domingo, dezembro 30, 2007

BRASIL 1808 – 2008

A figura de D. João VI, muitas vezes destratada pelos historiadores, bem que merece uma reavaliação reabilitadora. Ele foi o único monarca europeu que, na época, conseguiu enganar a prepotente perspicácia de Napoleão: se não trouxesse o Governo para o Brasil seria preso pelos invasores e Portugal e todas suas colônias seriam anexados à França. A evidência é que Napoleão tinha os olhos maiores do que a barriga ao tentar recapitular os áureos tempos do fabuloso império romano. Como acentua Laurentino Gomes no livro “1808” (Edições Planeta do Brasil, SP, 2007): “Não havia alternativa: ou a família real fugia para o Brasil ou seria destronada”. Assim, continua o autor: “Os navios portugueses ainda estavam à vista no horizonte quando as tropas francesas começaram a entrar em Lisboa”. Assim a conquista napoleônica não aconteceu: como apossar-se de um território cuja administração mandatária tinha trocado de endereço? Assim, a fixação do governo no Brasil engrandeceu os brios da nacionalidade, fazendo do dele a sede de um aglomerado de colônias, o que coroava em termos estatísticos “uma das maiores movimentações forçadas de pessoas em toda a história da humanidade”, pois a descoberta do ouro e do diamante das Minas Gerais já tinha trazido mais de 800.000 portugueses e mais de dois milhões de africanos cativos, transformando uma população de trezentos mil “da última década do século XVII para mais de três milhões por volta de 1800”. Na parafernália da Vinda, Chegada e Assentamento, os colonizadores ficaram perdidos que nem cegos em tiroteios (como se diz), transidos no meio de infindáveis problemas de toda ordem. Foi aí que a onda de corrupção dos relapsos avolumou de tal maneira que enlameia até hoje os quadrantes nacionais, que até hoje não conseguem estabelecer uma elite política duradoura, que possa organizar e administrar a nação de forma limpa e rentável. Nelson Werneck Sodré, em “As Razões da Independência”, cita as quadrinhas populares que celebrizavam as roubalheiras: “Quem furta pouco é ladrão/ Quem furta muito é barão/ Quem mais furta e esconde/ Passa de barão a visconde./ Furta Azevedo no Paço/ Targini rouba no Erário/ E o povo aflito carrega/ Pesada cruz ao Calvário”. É assim que hoje constatamos, sofridos e pesarosos, que um País sem uma elite política não funciona eticamente: marca-passo ou retrocede. A elite (está no Aurélio) etimologicamente, “é o que há de melhor numa sociedade: o escol, a flor” – e não a espúria interpretação lulista de classe social privilegiada. A verdadeira elite arca com o ônus para resolvê-lo e não para criá-los e recriá-los indefinidamente. Estamos cansados de saber que a Política de nosso País sempre foi paupérrima em se tratando do vigor da autêntica ELITE, uma vez que a melhor parte de nossa sociedade não encontra entrada nem apoio no quadro suspeito da suja politicagem do secular (des)mando nacional (com raríssimas exceções de períodos e de integrantes eticamente corretos e saudáveis). Nossos Colonizadores. Vieram do lixo com o lixo para o lixo provaram do fel a ruindade comeram do cru e do putrefato tornaram-se piores do que eram mas assimilaram das manhãs a suavidade dos cantares da mãe natureza enfrentaram o desafio de cada dia a aspereza da resistência indubitável da mãe natureza burilaram o que se desprendia das arcadas sujigaram o dúctil a seu alcance embalados pelos cantos e recantos dos pássaros e das ninhadas inconscientes do desagrado que estariam causando a Deus e a Todo Mundo. Vendo hoje na lisura do ar e das paredes as imagens e os sons as cornucópias os meliantes os corruptos os traficantes nas mesmas dimensões e regalias das comendas desonradas lembramos cansados de tantas leréias parvas e dolorosas nuas e cruas ou mal-passadas que já vimos esses filmes de ações nefandas em telas de infeliz memória em letras de infeliz inglória.

sábado, dezembro 29, 2007

MOSÁICO MIMÉTICO

O último dia do ano está muito perto do primeiro dia do outro ano. É só virar a página do ódio que a do amor surge, rútila e veraz. O melhor da festa é o sono da paz, depois; e não a ressaca da insônia, depois. “ O catolicismo barroco, repleto de sobrevivências pagãs, com seu politeísmo disfarçado, supertições e feitiçarias”, deve ter causado estranheza aos portugueses que chegavam em nossa terra em 1808, segundo Marta Abreu. Para coibir os excessos da liberalidade, foi criada a Intendência Geral da Corte e do Reino de Portugal, cujo primeiro titular (1808-1821), Paulo Fernandes Viana, perseguiu sem tréguas os “antros de feitiçarias dos escravos”. O Rio de Janeiro, para Pablo Neruda, era a “la puerta de uma casa vacia.” Para Tom Jobim “o homem é um animal daninho” – e “todo brasileiro só deveria carregar caixa de fósforo com licença do IBAMA”. As pessoas estão endoidecendo nas zonas periféricas das grandes cidades brasileiras? Os malandros e pedintes amontoam-se, ao longo e em círculos, das ruas e praças, pirracentos, feiosos, atritantes e maltrapilhos dos pés às cabeças, aos trancos e barrancos, destituídos de bens materiais e imateriais, pustemas sociais, embadernados, ferrenhos articuladores de maledicências, munidos, ora de uma fúria de lascar o cano, ora de uma preguiça assumida e desgraciosa – e nem mesmo as penas de suas culpas voam mais no ar parado das próprias maledicências. A bela e imponderável imagem de Mônica Vitti, no filme ECLIPSE, de Michelangelo Antonioni: intacta, se desconecta do próprio casulo, sem perder a formosura, agora imersa no breu interior de si mesma. Esquecida de si, lembrada dos outros, ela quer e não quer a mesma coisa que a desperta e desanima. Assim fica difícil viver. Não se aceita, não se acerta. A luz epidérmica não preenche os vãos da inocuidade, da obscuridade interior. Como o próprio filme, ela promete, mas não cumpre. Ela é o filme. E sua perdição tramática salva o cenário e o entrecho da vacuidade envolvente. É a propalada incomunicabilidade antonioniona por excelência em suas mais imperfeitas conotações humanas, em suas mais perfeitas conotações fílmicas. O mundo é um mosaico mimético para a vida sempre dinâmica. Para exprimir o que há e o que houve e o que vai haver, temos que nos virar com a infinidade de palavras dicionarizadas e também com as potencialmente incrustadas no limbo entre a imaginação e a realidade. Enfim, como eu já disse alhures: primeiro a pancada, depois a podridão. Assim na fruta, assim na carne, assim na mente. Mas ela, a moça sem fim, é a pureza que entra na imundície, sem se contaminar. É assim que a saúde derrota a doença: o riso abaixo da lágrima, brilha mais alto.

OS CLARINS DA INSÔNIA

Não consigo dormir. O peso de novas sobre velhas cargas tributárias, as luminárias intelectuais de novos sobre velhos saberes ferindo velhas sanções hereditárias debaixo e por cima de tantos ecos indormidos o recalque da inaproveitada juventude os afagos de mãos diáfanas o ininterrupto adiamento das sensações os clarividentes sopros dos clarins de postergadas manhãs. Assim é que é aproximar liames e libidos beijos e abraços oníricos na longa noite dos prazeres recolhidos no corpo-e-alma das compulsões na doce entrega da procura na longa festa das núpcias compiladas de tantas noites indormidas – e mesmo assim vívidas na vida.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

FELICIDADE

No artigo “Uma Definição de Felicidade”, Stephen Kanitz (Revista VEJA de 22/06/2005) só falta dizer que em termos de relação amorosa é impossível ser feliz sem sofrer muito ou pouco, sempre ou de vez em quando. Mas deixa implícito que ninguém deve ir ao pote com sede demasiada, sabendo que ele é mais de barro do que o ser humano e, portanto, ainda mais quebrável. Sabiamente ele recomenda determinar sempre “a distância certa entre o que se tem e o que se quer ter...: uma distância nem exagerada nem tacanha”. Temos que saber ir, saber parar e até mesmo retroceder, às vezes. O afoito pode até conseguir bons momentos, mas pode cansar e causar maus momentos à outra pessoa. Ninguém é de ninguém, na vida tudo passa, como dizia a canção de Moacir Franco. Para ser livre, você tem que abrir os braços e dar liberdade a quem ama, ou seja, uma licença feliz na reciprocidade. “O casamento, no seu significado usual repugna-me”, diz Birkin a Gerald (personagens de D. H. Lawrence do romance “Mulheres Apaixonadas”). Comparado com ele, o egoismo a dois não é nada. É uma espécie de caçada feita por grupos de dois; o mundo todo aos pares, cada qual na sua casa, tratando de sua vida, cozinhando na intimidade.... Nunca vi coisa mais repelente sobre a face da terra”. Mas não há outra alternativa, e é preciso encontrar uma, os amigos concordam, desolados. Tenho certeza que a significação dos termos infidelidade e traição conjugais precisam ser revisados à luz de uma nova e melhor salubridade mental. Sabemos que os aparelhos sexuais masculinos e femininos de todos os seres vivos são espertos e estão para o que der e vier, como lá diz o chavão popular: “lavou está novo de novo”.A liberalidade sem a predisposição da censura social, judicial, moral, e despida de estúpidos exageros da libertinagem (descompostura,exibicionismo, assédio, estupro) é o perfeito sinônimo da secularmente decantada liberdade, sonho mais antigo da vivência humana. D.H.Lawrence ficou famoso quando publicou na Inglaterra seu belo romance “O Amante de Lady Chatterley”, otimamente refilmado agora na França. Na opinião dele todas as mulheres são apenas uma, a mesma de sempre. A esposa nem precisa enciumar-se. O que atrai o marido nas outras é algo que flui e reflui dela – pois sempre amou e amará apenas uma nos melhores momentos de cada uma. Resta saber se a reciprocidade é cabível. Todos os homens são o mesmo para cada mulher? Eis aí uma indagação considerável. Dá até sentido prático à declaração de Gerald a Gudrun: “se você não vivesse neste mundo eu não viveria também”. Infelizmente a sociedade humana estabeleceu outro código de convivência, indignando tantas pessoas de ambos os sexos, cerceadas nas intenções e nos sonhos de uma felicidade amorosa que, como disse, só se possibilita através do sofrimento. John Lennon em uma de suas melhores canções, replicou idoneamente, em fina e arguta sonoridade: “fizeram a gente acreditar na fórmula chamada “dois em um”: duas pessoas pensando e agindo igualmente sem nos contarem que onome disso é anulação, e que os indivíduos de personalidade própria podem ter relações saudáveis”.Falou com outras palavras, musicais, é claro.Na verdade, como está circulando no correio eletrônico, a liberdade pode ser nome de rua, de poema, de sonho, de conquista, mas é bem mais do que tudo isso quando rima com a realidade.

domingo, dezembro 16, 2007

OS ARRANHA-CÉUS DE HAI-KAIS

1 – Quase! O eterno retorno da ida incessante pelos atalhos de caminhos indeterminados: assim é a vida no mundo, sentida e transmitida por quatro pessoas, quatro olhares, quatro sentimentos, quatro juízos. Primeiro o feminino de Andréia Donadon Leal: a “fonte abandonada” no “tapete de pedras” e nas “rachaduras da terra”, de onde “voam pintassilgos... na branca paz do céu colorido”. As coisas e os seres sob o suave toque de mãos onde entre “folhas de camurças” brotam outras tantas flores celebrando tantos amores. Tudo assim belamente indeterminado e esvoaçante, deixando ao leitor a possibilidade de preencher as entrelinhas de outras suposições e tácitas conformidades. A “paixão natural” entre sanhaços e pérolas de mel e a frenética “dança dos bambus”, tudo assim “porto e solidão”, jardim plenamente habitável. Quase a perfeita felicidade. Do amor nascente, o nascimento da vida: “Os temperos de mãe” e a “menina de cachos negros”. 

2 – Enquanto Sol. Gabriel Bicalho, tendo como diz “a primavera em mim”, esquenta o verão na pele, morneja o outono na mansuetude, suportando o fogo na alma ao mandar “o inverno gelar o inferno”. As amadas “dos pés diminutos” (as gueixas) são luas e luares – assim como o galo que canta para acordar o Deus que sonhava. E do florilégio das “rosas para a musa”, ele escolhe as palavras da “hora mágica” do sarau, dos prazeres da alcova, da sensibilidade e dos instintos – ele procura a “musa marina” e encontra o “perfume do sândalo, na sala, onde se propala teu fogoso escândalo”. E depois (sonhando?), ele pensa “ver alguma sereia na areia, no corpo de espumas da pleiteada musa. Mas a espuma “na areia espuma e some, no mar, o nome de minha sereia” E assim: “Um instante, apenas,/ e foge o pássaro do hoje,/deixando-me as penas”. 

3 – Prenúncio de Chuva. A tônica do pesar poético de J. S. Ferreira aparece logo no começo de sua coletânea de hai-kais: “Ao amanhecer/ nas gaiolas dos vizinhos/ crianças e pássaros”. Depois: “À beira do rio/ chorei lágrimas a fio./ Saudade inundada”. Algumas páginas depois: “Apito dos trens,/ chegadas e despedidas,/ sorrisos e prantos” Adiante: “A mosca se bate/ contra o vidro da janela:/ cego desespero!” E “Qual pedras no rio/ velho jacaré espreita/ patos brincalhões” Mas “No costão das pedras/ a bromélia solitária/ oferece flores.” E a reabilitação otimista, na página 77: “Jardim nas sacadas,/ gerânios pelas janelas:/ poemas no ar” E assim é a Vida e o Mundo, na eufórica e tristonha dicotomia da Criação. O que seria do Verde se só existisse o amarelo? A Alegria não existiria se não existisse a Tristeza, não é mesmo? Nada melhor do que um dia depois do outro, pois. 

4 – Brejinho. As pequenas grandes coisas que “Borbulham as águas/ entre os gravetos do lago.../ Salta um lambari”. Assim o poeta J.B. Donadon-Leal discorre sua poética, quase que numa surdina discreta e eloqüente ao mesmo tempo. O fino dos estágios é a grandeza dos seres. O que tem vida fala – e o poeta ouve e traduz. Leiamos: “cedro rebrotado/ dança aos ventos de agosto:/ ninho de pardal”. “Mata sapecada” (é o que mais vemos hoje em dia, em toda parte):/ “cerrado em fim de inverno/ urubus no céu”. “Pequena lanterna,/ noite em breu e céu nublado:/ miolo de caos”. “Lagoa em silêncio.../ vem do mergulho do anzol/ o grito do peixe”. “Brota um capinzinho/ entre asfalto e meio-fio./ Por que desistir?” “Correm pelas ruas/ alguns moleques descalços,/ calçados de infância”. “Túnel de bambus/ sombreando o caminho/ das noivas de junho”. “Maciez de orquídea:/ brancas pétalas das deusas/ no Templo de Déia”. “Brejo de taboas.../Marrom silêncio esperando/ o pouso da garça”. Poesia sintética, como a da melhor emoção e da mais atenta leitura. Também o remédio a conta-gotas é sempre melhor, não é mesmo?

sexta-feira, dezembro 14, 2007

DE VEZ EM QUANDO

Antes só do que mal amado. O tempo enfeia as aparências, acutila os humores, destempera os guisados domingueiros. E já que não podemos fugir das sombras, que ponhamos logo nossas cãs ao sol. É preciso fechar o rosto de vez em quando, impor um certo respeito na bagunça, empurrar com a barriga as intempéries, beliscar o próprio braço para saber se já ou ainda estão dormentes.

HERANÇA GENÉTICA

Meu bisavô paterno casou com a sobrinha. Meu pai casou com uma tia. Os genes não descombinaram em nenhum dos casos. Vida longa e saudável para todos. Do primeiro casamento de meu pai com a tia, nasceu a filha que viveu cem anos. Do segundo, com a prima Constância, não deixou descendência mas criou sete filhos de outros pais, carentes. No terceiro casamento com minha mãe, ele tinha 50 anos e ela 15. Os quatro filhos ficaram órfãos na infância, sofreram outras dificuldades, menos as desculpas hereditárias.

INTENÇÃO POÉTICA

Evite poemas de circunstâncias e de encomendas. Só escreva o que ainda não foi escrito. O mundo é grande e Deus é maior. A sombra esconde tanta luz no emaranhado das palavras, que reclamam mais atenção do poeta para o que está intérdito e inédito. Haja lábia, pois. Os dias e os lugares são páginas em branco. Onde desaparecem tantos seres na morte em vida.

DISPOSIÇÃO ERÓTICA

As forças e as luzes corporais são mentais. Mexem e viram na necessidade de absorções. Só assim o desprendimento desamarra os tendões da inércia e da tensão e ajuda a viver a vida tão custosa.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

MINHAS QUERIDAS IRMÃS

Meu pai era filho único de uma família prolífera (os outros dez irmãos e irmãs de meu avô povoaram vastos recantos de Marilândia, São Sebastião do Oeste, Pedra do Indaiá e Divinópolis). Casou três vezes. Do primeiro casamento teve a filha Corina, que viveu quase cem anos, depois de estudar em Cláudio (entre suas colegas figurava a estadista Risoleta Neves, que iluminou a história política brasileira), de ser professora na Bocaina. Casou-se e viveu em Marilândia, Carmo da Mata e Belo Horizonte, onde deixou magníficos descendentes. Do segundo casamento meu pai não teve filhos, mas criou, com a esposa Constância Tavares, sua prima, sete filhos de outras famílias. No terceiro casamento, com mamãe, Isolina Gonçalves Guimarães, teve quatro filhos: a Devanir, eu, a Maria Vitória e a Maria José. Ele era fazendeiro, comerciante, veterinário, músico e poeta. Quando faleceu em 1941, deixou muitos bens imóveis e muitos problemas para minha mãe, que então não passava de uma moça nova e bonita, órfã de pai, desprotegida socialmente, habilitada nas prendas domésticas e nas artes de costureira de vestes femininas. Ela não soube e não pôde conservar os bens herdados (fazenda, sítio, casas). Os corruptos da época (políticos e autoridades) trapacearam na documentação dos inventários (possuo cópias) e apropriaram-se indevidamente dos bens da ingênua viúva e dos órfãos menores (eu tinha apenas seis anos de idade). Assim ela teve muita dificuldade para criar-nos com a dignidade que, graças a Ela e a Deus, contraímos e mantemos pela vida afora. A irmã Devanir (dois anos acima de mim) foi a que mais lutou e a que mais sofreu. Eu, um arrimo de família desde a mais tenra idade, tive que ir para Belo Horizonte, na adolescência, valendo-me da bondade de parentes para conseguir um trabalho de balconista e assim poder estudar à noite. A Devanir, na juventude, fez um Curso de Aperfeiçoamento Profissional nas escolas especializadas do Rosário e do Gafanhoto, para depois ocupar o cargo de Diretora da Escola Rural de Marilândia, então criada pelo governo estadual. A filha dela, Elaine, emprestou-me dela uma caderneta de anotações das colegas, na véspera da conclusão do Curso, quando todas iniciavam as recíprocas despedidas. As anotações são curiosas e interessantes, revelam o espírito de camaradagem que vigorava naquele ambiente purificado pela singeleza e o desprendimento e o patriotismo da mocidade da época (1950). O caderninho contém 52 páginas, apresentando em diversidades estilísticas as caligrafias e redações das lembranças e despedidas do fim do Curso, com a docilidade e a meiguice de cada uma das amigas e colegas. São de moças de Januária (Emilia Carneiro), Belo Horizonte (Maria José Dutra), Itaguara (Elza Nogueira Penido, Edite Gonçalves de Oliveira), Luz (Olinda Pereira Gontijo, Rita Cardoso), Cláudio (Maria Edite Frazão, Inês de Oliveira Rocha), Itapecerica (Irene Faria Mateus), Djalma Dutra (Lourdinha Vaz Bueno), Amadeu Lacerda (Gessi Assis), Santo Antônio do Monte (Alexandrina Lacerda), Araguari (Beatriz Teixeira), Betim (Ilda Tolentino Schmidt), São Sebastião do Paraíso (Maria de Lourdes Gaudi), Guapé (Onofras Vinhas, Terezinha Vinhas), Francisco Braz (Terezinha Raposo), Rio Preto (Creuza Salgado Lamanna, Ana Fagundes de Paula), Azurita (Ivone de Souza), Abaeté (Maria Eduarda Arruda), Dores do Indaiá (Orozina Maria, Maria Dalva Coelho), Divinópolis (Aurora, Maria do Carmo Vaz da Silva, Julieta, Geraldo Afonso Lima (professor), Elci de Oliveira, Martha Eugênia Silva, Frei Carlos Ofm. (professor), Maria de Lourdes Teixeira, Odi Silva, Maria Moura Mazinha e João Soares Teixeira (também professor). Todas as mensagens são espontâneas, amistosas, afetivas, provando que os vínculos eram realmente amistosos, afetivos, de boa e salutar convivência entre seres da mesma espécie e do mesmo estofo moral e psicológico. Exemplifico pinçando algumas: “Prezada Devanir. Aqui deixo o meu adeus e um abraço de sua muito sincera amiguinha, para que quando você abrir esta página, lembrares de mim” (Elza Nogueira Penido, Itaguara). “Querida Devanir, nada tenho a deixar para você, mas para que não esqueça de mim, deixo abaixo o meu endereço” (Ilda Tolentino, Betim). “Dêva, sua graça pessoal muito me cativou e mais ainda sua disposição para o trabalho. Tenho certeza que muitos são os que aproveitarão com sua instrução. Continue sempre assim.” (Maria de Lourdes, S. Sebastião do Paraíso). “Devanir, você deixou no endereço abaixo uma amiga, e nesta amiga uma saudade” (Martha Eugênia Silva, Divinópolis). “Devanir, siga o seu caminho, tendo como guia e exemplo a nossa Mãe M. S. Santíssima” (Maria de Lourdes Teixeira, Divinópolis, 7/9/50).

sexta-feira, dezembro 07, 2007

LAPINHA DE JESUS

De Lázaro Barreto e Adélia Prado. Texto de Natal inspirado nas esculturas de um Presépio Brasileiro de Frei Tiago Kamps – Editora VOZES de Petrópolis (RJ), 1969. 

Dois fragmentos de LB: 1 – O Belo Menino no Presépio. Não estou levando presentes: estou trazendo. Hoje todas as pessoas ganharam Dele, que veio consolar os aflitos, libertar os cativos, reaver a vista dos cegos, emancipar os oprimidos e refazer a tônica dos comportamentos humanos. As pastorinhas estão visitando os presépios e as lapinhas. E além delas os mocorongos e as folias de reis, a zabumba e o turundum, o carimbó e o marambiré, os reisados e as cheganças, os fandangos e os quilombos, os caboclinhos e os moçambiqueiros, os bainanás e as taieiras, os catopés e os foliões, os reis-de-boi e o maracatu, o guaiano e o lundu, os ternos-de-reis e as cantadeiras, os cacumbis e os santos-reis, a bernúncia e a jardineira e o bumba-meu-boi. É a festa no mundo inteiro do Brasil. Pois que se eu posso levar alguma coisa na vida, vou levar a Deus o meu AMOR AO PRÓXIMO. 

2 – Ecos de Guerra e de Paz. Estava mesmo ali uma tapera, a perseguição de malefícios no chão, que se esburacava ou subia no ar - e que depois revirava a vegetação e trazia as nuvens para dentro da palhoça e os tiros de canhões para o céu aberto da batalha campal. As árvores brigavam entre si, abrindo unhas e dentes aos fantoches da noite em pleno dia. E atrás da ex-linda armação das orquídeas os olhos da morte visavam, absolutos, os negros, estúpidos alvos ignorância, contra os inocentes sacrários da natureza Até a presença de um simples besouro causava pânico às crianças indefesas: podia ser um artefato, veneno metálico. E não raro, quando um pássaro pousava ou uma fruta caía, a nesga do chão rebentava, vulcânico. Encolhido, escondido no oco do pau-terra, Quem quer que seja perguntava: por que essa guerrilha toda? os homens que vem do norte e os que vem do sul: por que vem com a face da morte do norte e do sul? De repente uma luz macia alivia a dor de cabeça. E numa luz de nova força corpo humano ressente a alma. E os anjos descem das esferas endireitam o chão e a relva, carcomidos e revirados. Eu, que apartava o gado, parei na porteira. Não aparto mais, nunca mais! E dizia o que ouvia e ouvia o que dizia: “Venha o teu reino, Senhor tua vontade seja feita na terra como no céu”.

O SISTEMA CARCERÁRIO DE MINAS GERAIS

Revendo velhos papeis (muitos nem mesmo datados) de meus arquivos implacáveis (mas não tanto como os de João Condé da antiga revista O Cruzeiro), deparei com um texto dos anos 80, sob o título “Sugestões de Pesquisas Sociológicas a Serem Apresentadas” a um político então guindado a um alto posto da administração pública estadual, constituído (o texto) de uma carta e da relação das sugestões, conforme abaixo: – Sugestões de Projetos de Pesquisas. a) As Carências Sociais dos Municípios Mineiros. Primeira fase da pesquisa: “Remessa a todas as Prefeituras de questionários a serem respondidos e devolvidos em determinado prazo. As perguntas devem ser pertinentes e diretas, propiciando respostas claras e objetivas. Exemplos: Qual é a receita total do último ano? Qual a população total do último recenseamento? (tem-se aí a receita per capita populacional). Qual a verba destinada à saúde pública do último ano? (tem-se aí a verba per capita relativamente à saúde pública). Quais são os principais produtos que o município exporta para os outros municípios? Quais são os principais produtos que o município importa dos outros municípios? Qual a quilometragem das estradas municipais e qual a verba destinada para a sua conservação? (tem-se aí o valor/quilômetro dó sistema viário municipal, para o confronto com o dos outros municípios). A evasão populacional é motivada preponderantemente por desemprego ou por falta de condições educacionais? O índice de criminalidade tem aumentado ou diminuído nos últimos cinco anos? As áreas de esporte e lazer têm aumentado proporcionalmente ao aumento da população? A Prefeitura participa diretamente de quais festas populares? Há indícios de que a cultura popular tem sido preservada ou descaracterizada nos últimos anos? O que o Governo Estadual pode fazer para contribuir no esforço de solução desses problemas, independentemente da reforma tributária em andamento no Congresso? Etc. Segunda Fase da Pesquisa: Visitar as Prefeituras mais problemáticas e as que não atenderem plausivelmente as solicitações do questionário. Terceira fase: Reunir todos os questionários devolvidos, proceder uma tabulação estatística, apurar as constantes e variáveis, montar um quadro genérico da problemática, localizando as causas e efeitos, sugerindo medidas solucionadoras. b) As Carências Funcionais do Sistema Carcerário do Estado. Primeira fase: Remessa aos órgãos carcerários subordinados à Secretaria de questionários a serem respondidos e devolvidos num determinado prazo. As perguntas devem ser pertinentes e diretas, propiciando respostas claras e objetivas. Exemplos: qual é a área em m2 dos dormitórios e qual é o número atual de prisioneiros? Qual é a ocupação diurna dos prisioneiros? E a ocupação noturna? Qual é o tipo de trabalho preponderante? Como é calculada a remuneração desse trabalho? Qual é o tipo de esporte preponderante? e o lazer preponderante? Existe algum tipo de ensino regular visando a reeducação de prisioneiros? Quantos livros existem na biblioteca do presídio? O tratamento de saúde dos presos é precário ou satisfatório?Quantos assassinatos aconteceram no presídio nos últimos cinco anos? Quantas fugas? O que acha que pode ser feito para minimizar os efeitos negativos da abstinência sexual forçada dos presos? (este item deve ser submetido, também, a educadores, psicólogos etc). O que recomenda como prioritário para melhormente humanizar esses sistema carcerário? Etc. Segunda Fase: Visitar os presídios mais problemáticos e os que não atenderem plausivelmente as solicitações do questionário. Terceira Fase: Reunir todos os questionários devolvidos, proceder uma tabulação estatística,apurar as constantes e variáveis, montar um quadro genérico da problemática, localizar as causas e efeitos, sugerindo medidas solucionadoras. c) As Carências Funcionais das Comarcas Judiciárias do Estado. Primeira Fase:remessa a todas as Comarcas de questionários a serem respondidos e devolvidos num determinado prazo. As perguntas devem ser pertinentes e diretas, propiciando respostas claras e objetivas. Exemplos: o andamento dos Processos nessa Comarca é rápido ou moroso? Qual é a causa da morosidade, se for o caso? Quantos processos instaurados e em tramitação existem atualmente na Comarca? A morosidade implica em prejuízo de que natureza? O que recomenda para agilizar o andamento? Qual o custo estimado para adotar tal agilização? Etc. Segunda Fase: visitar as Comarcas mais problemáticas e as que não atenderem plausivelmente as solicitações do questionário. Terceira Fase: Reunir todos os questionários devolvidos, proceder uma tabulação estatística, apurar as constantes e variáveis, montar um quadro genérico da problemática, localizando as causas e efeitos, sugerindo medidas solucionadoras. Finis Operis. Todo esse trabalho, oferecido de graça, não mereceu uma linha ou uma palavra sequer do destinatário, como resposta (amistosa ou mesmo burocrática). Seria tão desprezível assim ou o pessoal da área estava querendo mesmo era sombra e água (que o gato não bebe?) fresca? Temos certeza que o problema carcerário persiste - e cada vez mais agudo, chegando aos limites de uma calamidade, tendo em vista a formação de quadrilhas do chamado Crime Organizado nas Penitenciárias, que são extensões dos Cárceres. ADENDO EM NOVEMBRO DE 2007: Depois dos diabólicos acontecimentos de encarceramentos de mulheres em jaulas presidiárias masculinas, no degradado estado do Pará, para satisfazer a tara dos monstros condenados por Deus e pelos mortais, o Governo, sempre boquiaberto, acorda da letargia e admite publicamente que o sistema presidiário brasileiro precisa ser reformado, urgentemente. E assim o texto acima, escrito e inédito há anos, agora se ajusta ainda mais à necessidade de sua publicação. O intuito é contribuir com sugestões e não com argumentação persuasiva, uma vez que as atuais técnicas de pesquisas estão muito mais aperfeiçoadas do que as que eu timidamente dispunha na época.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

PASSEIO A PORTUGAL

A índole amável das pessoas salta aos olhos e ouvidos através das fisionomias prazerosas das conversações e informações, confirmando os versos de um dos fados de Amália Rodrigues, que fala mais ou menos assim: “Numa casa portuguesa fica bem/ Pão e vinho sobre a mesa./ Fica bem essa franqueza, fica bem/ Que o povo nunca desmente./ Pois a alegria da pobreza/ É esta grande riqueza/ De dar e ficar contente./ Quatro paredes caiadas/ E um ramo de alecrim/ Um cacho de uvas douradas/ E uma rosa no jardim./ Um São José de azulejos/ Sob um sol de primavera./ Uma promessa de beijos/ Dois braços à minha espera...”. 

A impressão que temos dos lugares e das pessoas é de uma certa perenidade nos temperos e temperaturas, como se notássemos que a mocidade de tudo e de todos prevalece no paladar e na digestão, por assim dizer. As semelhanças e diferenças com nós, brasileiros? Ah, penso que são mais etmológicas do que genéticas. A mesma língua, a mesma linguagem, a mesma denominação dos lugares e das pessoas. A diferença é que, no meu entender, paternalmente, descendemos dos portugueses, mas maternalmente somos mais filhos das ameríndias e africanas do que das portuguesas. Os nomes são portugueses, mas as feições são miscigenadas. Se eles nos devem o ouro que remediou tantos males deles e embelezou tanto suas paisagens, acalentamos, também, o nosso sentimento de gratidão. 

O historiador mineiro José Murilo de Carvalho, em entrevista à Folha de São Paulo (de 25/11/07), julga “positiva a recuperação das imagens de Dom João VI e da Princesa Carlota Joaquina..., deslealmente caricaturadas no filme de Carla Camurati”. Sem a vinda da família Real em 1808, ele acrescenta: “o Brasil com certeza não existiria: a Colônia se fragmentaria, como se fragmentou a parte espanhola da América. Teríamos, em vez do Brasil de hoje, cinco ou seis países distintos (...). A grande diferença em relação à América espanhola foi a manutenção da unidade da colônia portuguesa e a monarquia... Daí veio o Brasil de hoje. Se para o bem ou para o mal, é Guimarães Rosa quem decide: “pãos ou pães, questão de opiniães”. 

Portugal é a mais antiga Nação-Estado da Europa. Lisboa, a cidade da foz do Tejo, possui dois milhões e meio de habitantes, longas avenidas, belas esplanadas de palmeiras, oito séculos de história. Os edifícios crescem horizontalmente e não verticalmente, como os de nossas grandes cidades. As construções, de um modo geral, não destoam do estilo e dos motivos manuelinos explícitos na Torre de Belém e no Mosteiro dos Jerónimos: flores, serpentes, cordas torcidas, âncoras – uma explosão renascentista. A arte religiosa (escultórica-pictórica), na minha modesta opinião, é a mais expressiva, a mais viva de todas. É nela que, além do primor estético, sobressai o valor da piedade humana copiada, por assim dizer, da piedade divina, na qual o próprio cotidiano pleiteia alçar ao patamar da transcendência. 

LISBOA: a constante arquitetura manuelina de linhas retas e de equilíbrio contínuo, sem a diferenciação entre edifícios comerciais e residenciais que se alinham uniformemente na altura e também no emendamento horizontal. É assim que se perfaz a inteireza dos quarteirões sem os espaços vagos, impregnando o apego tradicional do adereço embelezador, de forma a não contrastar o estilo clássico do moderno na conjuntura , com as ressalvas maravilhosas, claro, de soberbas edificações e dos becos sinuosos em toda a cidade de tantos monumentos políticos e tantos sacrários religiosos, além das praças e jardins e museus e escadarias – e o fabuloso Oceanário (o segundo maior aquário do mundo) com seus tanques diáfanos exibindo a revoada de animais marinhos (lontras, tubarões, arraias, garoupas, anêmonas, polvos, pingüins, focas, ouriços, todas as espécies em nuvens como que celestiais de águas ajardinadas por tantos seres vivos, tão vivos e fagueiros quanto a impressão que dão). 

PORTO: A cidade consegue ser mais bonita e aconchegante do que Lisboa. O Douro com suas águas douradas, repletas de gaivotas, barcos e olhares turísticos na doçura de um sereno deslizar pela tessitura melodiosa das margens em forma de ilhas. Porto, ah Porto, suas colinas cobertas de parreiras, o centro histórico tombado pelo Patrimônio Histórico da Humanidade, através da UNESCO. A Ponte Dom Luiz I no estilo da Torre Eiffel de Paris; a Igreja de São Francisco de 200 quilos de ouro no altar, com a belíssima Arvore de Jessé numa das paredes e as Catacumbas antigas anexadas; a Igreja dos Clérigos com a Torre (na qual subimos) e que é uma das edificações mais alta de Portugal: ah, quem a construiu, agradecendo a Deus, beneficiou seus semelhantes de todas as épocas, perenizando, assim, o amor das Criaturas ao Criador. O Museu Romântico (sem o ranço das coisas meramente antigas) ostenta dentro e em seus arredores o Jardim do Palácio de Cristal e um bosque de plátanos - todo o recanto repleto de aquarelas estéticas e ecologicamente perfeitas. 

COIMBRA: Demoramos em Coimbra, é claro, andando em suas ruas curvas e morros íngremes, bisbilhotando todo o campus da famosa Universidade e, depois, na viagem até Guimarães, apreciando das janelas da locomotiva a vegetação vigorosa, úmida, vívida, sintonizando o casario marginal da ferrovia, possuído das mesmas tonalidades cromáticas da salubridade agrícola. As edificações conservam o viço nas paredes e telhados como as árvores nos troncos e nas folhas – como se a temperatura-ambiente conservasse e não desgastasse a contextura do que é natural no artificial e vice-versa. Como se a ação temporal do sol e da chuva não descolorisse nem envelhecesse, não queimasse nem apodrecesse. Mas para falar de Coimbra e de sua famosa Fonte das Lágrimas, nada melhor do que transcrever (de memória) a letra de outro fado eternizado pela Amália Rodrigues: “Coimbra de choupal/ Ainda és capital/ do amor em Portugal/Ainda. Coimbra, onde uma vez/ Com lágrimas se fez/ A história desta Inês/ Tão linda./ Coimbra é uma lição/ De sonho e tradição/ O Lente é uma canção/ E a lua, a Faculdade/ O livro é uma mulher/ Só passar quem souber/ E aprende-se a dizer Saudade./Coimbra dos doutores/ Pra nós os teus cantores/ A Fonte dos Amores/ És tu./ Coimbra das canções/ Coimbra que nos põe/ Os nossos corações/ A nu.... Coimbra é Portugal, a terra dos poetas da estirpe de Camões, José Régio, Fernando Pessoa, Ana Hatherly e Tantos Outros. 

GUIMARÃES: terra natal de meus antepassados paternos e maternos: os Barretos, os Castros e os Guimarães (ver o livro “A Família Oliveira Barreto”). A cidade é considerada o berço da nação portuguesa: em 1139 o primeiro Rei de Portugal Afonso Henriques escolheu-a para ser a Capital do País - e por conservar os monumentos de sua história (o Centro Histórico, o Castelo de Guimarães, o Paço dos Duques, a Igreja Nossa Senhora da Oliveira, os Museus e suas ruas estreitas de bairro medieval), é hoje Patrimônio da Humanidade. Infelizmente estava chovendo no dia em que lá estivemos e seus imóveis históricos estavam fechados. Mas tive acesso aos arquivos genealógicos da Câmara Municipal, onde consegui, além de endereços eletrônicos (e-mails e sites), muitos dados até então ausentes de minhas pesquisas. 

 SINTRA: um colírio para os olhos do turista já agraciado pelas magníficas imagens da antropogeografia portuguesa. A cidade se expande em vilas unidas por caminhos que rodeiam as montanhas densamente florestais. Os sacrários construídos pela natureza e pela mão humana são amplamente conciliados e vistosos e saudáveis. Visitamos o Parque e o Palácio da Pena – e ficamos maravilhados. O tempo foi escasso e não pudemos ir ao Castelo dos Mouros, exoticamente instalado entre muralhas e penedos, de feições igualmente mouriscas. Belezas de se tirar o chapéu e persignar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A viagem seguia a programação, que previa uma esticada até Barcelona ou à República Tcheca, mas gostamos tanto de Portugal, que decidimos permanecer no país, regalando-nos com as surpresas (as deliciosas descobertas) de tantas paisagens como que inventadas pelo gênio de Manuel Bandeira em um de seus poemas. E mesmo assim deixamos de conhecer outras tantas partes atraentes como as do Minho, do Alentejo, de Braga, Évora, Setúbal, Aveiro, Queluz e Mafra - com seu palácio de 40.000 metros quadrados de construção, 4.300 portas e janelas, 880 salas e um corredor de 232 metros. Assim é Portugal, e muito mais.