segunda-feira, agosto 31, 2009

FUTEBOL, POLÍTICA, RELIGIÃO

Um dito popular corrente nos meios rurais é o de que não se deve discutir futebol nem política nem religião. O consenso das opiniões será impossível – e nunca se deve chover no molhado. Nem mexer com quem está quieto. Sempre, da infância aos últimos anos da juventude, freqüentei os campos de futebol, jogando nos times amadores e assistindo as disputas dos profissionais. Experiências inolvidáveis. O calor da luta renhida, não só física como (talvez?) metafísica. O escritor Albert Camus assegura que aprendeu mais sobre a vida jogando como goleiro (na França) do que lendo os melhores livros de filosofia. Jamais esquecerei das performances de craques como Domingos da Guia, Leônidas, Zizinho e Ademir nos meus tempos da mais tenra infância. E depois a boa lembrança das proezas de Garrincha, Nilton Santos, Tostão e Dirceu Lopes, na idade adulta. Mas agora, francamente, o futebol brasileiro está entregue às barata, ou seja, aos agenciadores, administradores e treinadores e árbitros, uma máfia de exploradores e usurpadores das qualidades e capacidades técnicas dos jogadores, que viraram produtos de aluguel, compra e venda, como se não fossem seres humanos, mas sim títeres enriquecedores. E daí o que acontece? Os times se formam e logo se deformam com a incessante renovação e venda dos jogadores para o estrangeiro. A exportação brasileira que já foi de pau brasil, borracha, cana de açúcar, café, agora é de jogador de futebol. E assim, com as equipes constantemente descaracterizadas pelas sucessivas substituições, o futebol que a gente conhecia e amava, praticamente acabou. O que vemos agora são as peladas para “inglês ver”, como se diz. Qualquer rapaz que demonstre aptidão (“jeito”), está logo na mira dos olheiros para a comercialização em toda parte do mundo que disponha dos euros e dólares da cobiça escandalosa. Algo estapafúrdio, um jogo no qual o que está em jogo é o vil metal e não aquela bola redondinha dos craques do porte de Jarzinho, Didi, Sócrates, Jair da Rosa Pinto e Pelé. Seus êmulos em qualidade estão em fim de carreira (Ronaldo Fenômeno) ou jogando no estrangeiro (Cacá, Ronaldinho Gaúcho, Robinho). O espetáculo futebolístico minimizou de tal maneira que seria até conveniente que agora fosse levado ao público apenas pela televisão, disputado em estádios sem as magnificências dos mineirões, pacaembus e maracanãs. Duas vantagens adviriam: pela televisão o torcedor não precisa sair de casa e correr o risco de morrer nas terríveis refregas e, além disso, fica favorecido por duas opções: ligar e desligaro aparelho e o jogo. 

RELIGIÃO Shakespeare (sempre ele) teria dito que muitas vezes o demônio usa a Bíblia em seu próprio proveito (se não disse, deveria ter dito, pois é uma frase digna da estatura intelectual dele). - Antigamente o Signo de Salomão era o desenho (em relevo ou não) da estrela de seis pontas, largamente utilizado na magia ritual do esconjuro. - Os inquisidores não acreditavam nos poderes excepcionais das bruxas e feiticeiros – mesma assim assavam-nos nas fogueiras da Idade Média. - Segundo a crendice da época os feiticeiros endureciam a água, levantavam e mantinha objetos pesados no ar, desencandeavam ventanias e chuvaradas e sabiam encher a casa de diabos – mas não sabiam esvaziá-las deles. - Segundo o sociólogo Artur Ramos, Deus, como abstração monoteísta, é uma entidade hermética ao entendimento popular. Assim, popularmente, Ele passou a ser figurado num símbolo concreto: o do “padre eterno convertido num velho de barbas branca”, herança de antigos paganismos. - O ateísmo, filosoficamente discutido e divulgado por André Comte-Sponville, contesta a tese criacionista e defende a veracidade existencial de Jesus Cristo, creditando à doutrina dele, cristianismo, o que há de melhor na religiosidade histórica do bramanismo e do budismo, fixando sua própria saliência como uma religião que exorbita da fé mística, alçando-se em termos racionais como plenamente provável e saudável (se despojado, claro, de toda a nebulosidade criacionista). 

POLÍTICA - Segundo o Dicionário de Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira: “ciência ou arte de dirigir os negócios públicos; ramo das ciências sociais que trata da organização e do governo e dos estados; arte de dirigir as relações entre os estados”. Ou seja: algo inexistente no Brasil de nosso tempo, infelizmente. - Corrupção, segundo o mesmo dicionário do mesmo autor: “ato de corromper (tornar podre, estragar; perverter física e moralmente; adulterar), depravação, suborno”. Ou seja: é o que funciona no país, substituindo a ciência e arte de cuidar da nacionalidade e de seu povo com honradez, civilidade, salubridade.

quinta-feira, agosto 27, 2009

SABOREANDO PELAS BEIRADAS II

DIA E NOITE O homem do campo chega à beira da fome. A tarde pousa em um dos seus ombros. Ele cava sete palmos de terra. Planta uma bandeira de milho. Dorme enquanto o dia não vem. O homem da cidade chega à beira da fome. A noite esmaga-lhe um pé. Ele entra na fila da morte. Acende um pito de pólvora. Dorme enquanto seu dia não vem. DOIS HOMENS E MEIO. De um modo geral a televisão brasileira piorou muito nesse longo hiato do governo lulista. As figuras predominantes são nojentas, não? Fico mudando de canal até fixar-me nos programas estrangeiros da SKY, cujos seriados são bem imaginados e melhormente realizados, interessantes, divertidos e instrutivos. Um deles, canal 44 da Warner, o “Two And Half a Men” focaliza uma casa de classe média, ocupada pelo cara compulsivo do sexo casual (Charlie), seu irmão bobo até falar que chega (Alan) e o sobrinho (uma porta que come, uma nuvem de metano em forma de gente) Jake e a descomunal empregada doméstica (Berta). O convívio é extravagante, hilário, atritoso e ao mesmo tempo afetivo, capítulo a capítulo duas vezes por dia, de segunda à sexta. A abundante, estrepitosa, esfuziante presença feminina enriquece a convivência nas pessoas de Judite, Rose, a mãe de Charlie e Alan e a sensuais jovens emancipadas da tolerante sociedade norteamericana.. Nos sucessivos capítulos dos variados enredos surgem uma infinidade de mulheres de vida fácil (?), cada qual mais cativante que a outra, todas causando problemas e prazeres, provando, afinal de contas, que a banalização do requinte esvazia o deleite – e que se a sensualidade perde o encanto quando se torna um vício (uma obrigação mecânica e cansativa), perde também o sentido original da erótica epifania corporal. O seriado é altamente recomendável para desopilar o fígado, é igual ou melhor do que alguns da televisão brasileira, agora infelizmente empobrecida diante de um contexto social tão avacalhado. PALIMPSESTO. O que é maravilhoso na literatura é a noção de que tudo já foi dito e, no entanto, quase tudo ainda está por dizer- e que a Vida, incluindo nela o Mundo, é o palimpsesto ágil e prolongado, é a idéia e a imagem, coladas em tela ágil e prolongada, no mural das idades. A história e a geografia vão e nos levam na mesma escada rolante que leva a parte de frente do Tempo e que traz a parte traseira do Tempo, numa enigmática variação de tons que nos acordam de um sonho mais lúcido do que tantos outros, irresolvidos e indisponíveis. O DOM DA PALAVRA. Qualquer palavra, uma vez amada, fica na memória... O dossel da árvore e da cama transparece na palavra que pode ocultar-se para preservar suas ramificações e bifurcações. O olhar é uma palavra e continua sendo um olhar: a mesma versificação da prosa na poetização dos afagos e das desventuras. Nem que passem meses e anos, a palavra tangível de um certo olhar miraculoso, continua gravada numa tela invisível aos olhos do corpo, assim conservando na treva dos outros uma certa luz individual-indivizível na janela dos anos. POESIA. Ana Cristina César, entre os complementos: o gato era um dia imaginado nas palavras. AS ROÇAS QUE NÃO VOLTAM MAIS. Igual a estória do roceiro que latia no terreiro da casa para economizar cachorro é a de tantos roceiros que iam descalços ao Arraial no dia de Festa ou de Missa – e só quando chegavam perto da povoação é que lavavam os pés e calçavam as botinas, - e assim chegarem bonitinhos na rua do arraial. O Córrego onde passavam até se chamava Lavapés. E também dentro do próprio arraial as pessoas ridicas (sovinas) andavam calçadas apenas num dos pés, a fim de que poupassem uma das botinas. Justificavam a manquitolagem com a alegação que o outro pé foi ofendido por um estrepe enquanto roçava um pasto. E assim variavam: um dia saiam calçados do pé esquerdo e no outro dia com a botina no outro pé. De forma que a vida útil do par de calçados durava o dobro do tempo.

sábado, agosto 22, 2009

GRÃOS E PICLES

Um bosque na primavera pode ensinar mais à humanidade sobre o mundo do que todos os sábios da História – como diria Bárbara Pym. - As pessoas velhas desfrutam de uma vantagem sobre as novas: ficam cada vez mais velhas, enquanto que as novas nunca ficam cada vez mais novas. - O nojo, acepção mais visceral da repugnância, é perfeitamente aplicável às figuras mais debochadas e corruptas da política brasileira. - O corpo é bom e belo em seus lineamentos e em suas funções. Contém o sexo e outros encantos e alguns tormentos. Sempre revestido de logicidades e de enigmas. E contém o poder e o dom da sexualidade, um ato de sedutora delicadeza e não um ato de estúpido estupro. - Conceitos e imagens que precisam chegar ao vocabulário comum das pessoas conscientes do estado físico do mundo em que vivemos. Tais como: - As mudanças climáticas vão destruir o mundo através de uma praga apocalíptica que eclodirá em 2040, se providências urgentes não forem tomadas. - Isso em conseqüência do aumento de apenas um grau na temperatura média do planeta em cada cem anos. Se tal proporção se manter a proporcionalidade da temperatura vai aumentar em 2 a 4 graus até 2050. O que vai destruir a camada gelada do planeta, inundando-o de ponta a ponta. - Para evitar o pior é preciso parar de bombear na atmosfera dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, gazes que formam um cobertor sobre o planeta, impedindo que a radiação solar, refletida pela superfície da terra em forma de calor retorne ao espaço sideral. Isso é o tal efeito estufa, maior causador do aumento da temperatura global. - Um número da revista VEJA de dezembro de 2006 publica sete planos levantados pela classe científica para salvar o planeta: 1 – Trocar o carvão pelo átomo, ou seja, substituir as usinas termoelétricas por usinas nucleares. 2 – Enterrar os gazes tóxicos. 3 – Colocar refletores de calor em órbita. 4 – Colocar um guarda-chuva no espaço. 5 – Espalhar enxofre na atmosfera. 6 – Multiplicar o fitoplâncton (adicionar ferro aos oceanos). 7 – Colocar mais água nas nuvens. - A Natureza (Deus, segundo Baudelaire) é caprichosa, grandiosa, maravilhosa, uma infinidade de rosas. Dá vida a tudo que nela está umbelicalmente ligado, ou seja, a todos os seres animados por órgãos dinâmicos.. Ela é o ÓRGÃO DINÃMICO por excelência da existência. A terra, a água, o ar, os seres que nadam, andam e voam, além dos que brotam do chão, crescem, florescem e frutificam. Tudo pelo Amor da Beleza e da Saúde. O ninho do casal de Bentivis bem ao nível da janela da cozinha da casa, numa das pontas de um galho de jabuticabeira. A fêmea choca, deitada, olhando numa direção por assim dizer duplicada (cada olho fitando cada lado na frente de sua visão). Dias e noites, sob sol, sombra e chuva, dias e noites, noites e dias, inamovível, aceitando o movimento das pessoas nas imediações com toda a naturalidade e mansuetude. De vez em quando o macho vem namorá-la e alimentá-la: chega bem perto da amada, que abre o bico da boca e ele, na perícia mais carinhosa, despeja lá dentro o alimento que trouxe não se sabe de onde nem o que seja. Um amor, dois amores (e logo serão mais, com o acréscimo dos filhotes) de criaturas. Deus (a Natureza, segundo Baudelaire), que os abençoem agora e sempre. Amém.

sexta-feira, agosto 21, 2009

COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO BONFÁCIL (*)

Obra preciosa que se lê e folheia incessantemente em seus meneios e arroubos gráficos (abstratos e concretos ao mesmo tempo) oníricos e contundentes. Todo ser humano tem seus momentos de lucidez e de nublações. Livro que merece lugar peculiar e privilegiado na estante, porque está sempre aberto às novas leituras e ensimesmamentos. Um arrojo levíssimo? Algo intérdito a nós outros, prosadores automáticos? Um chamariz para novas incursões escapatórias do realismo rastejante e ferino? Um chamado do além? Uma poesia diferente da vida igualitária. Absurdamente legível. Destinado aos raros momentos das dúvidas que se esclarecem e logo se apagam novamente. Algo imprescindível? Sim, algo imprescindível.

(*) de P. J. Ribeiro com intervenções de Wlademir Dias Pino

quinta-feira, agosto 20, 2009

PICLES DIETÉTICOS E INDIGESTOS

Lina Maria Vieira: nobreza de caráter, firmeza de posicionamento, brio e brilho na consciência e no olhar e nas atitudes, gestos e palavras. Uma ovelha inocente na arena das feras e dos gladiadores, uma cristã indo e vindo de Herodes a Pilatos.... Vimos pela Televisão que ela, ao lado de poucos amigos e semelhantes, enfrentava uma multidão inimiga e dessemelhante, mantendo em equilíbrio sua pessoa serena, despida de ambição e de egoísmo, devotada generosamente ao sincero amor da verdade. Na singela defensiva dos ataques da chamada tropa de choque do governo que tentava a todo custo ludibriá-la com os punhos cerrados da intimidação. Seus ofensores não sabiam que quem não deve não teme. Ficaram sabendo. - Numa antiga piada o patriota suíço reclamava de Deus a exigüidade e a carência de bens naturais de seu país, citando o Brasil, um país possuidor da maior exuberância dos bens naturais do planeta, como prova da injustiça divina. “O Senhor acha justo?”, perguntou. E Deus prontamente respondeu: “Injusto, eu? Já reparou no povinho que eu pus lá?” - E por falar em comparações, os eleitores brasileiros devem estar boquiabertos depois do resultado da palhaçada dos debates de uma Comissão de Justiça do Senado: doze a zero a favor dos governistas contra os oposicionistas. Entre os monumentais delitos, maracutaias, contravenções, apropriações indébitas, etc e tal, salvaram-se todos, menos os inativos contribuintes do erário. Uma pelada futebolística bairrista na qual o time perdedor jogava com o goleiro de mãos amputadas? Vergonheira que vai ficar nos anais históricos - Um amigo cricri, que não deixa passar nada em branco e vê manchas até no sol, sabendo da euforia de um colega diante da candidatura de Marina Silva, deu logo seu nó na goteira. Ela não está subordinada a um filho do tal de Sarney? Acredita que ela conseguirá ombrear impunemente a carga de um sobrenome tão manchado? - Esse mesmo cara que dá nó até em goteira, ouvindo de outro colega de trabalho a relação dos mil e tantos defeitos e erros dos políticos brasileiros, disse em alto e bom som: “Se você estivesse lá em cima, na gandaia, faria tudo o que eles fazem!” Aí o outro ofendeu-se: “Eu? você me conhece há muito tempo. Julga-me capaz de meter os pés pelas mãos como aqueles sacanas?” O cricri, tremendo gozador, pôs logo água na fervura, arrematando a questão: “Sei que não faria porque, sendo como é, nunca chegaria lá onde os safados estão”. - Uma citação entre aspas de vez em quando não faz mal a ninguém. O trecho é de um artigo (excelente!) de Diogo Schelp na página 96 da Revista VEJA de 19/08/09: “A teologia da libertação, aquela estranha concepção marxista do catolicismo que transformou Jesus Cristo numa espécie de Che Guevara da Antiguidade...”. Dilma Rousseff, em sua provável aversão à verdade e suas mais recentes mancadas: 1) acerca do dossiê referente ao Fernando Henrique Cardoso, que ela tentou amenizar, apelidando-o de “banco de dados”; 2) a trampolinagem do currículo fantasioso, quando julgou que a nossa é uma população de leigos desavisados; 3) sua intermediação no caso escabroso da venda da Varig, favorecendo o compadre de Lula, o tal de Roberto Teixeira; 4) sua responsabilidade pela saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente e agora do próprio PT; 5) e agora o rolo com a ex-secretária da receita federal, alegando uma não comprovada inocência, tentando jogar na fogueira da inquisição a moça que não se intimidou nem mesmo cercada dos furibundos inquisidores do senado. - Ela, a poesia, vem trazendo da fonte todas as águas. E deixa na fonte todas as águas. É assim que entrega seus poemas aos poetas: à título de empréstimo, por prazo determinado. - O personagem encarnado por Charlie Sheen no seriado “Two And a Half Men” do canal Warner da SKY tem todos os componentes de um dos personagens repetitivos do romancista Philip Roth: viciado em sexo casual, complexado edipiano compulsivo, repleto de incontinências, azares e fortunas, sugerindo nas entrelinhas que o atual funcionamento da sociedade está desarticulando mentalmente o indivíduo interessado na comunhão dos bens culturais da humanidade. Uma reminiscência existencialista dos ensaios sartrianos? - Lembro-me de um desenho do genial Millôr Fernandes, quando o Sarney assumiu e quase afundou a presidência da república, ostentando a intenção de fazer um SANEAMENTO em todo território nacional, que ele julgava dilapidado. O Millôr desenhou o mapa do Brasil em forma de um queijo, com um rato de cada lado, um falando pro outro: “sarneia daí que eu sarneio daqui”. - O chamado e propalado baixo clero do congresso brasileiro é, na opinião de J. R. Guzzo, “uma coleção de escroques, farsantes e parasitas como poucas vezes se reuniu debaixo de um mesmo teto – e que está no congresso em busca de negócios ou, simplesmente, para proteger-se do código penal”. O sagaz articulista acrescenta que hoje separar o baixo do alto clero é impossível, uma vez que de um modo geral todos desceram ao nível dos anões do orçamento e dos mensaleiros de estragos recentes. Em vez de apresentar leis, discuti-las para aprovar ou rejeitar, e de fiscalizar os atos dos outros poderes republicanos, eles ficam intermediando as dotações orçamentárias, interessados num naco para seus currais eleitorais e outro para os próprios bolsos, simplesmente como lobistas e despachantes privilegiados. Até quando perdurará tal contravenção?

AS NUVENS INFORMÁTICAS

A história da civilização tem origens remotas, passa por transições de relevâncias e recaídas. Mas está sempre testemunhando a ocupação intelectual do ser humano através dos veículos de relacionamentos e da divulgação dos conhecimentos, proporcionando seus principais instrumentos executivos como a editoração de livros, revistas e jornais, o funcionamento da radiofonia, do cinema, da televisão e, ultimamente, da INTERNET, sendo esta a mais abrangente das formas conhecidas de comunicação cultural. É a coqueluche dos novos tempos, a lanterna de muitas luzes simultâneas, a faca de muitos gumes, a fruta de muitos paladares. A Revista VEJA, em sua primorosa edição 2125, de 12/08/09, publica farto e valioso histórico a respeito do assunto, sob a rubrica “Vida Digital”, em 38 páginas compactas e agradavelmente legíveis. Em aditamento ao nosso costumeiro hábito de acompanhar toda leitura interessante com anotações dos trechos mais chamativos e pontuais, para assim, possivelmente, partilhar com o leitor uma espécie de síntese fortuita à guisa, por assim dizer, de um aperitivo visando inteirar-se melhormente para a ida, depois, à fonte citada. Eis algumas das anotações pinçadas (algumas despidas de aspas por não serem textuais, mas sintetizadas por mim): - “O autor é dono de sua obra e deve ser recompensado sempre que ela trouxer ganho financeiro a outra pessoa” – lei sobre a propriedade intelectual, na Inglaterra, em vigência desde o século XVIII. - O pagamento dos direitos autorais “é justo e devido ao criador de qualquer obra intelectual. Se esse direito for sitiado, não haverá mais incentivo para criar conteúdos” – Mark Helprin, autor do livro “Digital Barbarism”. - “Uma sociedade grande, diversificada e moderna não pode sobreviver sem propriedade intelectual” – Jurista José Carlos Costa Netto. - “A internet altera o funcionamento do cérebro... Fortalece alguns circuitos neuronais... Aprendemos a levantar mais peso realizando um esforço menor... Mas o uso tem que ser moderado, para evitar a superexposição de efeitos nocivos” – Gary Small, que afirma, também que “a procura de informações na internet sacrifica a profundidade pela amplitude, incita-nos a seguir adiante em vez de parar para refletir”. - “O excesso de tecnologia provoca stress e danifica nossos circuitos cerebrais: passamos a viver num ritmo de crise constante”. - “Aquilo que foi sussurrado nos quartos será proclamado nos telhados”. - “Sua privacidade já é zero. Pare de sofrer com isso”. - “Não ter controle sobre algo tão íntimo como a morte é angustiante”. - “O maior risco da superexposição da intimidade é o arrependimento”. - “O desejo de privacidade é parte da essência humana – ou mesmo de nossa essência animal”. - Akan Westin revisou dezenas de estudos zoológicos para demonstrar que, virtualmente, todos os animais têm necessidade de isolamento temporário”. - Temos de reservar um abrigo que seja de todo nosso... para manter nosso diálogo com nós mesmos”, palavras de Montaigne. - É fundamental definir novas regras em torno do tema privacidade para regular um mundo cada vez mais transparente” – Eric Schmidt, Presidente do Google. - Anda Gary Small com a palavra: “a tecnologia em excesso traz problemas. Moderadamente, é nossa grande aliada”. - Em breve vamos checar e corrigir nosso circuito neural por meio de controles remotos iguais os da TV – e teremos também mínimos implantes na cabeça”. - Stephen Wolfram, dono do site de buscas Wolfram Alpha articula a meta d “tornar computável todo o conhecimento acumulado pela humanidade e oferecer respostas diretas às dúvidas dos usuários”. - Com o lançamento do iPhone a tecnologia Touch Screen multiplicou os programas para as telas sensíveis ao toque dos dedos nos celulares. A páginas 104 a 108 da Revista VEJA relaciona dezenas de modalidades e as variações de recursos digitais. Um festival de inovações. MARINA MORENA. Ela surge silenciosamente como um dia luminoso em nossa tempestuosa temporada. O amigo Edgar Mourão escreveu um artigo enternecedor e coerente, que está circulando na internet, a respeito da possível candidatura de Marina Silva. A súbita aparição dela no primeiro plano da política nacional não deixa de ser uma rajada de ar fresco no pandemônio politiqueiro que sempre imperou no Brasil e que agora chegou a uma espécie de auge insuportável. É uma pessoa desligada da cloaca dos padrinhos e afilhados do mandonismo corrompido e corruptor que tem inviabilizado qualquer tentativa de organizar no país a vigência de uma democracia sadia e praticável. Representa o sonho da ascensão de uma dinâmica criteriosa, uma possibilidade administrativa desenvolta, hábil e honesta, descomprometida dos manjados liames da corrupção institucionalizada nos quadros funcionais dos partidos políticos dominados por velhas raposas mancomunadas no afã de locupletarem-se nas minas de ouro do erário público. Não é assim que suas excelências e seus apaniguados enriquecem torrencialmente, ilicitamente? Sabendo que até pode perder a cabeça, mas não o juízo, a notícia da possível candidatura dela injeta nos brios morais dos eleitores conscientes uma esperança de remodelação da viciada sistemática de corromper os procedimentos do poder público até chegar ao estágio da incompatibilidade do exercício governamental com a dignidade patriótica do povo brasileiro.

quarta-feira, agosto 19, 2009

O UNIVERSO FAMILIAR

(Esboço Genealógico)

EVANDRO PEREIRA ARAUJO, casado com a prima Edircilene Guerra Araújo (filha do famoso ferroviário David Pereira Guerra), filho de Benedita Pereira de Melo e de Luiz Gonçalves de Araújo; neto de Maria Arcângela da Silva e de Afonso Pereira Melo; bisneto de Archângela Tavares Barreto e de João Pereira da Silva (João Professor); trineto de Antônio José de Oliveira Barreto (1825-1890) e de Maria Arcângela Tavares; tetraneto de Bernardo José de Oliveira Barreto e de Josepha Maria de Jesus (filha de Manuel de Souza Pinto e de Anna Joaquina, colonizadores da região rural de Cláudio); pentaneto de Antônio José de Oliveira Barreto (1767-1843, natural de Santa Cristina de Aroens, Arcebispado de Braga, Portugal, filho de Gregório Francisco de Oliveira e de Maria Rosária Ribeiro de Freitas) e de Anna Joaquina Cândida de Castro (brasileira de Prados, Minas Gerais, filha de Rosa Angélica da Luz – descendente de ilustres membros da nobiliarquia paulistana e mineiriana – e de Faustino José de Castro (português do Porto, advogado e Capitão de Ordenanças). Evandro Araújo, de muita notoriedade positiva em todo Estado de Minas, é um expoente do jornalismo televisivo em Divinópolis, MG, onde exerce o cargo de Editor Responsável da TV Alterosa. Possuidor de muita facilidade para dirigir equipes e de exercer o lado fluente das reportagens, aliando o carisma da presença com a naturalidade de se mover e expressar diante e atrás das câmeras, comungando com o espectador o interesse e o resultado do trabalho comunicativo, colhendo sempre os melhores índices de receptividade. 

 PRIMAS DA JUVENTUDE (*). Quantas primas amamos na infância e na juventude? E agora na meia-idade ou na velhice? Os desejos são os mesmos, depois de tantos anos? Cansados de brigar, os dois hoje vivem em paz? A velhice é mais solidária e menos solitária? A lembrança já ocupa o lugar do pensamento? Às vezes o auge da ojeriza e a freqüência das arengas não passam de meras autocríticas, pois: Os filhos que não dão trabalho ficam relegados. Os afeitos às travessuras são mais amados. Em casa, às vezes, nem precisamos falar. Os parentes se entendem no silêncio. Assim é que é mesmo: um não disse mas pensou. O outro não ouviu, mas entendeu. “Esses Barretos são assim mesmo”, dizia minha mãe, que era dos Guimarães: “Cada um guarda a raiva até morrer”. Ah, oh, é assim mesmo! O intelectual é um descontente crônico. De repente ele descobre que a neta agora é avó. E assim e assado, estamos conversados. Quem não gostar, que coma menos. Pois. 

(*) Transcrito de meu livro “Família Oliveira Barreto”, edição do autor, esgotada.

quinta-feira, agosto 13, 2009

ASAS DO DESEJO (*)

A guerra – uma contrafação sanguinária – camufla o que há de podre e cruel no ser humano. No filme o cineasta Wim Wenders desguarnece os efeitos do holocausto e da divisão da cidade arruinada, através de um cenário fantasmagórico (real e onírico de vez em quando?, no qual só mesmo a (im)possível presença dos Anjos da Guarda (invisíveis e no entanto bem palpáveis) acendem alguns lampejos na escuridão, respondem algumas perguntas irrespondíveis das crianças. A Equilibrista faz do corpo esbelto uma espécie de alma materializada, envolta em nuvens e aplausos. Sentiria falta de vida, se não a exibisse aereamente como se fosse o belo efeito de uma taça do mais puro licor da alma. Sentimo-nos, vendo-a movendo-se no ar, que o corpo é muito mais do que aparenta ser. Os dentes dela brilham no escuro como se fossem flores entre folhas. Assim tão cheia de graça cativa o Anjo egresso das altitudes – e quando chega perto dele, não deixa nada a desejar. Ela é um anjo também? Roubaria a cena até de uma certa eternidade, não? A flutuar no espaço azulado da perenidade pacífica, transcendendo a circunstância aguerrida.... Assim o tempo e o espaço casam-se no amor de cada um. O instinto nos leva para onde? Não sabemos. Ele, o instinto, saberá? A Solidão é a integridade? O Amor é apenas a metade? O Homem e a Mulher: uma dualidade indivisível? As partes de ambos ajustam-se na unidade multiplicável? O que há com a Paz, que nunca mereceu, na literatura universal, uma epopéia (tão encontrável nas descrições e narrações de tantos rapsodos)? Só palavras passageiras, lembradas na brevidade da desimportância? Nas mãos dos bons autores (literários, cinematográficos, teatrais, plásticos) até as pedras ganham vida (diria até mesmo que até a morte ganha vida). Por que a Paz não alcança os paramos de um enredo à altura de sua importância, em trajes de poemas, romances, telas pictóricas, filmes de ação e de nostalgia? Seria desinteressante sob o ponto de vista comercial, ou seja: é desprovida do apelo emocional que clama aos céus por uma dor nela inexistente? A doçura não conta, neste caso? Todo leitor e/ou espectador, seriam então sado-masoquistas? A Paz, ora essa, a Paz é a PAZ! Não é como é o desejo de todas as pessoas do mundo de amar e de ser amado? A Paz...: Sua inspiração é pouco durável? Ela não deixa nascer ou florescer os seres humanos heróicos, transcendentais? É mesmo assim modesta, humilde, cheia de si na tranqüilidade? Só bafeja, doura e encanta, os pobres seres humanos que, nas cenas empolgantes da vida, não passam de meros figurantes? A PAZ, uma Beleza (que pena!). 

(*) – Escrito sob a inspiração despertada pelo filme ASAS DO DESEJO, de Wim Wenders.

quarta-feira, agosto 12, 2009

NOBRE ASCENDÊNCIA

Em meados do século 19 o Arraial do Desterro (hoje Marilândia) não conseguiu “segurar” a quantidade e a qualidade de sua então enorme população. Possuía até um Quartel-Batalhão da Guarda Nacional com mais de cem praças, um Juizado de Paz, uma Subdelegacia de Polícia, um Clube Dramático, dez Tabernas (nome dado às Pensões da época), um Pároco que era ao mesmo tempo Deputado Provincial (o Padre Francisco Guarita Pitangui) – e área administrativa imensa, mas depois perdeu Boa Vista para Carmo da Mata, Bocaina para Cláudio, Buritis para Divinópolis, Serra Negra e Partidário para São Sebastião do Oeste. O século 20 e seu compêndio modernizador da tecnologia e dos costumes sociais (toda a tônica civilizatória dos grandes centros) veio introduzindo as novas exigências de produção e modalidades de mão de obra. Foi assim que o Desterro perdeu, além de boa parte de seu território, grande parte de sua população. Para se ter uma idéia só na família Oliveira Barreto: as filhas e filhos do Comandante Antônio José de Oliveira Barreto: Maria José casada com Severino Moura; Arcângela cc João Professor; Idalina cc Francisco Teixeira; Bernardo (Nadinho) cc Anna Joaquina; Josepha cc David da Silva Sobrinho; Antônio (Tunico) cc Elisa Araújo – todos migraram para a região de São Sebastião do Curral, localidade fundada antes, por uma tia de todos (irmã do patriarca e comandante Antônio, citado) a Francisca de Oliveira Barreto (1824-1871, casada com Pedro Amaro Teixeira e, depois de enviuvar-se, casar com Joaquim Bernardes Teixeira, irmão do primeiro marido. Ela, com um dos maridos doaram 29 alqueires de terra para constituir o Patrimônio de uma Igreja onde o lugarejo seria erguido e hoje é a sede municipal da cidade de São Sebastião do Oeste. No mesmo período migratório uma outra irmã dos referidos filhos do Antônio, a Virginia Cândida Barreto casou-se com David José da Silva (tio do outro mencionado), indo residir em Pedra do Indaiá, distrito limítrofe, onde depois o Bertolino José Tavares, filho de Rosalina Barreto e José Antônio Tavares, casando-se com Maria Pedro de Alcântara, foram viver, constituindo a família com os filhos Lindolfo, Maria Alcântara, Alvina, Mariles, Laurina e Alcindo (por sua vez casado com a prima Francisca Alcântara. Que o leitor desculpe o teor exaustivo do relacionamento familiar, mas não há como fugir: de um modo toda família é mesmo extensiva em seus núcleos formadores da sociedade de um tempo e de um lugar. Meu principal intuito aqui é esboçar o papel familiar de Darly Tavares da Silva, prima, amiga e colaboradora de minhas pesquisas genealógicas. Ela é filha de Maria José das Dores e de João Teixeira da Silva (que foi aluno do Professor Nadinho, no Desterro), pais de doze filhos. É neta de Maria José Tavares casada com João Pedro de Alcântara, que era irmão da Maria Pedro Alcântara, citada. É bisneta de Rosalina Cândida Barreto e de José Antônio Tavares. É trineta de Bernardo José de Oliveira Barreto e de Josepha Maria de Jesus. Tetraneta de Antônio José de Oliveira Barreto (português) e de Anna Joaquina Cândida de Castro. Pentaneta de Faustino José de Castro e de Rosa Angélica da Luz, descendentes e ascendentes da ilustre fidalguia nordestina e paulista (os Teixeira de Carvalho, de São João Del Rei, os Inconfidentes Padre José Lopes de Oliveira, Francisco Antônio Lopes de Oliveira e Hipólita Jacinta Teixeira de Mello (única mulher que participou realmente da Inconfidência), os Vidal Leite da Zona da Mata, os Fontouras, os Andradas, os Caldeira Brant, os Castros, os Vilas-Boas, dezenas de membros da nobreza imperial e de patronos da instalação republicana, preponderantes na classe dirigente de várias regiões do sudeste brasileiro. A pesquisa genealógica às vezes parece um exercício de ficção romanesca. A Nair Tavares da Cunha, filha do já citado Alcino José Tavares e de Francisca Alcântara Tavares, informou-me que, viajando uma vez de avião ao lado do então Presidente da Academia Brasileira de Letras, o escritor Austragésilo de Atayde, ouviu dele, depois de revelar o sobrenome da própria família (Pedro Alcântara), que ela devia ser descendente de Dom Pedro I e da cortesã (costureira da Corte) Clemente Saisset, esposa de Pedro Saisset, comerciante estabelecido na Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, deslize conjugal do Imperador, também citado no livro “Cartas de D. Pedro I à Marquesa dos Santos – Notas de Alberto Rangel”, Edit. Nova Fronteira, RJ, 1984, na página 323. E na página 338 a citação vem com o nome de Henriette Josephine, esposa do marselhês Pierre Joseph Félix de Saisset, estabelecido com sua firma comercial com o nome de Saisset e Cia., em 14/03/1827. Segundo as palavras do escritor à Nair, o imperador teve que obedecer a exigência da Imperatriz Leopoldina e expulsou o casal do país, mandando o filho bastardo para ser criado longe da Corte, aos cuidados de um amigo que tinha no Senado (tinha esse nome) de Pitangui, de onde recebia mesadas até a abdicação e o retorno do imperador a Portugal. Sabendo, pois, da Nair, que sua família com aquele emblemático sobrenome (Pedro Alcântara) era procedente de Pedra do Índaiá, um Distrito então da Vila de Pitangui, ambos (o escritor e ela) chegaram a acreditar, durante a conversação na viagem, que a hipótese do remoto parentesco podia merecer uma confirmação, posteriormente. “Nunca tive outro contato com ele”, ela me disse. Fiquei interessado no assunto e depois, pesquisando no Arquivo Público Mineiro, de Belo Horizonte, encontrei no documento “Registro Paroquial da Vila de Pitangui – RP 161, folha 63, 1854-1856, APM”, a seguinte anotação: “Em 26/05/1854 me foi apresentada a seguinte declaração: João Pedro de Alcântara possui pastos de terras de cultura e de campos em comum na Fazenda Morrinhos. Divide-se com as Fazendas Contage, Pompéo, Junco, Alegre, Catita, no Distrito de Maravilhas, desta Freguesia de Pitangui – 22/03/1856”. Senti que a informação de Dona Nair tinha cabimento em termos de datas, locais e nomes. Dom Pedro I chamava-se Pedro de Alcântara Francisco...de Bragança e Bourbon; seu filho e sucessor no trono ostentava o nome de Pedro de Alcântara João...de Bragança e Hasburgo. Ato contínuo ao da pesquisa no APM, fui à Biblioteca Pública Luiz de Bessa, ainda em BH e consultei vários livros sobre os dados biográficos do Imperador e não consegui confirmar nem desistir da hipótese levantada pelo Acadêmico da ABL. O certo, pelo que sei e ouvi contar, é que os familiares mais antigos da Maria Pedro Alcântara viviam como se fossem herdeiros do Trono, ou seja, esnobavam luxo e riqueza, aptidões e conhecimentos. Citei, acima, a prima e amiga Darly, que iniciou seus estudos no antigo Ginásio São Geraldo, em Divinópolis, ali concluindo o Curso Ginasial. Foi para Belo Horizonte onde fez os cursos de Técnico em Contabilidade pela AEC, Magistério, no Colégio Afonso Arinos . Depois, Estudos Sociais (Licenciatura Curta) no Colégio Leão XIII em Divinópolis e, por fim o Curso de Letras (Português-Francês) pelo INESP, também, em Divinópolis. Foi Secretária da Prefeitura,Vereadora e Secretária Municipal de Saúde de Pedra do Indaiá, pessoa lúcida, dinâmica e culta, que não se contém na rotina cotidiana da vida social de uma pequena cidade. Dedica suas horas vagas em leituras e escritas em prosa e verso. Abaixo um poema de sua autoria, escrito recentemente. Passado, Presente e Futuro Naveguei no arco-íris, transpus caminhos inusitados, Peguei carona com o vento, voltei no tempo e no espaço. Quis rever o que foi belo, inebriar-me no que foi bom, Saborear delícias de criança, da vida jovem e adulta, Quis fazer um “flashback”e mergulhar-me no passado. Fui peralta na infância ao pegar os canarinhos, Colocá-los na gaiola e ouvi-los (coitadinhos)! Mas também fui boazinha quando a Virgem coroava De cetim e de grinalda, lindos versos entoava! Aproveitei a juventude com limite e lealdade Nos bailes boa dançarina, a flertar o pretendente O cupido aparecia, o coração batia ardente E uma noite era pouca para tanta felicidade! Mais adiante, não fiz bem a escolha do meu par, Sob juras de amor, chegamos aos pés do altar. Não lamento a desventura: da união colhi o louro, Pois ganhei um lindo filho, minha vida, meu tesouro. De tudo que vislumbrei, foi-me dada a opção De guardar na minha mente e tirar a conclusão: Valeu a pena a trajetória desse tempo que se foi? Ou há muito que mudar para o presente melhorar? Vou colher o que plantei, disso consciente estou: Se foram rosas, terei rosas, se espinhos terei espinhos O meu futuro será fruto do que fui e do que sou.

terça-feira, agosto 11, 2009

SONETO NUPCIAL 2

Todo ser humano, Logo depois que nasce, Passa a crescer Em beleza e sabedoria. Todo ser humano, Que vive e ama, Floresce e frutifica Sua individualidade No casamento. Quando então um é dois E dois é um. Assim PAULO e LAYLA Reescrevem e renovam Seus históricos familiares.

quinta-feira, agosto 06, 2009

A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS

Título pomposo, poético, atraente, o do livro de crônicas de João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emilio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, nascido em 1881 e falecido em 1921, dentro de um táxi no bairro do Catete (RJ), dias depois de ter sido espancado por marinheiros. Era filho do Professor Alfredo Coelho Barreto e de Florência Cristóvão dos Santos Barreto, mulata e bastarda. Aos 18 anos de idade começou a trabalhar na imprensa carioca, granjeando logo muita evidência, através de suas crônicas, reportagens, peças teatrais e livros. Autor de estilo mordaz e sarcástico, segundo afirma o coordenador da edição na Martin Claret (RJ 2008) do livro supracitado.”Vestia-se com espalhafato e assumia abertamente sua homossexualidade, atraindo críticas severas dos intelectuais conservadores de seu tempo”. Fundou e dirigiu o jornal “A Pátria” e colaborava em outros oito do Rio de Janeiro e de São Paulo. Publicou, entre outros, os livros “As Religiões do Rio”, “A Mulher e os Espelhos”, “A Alma Encantadora das Ruas”, sendo eleito membro da Academia Brasileira de Letras, viajando várias vezes em muitos paises da Europa, tornando-se amigo da famosa bailarina Isadora Duncan, ciceroniando-a no Rio em 1916, oportunidade em que testemunhou-a a dançar nua na Cascatinha da Tijuca. A temática do livro que dá título a este artigo, sempre me cativou. Em criança vivi inesquecivelmente a perambular nas ruas de Baixo e de Cima, no Morro da Fonte, no Areião e no Beco da Tenda, em Marilândia; e também na então chamada Rua do Meio em Itapecerica e depois, na adolescência, em várias ruas e avenidas da bela Belo Horizonte das décadas de 40 e 50. E as ruas encantadoras do Rio do nosso João do Rio? Elas interessavam-me muito pelas enfáticas citações nas letras da fase áurea da música popular brasileira, intensamente radiofonizada nos dourados anos das citadas décadas. Ruas e bairros: Urca, Tijuca, Santa Tereza, São Cristóvão, Bangu, Ipanema, Leblon, Copacabana, Lapa (onde fazia questão de hospedar-me num singelo hotel de onde saia para acompanhar os ensaios das escolas de samba). Naquele tempo a gente pegava o bonde, perguntava o que quisesse aos transeuntes, não corria o menor risco de ser atropelado, agredido, assaltado. Onde estivéssemos, estávamos em casa, uma beleza. Em Belo Horizonte, onde vivi em duas oportunidades somando quase 20 anos, eu cumpria o mesmo esquema de divertidas veleidades: pegava o bonde na Praça da Feira de Amostras, onde hoje fica a Rodoviária, ou na Praça Sete e ia até o final da linha e voltava e depois pegava outro de outra linha e assim fazia nos dias e noites de folga (trabalhava de segunda a sábado de dia e estudava de segunda a sexta de noite). Uma curtição, como hoje se diz. Imagens que não se apagam da memória ao longo dos anos, como que luzindo e projetando tantas e tantas cenas de filmes inesquecíveis. Existia naquela época, tanto em Marilândia, como em Belo Horizonte e Rio de Janeiro e em tantas outras grandes e pequenas cidades brasileiras a celebração dos ritos de passagem, o calendário de festas populares, a comemoração dos grandes feitos em datas históricas e, sobretudo, as brincadeiras, jogos e cantigas de rodas. Tudo religiosamente cumprido de acordo com os cânones, as crendices e a predisposição festiva das pessoas ricas, remediadas e pobres. Cada macaco no seu galho, ou seja: cada circunstância no seu contexto. O nosso João do Rio, tremendo gozador, não perdia uma oportunidade. Com o roteiro mapeado e as ferramentas de trabalho nas mãos (era jornalista, como disse) – e o olhar perscrutador seguindo as intenções de vivenciar e de exprimir não só sociologicamente o sistema de crenças em vigor nos lugares, mas também todo o corolário das satisfações humanas, repercutidas em si mesmo, das pessoas participantes nas pequenas, grandes e médias e grandes festividades. As tradições milenárias andavam nas pernas das pessoas, cantavam e pulavam em suas vozes e gestos descontraídos. E hoje? Hoje as ruas pertencem aos automóveis, aos criminosos e suas vítimas. São, com o perdão, da frase, quase antros. Essa coisa horrenda que é a tal de criminalidade ostensiva de hoje em dia, é um surto psicótico que se dissemina na área física dos grandes centros urbanos. Chegamos ao ponto crítico ao observar, vulnerável e impotente, que a população marginal cresce assustadoramente numa tendência ao que parece infindável. Quando Belo Horizonte ficou irrespirável na turbulência de ação e de situação, as pessoas honestas e inocentes passaram a fazer o papel de vítimas, perderam a naturalidade e o interesse pela recreação fora de casa. Com o passar do tempo a solução governamental foi aumentar a repressão através do maior aparato policial da Segurança Pública. Aí a incidência criminosa dos meliantes derivou-se para Contagem e depois com a adoção das mesmas providências, derivou para Betim e de Betim para Divinópolis. Gora ficamos a pensar: quando Divinópolis armar-se devidamente, para onde a violência da marginalidade irá? Este é o terrível sinal dos tempos a macular a história da humanidade? É um fenômeno de fácil entendimento. Os facínoras da marginalidade social estão sempre procurando um campo populoso onde possam misturar-se com os habitantes e assim esconder-se da suspeição. Num centro menor o elemento estranho é logo identificado e fica sob a espreita da desconfiança. Se o centro é maior tal identificação espontânea não acontece – e aí o meliante fica muito à vontade para cometer suas falcatruas em plena luz do dia em áreas públicas ou nas sombras noturnas escalando muros, arrebentando portas e janelas de casas comerciais e residenciais. Aí a vaca vai pro brejo, como se diz. Cadê a alma encantadora das ruas? Virou alma penada das assombrações e monstruosidades? O que está acontecendo, afinal de contas, neste mundo sem Deus, repleto de políticos salteadores do erário público? O mau exemplo vem das fajutas lideranças, dos chamados santos de paus ocos das intermináveis ocultações dos desmandos públicos? O que observamos, estarrecidos, nas prestações de contas dos poderes legislativos e executivos nas esferas municipais, estaduais e federais, é a paralisia ou impotência do judiciário – e agora (era só o que faltava!) os corruptos de um modo geral estão culpando a imprensa de falsos testemunhos de crimes que clamam aos céus dos dias de hoje. Querem, assim, cooptar ou desqualificar e desmoralizar o que é tradicionalmente conhecido no Brasil como “o quarto poder”, ou seja, a imprensa reconhecidamente sadia, que não tem o rabo preso com a iniquidade, como se diz. O que eles, os porcalhões, querem? Estabelecer o primado da mais insidiosa, genérica e apocalíptica imoralidade? Haja Deus, como diria o JÔ Soares.

quarta-feira, agosto 05, 2009

UMA CERTA PRIMAZIA

Antigamente o relacionamento familiar era bem complicado. Por falta de outras opções (as pessoas de um modo geral não viviam tão em comum como hoje vivem) as moças e rapazes casavam-se na própria família, primos com primas, acontecendo até o caso de meu bisavô paterno contrair as renúpcias com a filha de uma irmã, mesmo precisando e conseguindo a autorização do Papa através de boa quantia em dinheiro e outra em celebrações de missas. Ele era Barreto e as duas esposas eram Tavares. As duas famílias amavam-se tanto, que mais quatro irmãos dele e uma irmã casaram-se com quatro irmãs e um irmão da primeira esposa. Isso no decorrer do século 19. Daí por diante o amor continuou e cresceu – e os barretos e os tavares continuam proliferando, no bom sentido, até os dias atuais. E meu objetivo aqui é narrar, mesmo por alto, as curiosas proezas dos dois Zequinhas: o Barreto e o Tavares. Eram primos entre si e casados com duas irmãs, que também eram primas em primeiro grau, de cada um deles. Seus nomes, pelos quais são até hoje lembradas: a Dona Cota e a Dona Naná. Para ser mais explícito: o Zequinha Barreto (José Valentim Barreto – 1876-1940) contraiu as primeiras núpcias com Maria Arcângela de São José (Dona Cota – 1887-1930), ele filho de José de Oliveira Barreto e Maria Tereza de Jesus, e ela filha de Necésio José de Oliveira Barreto e Joaquina Rosa de São José. Por sua vez o Zequinha Tavares (José Pedro Tavares) contraiu as primeiras núpcias com Esmeraldina Cândida Tavares (Dona Naná), filha do mesmo Necésio José de Oliveira Barreto e Joaquina Rosa de São José, sendo que ele, o Zequinha, era filho de Ubaldina Cândida Barreto (1860), casada com José (Juca) Tavares, irmã do mesmo Necésio e do mesmo José, ambos filhos do Antônio José de Oliveira Barreto, o das renúpcias contraídas com a sobrinha. Tudo em casa, como se nota. Vemos, pois, que os dois Zequinhas eram, além de primos, contemporâneos e concunhados e amigos. Estudaram o que na época podia ser considerado um curso superior ao nível dos de hoje, em São João Del Rei e em São Bento do Tamanduá (hoje Itapecerica). O Barreto era homeopata, (que entendia do latim da igreja católica, responsável que era pela manutenção e conservação da Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Desterro, no Arraial do Desterro, além de saber bem o francês dos livros de homeopatia). Exercia ainda as funções de fazendeiro, comerciante, sub-delegado de segurança pública, músico (regente da Banda), Presidente do Clube Dramático e Tenente da Guarda Nacional. O outro Zequinha, o Tavares, era político, chefe dos papiatas (antiga UDN) de toda a região e depois ativista ferrenho do Integralismo de Plínio Salgado, além de ser Orador qualificado, eloqüente e escorreito, para toda e qualquer circunstância, músico (exímio tocador de clarineta) e fazendeiro abastado, o que o primo também era: a fazenda de um confrontava com a do outro, uma vindo do Lavapés e a outra da Laje da Pedreira. A nota a respeito de sua pessoa, no meu livro “Família Oliveira Barreto” diz na página 103: “Fazendeiro, comerciante, farmacêutico, político (líder integralista da região e músico. Sua imensa prole tomou muitos rumos geográficos e religiosos nos novos tempos. Para se ter uma idéia da prodigalidade genética: seu primeiro neto, Gaspar, tem hoje 70 anos e o último, Régis, tem apenas 15 anos de idade. E é interessante notar que seu catolicismo radical transigiu, familiarmente, nos dias atuais, através da numerosa descendência, para outra espécie de radicalismo religioso, o das chamadas igrejas evangélicas”. Quanto às duas mulheres, ah, as duas mulheres! Na nota a respeito de dona Naná no livro citado, consta: “Casada com o primo (teve mais três irmãs – Maria Archângela, Rosa e Maria Joaquina – casadas igualmente com primos), deixou boas lembranças, quando faleceu. Dizem ter sido ótima atriz nas comédias e dramas encenados pelo clube Dramático do Desterro, nos primeiros anos do século 20. Dizem que quando a encenação estava frouxa e tediosa, a platéia gritava: “Manda a Naná! Manda a Naná!” Aí ela aparecia - e a ação retomava o fio dinâmico. Uma trineta dela, a Mayra Belém Tavares, revela-se nos dias de hoje uma atriz de sucesso nos palcos da cidade de Divinópolis”. Já a Dona Cota, para recompensar a esterilidade genital adotou informalmente (na época não existia uma lei a respeito da adoção) sete crianças carentes e ou órfãs, criando-as com atenção e carinho, da mais tenra infância até ao casamento de cada uma. Pessoa leal e obstinada e moralmente rigorosa: criou sete filhos das outras pessoas e recusou aceitar em sua casa e do marido uma filha natural dele, que teve de ser criada até atingir a idade escolar na Fazenda do Lavapés dos cunhados e primos Zequinha e dona Naná. Depois foi internada pelo pai num bom colégio de Cláudio, de onde saiu formada professora – e logo casou-se com um fazendeiro de Carmo da Mata, vindo a falecer quando ia completar cem anos de idade, em Belo Horizonte, deixando, por sua vez, uma bela família, muito bem encaminhada na sociedade da capital mineira e na cidade de Carmo da Mata. Tenho a dizer - para encerrar estas notas e dar espaço ao belo texto de uma outra prima (a Tereza, filha do Lute), que mora com a família em Araxá – que a herança que José Valentim Barreto deixou para a família, foi toda saqueada pelos espertalhões da época no Arraial do Desterro, aproveitando o fato de minha mãe ser um tanto ingênua e analfabeta, e nós Devanir, Eu, Vitória e Maria José, contávamos, respectivamente, apenas 8, 6, 4 e 2 anos de idade. Do espólio de uma fazenda e um sítio e quatro casas ficou apenas duas das casas. Da maior e melhor parte não vimos nem o cheiro, como se diz. Mas depois de tanta aproximação mental e sentimental dos dois Zequinhas, resultou que a cativante figura humana do Tavares inspirou-me a criação de um dos personagens do romance inédito “Monólogo e Pranto”, enquanto que da figura saudosa e querida do Barreto captei a inspiração para criar o personagem central da peça teatral inédita “O Pão dos Anjos”. Gente fina, fina mesmo. 

 A FAZENDA DO LAVAPÉS - Tereza Maria de Jesus. Esse era o nome da fazenda de meus avós paternos. Era uma linda propriedade, da qual me lembro como se fosse hoje. Era um casarão com enormes portas e janelas azuis. Na frente uma varanda onde, ao entardecer, reuniam a família, os amigos, empregados e outros que por ali passavam. Minha avó sempre pronta para servir a todos com cafezinho quente e gostosas quitandas. O casal era querido por todos da redondeza. Levantavam cedo. Meu avô ia cuidar de seus afazeres enquanto minha avó cuidava da casa, venda, dos filhos e dos netos. Tiveram sete filhos legítimos e criaram vários. Naquele tempo havia muita fartura. Não tínhamos notícias de fome e miséria. Os mais simples não tiveram acesso a uma sala de aula. Mesmo assim, conseguiam criar seus filhos trabalhando nas fazendas, apartando gado e cuidando da lavoura. Não se falava em “sem terra”. Ninguém falava de estresse, depressão, ansiedade, que são comuns no mundo atual. Segundo contava meu pai, não havia diferença entre patrões e empregados no tocante à convivência. A fazenda de meus avós, para os netos, era a visão do paraíso. Contávamos os dias para sair de férias. Quando desembarcávamos no arraial já sabíamos que vovô havia preparado o carro de bois. Cobria-o com colchão de palha e colocava vários travesseiros de macela. Consigo até sentir novamente aquele cheiro. Como era bom! O carro saía cantando pelo caminho, com suas pesadas rodas. Minha avó nos esperava andando de um lado para outro, certificando-se que tudo estava de acordo para nos receber. Quando apeávamos, lá vinham eles, incansáveis, para nos saudar. O almoço certamente estava pronto no grande fogão de lenha. A mesa era imensa, havia lugares para todos. Minha avó dificilmente se sentava, pois sempre chegava mais um e ela, com prazer, colocava mais pratos na mesa. Nós, crianças, sentíamos pressa para comer e começar a andar naquele imenso pomar. Comíamos todas as frutas da época. Adorava pegar uma cestinha e ir colher ovos no galinheiro e dar de comer às galinhas. Na cidade não víamos nada igual. Pela manhã, meu pai nos levava para tomar leite fresquinho, espumado. Depois de alimentar, reuníamos com os primos e a brincadeira estava apenas começando. Era tarefa difícil nos reunir para o almoço. Mais tarde íamos ver o monjolo trabalhar. Aí estava a maior preocupação de nossos pais e avós. Após tantas brincadeiras íamos até o pomar comer abacaxis. Sempre havia alguns no ponto. Era tudo muito gostoso. A única coisa que nos fazia reclamar é que o tempo na fazenda passava muito rápido. À tarde, após o jantar, reuníamos em volta de nossa avó para ouvir as mais lindas estórias que não se encontravam em nenhum livro desse mundo. Hoje penso que se ela tivesse estudado teria sido uma grande escritora de livros infantis. Ouvíamos as estórias que vovó contava naquela sala mágica, com nossos olhinhos atentos sob a branda luz do lampião. Terminada a narrativa, vovó ordenava que fôssemos para cama. Ninguém desobedecia, pois sabíamos que no dia seguinte teríamos um longo dia pela frente. Tomávamos um lanche rápido e deitávamos felizes. Vovó ainda ia até nossas camas nos abençoar. Crianças nas camas, os adultos se reuniam na varanda para um bom dedo de prosa... Meu avó José Pedro Tavares e minha avó Esmeraldina Cândida Tavares eram primos e se casaram cedo. Ele era conhecido como Zequinha e ela por Naná. A exemplo de outros netos mais velhos, tive a sorte de nascer lá, pelas mãos de minha avó, que também era parteira. Passados alguns anos, tudo mudou. Vovó Naná adoecera com um derrame cerebral que a confinou numa cadeira de rodas por longos nove anos, ou seja, até a sua morte. A vida não poderia ser a mesma. Com a versátil vovó sem andar, vovô passou a dedicar sua vida a cuidar dela. Acabaram-se mudando para a cidade, sua saúde exigia cuidados. A fazenda do Lava-pés foi vendida e hoje não existe mais. Acabaram-se o pomar, o casarão, o monjolo, o paiol, o quarto das bananas, os avós e meus pais, apenas existindo como uma recriação de minha mente, em forma de deleitosas lembranças. Sei que foi o melhor tempo de nossas vidas. A querida Lava-pés era realmente um pedacinho do céu. A foto abaixo, focalizando a presença dos músicos da Familia Oliveira Barreto é transcrita da página 50 do livro supra-citado. É de 1905, quando Marilândia ainda tinha o nome de Desterro. É um presente do saudoso e querido advogado Levi Beirigo Malaquias. 
Vê-se da esquerda para a direita, ao fundo, Zequinha Tavares, José de Oliveira Barreto, Pedro Amaro Teixeira, Manoel José de Oliveira Barreto (Neca). E à frente: Zequinha Barreto, Antônio José de Oliveira Barreto (o Tonico Barreto), Elpidio Barreto, Bernardo José de Oliveira Barreto (o Nadinho) e o Francisco de Assis Teixeira, esposo de Idalina Arcângela Barreto, irmã do José, do Manoel, do Antônio e do Bernardo, constantes na mesma foto.