MANSUETUDE
(À I. B. B.)
(À I. B. B.)
Meu primeiro e longo período de sonhos repetitivos foi o das intermináveis e volumosas enchentes de dois rios emendando-se e inundando toda uma região, alagando e até mudando a paisagem de serras e matas, esparsas habitações e plantações roceiras, formando um lago quase marítimo em movimento de corredeiras avassaladoras. Acordava apavorado com o estrépito das águas avançando nas pedras e no arvoredo, derrubando e cobrindo tudo que encontrava na frente e nas beiradas. Atônito ao despertar, demorava a recuperar a tranqüilidade e reconciliar o sono. Lembro-me que só consegui dissipar a neurose muito tempo depois, quando descobri que a significação da enchente seria a representação onírica da destruição definitiva de uma paisagem na qual vivi os anos que deveriam ter sido os melhores de minha vida, apesar do sentimento de exílio (in)voluntário que então me acometia. Passei o que deveria ser a fase áurea de minha juventude (dos 19 aos 24 anos de idade) num acampamento das obras de construção da (na época, década de 50) a maior usina hidrelétrica de Minas Gerais, exercendo as funções de encarregado do laboratório de concretagem, depois a de auxiliar de escritório, depois a de chefe da seção do pessoal, acrescida da de controlador de uma agência de táxis aéreos e, além de tudo, nas horas vagas, jogar futebol (quando aprendi a chutar com o pé esquerdo) e projetar filmes em sessões noturnas ao ar livre das diversas vilas dos trabalhadores das obras. E lia a Bíblia, a História da Civilização de Will Durant, muitos bons autores de poesia e de ficção. E era correspondente do jornal da Empresa e mantinha contato e de certa forma participava do movimento literário de vanguarda da chamada Geração Complemento, de Belo Horizonte. Descrevi em detalhes todo o arrasamento daquela região quando, muitos anos depois, escrevi o romance (ainda inédito) BARRA FUNDA, o que certamente representou uma espécie de purgação da experiência de ter ficado, sem a imensa e demorada paisagem da juventude, quando as barragens em dois grandes rios foram fechadas – e toda a região onde vivi virou a paisagem líquida de uma espécie de mar fluvial. Sei não, mas parece que representava para mim, instintivamente, uma referência como se toda a minha juventude tivesse sido anulada, varrida de meu mapa existencial. Passei a sentir, depois da escritura do texto, um certo alivio mental, uma espécie de limpeza psíquica – e assim a algaravia onírica que me acometia cessou – e voltei a dormir normalmente o sono dos justos e inocentes. Passado muito tempo, outra chusma de sonhos repetitivos voltou a incomodar-me. Começou quando iniciei, já no começo deste século a pesquisar os dados de minha ascendência , um trabalho genealógico que tem começo mas geralmente não tem fim. No decorrer do demorado trabalho passei a sonhar com paisagens completamente desconhecidas de minha extensa e salpicada vivência em lugares e cidades diferentes. As paisagens da região sonhada eram sempre as mesmas, localizadas no meio rural, desbastadas pela mineração e pelo desmatamento, repletas de descuidadas estradas, cercas de arame farpado, valos, águas paradas e correntes, porteiras e tronqueiras, barrancos e erosões em toda parte. Em toda a parte a profusão de gente estranha, feia e mal vestida, com a qual tento informar-me sobre o que procuro, que eu mesmo não sei bem o quê. Tudo muito estranho e desestimulador. Atribulado diante da impossibilidade de identificar e definir as personagens e as paisagens, desanimava-me às vezes sem saber explicar o poder onírico que possuía de, assim, inventar pessoas e lugares. E assim chego ao ponto de invocar a preocupação que sempre tive a respeito de um certo mistério da vida de alguns antepassados, principalmente meu pai, que faleceu quando eu completava seis anos de idade, deixando-me com três irmãs e minha mãe, que tinha sido a terceira esposa dele. Com a primeira teve uma filha, que faleceu há pouco depois de completar cem anos de vida. Com a segunda não teve nenhum filho, mas criou com ela sete órfãos, da infância ao casamento de cada um deles. Soube que levou uma vida movimentada, trabalhosa e criativa (era homeopata e zelador da igreja e lia os livros que deixou, não só em língua portuguesa como em latim e francesa) e, até mesmo romanesca. A mãe dele, minha avó, que cheguei a conhecer e que viveu mais de cem anos, nunca saiu de minha lembrança. A vida dela permanece envolta em lendas e difusas indicações genealógicas. Teria sido encontrada (perdida,na infância) num dos caminhos dos tropeiros do antigo Japão Grande, hoje Carmópolis, recolhida e levada e entregue ao meu bisavô, patrão dos tropeiros que levavam toucinho e carne salgada, rapaduras e cachaça para a cidade portuária de Paraty, estado do Rio, de onde traziam para o antigo Arraial do Desterro (hoje Marilândia), produtos importados (tecidos, remédios, querosene). A menina, Maria Tereza de Jesus, depois de crescida, casou-se com o filho de meu bisavô que a criou e do enlace deles só teve um filho, meu pai. Tentando desvendar a veracidade ou não da origem obscura dela, acabei constatando em dados inventariados em cartórios e livros e informações de outros pesquisadores que ela seria neta de uma das irmãs de Tiradentes, cuja família esparramou-se nos sertões mineiros, fugindo das penalizações que atingiram os inconfidentes e familiares. Como até hoje não consegui elucidar o mistério, fico “viajando”, constantemente, em sonhos pelos caminhos antigos e ignorados, como disse, encontrando pessoas antigas e ignoradas, na esperança de chegar a uma conclusão satisfatória e definitiva, que no próprio sonho não seja qual seja, mas que, lucidamente penso que assim poderei (quem sabe?), esclarecer as nebulosas origens de minha querida e saudosa avó, que já mereceu de minha parte um conto: “A Velha a Fiar”, ainda inédito. Estive pensando se a obra de Freud pode explicar essa prerrogativa onírica de um subconsciente tão ativo assim, com o poder de inventar e projetar estórias com os respectivos cenários e personagens, dando aos sonhos uma espécie de vida fictícia e ao mesmo tempo autônoma. Sei que a atividade onírica tem sua própria funcionalidade, segue uma trajetória de aventuras, lembranças e premonições, independentemente da vontade lúcida do sonhador. Este, quando acorda, lembra as peripécias vividas oniricamente, pode até espantar-se com o realismo do que involuntariamente viveu em sonho, na escuridão do silêncio. Mas qual é o elo que liga a realidade ao sonho? O que ocasiona um sonho e não outro na infinidade de vivências anteriores? Vamos ver se Freud explica. Através de Jean Paul Sartre ele diz no livro “Freud, Além da Alma”, que muitos portadores de neuroses (e quem não é?) “são perturbados por forças psíquicas de que não tem consciência. O inconsciente é real, tirânico, mas é de natureza imperceptível”. Age nos bastidores da vida humana. Todo sonho quer dizer alguma coisa a quem sonha: é uma neurose pequena, segundo Freud. É “uma solução conciliatória entre a vontade de dormir e um desejo profundo que quer se satisfazer”. Assim ele acrescenta no referido texto sartriano. No capítulo “A História do Movimento Psicanalítico (do livro PENSADORES, editora Abril Cultural, 1994, São Paulo, SP), página 118, o próprio Freud explica: “Os sonhos trazem à tona recordações que o sonhador esqueceu, que lhe são inacessíveis quando está acordado(...). Além disso, os sonhos trazem à luz material que não pode ser originado nem da vida de quem sonha nem de sua infância esquecida. Somos obrigados a considerá-lo parte de “herança arcaica” que uma criança traz consigo no mundo, antes de qualquer experiência própria, influenciada pelas experiências de seus antepassados”. Explicação cabal, não? Mas vale continuar pesquisando.
(Paráfrase de um poema de Roberto Fernandez Retamar, traduzido do castelhano por Marco Antônio C. Guimarães e publicado no jornal literário AGORA, de Divinópolis, MG, na edição de março de 1969, e republicado por mim em forma de paráfrase no livro “Mel e Veneno” (Edições Expresso, Divinópolis, 1984).
Não sofreram mãe demente, pai alcóolatra,
filho delinquente
Não amargaram a casa de
parentes,
nem choraram uma doença
incurável.
Esbanjando roupas e sapatos,
Eles vivem os inumeráveis
rostos da alegria,
atravessam crises e epidemias
incólumes,
eles que nasceram com a bunda
para a lua.
Eles de carro esporte e elas
de fio dental,
homens vestidos de trovão e
mulheres de relâmpagos,
altos funcionários, se querem
um emprego,
elegantes pleibóis, se não
querem.
São felizes como as aves, o
estrume, os chafarizes.
Mas que deem passagem aos que
fazem os mundos,
que não estorvem os criadores
de palavras sinfônicas
e outros sonhos.
Que não barrem a passagem dos
que são
mais dementes que as mães,
mais bêbados que os pais
mais delinquentes que os
filhos
e muito mais devorados por
amores calcinantes.
Que a esses réprobos devoradores
de paixões,
deixem ao menos deixem um
lugar no inferno.
É o quanto basta.
À memória de Sebastião Benfica Milagre. À semelhança dos antigos moradores do arraial mineiro, que não comiam nada amanhecido (duros na queda, eles eram!), que pediam água à mulher na janela: não pela água, mas pela formosa mulher, assim Ele, já senil e débil, reassume a juventude possuído de nova força e de renovada lucidez. Pertinaz enamorado da virtude, ei-lo a procurar as ínvias regiões agrestes, oferecendo justiça e socorro aos desvalidos e necessitados. Assim, mesmo moído de pancadas e calúnias, nunca se rende aos vilões. Montado no rocinante trotão e cochilento, ele, flor e espelho da cavalaria andante, açoite incansável aos detentores da maldade, afrontador de perigos, desfazedor de agravos, assombro dos gigantes, amparo dos inocentes, ei-lo, às vezes com os miolos já minguados, a investir contra os moinhos de vento, e por engano contra as pias procissões dos penitentes, às vezes arvorando o bordão, manejando os golpes contra os bandidos das quinze bandas, inspirado, ah! inspirado pela doce beleza de Dulcinéia. Ah! Assim ele esmaga os endriagos e as serpentes, não poupa a vida, para ganhá-la.
O quintal de minha casa, bem extenso e todo arborizado, perto do rio e desfrutando de subterrânea umidade e não longe de uma siderurgia com seus altos fornos fumegando a irreparável sujidade, é um celeiro de pássaros sobreviventes de toda uma região desmatada, ou seja, transformada em carvão para os fornos da rude siderurgia. Os cantos e vôos sobre a casa e no meio das árvores do quintal e nas folhas que encobrem o chão-viveiro de minhocas. Fico às vezes arremedando em assobios os cantos e piados dos bentivis e sabiás e rolinhas, atraindo a plêiade deles que freqüenta as árvores e mesas de cimento-armado e o chão onde se fartam de frutas, rações e minhocas. Fico lembrando de minha infância rural, vivendo numa espaçosa casa, com as portas da frente dando para uma rua toda gramada e arborizada e as dos fundos abrindo-se com as janelas para o denso e extenso quintal de múltiplo e diversificado arvoredo. O pomar na parte de cima, com as bananeiras, laranjeiras e mexeriqueiras, os trinta e cinco pés de robustos e altaneiros pés de jabuticabas, as mangueiras de várias qualidades, os cajueiros, um jambeiro e uma parreira de uvas, as pitangueiras, articunzinhos e ameixeiras, pés de limas, limões e romãs – e dezenas de pés de café, sem falar nos lugares destinados ao paiol dos mantimentos, no galinheiro com os varais de pouso e no chiqueiro para a engorda de capados, além dos porões de nossa casa e da de minha avó paterna, ( uma casa imensa e abandonada). Uma festa para a meninada amiga da gente e também para os pássaros e aves servidos de comida com fartura. Foi lá, naquele tempo, que aprendi arremedar os pássaros nos cantares chamando chuva no tempo da seca e sol no tempo das águas. A parte de baixo do quintal era destinada ao plantio e colheita de milho, feijão, abóboras, favas, quiabos e outras verduras. Era bom e útil aprender com os passarinhos os cantos da existência, livre e desprendida, fugaz e constante ao mesmo tempo em todas as horas do dia, desde o romper da madrugada até o escoar da claridade solar, quando a lua e as estrelas do nosso descanso adormeciam a faina vivencial dos seres e das circunstâncias. A parte do lado de fora da casa, vinha a rua larga e repleta de magníficas magnólias e bilosqueiras: era outro pedaço do pequeno paraíso de nossa terra. Os passarinhos do quintal e da rua voavam, saudáveis, pousavam e cantavam em contínuas revoadas. Fico lembrando das andorinhas, dos sabiás, pássaros-pretos, pardais, rolinhas brancas e escuras, tico-ticos, canarinhos e pintassilgos, curiós, as siriemas, as trocais, os jacus, os urubus, os azulões, acauãs, papagaios, periquitos, maitacas, joão-de-barros, pica-paus, beija-flores e, mais longe dali, no valo do quintal e na capoeira da Fontinha, as juritis e os nhambus, os sanhaços e gaviões, os curiangos, as perdizes, os chamados frangos d’água, os paturis e tantos outros de nomes agora esquecidos. Lembro-me que, infelizmente, os mais robustos (carnudos) e também os mais canoros era perseguidos, atraídos e presos em laços de barbante, alçapões de bambus, arapucas e visgos por pessoas (adultas e crianças) de maus bofes, como se diz. Mesmo assim a passarada era uma festa nas redondezas do arraial e não apenas nos fundos de nossa casa. Nas matas adjacentes dos lugares chamados Buracão, Presa, Fonte Grande, Fontinha, Corgo Areiado, Narciso, Lavapés, Volta do Brejo – e também nos capões de mato e nas capoeiras das quinze bandas: em todo lugar da roça a vida era muito natural, ninguém castigava ou destruía a parte animal e vegetal da vida animal, exceto os caçadores, pescadores e açougueiros e também as donas de casas matadeiras de frangos e galinhas. Depois, anos depois, foi que em nome de um pretendido e contundente desenvolvimento civilizatório que a paisagem está assim desertificando, o solo esterilizando, o ar intumescendo, tudo isso a demarcar o primado da poluição planetária. Depois dos males veio pior: o êxodo rural e assim os sítios e fazendas viraram chácara de lazer para o repasto dos finais de semana dos comerciantes e industriários e empresários e políticos dos centros urbanos. Tornaram-se meros viveiros de novas riquezas e pobrezas. Assim como que expulso de meu gostoso e inocente habitat, fui para bem longe, envolvendo-me em outros aprendizados, por critérios de vocação e de necessidade. Corri mundo, anos a fio, armazenando vivências de estímulos e de aflições. Vi e senti a diferença ente o realismo e a fantasia, ferindo-me mais do que deliciando-me com o que o mundo podia oferecer-me longe da inocência das árvores, das aves, dos animais e das pessoas abençoadas pela poesia da natureza, agora tão mutilada em sua pureza. Haja Deus!
A Vitalidade Sustentável do Planeta. Diante da constatação de que as mulheres de hoje estão controlando a natalidade, no afã de conceberem apenas dois filhos per capita, a revista VEJA de 07/07/2010 retrata a demografia com a reportagem “O Mundo Salvo Pelas Mulheres”, citando o vaticínio de Thomas Malthus de que a humanidade não se sustentaria ao longo do tempo “com gente de mais e comida de menos”. Isso ele afirmou em 1798, mas hoje o retrato planetário está menos ameaçado de ruína, face aos novos dados estatísticos relacionando “a emissão e consumo do dióxido de carbono (principal gás causador do aquecimento global): metade das emissões no mundo é produzida por apenas 7% da população, justamente nos países mais ricos”, ou seja, “as emissões de um americano equivalem a de quatro chineses, vinte indianos, quarenta nigerianos e 250 etíopes”. Daí a conclusão inequívoca de que a sobrevivência da vida no planeta só será tranqüila se os ricos aprenderem com os pobres em muitas questões, principalmente nesta. Inundações Catastróficas. Sobre as inundações no Nordeste, a urbanista titulada Fátima de Gusmão Furtado critica os governos politiqueiros que fazem obras públicas para obter votos eleitorais – e deixam de fazer conservações nas mesmas porque isso não dá visibilidade eleitoral. “Não adianta fazer as obras se elas não forem bem conservadas. Precisamos criar a cultura da conservação nas cidades e nos estados”. Nossa Divinópolis é um dos maus exemplos: as ruas e o esgoto a céu aberto que é o rio estão sempre em petição de miséria. Clama aos céus e aos poderes públicos – e ninguém atende. As precariedades propiciam o fenômeno atmosférico, que “além das enchentes”, ela acrescenta, “deixou 26 mil desabrigados no Rio Grande do Norte, 25 mil no Maranhão, 17 mil no Ceará, 40 mil em Alagoas e 6 mil no Piauí”. Absurdo ainda maior é o do descaso dos (dês)governantes para com os habitantes. Os dados sobre as vítimas é do escritor Raimundo Carreiro,: “Não é exagero dizer: o Nordeste está nu. Mas não fechem os olhos, por favor”. As citações desta nota foram favorecidas pelo caderno “Aliás” do jornal “Estado de São Paulo” de 03/07/2010. BH Violenta. Quando lembro da cidade de Belo Horizonte de minha adolescência, que vivi lá, fico estarrecido com a situação que hoje prepondera, lá. Da cidade amável e pitoresca, pacífica e poética, passou a ser a metrópole entupida de automóveis e de pessoas, muitas das quais deselegantes, deseducadas e mal-encaradas, mormente em muitas das ruas centrais e periféricas. Uma cidade que se tornou perigosa, sem dúvida. E pensar que eu, dos 12 aos 18 anos, passeava no centro e nos bairros em todas a horas de folga que obtinha, depois das jornadas de trabalho diurno e de estudo noturno. Conheci todos os bairros da época, indo e voltando de bonde em bonde daqueles lugares e tempos tão aprazíveis. Sentir que hoje é palco de crimes escabrosos é de chocar o coração. Ainda possui seus recantos bucólicos, que ainda conservam uma boa distância dos limites intoleráveis. Mas seus pontos e picos nevrálgicos e ferinos abrem manchetes nos jornais, manchando sua boa tradição como palco de crimes hediondos. Um empresário realiza uma festa num apartamento de luxo na zona nobre da cidade e, em certo momento, esfaqueia, mata e corta as cabeças de dois convidados, separando-as das outras partes dos corpos. Depois o noticiário novamente enlameado do sangue de sete mulheres estupradas e assassinadas por um tarado com requintes de satânica crueldade. E agora vem a tragédia da moça seduzida, engravidada, abandonada, castigada e, segundo a imprensa dos dias que correm, assassinada, esquartejada, desossada e com (ah, é até horrível de escrever e de ler) outros pormenores da infâmia. Penso até que o Diabo, como é geralmente pintado, é fichinha perto dos hediondos autores de crimes tão macabros como os citados neste texto (melhor diria neste clima fedendo a chifre (demoníaco) queimado. Perdão, leitores.
Compilação de Lázaro Barreto
Que Copa do Mundo de futebol mais desgracioso, mirrado, catimbado, contundente. Toda preenchida em campos infestados de buzinaço irritante e de jogadores botineiros, ineptos, peladeiros. Algumas exceções num quadro tão deplorável? Ah, sim, alguns jogadores das seleções da Alemanha, da Inglaterra, da Espanha, da Holanda, da Argentina e de Portugal. Na do Brasil o descrédito do tal de “futebol de resultados” (afinal o jogo é de víspora ou de baralho?) do tal de Dunga, é de espicaçar a paciência. Estou escrevendo antes dos prélios finais, para falar do que vi e não gostei de quase todos os jogos que acompanhei pela TV. A nossa seleção (nossa?) enxovalhou o renome das anteriores que tanto brilharam em outras temporadas arrebatadoras. Com excessão de Lúcio e Maicon (e de quem mais?), o time pisou na bola o e nos pés dos adversários o tempo todo (os árbitros nem sabiam se os jogos eram de futebol ou de luta livre?). Como aficcionado da arte esportiva, senti muita saudade dos craques de um passado ainda recente, que cito de memória (e nela vendo-os jogar): Raul, Danilo, Zizinho, Jair da Rosa Pinto, Jairzinho, Garrincha, Nilton Santos, Pelé, Tostão, Djalma Santos, Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Quarentinha, Gerson, Rivelino, Sócrates, Didi, Ronaldo (o fenômeno) e Ronaldinho Gaúcho. Futebol de classe refinada para todos os torcedores do Brasil e do Mundo. Com eles, sim, uma Copa do Mundo era um espetáculo grandioso. - Um amigo passou-me o dito de T. S. Eliot, que eu desconhecia e que agora tenho o prazer de repassar: “das arengas que tenho com as outras pessoas, faço prosa: das que tenho comigo mesmo, faço poesia.”. - Os casos de desvio de verbas públicas, no Brasil, caíram na rotina de tal maneira que ninguém espinafra mais, ninguém contesta, ninguém se importa. É a banalização da criminalidade. Cruz credo! - Às vezes fico pensando como seria bom e alegre, respirável e tranqüilizante, se conseguíssemos livrar-nos da praga lulista que assola o país. Confiávamos na chapa eleitoral Aécio-Serra ou Serra-Aécio – mas parece que o boi foi embora com a corda e tudo, como se diz. Ficamos agora na dúvida. Até quando teremos que suportar os desmandos, os desvios de verbas, os maus exemplos que vêm de cima? Deus, se existe, conforme rezam os beatos, não pode será brasileiro, nem ver. - Tsunami no Nordeste. Em Alagoas 20.000 imóveis e 50 pontes foram destruídos. Em Pernambuco, foram 11.400 casas e 79 pontes. Os prejuízos com infra-estrutura são estimados em 1,5 bilhão de reais. 51 mortes, 76 desaparecidos, 155.000 desabrigados, 87 cidades em Alagoas e Pernambuco devastadas. Por que tudo isso aconteceu? A imprensa não tutelada pelo governo declara logo que a culpa é do descaso do poder público. São obras que não resultaram em votos eleitorais a favor dos façanhudos políticos regionais e federais. Só na cidade de Catende, Pernambuco, 100.000 pessoas perderam o emprego de uma hora para a outra. Na realista reportagem da revista VEJA (30/06/2010) consta que “pode-se afirmar sem receio de contestação que o governo federal nada fez para evitar,ou ao menos, mitigar o sofrimento por que hoje passam pernambucanos e alagoanos”. E tome Dilma como purgativo.... - “Um evento de bioterrorismo fará um milhão de vítimas em 2020.... Com o avanço da biotecnologia haverá milhões de pessoas capazes de causar uma catástrofe biológica, - e não falo de apenas grupos terroristas organizados, mas de idiotas individuais com a mentalidade dessas pessoas que hoje produzem vírus de computador” – assim assegura Martin Rees, professor de Cosmologia e Astrofísica da Universidade de Cambridge.... Mais adiante, na entrevista ao jornal “Estado de São Paulo”, de 07/030/2010, ele fala da vida pós-humana, que poderá “ser maravilhosa – e tão diferente de nós como somos de um inseto”. Assim ele diz, lembrando que o sol não está nem na metade de sua existência e, por este motivo, cabe prever que ainda temos 5 bilhões de anos pela frente, para uma evolução pós-humana. - Indagado outro dia sobre os meus antecedentes autodidáticos na área das ciências sociais do meu curso no INESP, respondi que, filho de um pai muito culto, que lia obras em francês e latim, comecei muito cedo na vida a ler as obras dos clássicos, dos românticos, dos realistas, dos parnasianos e depois, na juventude, a ler e assimilar os modernistas, os surrealistas, os concretistas, deixando-me influenciar pelas imagens e conceitos das obras de Dostoievski, Dante, Cervantes, Camões, Machado de Assis e depois, na idade adulta, enfronhar-me nas sucessivas gerações da melhor literatura (brasileira e estrangeira): Drummond, Murilo Mendes, Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Graciliano Ramos, Emilio Moura, Murilo Rubião, Clarice Lispector, Kafka, Guimarães Rosa, Faulkner, Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Proust, Gide, Garcia Lorca Thomas Mann, Mario de Andrade e tantos Outros. E como não ficasse satisfeito apenas com o encontro de duas almas da literatura, enveredei-me pelos recantos dos estudos sociais – e logo percebi que tudo faz parte da vida. Ainda bem, ora pois.