradante; Metódio, de indecoroso; Jerônimo, de imundo; Tertuliano, de vergonhoso”. Mateus recomendava que os homens se tornassem “eunucos voluntários”. O resultado de tanto engodo e maledicência aconteceu em 1183, quando a Igreja criou os Tribunais da Inquisição, que consideravam o apetite sexual como algo demoníaco, e assim “qualquer moça atraente é suspeita de bruxaria e de ter relações com Satã”. Assim as fogueiras foram implacavelmente acesas, sacrificando milhares de mulheres jovens e maduras, mesmo depois de provadas suas virgindades anatômicas. Algo demoníaco que historicamente a Igreja carrega nos ombros, eternamente. A emancipação feminina dos pesados encargos da submissão ao homem (fosse ele pai, marido, filho) começa praticamente nos anos 60 do século 20, com a chegada da pílula anticoncepcional. Assim ela passou a fazer do corpo o que mais desejava: a possibilidade do prazer sexual sem a consequência desmedida da procriação. O cristianismo ( uma espécie de filial do judaísmo) na Idade Média considerava a homossexualidade, a bestialidade, o incesto e o adultério como abominações passíveis de pena de morte. A prática sexual só era aprovada pela autoridade eclesiástica quando visava unicamente a procriação – fora disso era um pecado contra a natureza. Por causa da desobediência de tais imposições, o mundo já tinha sido destruído uma vez pelo Dilúvio e cinco cidades de Sodoma e Gomorra foram queimadas pelo fogo celestial e seus habitantes desceram vivos ao inferno – tudo isso sem pormenorizar os crimes hediondos da chamada Santa Inquisição queimando milhares de mulheres consideradas bruxas por seus sacrilégios e práticas sexuais. De minha parte, como leitor, pesquisador e escrevinhador, não aceito esse infeliz papel da mulher cristã, subestimada e condenada em toda as fases da história religiosa, até mesmo na escritura da Genealogia de Jesus, na qual nenhuma mulher é citada: é só fulano gerou sicrano que gerou beltrano, etc. Um absurdo que as próprias mulheres, formadoras da maioria dos devotos cristãos em todo mundo, aceitam humildemente, como se confessassem a culpabilidade da doutrina clerical machista.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

CUIDADO COM O ANDOR

“A grande quantidade de eventos climáticos extremos acontecendo ao mesmo tempo, dizem os climatologistas, está relacionada com o aquecimento global. Mais calor deixa a atmosfera mais instável, causando chuvas e nevascas mais intensas”. (Editorial da Folha de S. Paulo de 16/01/2011). O aquecimento global está instaurando uma fase (fatídica) na vida planetária. As conseqüências evidenciadas (abalos sísmicos, temperatura desarticulada, tempestades catastróficas, erupções vulcânicas, o diabo a quatro) repetem-se em muitas partes do mundo, causando tumultos e tragédias incontornáveis, deixando o enxame de prejuízos materiais e morais, além de tantas vítimas fatais. A civilização, que é causa, sofre a conseqüência. E todo o progresso científico dos especialistas e dos laboratórios está sendo insuficiente para domar a truculenta resposta da natureza ofendida. A chamada economia de mercado impõe suas múltiplas inovações na crosta terrestre, ignorando o preceito popular de que não se deve mexer (atritar) com quem (a natureza) está quieto. A monumental fabricação de lixo (excesso da produção industrial) das nações desenvolvidas e em desenvolvimento econômico, quebra o equilíbrio atmosférico através da acumulação dos copiosos corpos estranhos, ferindo a terra, o ar e a água, elementos primordiais para a salubridade da vida mineral-vegetal-animal. O que fazer? É o que o cientista e empresário perguntam ao homem comum, que cordialmente responde: oh sejamos mais modestos, não avancemos na lua pensando que ela é um queijo. Ele, claro, responde em off, dos bastidores da polêmica, de tal maneira que nem é ouvido. E aí vem aquela altercação de quem (o déspota) julga que quanto pior, melhor: “de quem é o mundo? Não é meu nem seu. Então foda-se o raimundo!” O Peru, maravilhoso país sob o ponto de vista paisagístico, contendo (segundo o cientista Marcelo Leite) 70% das geleiras tropicais da terra, “já perdeu mais de um quinto (446 km2) de seus 2.042 km2 de “nevados” desde a década de 60.” Em seu artigo “Da Arte de Enxugar Geleiras” ele explica que “existem indicações convincentes de que o sistema ecológico planetário não suportará a expansão continuada do consumo de recursos naturais”. Para se ter uma idéia da irresponsabilidade dos atuais mandatários do planeta: “O Protocolo de Kyoto, de 1997, mandava reduzir em 5% os gazes estufa das nações desenvolvidas até 2012”. Pois é. “Desde então, as emissões globais, em vez de diminuirem, subiram 16%”. Esses antropocentristas de carteirinha encaram a Natureza “como mero insumo para a engenhosidade humana” (o Marcelo conclui). Lembro-me de minha infância em Marilândia, quando nadava e pescava nos córregos (dezenas) afluentes do Rio Itapecerica, agradavelmente participando da convivência dos bichos e pássaros, peixes e insetos que não existem mais, a não ser na lembrança cada vez mais pálida. Naquele tempo os lavradores apenas roçavam os pastos e capinavam as roças, não derrubavam o arvoredo dos campos e cerrados, das matas e capoeiras. Tudo virou fumaça e cinza através dos machados e moto-serras, para alimentar o inferno urbano das siderurgias movidas a carvão vegetal. Os carvoeiros da cidade engoliram os fazendeiros do meio rural, os lavradores da roça viraram operários urbanos. E foi assim que a vaca foi para o brejo. Hoje o país produz 260.000 toneladas de lixo por dia. O triplo do da China. Estima-se (diz o artigo sobre a SUSTENTABILIDADE, da revista Veja) que um bilhão de pessoas no mundo não tenha acesso a uma fonte de água limpa para beber..... O planeta acumula 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos de água.... O problema é que a água doce, apropriada ao consumo humano, corresponde a apenas 2,5% do total. “É preciso tomar uma decisão e reconhecer que o crescimento econômico consome recursos e produz resíduos que degradam o ecossistema” (inviabilizando) “a capacidade da espécie humana para se adaptar às mudanças”. É assim que Robert Constanza e Joshua Farley concluem o alentado artigo, com a pergunta mais do que necessária: “O prazer de possuir carros mais potentes é maior do que o de desfrutar amizade, família, água e ar limpos?... Temos, pois que optar por um futuro sustentável e desejável ou um declínio catastrófico”.... Ainda bem que nem todas as pessoas do mundo estão cegas, surdas e mudas, não é mesmo? Já existiu uma época na História em que as pessoas não podiam contradizer o sistema político implantado aleatoriamente. Quem o fizesse esturricava-se nas fogueiras da Inquisição e de outras Intolerâncias. Hoje a diversificação das teorias pensamentais abre o leque das discussões e muita derrapagem perigosa tem sido evitada. Mas, mesmo assim, a ordem que sempre vem de cima (que não é mais de um Deus aleatório, mas sim do chamado poder econômico, transitório e fundamentalmente corrupto) é imposta de forma ditatorial e virulenta, doa a quem doer desde que beneficie os cupinchas de plantão. Eles, meros demagogos inconseqüentes, não têm o menor cuidado com o andor, mesmo sabendo que o santo que carregam é de barro.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

FRASES FEITAS DA CULTURA POPULAR

Compilação de Lázaro Barreto

Letra A: Águas passadas não tocam moinho. A boa vida não é servida em prato raso. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. A galinha que canta é a que bota. Amar ao próximo como a si mesmo. Amor com amor se paga. A fé remove montanhas. A beleza acaba, a feiúra aumenta. A língua é o chicote do corpo. Alegria do pobre dura pouco. Amigos, amigos: negócios à parte. À noite todos os gatos são pardos. A vida está pela hora da morte. A boa notícia vem a pé; a ruim vem a cavalo. Amanhã o carneiro perde a lã. Acende uma vela a Deus e outra ao Diabo. Água deu, água leva. Analfabeto de pai e mãe. A mentira tem pernas curtas. A barriga não dói uma vez só. Atrás das pedradas vem os pedradores. A ocasião faz o ladrão. Avançar na lua pensando que é queijo. A porta é a serventia da casa. A pinga tem 99 virtudes e só uma desgraça. A verdade sobrenada como o azeite na água. Atrás do morro tem morro. Antes tarde do que nunca. Antes tardar do que faltar. Atire a primeira pedra quem não tem pecado. Atirou no que viu e matou o que não viu. A educação vem do berço. Amor só de mãe. A vida começa aos quarenta. A vontade também consola. A lei do mais forte. A lei é dura mas é a lei. A beleza está aqui, o que falta é trato. Aleluia! Farinha no prato e leite na cuia. A pressa é inimiga da perfeição. A carne é fraca, a tentação é forte. A mulher deve casar mas o homem na. Amanhã é outro dia. Até que a morte nos separe. A mão que afaga é a mesma que apedreja. As pessoas não são iguais, mas viva a diferença! A morte não é a pior coisa, é apenas a última. A gente era feliz e não sabia. As vezes um favor vira pecado mortal. As paredes têm ouvidos. A curiosidade matou um gato. A cara de um é o focinho do outro. A casca é que engrossa o pau. Assombração só existe para quem aparece. Letra B Bobo é ovo na boca de seu povo. Bate na cangalha para o burro entender. Bebe cachaça que nem um gambá. Bons ventos o levam. Bobo até onde chegou e mandou parar. Burro velho, capim novo. Brincadeira tem hora. Boca que não beija, pimenta nela! Bobo de pegar na bosta. Beleza não põe mesa. Banana de manhã é prata, de meio-dia é ouro e de noite mata. Banana verde não se dá, soca no cu pra madurar. Barriga inchada é desculpa de peidorreira. Brigas de foices no escuro. Boca de siri. Boa de mesa, ruim de cama. Briga entre marido e mulher, ninguém mete a colher. Brigam as comadres, surgem as verdades. Bela como o pingo de água na folha do inhame. Bobo é quem empresta, mais bobo é quem devolve. Letra C Conversa para boi dormir. Coração de mãe não se engana. Chapéu de trouxa é marreta. Cara feia não enche barriga. Cara de quem comeu e não gostou. Cara de sapo debaixo da pedra. Cada um por si e Deus por todos. Cara que manhã beijou malandro nenhum põe a mão. Com mulher de bigode nem o capeta pode. Comer o pão que o diabo amassou com o rabo. Cagado de arara. Carcará pega mata e come. Cara de caxinguelê tá com os dentes arregalados tá querendo me morder. Casar não é casaca. Coração tem razão que a razão desconhece. Com açúcar até o jiló é doce. Conversa de puta Deus não escuta. Conversa fiada para boi dormir. Comamos e bebamos porque a morte é certa. Contra a força não há resistência. Come feijão e arrota pão de ló. Conversa que entra num ouvido e sai no outro. Comer e coçar é só começar. Chover no molhado. Coração bom está aqui no peito, só falta é trato. Chorar de barriga cheia. Chora e chorará sozinho; ri e o mundo rirá contigo. Comer suã faz suar? Cada macaco no seu galho. Cuidado com o andor que o santo é de barro. Cada louco com a sua mania. Com a vó atrás do toco. Cavalo velho não pega marcha. Cão que látea não morde. Chapéu de bobo é marreta. Comer gato por lebre. Com os pés no chão. Cachaça não é água, não. Cara amarrada pelo rabo. Chuva miúda não mata ninguém. Cadeia foi feita para o homem. Com a pulga atrás das orelhas. Letra D. Deus não dá asa à cobra. Depois da tempestade vem a bonança. Deixa a abóbora alastrar. Devagar se vai longe. Deus dá o frio conforme o cobertor. Doce sem queijo é igual abraço sem beijo. Devagar com o andor que o santo é de barro. De manhã é que começa o dia. De sadio e de louco todo mundo tem um pouco. Duas coisas que fazem mal a toda gente: vento nas costas e sogra na frente. Deus está em toda parte. Dá o tapa e esconde a mão. Dormir mais do que a cama. Deus está vendo. Dois bicudos não se beijam. Duro com duro não faz bom muro. De hora em hora a coisa melhora. Dia santo não é todo dia. Desgraça pouca é bobagem. Dente por dente, olho por olho. Deus ajuda a quem cedo madruga. Devagar se vai longe. De cavalo dado não se olha os dentes. Dema a dema não tem escolha. Dar varadas na água. De grão em grão a galinha enche o papo. Depois da tempestade vem a bonança. Deus é que sabe. Deus lhe pague. Dar milho a bode. Dor de dente não dá uma vez só. Deus gosta mais dos pobres:fez tantos! Dobre e engole a língua. Deus escreve certo por linha tortas. Dos males, o menor. Dar murro em ponta de faca. De boas intenções o inferno está cheio. Deste mato não sai coelho. Dar bom dia a cavalo. Dinheiro compra tudo menos a consciência. Dar com dia com chapéu dos outros. Dá o tapa e esconde a mão. Do mundo nada se leva. De quem é o mundo? Não é meu nem seu. Então foda-se o Raimundo. De quem cochicha o rabo espicha. De hora em hora a coisa melhora. Letra E. Errar é humano, perdoar é divino. Escreveu e não leu, o pau comeu. É só pena que voa. É de menino que se torce o pepino. Enquanto houver cavalo São Jorge não anda a pé. Estou falando com o dono dos porcos e não com a porcada. Está com cara de cachorro que peidou dentro da igreja. Estou careca de saber. É feio, bobo e mora longe. Em boca fechada não entra mosquito. É de manhã que começa o dia. Escrever certo em linhas tortas. Errar três vezes é sinal de forca. Em cada cabeça, cada sentença. Está dançando na corda bamba. Enquanto a vara sobe e desce, folgam-se as costas. Está procurando sarna para coçar. Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher. Em mulher não se bate nem com uma flor. Esmola demais o cego desconfia. É assim que a vaca vai para o brejo. Entende do riscado. Era só o que faltava.... É melhor sozinho do que mal acompanhado. É muita banana por um tostão. Está com a vó atrás do toco. Enquanto o diabo esfrega os olhos. Ela é a maria que vai com as outras. Entrou mudo e saiu calado. Em terra de cego quem tem um olho é rei. Letra F. Futebol não tem lógica. Faça cama e deita-te na cama. Faça o bem sem olhar a quem. Fruta madura na beira da estrada: ou é azeda ou está bichada. Filho feio não tem pai. Filho de peixe, peixinho é. Fala pouco e acertado. Fica neste chove-e-não-molha.... Filho da mãe! Feliz no jogo, infeliz no amor. Feliz é o chafariz. Folgado que nem colarinho de palhaço. Farinha pouca? Meu pirão primeiro! Foi buscar lã e voltou tosquiado. Filhos criados, trabalhos dobrados. Faz chover no meu quintal. Firme como uma estaca no brejo. Firme como um prego no angu. Letra G. Ganha fama e deita na cama. Gente boba é que pega cavalo brabo no pasto. Goiaba madura na beira da estrada: tem marimbondo no pé ou está bichada. Gato sapecado de água quente tem medo da água fria. Gosta de ver o circo pegar fogo. Galinha que canta é a que bota. Ganha no jogo mas não do jogo. Jacó de uma palavra só. Letra H. Há mal que vem para o bem. Homem que é homem não chora. Letra I. Impossível é Deus pecar. Inútil como as maminhas dos homens. Letra J. Já vai tarde. Já viu porco falar mal do toucinho? Já está chamando urubu de meu louro? Junta a fome com a vontade de comer. Junta gente igual urubu na carniça. Jogar pedra na caixa de marimbondos. Já viu um defunto enjeitar covas? Já viu formiga ter catarro? Jacó de uma palavra só. Letra L. Ladrão que rouba de ladrão tem cem anos de perdão. Lugar de porco é no chiqueiro. Lido e corrido. Lamber embira toda a vida. Letra M. Maria Moreira quem vem atrás fecha a porteira. Mateus, primeiro os teus. Mata a cobra e mostra o pau. Mãe só tem uma. Mulher que chora por homem não tem vergonha na cara. Mata só para ver a vítima fazer careta. Mulher e cachaça em toda parte se acha. Meu nome não é osso para viver na boca de cachorro. Mulher e vidro estão sempre em perigo. Macuco no saco. Morro de fome mas não como ( ) de homem. Macaco velho não põe a mão na combuca. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Mesmo calado, está errado. Morre o homem fica a fama. Mulher doente, mulher para sempre. Mais vale um mau acordo do que uma boa demanda. Letra N. Não leve desaforo para casa. Na casa de ferreiro, espeto de pau. Não me olhe de banda que não sou quitanda. Não fede nem cheira. Não dá camisa a ninguém. Nada como um dia depois do outro. Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cái. Nem todo dia é dia santo. Não sabe nem escrever o O com o fundo de uma garrafa. Não come banana para não jogar a casca fora. Ninguém sabe sobre o dia de amanhã. Não mexa com quem está quieto. Não vem que não tem. Nem os dedos das mãos são iguais. Não sabe da missa a metade. Não sabe nem onde tem o nariz. Não vale um tostão furado. Não sabe em que mato está lenhando. Nunca diga que dessa água não bebe. Não me importa que a mula manque, o que quero é rosetar. Não é mais bobo porque é um só. Não fede nem cheira. Não nego um peido a um amigo. Não fale em corda na casa do enforcado. Nem sombra de dúvida. Ninguém é profeta em sua terra. Não sou a favor nem contra, pelo contrário. Na terra de cegos quem tem um olho é rei. Não sabe com quantos paus se faz uma canoa. No amor um é pouco, dois é bom, três é demais. Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Na água que tem piranha, tartaruga nada de costas. Não é flor que se cheire. Não mexa com quem está quieto. Letra O. O sol nasce para todos. O que seria do azul se todos só gostassem do verde? O que é bom dura pouco. O que não mata, engorda. O mundo só acaba para quem morre. O sábio é aquele que sabe que não sabe. O silêncio é de ouro. O destino bate à porta. Odiar o próximo e amar a mulher do próximo O travesseiro é um bom conselheiro. Os bons perfumes estão nos menores frascos. O pior cego é o que não quer ver. O que não tem remédio, remediado está. Onde o filho chora e a mãe não escuta. Onde o diabo perdeu as botas. O urubu pousou na minha sorte? O rio quer quem não sabe nadar, pois quem sabe já é dele. O alheio chora pelo seu dono. O cão é o melhor amigo do homem. O bom cabrito não berra. O mundo dá muitas voltas. O bom julgador a si se julga. Is dedos das mãos não são iguais. O uso do cachimbo faz a boca torta. O sujo falando do mal lavado. O seguro morreu de velho. O bom filho à casa torna. O que os olhos não vêem o coração não sente. O diabo não é tão feio como se pinta. Ouviu o galo cantar mas não sabe aonde. Onde vai a vaca, o boi vai atrás. O pai ganha, o filho come, o neto morre de fome. O que há de novo? Muita galinha e pouco ovo. O Justo paga pelos pecadores. Os dois não amarram as éguas no mesmo pau. Olhar com os olhos e lambem com a testa. O orvalho não enche um poço. Olho por olho dente por dente. O saber não ocupa lugar. O feitiço vira contra o feiticeiro. O periquito come o milho e o papagaio leva a fama. Ouviu o galo cantar mas não sabe aonde. O olho do dono é que engorda o capado. O diabo atenta e o pau entra. O vizinho é o parente mais próximo. O futuro a Deus pertence. O mineiro quando enfezam a vela sobe de preço. Os últimos serão os primeiros. O que vem de baixo não me atinge. O que não mata engorda. O gato tem sete vidas e a mulher tem vida de sete gatos. O peixe morre é pela boca. Onde está o homem, está o perigo. O último que fala e o primeiro que apanha. Ouviu o galo cantar mas não sabe aonde. Letra P. Pancada de amor não dói. Por causa de uma cara feia se perde uma bela bunda. Pelado com a mão no bolso. Papai trabalhou muito, já nasci cansado. Perdão foi feito para a gente pedir. Perguntar não ofende. Para baixo todo santo ajuda, para cima a coisa muda. Para quem sabe ler um pingo é letra. Para amargar, basta a vida. Praga de urubu não mata cavalo novo. Promessa é dívida. Para cada cabeça, uma sentença. Plantar verde para colher maduro. Pão feio, filho bonito. Para morrer, basta estar vivo. Para quem ama, o feio, bonito lhe parece. Pobre vive é de teimoso. Por que o cachorro entra na igreja? Porque encontra a porta aberta. Perde a razão mas não o coração. Perca tudo menos a paciência. Porco magro é que suja a água. Perde o chapéu mas não perde a cabeça. Pior cego é o que não quer ver. Para bom entendedor meia palavra basta. Por mal dos pecados. Para Deus nada é impossível. Pau que dá em Pedro dá em Paulo. Prefiro trata de um cavalo a pão de ló do que você a feijão. Para quem compra terra o sol nasce; para quem vende o sol morre. Pimenta nos olhos dos outros não arde. Promessa não paga dívida. Pode vir quente que eu estou fervendo. Plantar verde para colher maduro. Letra Q. Quem não pode com o pote não põe a rodilha na cabeça. Quem com ferro fere com ferro será ferido. Quem não chora não mama. Quem ri por último ri melhor. Quem não dança balança a pança. Quem não dança pega a criança. Quem caça, acha. Quem tudo quer, tudo perde. Quando ver a barba do vizinho pegar fogo, põe a sua de molho. Quem não tiver culpa, atire a primeira pedra. Quem te viu, quem te vê. Quem nasceu para centavo nunca será cruzeiro. Quem canta seus males espanta. Quem casa quer casa longe da casa onde se casa. Quem não se arrisca, não petisca. Quem agacha para o amigo, mostra a bunda para o inimigo. Quem dá o pão, dá o ensino. Quem quer faz, quem não quer pede. Quem bate esquece, quem apanha lembra. Quem tem mão não manda coçar. Quem cala consente. Quem planta vento colhe tempestade. Quem mais abaixa, mais leva na bunda. Quem fala a verdade não merece castigo. Quem fala do diabo, pisa no rabo. Quem fala o que quer, ouve o que não quer. Quem já foi rei sempre será majestade. Quem vai ao vento, perde o assento. Quem corre cansa, quem espera sempre alcança. Quem fala demais dá bom dia a cavalo. Quem não se enfeita, por si se enjeita. Quem puder mais engula o outro. Quem pode, pode; quem não pode, sacode. Quem não tem cão caça com gato. Quem procura o que não perdeu, encontra o que não procurava. Quem tem pressa come cru. Quem já viu defunto enjeitar cova? Quem ajoelha, tem que rezar. Quem deve a Deus, paga ao Diabo. Quem tem cu, tem medo. Quem não deve, não teme. Quando um não quer, dois não brigam. Quem dá aos pobres empresta a Deus. Quem fala o que quer, escuta o que não quer. Quem procura, acha. Quem come tudo num dia, no outro dia assobia. Quem fala do diabo pisa no rabo. Quem bate com a língua nos dentes, morde na água. Quem está perdido não escolhe caminho. Quem faz um cesto faz um cento. Quem tem boca não manda soprar. Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Quem dorme com criança amanhece mijado. Quem planta vento colhe tempestade. Quem fala de mim tem paixão. Quem levanta cedo caga perto. Quem sai aos seus não degenera. Quem vai na frente bebe água limpa. Quem dá bala a meu filho adoça minha boca. Quem ama, perdoa. Quem tem boca vai a Roma. Quem tem telhado de vidro não atira pedra no do vizinho. Que Deus nunca me tome por testemunha. Quem não ama e não mente não é filho de boa gente. Quem rouba pouco é ladrão; quem rouba muito é barão. Quem fala o que quer, ouve o que não quer. Quem quer pegar um pássaro não chega dizendo xô. Quem já viu formiga ter catarro? Quem já viu garrafa ter cabelo? Quem convida dá banquete. Que a mão direita não saiba o que a esquerda faz. Quem quer vai, quem não quer, pede. Quando um não quer, dois não brigam. Quem pensa não casa, quem casa não pensa. Quem tudo quer, tudo perde. Quem vê cara, não vê coração. Quem tem amor não dorme.. Quem nunca viu a onça, quando ver inté péida. Quando não caga na entrada. caga na saída. Letra R. Ruim de carro, pior de arado. Relógio que atrasa não adianta. Rico ri à toa. Ruim como uma desgraça pelada. Rasgar o cu com as unhas. Roubar de ladrão tem cem anos de perdão. Rir ainda é o melhor remédio. Rei morto, rei posto. Ri e o mundo rirá contigo; chora, e chorará sozinho. Roupa suja se lava em casa. Ri melhor quem ri por último. Rir para não chorar. Roma locusta est causa finita. Letra S. Sozinho e mal acompanhado. Sapo de fora não ronca. Sombração só para quem aparece. Só se conhece uma pessoa depois de comer um saco de sal com ela. Santo de casa não faz milagre. Só abre a boca para falar besteiras. Sai do espeto e cai na brasa. Senta no próprio rabo para falar do rabo dos outros. Seja lá o que Deus quiser. Só Deus sabe o risco do bordado. Sofre mais do que mulher de malandro. Se arrependimento matasse... Sofre como sovaco de aleijado. Sol chuva, casamento de viúva. Se a carne é fofa, atole a unha. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai à Maomé. Sujeito amarrado pelo rabo. Só pena que voa. Sombra e água fresca. Surdo mesmo é quem não quer ouvir. Sem dó nem piedade. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Saco vazio não pára em pé. Letra T. Tremendo como vara verde. Tonto como bambu na ventania. Tão manso que se coçar, deita. Tem o olho maior que o bucho. Todas as águas correm para o mar. Tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia se quebra. Tal pai, tal filho. Tonto feito uma égua. Té logo e bênção. Todos por um e Deus por todos. Tem medo até da sombra. Todo cuidado é pouco. Tim-tim por tim-tim. Todos os caminhos levam à Roma. Tem tamanduá no baile. Tudo que vem do alto é Deus que manda. Tristezas não pagam dívidas. Tem boi na linha. Letra U. Um dia a casa cai. Um dia é da caça e outro dia é do caçador. Um é pouco, dois é bom, três é demais. Urubu comprou cadeira amas não tem bunda pra sentar. Um sol de rebentar mamonas. Uma mão lava a outra e as duas lavam todo o corpo. Um tatu cheira o outro. Urubu sem sorte: o de baixo caga no de cima. Urubu sem sorte atola até nas pedras. Um tiro de carabina no tico-tico. Unha da fome. Letra V. Vou ali e volto já, vou apanhar maracujá. Vou chorar pela testa acima. Vai tomar banho na caixa de fósforos! Vai ver se estou lá na esquina... Vergonha é roubar e não dar conta de carregar. Você vai e não me leva, quando voltar não me encontra. Você vem com a tampa e eu já vou com o balaio. Viu o diabo por uma greta. Ver com os olhos e lamber com a testa. Vai pela sombra. Vintém poupado, vintém ganho. Vai peidar na água para fazer borbolhas. Vai ver o sol nascer quadrado. Vai depressa e volta correndo. Cai que é mole. Vai de sombrinha e samburá. Vai com Deus na esquina – e depois vai com Nossa Senhora. Velho só serve para fazer sabão. Letras X e Z: não encontrei na memória. 
Foi na lembrança que levantei as frases. 
Trabalho concluído em 20/01/2011.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

O DESESPERO DAS PESSOAS

A Incúria Governamental. A fé perde a autenticidade e se torna apenas uma espécie de vício automático – e o nome de Deus passa a dito e repetido em vão, dando a entender que Ele realmente não existe como o todo poderoso que pode mover céu e terra para favorecer e não para prejudicar. A incúria, o desleixo, a irresponsabilidade dos políticos profissionais que não sabem prever a causa dos desmandos nem reparar, devidamente, a ocorrência trágica deles... De braços cruzados eximem-se da responsabilidade, e lamentam com lágrimas de crocodilos o resultado de suas cruéis insinceridades. Em Divinópolis, por exemplo: quem não vê que o rio está cada vez mais raso, entupido de lixo, indicando abertamente sua capacidade de gerar catástrofes? E o que se faz com o dinheiro público? Uma mão de areia em cima das rachaduras e outra de cal para ludibriar a opinião pública – enquanto o perigo da tragédia é apenas aliviado... Os exemplos dos torrenciais deslizamentos de Santa Catarina, Angra dos Reis, Morros Cariocas, foram lamentados e chorados na época – e depois esquecidos. E agora? Agora ficamos horas e horas, estarrecidos, diante di aparelho de televisão, constatando que a transmissão dos gritantes desesperos da natureza e das pessoas estavam sendo copiosamente mostrados e explicados ao público, ao mesmo tempo que realçava, honestamente, a ausência de explicações do poder público e as devidas tentativas de corrigir ou pelo menos amenizar a furiosa violência dos continuados desenlaces focalizados. Como entender por que a televisão chega aos lugares acidentados, aponta os detalhes dos malefícios, as causas, efeitos, possíveis soluções – e o pessoal encarregado de representar o poder público não oferece a face para assumir culpas e apontar providências cabíveis? Por que tanta ausência e silêncio diante das vítimas boquiabertas e desesperadas? Os recursos e as providências só chegarão depois de tudo consumado? Enquanto isso os corpos das vítimas mortais amontoam-se dentro de um caminhão frigorífico (?!?) – e os destroços entopem as ruas e estradas – e os sobreviventes correm de um lado para outro como galinhas tontas, de mãos atadas e os pés escorregando nos monturos de lixo e lama, na água barrenta que levam tudo (a fé, o amor, a misericórdia, a esperança) de roldão, realçando o despreparo da administração pública para fazer o que é certo e necessário. Não serve (não consegue) nem mesmo prever o mal que longamente se anuncia e prontamente se despeja sobre os seres humanos até então confiados, ingenuamente, e agora completamente estarrecidos? E as cenas dantescas são passadas e repassadas à exaustão nos canais televisivos, arrancando as sinceras lágrimas do estarrecimento de milhões de pessoas de outras regiões. Lágrimas seguidas de previsões pessimistas: quem está realmente seguro, vivendo em qualquer parte de um país desavisado, dirigido pelas forças do mal da corrupção completamente institucionalizada? Vendo a Morte Por Uma Greta. As imagens são impressionantes, terríveis. A morte em todos os recantos do cenário, com os dentes e as garras afiadas, a impiedade em riste indomável. Um céu de cóleras acumuladas, despejando o aguaceiro em tonéis consecutivos, avassalando o matagal, as pedreiras morro abaixo em ímpetos inomináveis, desumanos, massacrando os barrancos, a vida até então airosa na empírica fusão dos animais e vegetais inocentes e magníficos. Atropelando o paupérrimo casario humano das famílias deserdadas da sorte, ali indevidamente ocupando o único espaço disponível. O impacto doloroso é inexprimível em termos normais de expressão verbal. Aquela avalanche trepidante e desordenada, arrancando e envolvendo e arrastando a vegetação e as casas e casebres com seus moradores, víveres, trastes e animais domésticos...: amassando, enrolando e esmigalhando tudo na descida vertiginosa dos morros e nas baixadas alargadas e alagadas, no meio daquela massa de cadáveres de vegetais e de animais, entre os quais muitos seres humanos, agora ainda mais desvalidos, espatifados e misturados aos detritos dos casebres antes dependurados nas encostas e agora massacrados nos vales esbarrancados. Espetáculo terrível – o retrato fiel do desgoverno nacional, ainda agora mais preocupado no loteamento dos cargos privilegiados aos pilantras fisiológicos, contumazes dilapidadores do erário e da moral no desolado e lacrimoso país de nossa humilde convivência. Imagens Inamovíveis da Memória. 1 – O gato salvando-se de dentro do casebre que se desmancha em pleno caudal da enchente, nadando às pressas e, sem dúvida, apavorado. 2 – A mulher já idosa que se amarra numa corda, abraçada ao seu cão de estimação e que é içada por populares de cima de um barranco. As ondas avassaladoras roubam-lhe o cachorro de seus braços, mas ela consegue salvar-se, graças ao próprio desprendimento à coragem e também à bondade de seus semelhantes ali solícitos.

A POESIA É NECESSÁRIA

I - Ilações de Leitura. Os pais e as mães são para os filhos os mesmos brigões intratáveis em todos os tempos e em todos os lugares, salvando-se óbvias exceções? Henry James é minucioso, consegue granjear os aperitivos da boa refeição, ou seja: é no emaranhado das minudências palavrosas que ele descobre, aninha e destaca as jóias e as flores do entrecho, justificando e aprimorando a trabalhosa conquista do estilo cativante de sua literatura. Não despreza nem suprime os lugares comuns da vida dos personagens. Descreve e narra sem enfatizar os pontos altos e os pormenores, como se para ele não houvesse diferença entre os grandes e pequenos fatos, todos merecendo idênticas acentuações, insinuando que os grandes momentos são intuídos e gerados de pormenores instantâneos. Nada se cria nada se perde, tudo se aproveita – parece afirmar em todas as linhas de todas as páginas. Durante muito tempo ele foi considerado pela mídia internacional como o irmão do filósofo William James, famoso por introduzir na cultura norte-americana os fundamentos do pragmatismo, uma espécie de vulgarização do argumento filosófico mediante a fórmula plausível de levar o conhecimento retórico ao alcance de todos das pessoas. Henry preferiu viver na Inglaterra e adotar a ficção como norma de trabalho, valorizando a linguagem de forma cavilosa, sutil e engenhosa. Na página 217 do romance PELOS OLHOS DE MAISIE (Cia, das Letras, SP 2010 tradução de Paulo Henriques Britto) fico bobo de ver (sendo um mero leitor, claro) como a cândida criaturinha inefável consegue segurar as pontas de sua vidinha no vai-e-vem de herodes a pilatos, ou seja, repartindo a convivência com mãe e madrastas, pai e padrastos, todos de ordinária compleição, uma seqüência de adúlteras e piranhas, rufiões e trapaceiros. Assim envolvida no roldão das artimanhas de seus “protetores”, ela segue o destino da tenra mobilidade dos caminhos escusos, sem se deixara contaminar, ao contrário, conservando a inocência, a pureza do amor mais infantil possível. Na página 280 ela já sabia tantas coisas extraordinárias que, o que não sabia parecia ridículo, se não fosse constrangedor. Síndrome de gente grande? Não nada disso. Ela não passava de uma criaturinha prodigiosa: “parecia receber informações novas com cada sopro de brisa”. Ela puxava um fio longo e tenso, no qual as valiosas pérolas estavam enfiadas com todo o cuidado. Outras imagens, conceitos e metáforas que saltam das páginas: - O rio azul da verdade vira um esgoto de vez em quando? - O casamento não passa de um local de brigas e mais brigas? - As portas fechadas da vida, ah!... - O parque iluminado no rosto dela torna-se um conforto no sofrimento, a vidraça de uma confeitaria do saber, os olhos como lanternas (o olhar como um lampião numa janela). Seu encanto era uma grande explicação. 

2 – Marilândia, Vila Imaculada (fragmento). Sete Poemetos, en passant, de Paulo Bernardo Vaz, na década de 70, quando ele criava obras de arte vanguardista em Divinópolis, antes de estudar na França (pós-doutorado em Comunicação) e lecionar na UFMG, BH. 

 I – O ônibus passa forasteiro cheio de olhos e janelas espiando o que resta tranqüilo nesse mundo confundo. Benza-o, ó Deus. 
II – Chegue-se até o fim da rua, que é o seu princípio. Dá a volta na porta da igreja, de costas para a civilização de frente pro sertão. Volta-se pelo outro lado da rua, que é frente para a mesma rua. O mapa é um rosário. Projeto urbano do engenheiro Deus. 

III – Aberto o dia, aberta a porta da rua. Benvindos todos os que se aprochegam. Livre trânsito dentro e fora das casas. Passe livre ao mundo. 

IV – As cadeiras, os tambores, os bancos de madeira bruta, couro, plástico, varetas, pano, latão e aço, expostos às nove da amanhã do domingo, nas portas da rua, à sombra (que o sol tá de amargar). Esperemos as chuvas. Entremos pela porta da cozinha memo. Trepemos e chupemos, inté fartá (as jabuticabas). 

VI –Bom dia, diz-se na manhã fria. U ôi se amolece ao meio dia. Antão até isturdia.