segunda-feira, novembro 30, 2009

O FOGO APAGOU

Elegia para o Poeta Alécio Cunha.

O fogo apagou. O fogo apagou. O fogo apagou, entoa, furtivo e lúgubre, o pássaro no galho da mangueira, nesta manhã chamuscada de dor e desalento. Celebra em epicédios para sempre noturnos uma tristeza que sangra, cantando? Envia, teimoso e persuasivo, os estribilhos da mais lânguida apoteose visceral? Espatifa-me o coração assimilar, assim o mais explícito reflexo da melancolia, o mais desditoso rancor, assim ainda tão de manhã entre os galhos amanhecentes da mangueira, borrifando-me os negrumes de outros dias, assim portador de outras alegorias fúnebres (tantas premissas de desencantos). Ó pássaro amoitado nas folhas ainda úmidas de sereno, por que anuncia-me assim o cenho carregado das nuvens que pairam sobre o dia doentio? Por que? Desencanta em si o desenlace ou deplora em mim o infortúnio?

sexta-feira, novembro 27, 2009

CONFABULAÇÃO

Os pássaros não só voam e cantam. Também conversam. Lá entre eles e também conosco. A mim, pela jabuticabeira defronte à janela do quarto, eles piam, cochicham, falam, cantam. Pedem água? Comida? Atenção? Não me faço de rogado, ora essa: dou o que tenho e posso. São meus amigos, sabendo que deles também sou amigo. Não é assim a simplicidade da felicidade? Não é assim a felicidade da simplicidade? Não entendo o que dizem no idioma deles, quando falam ou cantam. Entendo as contorções, o malabarismo, a docilidade, as intenções e o lirismo de um dialeto aceitável (mesmo sendo de outra tessitura), amaciado em tonalidades aprimoradas em plausíveis prólogos proustianos. Assim sim. São assim.

quinta-feira, novembro 26, 2009

A IGREJA MAIS ANTIGA DO OESTE DE MINAS

Desde 1993 que venho lutando para conseguir o tombamento da Igreja de Nossa Senhora do Desterro, de Marilândia, distrito de Itapecerica, MG. Escrevi o texto abaixo, visando uma atenciosa sensibilidade do poder público (no caso o IEPHA) no sentido de que dos dados de minha pesquisa originasse um projeto técnico nos moldes do exigido oficialmente para tais providências. 

O texto foi enviado, com todos os anexos documentais (cópias extraídas de documentos históricos e de fotos da edificação e de suas antigas e valiosas obras e imagens iconográficas e devocionais). A então Presidente do IEPHA, num belo e inteligente gesto pessoal, esteve no local com assessores técnicos, conferiu os dados que mandei e, verbalmente, garantiu, a mim e ao então pároco local, da pronta, legitima e pacífica aprovação. Mas até hoje a convicção dela não se concretizou, apesar de meus esforços resultantes de inúmeras cartas endereçadas ao particular amigo Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, então Secretario de estado da Cultura de Minas e ao então deputado estadual, Marcelo Gonçalves. Tenho certeza que ambos demonstraram interesse e boa vontade (de acordo com as respostas constantes em meu arquivo pessoal) – e mesmo assim o tombamento não se efetivou. 

E toda vez que o referido monumento histórico precisa de reparos, a comunidade tem que arcar com as despejas e ônus de reformas inadequadas e apressadas. Ao que parece toda a resistência provém de áreas políticas hierarquicamente superiores. Que Nossa Senhora do Desterro tenha pena de pessoas assim incrédulas e insensíveis. 

ntes de transcrever o meu “Informe”, de 1993, vou transcrever (para provar a veracidade) os inegáveis dados históricos constantes no livro “Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana”, de autoria do Cônego Raimundo Trindade, página 106, item 164: “Desterro. Capela “na sua fazenda do sertão do Tamanduá”, a pedido de Manuel de Carvalho da Silva, da freguesia da Vila de São José. Provisão de 22 de abril de 1754. Fez-lhe patrimônio o dito senhor por escritura de 19 de novembro de 1756. Provisão de bênção passada a 25 de novembro de 1756. Benzeu-a o Padre Manuel da Siqueira. “morador no arraial de Nossa Senhora do Desterro da freguesia da Villa de São José. Esta capela teve concessão de pia batismal a 31 de março de 1778. Freguesia com a denominação de Desterro de Itapecerica, por L. P. número 138 de 3 de abril de 1839. Em 1857 era seu Vigário o Padre Francisco Guarita Pitangui”. 

INFORME HISTÓRICO. A Igreja de Nossa Senhora do Desterro, do distrito de Marilândia, município de Itapecerica, centro-oeste de Minas Gerais, é uma das mais antigas do Estado, sendo anterior à mais antiga construída na própria sede municipal, conforme os dados constantes do livro “História Eclesiástica de Itapecerica”, de Pe. Gil Antonio Moreira e Constantino Barbosa (Imprensa Oficial, BH-MG, 1984), que transcreve registros do livro “História de Antigas Paróquias de Patrimônios Paroquiais”, pertencente ao Arquivo da Arquidiocese de Mariana. Nesse livro consta que a Igreja de Nossa Senhora do Desterro (de Marilândia) foi construída em 1754, enquanto que a primeira igreja de São Bento do Tamanduá (hoje Itapecerica) foi construída em 1767. 

Anexamos ao presente INFORME cópia da página 95 do referido livro, onde constam estes dados. No livro “Memorial do Desterro”, de Lázaro Barreto, lê-se que “a Igreja (antes se chamava Capela) é a mais antiga de toda a região do oeste mineiro. Algumas, como as de Pitangui, Itauna, Itatiaiuçu, da mesma época ou anteriores, foram demolidas e reconstruídas. Temos em mãos cópia de uma sinopse de sua Provisão (manuscrita) onde se lê: “Em 25 de abril de 1754 se registrou uma provisão a favor de Manuel Carvalho da Silva para erigir uma capella com a invocação de Nossa Senhora do Desterro na sua fazenda do Sertão do Tamanduá, cujo teor é o seguinte: o Dom Frei Manuel da Cruz etc, Bispo etc, A todos os fiéis cristãos saúde e paz. Façam saber que atendendo ao que sua petição retro nos (ilegível) a dizer Manuel Carvalho da Silva morador na sua fazenda do Tamanduá no sertão da freguesia de Santo Antonio da Villa de São José, Comarca do Rio das Mortes e este Bispado houvemos por bem de lhe conceder a licença pela presente nossa Provisão para que possa erigir uma capella com a invocação de Senhora do Desterro na dita sua fazenda do Sertão do Tamanduá, visto ter feito termo de sujeição na nossa Câmara episcopal com o qual se sujeita a nossa jurisdição e aos nossos (ilegível) a qual será fabricada com materiais perduráveis em boa proporção e architetura. E depois de ereta e decentemente paramentada com os ornamentos das quatro cores que mandão no fabrico da Missa nesta Igreja e mais cousas necessárias é feito patrimônio suficiente, recorrerão a nós para mandarmos visitar e benzer na forma do Ritual Romano e nele se poder celebrar sem prejuízo dos Direitos Parochiais da Fábrica da Matriz. Outrossim (ilegível) um livro em que estarão encadernados todos os documentos pertencentes a dita Capella e seu registro no livro do Registro Geral. Dado nesta cidade de Mariana sob o nosso signal ali (ilegível) em selo de nossas Minas em 22 de abril de mil setecentos cincuenta e quatro. Eu Cônego Vicente Gonçalves Jorge de Almeida, secretário escrivão da Câmara eclesiática subscrevo. Dom Frei Manuel da Cruz, Bispo, etc”. 
 O sesmeiro português Manuel Carvalho da Silva (homenageado em 1975 pela Câmara Municipal de Itapecerica, através de indicação da então Vereadora Maria José Barreto, com a nomeação da Praça que abriga a Igreja, ponto central do Distrito de Marilândia) doou as terras (cento e quarenta alqueires antigos) que constituiram o Patrimônio da Capela, onde ela se ergueu, permitindo a expansão da área física do Arraial, fixando ali a sua povoação. Supões-se que além da doação, ele mesmo orientou a construção, se não a executou com recursos próprios. Tal suposição baseia-se no fato de a Igreja ter sido construída com a frente para o lado, onde, distante, morava o colonizador, numa sede senhorial da Fazenda que ainda existe” (na data da escritura deste informe e não mais agora, derrubada que foi por um vândalo residente em Belo Horizonte), “restaurada e preservada pelos descendentes de uma das famílias mais antigas e tradicionais da região”. 

Também o historiador Waldemar de Almeida Barbosa, em seu livro “História Antiga de Minas Gerais” menciona repetidamente a antiguidade da povoação e da Igreja, o mesmo acontecendo com o Cônego Raymundo Trindade em seu livro “Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana” (cópia anexa). Reformas e alterações em 1775 – acréscimos da torre e da fachada lateral esquerda, que inclui a Sacristia; em 1894 – desativação do cemitério de seu adro; 1970 – troca do forro e do piso e da pintura; 1990 – nova troca de forro, restauração de alguns detalhes dos altares e das imagens, reforma geral da pintura (tudo infelizmente de forma canhestra, sem a participação de restauradores qualificados). Outras referências: o relatório da Visita Pastoral de Dom Frei da Santíssima Trindade, em 1823 menciona que o Desterro tinha 2.000 almas entre maiores e menores e que se crismou 1.306 pessoas, acrescentando ainda, que “a Capella é toda de pedra campada, três altares de talha lisa, pintada à antiga. A Sacristia tem paramentos” (ver cópia de fragmento do relatório, anexa). 

DESCRIÇÃO SUMÁRIA DA EDIFICAÇÃO. A construção obedece à planta simples, constituída de nave, dois altares laterais e um central, coro com balaustrada, torre com dois sinos de bronze e dobres, sacristias em dois compartimentos e uma capela lateral consagrada à Nossa Senhora da Abadia. Tanto a torre como a capela lateral e a sacristia foram acrescentados ao corpo da edificação em 1775. A área horizontal construída de 400 m2, compõe-se, com antigos sepulcros sob o piso de madeira, de largas paredes em pedra, encimadas na altura do travamento por camadas de tijolos (provavelmente colocadas em uma de suas primeiras reformas). A cobertura da nave em duas águas e tem armação autônoma de madeira e telhas coloniais. O antigo forro abaulado e pintado com as vinhetas do Dilúvio foi substituído, sem preservar as características originais. As cinco portas de entradas, bem como as janelas do coro e da sacristia, são largas e altas, pesadas de madeira maciça, em almofadas. A nave é dividida em semi-círculo de paredes na altura dos altares laterais. Seu piso de madeira corrida, que assinalava (em nomeação e datação) as sepulturas dos devotos, foi substituído por outro, de cerâmica que, como o forro, contrasta com a feição original do monumento. O púlpito interno da nave, bem como o cemitério externo, do adro, circular, foram suprimidos nas aleatórias reformas que a Igreja sofreu ao longo do tempo. A pia batismal, em pedra sabão, é a original e ostenta em algarismos romanos a data (da primeira reforma) de 1775. Os altares são despojados e belíssimos, modestamente ornados de esculturas barrocas. As imagens também são originais e de grande expressividade visual, de tocante contemplação. Além das imagens expostas nos altares (Sagrada Família, Senhora Santana, Nossa Senhora das Dores, São Sebastião, São Francisco, São Geraldo, São Benedito, Nossa Senhora do Rosário, São Manoel etc), existem outras (Senhor Morto, Senhor Crucificado, Senhor dos Passos, todas de madeira) guardadas em enormes gavetas do armário da sacristia. É pena que a madeira esteja sofrendo o processo de deterioração através do cupim e do caruncho – e a comunidade não disponha de meios neutralizadores e restauradores. O acervo de objetos sacros e de componentes ritualísticos é também importante em sua antiguidade (apesar do sumiço, de vez em quando, de alguns deles). Paramentos, turíbulos, crucifixos, castiçais, andores, confessionário, púlpito, charola, custódia, oratórios etc, tudo compõe o conjunto que em linhas gerais reafirma a autenticidade original, de inestimável valor religioso, histórico e artístico. E para confirmar a invocação de Nossa Senhora do Desterro, lá está, encimando o altar-mor, a epígrafe ( gravada em madeira) que São Mateus (2-15) cita de Oséias (11-1): “Da terra do Egipto chamei a Meu filho”. O exílio não era apenas dos que vinham de outras terras, mas o da própria Sagrada Família – e de todo o gênero humano, expulso do paraíso. O mesmo Manuel que edificou a Capela constituiu seu Patrimônio em 19/11/1756, dando mais de 140 alqueires de suas terras ente os rios da Boa Vista e das Itapecericas. A bênção da Capela realizou-se em 23/11/1756, pelo Padre Manuel da Siqueira, morador no Arraial de Nossa Senhora do Desterro da Freguesia de São José, o que prova que o Arraial já existia e que certamente é mais antigo do que o próprio Tamanduá. A concessão da Pia Batismal em 31/03/1778, a instituição da Freguesia em 03/04/1839, a criação do Distrito do Desterro em 1847 (antes era Curato) e a criação da Paróquia em 16/09/1870. Foi tombada pela Prefeitura Municipal de Itapecerica, através do decreto número 08/89, apresentado pela referida vereadora Maria José Barreto. Tombamento que valeu para evitar a venda, tempos atrás, de uma série de móveis, utensilhos e objetos sacro-litúrgicos, intentada por um ex-pároco apoiado por um Conselho (?) Paroquial. A construção serviu de modelo para se construir, em 1760, a Capella de Nossa Senhora do Desterro de Desemboque (Triângulo Mineiro), pela mesma equipe de artífices, como se lê no livro de Jorge Alberto Nabut, sobre a edificação (felizmente tombada pelo IEPHA -o que parece muito contraditório e/ou irônico): “Pois nesse ano (1760), saíram do Tamanduá ou Novo Termo e Pitangui, com destino ao local daquela povoação, destruída pelos índios caiapós, o sargento-mor Manuel Alves Gondim, Tomaz de Aquino Colasso, Manuel José Torres, Antônio da Silva Cordeiro e muitos outros, além de escravos e camaradas. Aí chegados edificaram muitas e boas casas, uma sólida igreja toda de pedras, com paredes de meia braça de largura, abriram dois grandes regos para abastecimento de água à população e, no fim de três anos, regressaram a Pitangui e Novo Termo (Tamanduá), deixando as casas construídas, para a Intendência. Os socorros espirituais eram administrados, com licença do Bispo de Mariana, pelo Padre Gaspar Alves Gondim, Vigário Encomendado de São Bento do Tamanduá ou Novo Termo. 

Anexos: 
-Recorte do Jornal “Diocese em Notícias”, Divinópolis, fevereiro de 1988, com artigo de Constantino Barbosa. - Recorte do jornal “AQUI PRA NÓS”, de Divinópolis, novembro de 1987, com texto de Lázaro Barreto. - Cópias de fotos (13), com as respectivas legendas, do então Padre Gil Antônio Moreira, hoje Bispo de Jundiaí, São Paulo. Bibliografia: - História Eclesiástica de Itapecerica, de Padre Gil Antonio Moreira e Constantino Barbosa, ed. da Imprensa Oficial, BH, 1984. - História de Antigas Paróquias de Patrimônios Paroquiais” – Arquivo da Diocese de Mariana, MG. - Memorial do Desterro, pesquisa de Lázaro Barreto, livro então inédito e hoje com a edição esgotada, depois de publicado. - Historia Antiga de Minas Gerais, de Waldemar de Almeida Barbosa. - Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana, de Cônego Raymundo Trindade. (

texto assinado e enviado ao IEPHA, por Lázaro Barreto em 1993.

PREDICADO AGNÓSTICO

Não. Deus não é um velho de barbas brancas, eternamente sentado no trono celestial, a pesar e medir os pecados do mundo, a julgar e decidir o destino das pessoas. Não pode ser tão simplório assim. Sim. O Absoluto é inacessível a nós, mortais... Teve início (teve início?), se teve, há bilhões de anos.... A força-e-luz universal não é mais nem menos que a SANTA NATUREZA, que nada desperdiça do que existe, que tudo transforma em flor e cinza, em fruta e veneno (dependendo da contravertida HUMANIDADE possessa e possessiva. Até quando assim contravertida?).

UMA, DUAS PALHETADAS

Copenhague, Dinamarca. Mais clorofila, menos carbono, eis a questão a ser debatida e resolvida por especialistas científicos e autoridades políticas do mundo inteiro. Estima-se que a permanência do índice de emissão de gás carbônico da superfície terrestre para a atmosfera inviabilizará a vida animal, vegetal e mineral dentro de mais alguns anos. Um novo dilúvio ou o próximo fim será em fogo, como reza a bíblia? Queira ou não os atuais potentados do planeta, a solução é a diminuição da produtividade dos atuais bens de consumo dos seres humanos apalermados. Deverão ser reduzidos, disciplinados, compatibilizados. A ganância financeira precisa ser freada, a mão de obra racionalizada, a produção excessiva de ferro e aço, que gera montanhas de sucata e lixo, que entopem as artérias urbanas e rurais, que desmatam e desmatam e desmatam sem dó nem piedade, tudo precisa ser drasticamente reduzido, racionalizado, compatibilizado. É preciso chegar ao equilíbrio entre a produção e o consumo, sem desperdício e sem a ganância da tal rentabilidade econômica. É preciso. Caso contrário será a fatídica indigestão mundial dos gazes apocalípticos. O Que Faltava. O americano Ronald Lauder, condenando as homenagens que Lula prestou ao tirano do Irã – um mero financiado de um terrorismo pior do que o de Hitler, uma vez que dispõe da bomba atômica para varrer Israel do mapa. Ele assegura na entrevista publicada na VEJA que “se o Brasil age como se negócios fossem tão importantes quanto princípios éticos, significa que passou dos limites aceitáveis”. O nosso presidente é mesmo “o cara” (na gozação de Obama): bobo até onde mandaram parar. E ele não pára. Epígrafe de um Conto (*). “Até quando afligireis a minha alma e me atormentais com os vossos discursos? Eis que já por dez vezes me injuriais e não vos envergonhais de me oprimir”. Job 19 -1 a 3. 

(*) O conto, rascunhado em 1963, não foi revisto nem publicado até hoje. Seu título pendente: “As Pálpebras da Aranha”. 

Poesia Poesia. Quando ela se me oferece no poema, ali sim a escuridão esclarece, reage, fica olhando-me ao ser olhada, dando e recebendo seus prementes favores. Pois que ao subtrair de si é a si mesma que adiciona. A Vida e o Mundo. A vida é boa, o mundo é belo? Quem não está manietado e viaja pelos sertões e metrópoles, sabe que a vida é boa e o mundo é belo! Picles. - Você pode considerar-se um cara bem conservado aos sessenta e tantos anos quando um colega da infância-e-da-adolescência o reconhece sem esforço – e você só o reconhece depois que ele se identifica. - O sujeito antipático tem duas caras (como um dos personagens do seriado da Warner “Two And Half Man): a daquele “chato que está vindo de novo” e do estróina que “felizmente está indo embora”. - Não engulo a fórmula com a qual os cineastas figuram os antropófagos devorando primeiro o rosto das vítimas. Não seria mais lógico começar pelo traseiro, que é sempre mais carnudo? As Cartas Marcadas. O sociólogo Antônio Lavareda fala sobre as eleições no Brasil: “Os governantes fazem propaganda, desde que tomam posse. Já a oposição só tem um mês e meio para se apresentar.... O lulismo tem semelhanças com o varguismo, o janismo e o malufismo. Também se parece com o peronismo argentino e o chavismo venezuelano... (Revista VEJA de 25/11/09). Deus, ou seja, a Natureza. “Nenhuma economia sobrevive sem os insumos que a natureza lhe fornece de graça: chuvas no período certo, rios regulares, insetos polinizadores, vegetais para segurar a erosão, etc”. Marcelo Leite – em Caderno”mais!” da Folha de São Paulo de 25/11/09. E então senhores da Reunião de Copenhague: por que não reduzir a emissão de gazes que produzem o tal de efeito estufa que está desnaturalizando a Natureza?

segunda-feira, novembro 23, 2009

CARTA À MÁRCIA JUNG BARRETO

Divinópolis, 23 de novembro de 2009 

Prezada Senhora Márcia: Depois de incansáveis pesquisas em arquivos públicos, cartórios, paróquias e internet, de obter preciosos dados através da senhora e da amiga Iara Notini, que esteve pessoalmente em Santa Cristina de Aroens, Portugal – eu mesmo estive no Arquivo Municipal de Guimarães, lá perto, pretendia chegar ao local, mas na época chovia muito e não consegui – continuo intrigado com o fato de o nosso antepassado português Antônio José de Oliveira Barreto não ter em seus pais e avós o sobrenome Barreto, apenas o de Oliveira. Seria uma espécie de homenagem? Ver as páginas 16 e 17 do livro “Família Oliveira Barreto”. Ocorre-me que o referido antepassado, vindo para o Brasil em 1770, casou-se, com o acréscimo do Barreto no nome com Anna Joaquina Cândida de Castro, filha de Faustino José de Castro, português da mesma região de Guimarães e qualificado profissionalmente como “Solicitador de Causas” (advogado) que era a mesma do nosso antepassado. O que mais chama minha atenção é o relacionamento dele (nosso antepassado) com a família do Guarda-Mor Antônio José Barreto, casado com Joanna Maria de Souza e Castro (ver página 19 do referido livro), da qual em 1806 (ver página 15) foi Testamenteiro, cargo importante e de muita responsabilidade, geralmente confiado aos parentes mais chegados. Minha suspeita é que sua esposa (Anna) era parente da falecida – e ele, um amigo e talvez parente do marido dela, o Antônio José Barreto, latifundiário regional (suas terras abrangiam uma área hoje ocupada pelos Municípios de Carmo da Mata - cujo primeiro nome era Mata do Barreto - Itapecerica, Oliveira e São Francisco de Paula). Nas imediações de sua propriedade o nosso antepassado adquiriu e destinou vastas fazendas aos filhos Bernardo e Francisca Lucinda e mais dois filhos do segundo casamento com Felizarda Maria de Jesus. Fiz todas as pesquisas ao meu alcance e não obtive a justificativa do sobrenome Barreto. Teria sido uma homenagem, uma espécie de honra ao mérito do amigo e provável parente da primeira esposa? Sei que a senhora é muito bem instruída nas pesquisas genealógicas – e quem sabe pode jogar alguma luz neste mistério? 
Quando estive em Guimarães (dois anos atrás) consegui os seguintes endereços eletrônicos no Arquivo Municipal Alfredo Pimenta: 
- arquivo.municipal@com.guimarães.pt 
- www.genealogiaportuguesa.com. 
- www.uesps.ics.mminho.pt 
- www.familysearch.org. 

Ficaria muito feliz se pudesse iluminar toda essa obscuridade. 
Abraços do primo e amigo Lázaro Barreto.

quinta-feira, novembro 19, 2009

PERENIZAR A JUVENTUDE (*)

Ó tempo voraz que ao leão amolece as unhas e obriga a terra a devorar os próprios genes. Que ao tigre desgarra os fincantes dentes e que vive a queimar o que depois ressuscita. Teus pés velozes abrem os caminhos no mundo, aborrecendo as alegres estações climáticas. É assim que imprimes no eterno o transitório. E é aí mesmo que levanto minha voz bem alta: De minha amada não ouses vincar a pele, nem hoje ou amanhã endurecer-lhe o semblante. Antes, deixa-a intacta, a seguir adiante, como padrão de beleza nos dias do futuro. Assim seja! E se assim não o fizer, encarrego-me de mantê-la em meus versos jovial e bela, sempre! 
(*) Paráfrase de Lázaro Barreto de um Soneto de William Shakespeare.

sábado, novembro 14, 2009

ALVORADA

Lamentável é a falta que faz o canto dos galos nos amanheceres estivais os diálogos altissonantes nos quintais do desfeito estágio rural de nossa civilização na qual perpassa o amálgama das convivências saudáveis: cada galo a mandar para os outros galos de quintal a quintal, a mensagem de fé no amor, melodicamente na mesma afinação e afirmação de uma vida que se perpetua na polidez na aquiscência na afabilidade das criaturas educadas no comum acordo da necessária da necessária comunicação de solidariedade da afeição recíproca e generalizada sinalizando em sutil fusão vitalícia uma sociedade que anseia e que pleiteia a felicidade recíproca e generalizada no ser e no estar de todos os viventes deste mundo. (Assim a saudade perscruta os escaninhos da lembrança rural - jamais abolida - e encontra o conforto dos pensamentos e dos sentimentos estimulantes que o canto dos galos no terreiro da casa que o tempo levou quase aflorando um poema a respeito do assunto).

sexta-feira, novembro 13, 2009

DIVAGAR, SEMPRE

- No Brasil os honestos e os abstêmios padecem de uma certa exclusão social. Se assim continuar, não demora e serão considerados peixes fora da água – impiedosamente abatidos. - Segundo Ana Paula Souza (“Folha de São Paulo, de 11/10/09), o filme de Nelson Hoineff, “Alô, Alô, Terezinha”, a ser lançado, “leva à catarse. E ao ódio”. Hugo Possolo (na mesma edição do jornal) faz a comparação do programa de Abelardo Chacrinha Barbosa com a enfadante programação domingueira dos atuais canais televisivos: “o possível herdeiro da pança que balança, Faustão, não se perdeu na noite e fincou o pé nos domingos, tornando-os piores que uma enfadonha segunda. Mauricinho de camiseta pólo, colocou terno no pagode e casaco de couro no sertanejo. Chacarinha era feira-livre e Faustão é shopping center”. Quem vai querer abacaxi? Roda, roda e avisa!” - Marcelo Gleiser, na folha de 08/11/09, afirma que a internet está transformando o mundo, “mas que revolução é esta, isso é ainda uma incógnita”. Um benefício ou um malefício? No mundo real ou no virtual? - Também a romancista Lya Luft aborda o assunto, na VEJA de 04/11/09, afirmando que “como tantas coisas neste mundo contraditório, a internet é ao mesmo tempo covil de covardes e terra de maravilhas”. O título de seu artigo é “NÃO FUI EU!”, no qual denuncia a mão leve dos plagiários de plantão que inserem textos de ínfima qualidade e de deslavadas mentiras como se fossem de Drummond, de Pessoa, de Clarisse Lispector, de Arnaldo Jabor, e dela, Lya Luft. Porca miséria, heim? - O cometimento de uma certa malandragem sempre foi constatado no corportamento social do brasileiro, herdeiro que é do eterno humorismo português. Uma malandragem epidérmica que pode, às vezes, até incomodar, mas sem ferir. Quando, porém, a comicidade descamba para a dramaticidade, aí a malandragem pode descambar para a tragicidade da corrupção desmesurada dos costumes que abre tantos precedentes no filão de tantas ações politiqueiras dos mandatários municipais, estaduais e federais. A trampolinagem é tão célere que está afetando até essa nova e bela forma de comunicação humana, que é a internet. Eu mesmo (um obscuro autor literário) estou sendo considerado, num site de ampla divulgação online, como autor de um texto pornográfico, descrito e narrado em termos de primeira pessoa de uma pessoa de sexo feminino. Solicitei reiteradamente a corrigenda – e não fui atendido. Lamento muito a contrafação, sabendo que disponho de outros modos de expressão para o erotismo, que é, sim, um principio dos mais fundamentais, de nossa terrena existência. - O exercício repetitivo da obediência leva o individuo a tornar-se, pelo apático despreendimento de sua individualidade, um ser irresponsável, já que vive sob tutela e, assim, é facilmente cooptado pelas lideranças setoriais (família, chefia) e políticas (adesismo fácil aos partidos e ideologias). - Darwin era casado com uma prima de primeiro grau e com ela teve dez filhos, sendo que dois faleceram ainda na infância. Tal fato (o casamento endogâmico) levou-o a fazer experiências de fecundar plantas com o pólen delas mesmas – e observou que as gerações eram mais débeis. Vemos, pois, que suas contribuições científicas vão muito além do evolucionismo, chegando aos prenúncios da genética, de forma insofismável. - Voltando ao tema da misoginia e ao que disse sobre o fato das piedosas mulheres não terem sido escolhidas como discípulas de Jesus e mesmo assim serem as pessoas que não O negaram no crucial momento do Sacrifício..., creio que a questão da diferença preconceituosa dos dois sexos, que inferioriza o papel feminino, tem que ser reestudada não apenas através do ponto de vista da ortodoxia religiosa, mas sim, sob o crivo da ciência. Só assim a mulher poderá situar-se no lugar que lhe cabe no relacionamento social da humanidade, ou seja, em pé de igualdade e não de inferioridade.

MISOGINIA

Falávamos outro dia da misoginia bíblica, ponderando o porque de Jesus não incluir nenhuma mulher entre seus discípulos exemplares, sendo que nenhuma delas das piedosas mulheres O negou na hora crucial de Seu Sacrifício, sendo que alguns de seus bem amados discípulos negaram-Lhe, abertamente, e outros simplesmente escafederam-se. Aí, estudioso de toda a genealogia humana, que procuro ser, ponderei que na própria bíblia Sagrada a Genealogia de Jesus omite os nomes das mães dos renomados ancestrais (estranhamente cita a longa descendência, mais ou menos assim: Abraão gerou Isaac que gerou Jacob...) e nem mesmo Nossa Senhora, Sua Mãe, é citada. Por que? Por que? Por que?

quarta-feira, novembro 04, 2009

A LÁGRIMA (*)

Mais triste (do que uma granja de aves biônicas) Mais feia (do que um embrulho de mandiocas) Mais amarga (do que jiló no almoço ou no jantar) Mais dolorosa (do que uma paulada na moleira) Mais trágica (do que a morte do pudor nacional) Mais profética (do que as cintilações bíblicas) Mais pusilânime (do que o aleijado dos membros): é a inócua, ubíqua, ociosa, onímoda, aziaga e torrencial lágrima do ser humano brasileiro. É uma lágrima turva? Sanguínea? Esquentada? É salgada como o suspiro de um desvalido ou é doce como o suspiro da moça apaixonada? É álacre, cabisbaixa, é alada? Vem do cérebro ou do coração? Das ínvias cavilações da mente? É incolor, deprimente? Paira na pupila ou escorre e lambuza os pobres olhos do sofredor? Vem dos escaninhos da burocracia ou dos cofres do sistema econômico? Mais sanguinolenta do que o poente marítimo Mais zumbidora do que os mosquitos na lata de lixo Mais carregada de petrificações, a lágrima nacional inunda todos os quadrantes do país. 

(*) Escrito em 1998 e revisto em 28/10/09.

HÁ QUEM DIGA

Que o frio é uma forma de calor. Que as células têm linhas curvas e as moléculas, retas. Que o tecido muscular do coração é estriado. Que a libido fica muito aquém da potência sexual. Que a membrana plasmática é dotada de permeabilidade seletiva. Que a vida é um buraco e bobo é quem não é tatu. Que o gameta e o haplóide e o cromossomo, ah!... Que dormir na insônia da angústia é acordar nos braços do pesadelo. Que a aglutinação das hemácias é fatal. Que à noite todos os gatos são tarados. Que as flores têm sexo, óvulos e grãos de pólen. Que aceitar a impotência é cair na desolação. Que a espécie humana é a única ubíqua sobre a terra. Que a leveza da fantasia alivia o peso do realismo. Que a terra come o que não foi comido. Que o ser humano não é feliz. Nunca é feliz. Não é feliz. Não é. Não.