O FOGO APAGOU
Elegia para o Poeta Alécio Cunha.
Elegia para o Poeta Alécio Cunha.
Os pássaros não só voam e cantam. Também conversam. Lá entre eles e também conosco. A mim, pela jabuticabeira defronte à janela do quarto, eles piam, cochicham, falam, cantam. Pedem água? Comida? Atenção? Não me faço de rogado, ora essa: dou o que tenho e posso. São meus amigos, sabendo que deles também sou amigo. Não é assim a simplicidade da felicidade? Não é assim a felicidade da simplicidade? Não entendo o que dizem no idioma deles, quando falam ou cantam. Entendo as contorções, o malabarismo, a docilidade, as intenções e o lirismo de um dialeto aceitável (mesmo sendo de outra tessitura), amaciado em tonalidades aprimoradas em plausíveis prólogos proustianos. Assim sim. São assim.
Desde 1993 que venho lutando para conseguir o tombamento da Igreja de Nossa Senhora do Desterro, de Marilândia, distrito de Itapecerica, MG. Escrevi o texto abaixo, visando uma atenciosa sensibilidade do poder público (no caso o IEPHA) no sentido de que dos dados de minha pesquisa originasse um projeto técnico nos moldes do exigido oficialmente para tais providências.
Não. Deus não é um velho de barbas brancas, eternamente sentado no trono celestial, a pesar e medir os pecados do mundo, a julgar e decidir o destino das pessoas. Não pode ser tão simplório assim. Sim. O Absoluto é inacessível a nós, mortais... Teve início (teve início?), se teve, há bilhões de anos.... A força-e-luz universal não é mais nem menos que a SANTA NATUREZA, que nada desperdiça do que existe, que tudo transforma em flor e cinza, em fruta e veneno (dependendo da contravertida HUMANIDADE possessa e possessiva. Até quando assim contravertida?).
Copenhague, Dinamarca. Mais clorofila, menos carbono, eis a questão a ser debatida e resolvida por especialistas científicos e autoridades políticas do mundo inteiro. Estima-se que a permanência do índice de emissão de gás carbônico da superfície terrestre para a atmosfera inviabilizará a vida animal, vegetal e mineral dentro de mais alguns anos. Um novo dilúvio ou o próximo fim será em fogo, como reza a bíblia? Queira ou não os atuais potentados do planeta, a solução é a diminuição da produtividade dos atuais bens de consumo dos seres humanos apalermados. Deverão ser reduzidos, disciplinados, compatibilizados. A ganância financeira precisa ser freada, a mão de obra racionalizada, a produção excessiva de ferro e aço, que gera montanhas de sucata e lixo, que entopem as artérias urbanas e rurais, que desmatam e desmatam e desmatam sem dó nem piedade, tudo precisa ser drasticamente reduzido, racionalizado, compatibilizado. É preciso chegar ao equilíbrio entre a produção e o consumo, sem desperdício e sem a ganância da tal rentabilidade econômica. É preciso. Caso contrário será a fatídica indigestão mundial dos gazes apocalípticos. O Que Faltava. O americano Ronald Lauder, condenando as homenagens que Lula prestou ao tirano do Irã – um mero financiado de um terrorismo pior do que o de Hitler, uma vez que dispõe da bomba atômica para varrer Israel do mapa. Ele assegura na entrevista publicada na VEJA que “se o Brasil age como se negócios fossem tão importantes quanto princípios éticos, significa que passou dos limites aceitáveis”. O nosso presidente é mesmo “o cara” (na gozação de Obama): bobo até onde mandaram parar. E ele não pára. Epígrafe de um Conto (*). “Até quando afligireis a minha alma e me atormentais com os vossos discursos? Eis que já por dez vezes me injuriais e não vos envergonhais de me oprimir”. Job 19 -1 a 3.
Divinópolis, 23 de novembro de 2009
Ó tempo voraz que ao leão amolece as unhas e obriga a terra a devorar os próprios genes. Que ao tigre desgarra os fincantes dentes e que vive a queimar o que depois ressuscita. Teus pés velozes abrem os caminhos no mundo, aborrecendo as alegres estações climáticas. É assim que imprimes no eterno o transitório. E é aí mesmo que levanto minha voz bem alta: De minha amada não ouses vincar a pele, nem hoje ou amanhã endurecer-lhe o semblante. Antes, deixa-a intacta, a seguir adiante, como padrão de beleza nos dias do futuro. Assim seja! E se assim não o fizer, encarrego-me de mantê-la em meus versos jovial e bela, sempre!
Lamentável é a falta que faz o canto dos galos nos amanheceres estivais os diálogos altissonantes nos quintais do desfeito estágio rural de nossa civilização na qual perpassa o amálgama das convivências saudáveis: cada galo a mandar para os outros galos de quintal a quintal, a mensagem de fé no amor, melodicamente na mesma afinação e afirmação de uma vida que se perpetua na polidez na aquiscência na afabilidade das criaturas educadas no comum acordo da necessária da necessária comunicação de solidariedade da afeição recíproca e generalizada sinalizando em sutil fusão vitalícia uma sociedade que anseia e que pleiteia a felicidade recíproca e generalizada no ser e no estar de todos os viventes deste mundo. (Assim a saudade perscruta os escaninhos da lembrança rural - jamais abolida - e encontra o conforto dos pensamentos e dos sentimentos estimulantes que o canto dos galos no terreiro da casa que o tempo levou quase aflorando um poema a respeito do assunto).
- No Brasil os honestos e os abstêmios padecem de uma certa exclusão social. Se assim continuar, não demora e serão considerados peixes fora da água – impiedosamente abatidos. - Segundo Ana Paula Souza (“Folha de São Paulo, de 11/10/09), o filme de Nelson Hoineff, “Alô, Alô, Terezinha”, a ser lançado, “leva à catarse. E ao ódio”. Hugo Possolo (na mesma edição do jornal) faz a comparação do programa de Abelardo Chacrinha Barbosa com a enfadante programação domingueira dos atuais canais televisivos: “o possível herdeiro da pança que balança, Faustão, não se perdeu na noite e fincou o pé nos domingos, tornando-os piores que uma enfadonha segunda. Mauricinho de camiseta pólo, colocou terno no pagode e casaco de couro no sertanejo. Chacarinha era feira-livre e Faustão é shopping center”. Quem vai querer abacaxi? Roda, roda e avisa!” - Marcelo Gleiser, na folha de 08/11/09, afirma que a internet está transformando o mundo, “mas que revolução é esta, isso é ainda uma incógnita”. Um benefício ou um malefício? No mundo real ou no virtual? - Também a romancista Lya Luft aborda o assunto, na VEJA de 04/11/09, afirmando que “como tantas coisas neste mundo contraditório, a internet é ao mesmo tempo covil de covardes e terra de maravilhas”. O título de seu artigo é “NÃO FUI EU!”, no qual denuncia a mão leve dos plagiários de plantão que inserem textos de ínfima qualidade e de deslavadas mentiras como se fossem de Drummond, de Pessoa, de Clarisse Lispector, de Arnaldo Jabor, e dela, Lya Luft. Porca miséria, heim? - O cometimento de uma certa malandragem sempre foi constatado no corportamento social do brasileiro, herdeiro que é do eterno humorismo português. Uma malandragem epidérmica que pode, às vezes, até incomodar, mas sem ferir. Quando, porém, a comicidade descamba para a dramaticidade, aí a malandragem pode descambar para a tragicidade da corrupção desmesurada dos costumes que abre tantos precedentes no filão de tantas ações politiqueiras dos mandatários municipais, estaduais e federais. A trampolinagem é tão célere que está afetando até essa nova e bela forma de comunicação humana, que é a internet. Eu mesmo (um obscuro autor literário) estou sendo considerado, num site de ampla divulgação online, como autor de um texto pornográfico, descrito e narrado em termos de primeira pessoa de uma pessoa de sexo feminino. Solicitei reiteradamente a corrigenda – e não fui atendido. Lamento muito a contrafação, sabendo que disponho de outros modos de expressão para o erotismo, que é, sim, um principio dos mais fundamentais, de nossa terrena existência. - O exercício repetitivo da obediência leva o individuo a tornar-se, pelo apático despreendimento de sua individualidade, um ser irresponsável, já que vive sob tutela e, assim, é facilmente cooptado pelas lideranças setoriais (família, chefia) e políticas (adesismo fácil aos partidos e ideologias). - Darwin era casado com uma prima de primeiro grau e com ela teve dez filhos, sendo que dois faleceram ainda na infância. Tal fato (o casamento endogâmico) levou-o a fazer experiências de fecundar plantas com o pólen delas mesmas – e observou que as gerações eram mais débeis. Vemos, pois, que suas contribuições científicas vão muito além do evolucionismo, chegando aos prenúncios da genética, de forma insofismável. - Voltando ao tema da misoginia e ao que disse sobre o fato das piedosas mulheres não terem sido escolhidas como discípulas de Jesus e mesmo assim serem as pessoas que não O negaram no crucial momento do Sacrifício..., creio que a questão da diferença preconceituosa dos dois sexos, que inferioriza o papel feminino, tem que ser reestudada não apenas através do ponto de vista da ortodoxia religiosa, mas sim, sob o crivo da ciência. Só assim a mulher poderá situar-se no lugar que lhe cabe no relacionamento social da humanidade, ou seja, em pé de igualdade e não de inferioridade.
Falávamos outro dia da misoginia bíblica, ponderando o porque de Jesus não incluir nenhuma mulher entre seus discípulos exemplares, sendo que nenhuma delas das piedosas mulheres O negou na hora crucial de Seu Sacrifício, sendo que alguns de seus bem amados discípulos negaram-Lhe, abertamente, e outros simplesmente escafederam-se. Aí, estudioso de toda a genealogia humana, que procuro ser, ponderei que na própria bíblia Sagrada a Genealogia de Jesus omite os nomes das mães dos renomados ancestrais (estranhamente cita a longa descendência, mais ou menos assim: Abraão gerou Isaac que gerou Jacob...) e nem mesmo Nossa Senhora, Sua Mãe, é citada. Por que? Por que? Por que?
Mais triste (do que uma granja de aves biônicas) Mais feia (do que um embrulho de mandiocas) Mais amarga (do que jiló no almoço ou no jantar) Mais dolorosa (do que uma paulada na moleira) Mais trágica (do que a morte do pudor nacional) Mais profética (do que as cintilações bíblicas) Mais pusilânime (do que o aleijado dos membros): é a inócua, ubíqua, ociosa, onímoda, aziaga e torrencial lágrima do ser humano brasileiro. É uma lágrima turva? Sanguínea? Esquentada? É salgada como o suspiro de um desvalido ou é doce como o suspiro da moça apaixonada? É álacre, cabisbaixa, é alada? Vem do cérebro ou do coração? Das ínvias cavilações da mente? É incolor, deprimente? Paira na pupila ou escorre e lambuza os pobres olhos do sofredor? Vem dos escaninhos da burocracia ou dos cofres do sistema econômico? Mais sanguinolenta do que o poente marítimo Mais zumbidora do que os mosquitos na lata de lixo Mais carregada de petrificações, a lágrima nacional inunda todos os quadrantes do país.
Que o frio é uma forma de calor. Que as células têm linhas curvas e as moléculas, retas. Que o tecido muscular do coração é estriado. Que a libido fica muito aquém da potência sexual. Que a membrana plasmática é dotada de permeabilidade seletiva. Que a vida é um buraco e bobo é quem não é tatu. Que o gameta e o haplóide e o cromossomo, ah!... Que dormir na insônia da angústia é acordar nos braços do pesadelo. Que a aglutinação das hemácias é fatal. Que à noite todos os gatos são tarados. Que as flores têm sexo, óvulos e grãos de pólen. Que aceitar a impotência é cair na desolação. Que a espécie humana é a única ubíqua sobre a terra. Que a leveza da fantasia alivia o peso do realismo. Que a terra come o que não foi comido. Que o ser humano não é feliz. Nunca é feliz. Não é feliz. Não é. Não.