sábado, janeiro 30, 2010

SUPLÍCIO DA SAUDADE ONÍRICA

A humanidade está sobrevivendo despojada do velho e bom amor vitalício. Sem fôlego na secura, o ser humano estiola-se nos bagaços e resíduos da pantomina das arcaicas marionetes, na dança desgraciosa dos postergados e incrédulos autômatos, que não sabem o que é viver, porque não sabem o que é amar. A humanidade se arrasta no marasmo. De corpo e alma sangrando, teimosamente, custe o que custar os olhos do corpo e da alma. E como é que fica a eterna insatisfação dos desejos amorosos? E o que na verdade e na beleza é o amor hoje em dia?

O SUPLEMENTO LITERÁRIO

Notas de Lázaro Barreto. 

 Agora sob a direção de Jaime do Prado Gouveia,o tradicional SL do Minas apresenta a edição especial número 1.321 organizada por Júlio Jeha e Lyslei Nascimento, sobre o tema abrangente de “Crimes, Pecados e Monstruosidades” (sob a ótica literária, é claro). Para ler, refletir e guardar cuidadosamente. Uma preciosidade. Abaixo a apreciação de alguns dos textos. 1 – “Faca no Coração”, o texto de Berta Waldman começa com os dizeres: “Dalton Trevisan é um escritor que não faz concessões: não dá entrevista, não se deixa fotografar, não conversa com leitores nem participa de encontro de escritores”. Ou seja, é livre e solitário, solitário e livre para mentalizar e escrever, sem ligar para as possíveis promoções da mídia que, de um modo geral, não deixa de influenciar a metodologia do autor, muitas vezes degenerando-a. O trabalho conjunto do excelente contista resulta numa obra concisa, válida, amplamente aceitável e legível, apesar da estranheza do tratamento peculiar de sua temática. Estranheza que Berta Waldman esclarece com muita lucidez. Dalton Trevisan, um J. D. Salinger sui generis, ou seja, que prima pelo conjunto da obra, que é bem melhor do que a do autor norte-americano. Mas perde para o mesmo autor por não ter escrito nem publicado nenhum livro tão bom como o romance ”O Apanhador no Campo de Centeio”. 2 – O texto de Delzi Laranjeira, arguto, articulado, criteriosamente inovador em termos de exegese bíblica. Extremamente crível, sim! O (mal)dito evangelista, traído em sua boa intenção de livrar o Mestre da fatal condenação, ele, Judas Iscariotes, é que foi traído na contramão de seus atos na infeliz parceria com Nicodemos. E assim o mais culto e experiente, o mais amável e amado Discípulo, vítima de um erro histórico, ficou sendo o portador do pior anátema do Cristianismo, o de ter vendido a vida de Cristo por trinta moedas. A ortodoxia cristã, imposta neste caso sem um julgamento criterioso, bem que merece uma boa revisão à luz da variedade dos depoimentos históricos e não apenas pelo que foi, quem sabe, injustamente condenado, apesar das divergências embutidas aqui e ali – e agora tão bem esclarecidas por Delzi no texto “JUDAS – da Tradição à Traição Como Literatura”. 3 – O texto de Josalba Fabiana dos Santos, “A Menina Morta, de Cornélio Penna: Um Fantasma Tropical”, ressalta a importância do autor na generalidade panorâmica de nossa literatura, avivando com este romance a reminiscência gótica como um filete ainda inspirador e influenciador da literatura de qualquer época em toda parte. A temática da fantasmagoria é, sem dúvida, eterna e universal – e Cornélio, resolutamente aventurou-se em seus escaninhos, na tentativa de imprimir, através da parábola e da paráfrase, um quadro ao mesmo tempo claro e escuro na contemplação de um tempo brasileiro indeciso entre o arcaísmo e a modernidade. “A Menina Morta” é um dos poucos dos bons romances brasileiros que ainda não li. O texto de Josalba despertou-me o interesse. 4 – Na página 20 do Suplemento, Luiz Nazario conta de forma clara e objetiva o castigo sofrido por Oscar Wilde pela ousadia de assumir a homossexualidade na puritana Inglaterra do século dezenove. Foi mais humilhado e ofendido do que um personagem russo de Dostoievski. Mas não se abalou nem se humilhou. Sofreu de peito aberto e cabeça erguida, ostentando a nódoa como se fosse um brilho do amor que então não ousava dizer seu nome. Belo trabalho de dissertação de Luiz Nazario, que ainda teve o mérito de citar um trecho expressivo do famoso “De Profundis” do poeta: “A sociedade que construímos não tem lugar para mim, nem tem lugar para oferecer-me; mas a Natureza, cujas chuvas benfazejas caem tanto sobre o justo quanto sobre o injusto, terá para mim rochedos cujas cavidades vão abrigar-me e valos secretos e silenciosos onde poderei chorar em paz. Ela enxameará a noite de estrelas para que eu possa caminhar pelas trevas sem tropeçar, e o vento virá apagar minhas pegadas, a fim de que ninguém possa seguir meu rastro para ferir-me; ela me purificará com suas imensas águas e me santificará com suas ervas amargas”. 5 - A Doutora em Letras Mariângela de Andrade Paraíso comparece interrogativamente com o texto “Um Crime em Belo Horizonte: Rastros e Registros”, analisando publicações e suposições orais a respeito do famoso Crime do Parque, ocorrido em 1946 e fartamente noticiado, especulado (e nunca esclarecido) até meados da década de 50. Lembro-me que, ainda adolescente, acompanhei o desenrolar do caso que andava de boca em boca na região central da cidade, onde eu morava, trabalhava e estudava. Muito falatório e pouco (nenhum?) resultado. A autora fala na importância social do parque, “imbuído de uma função de higienização..., um purificador de ar da cidade”. Lembro-me da enorme afluência popular, principalmente nos fins de semana. Uma bela vivência poética e nostálgica, mormente para as pessoas oriundas da área rural, como era o meu caso. O que mais chama a atenção em toda a história é a repetição da tradicional impunidade dos criminosos cometimentos perpetrados por indivíduos beneficiados em virtude das “influências de famílias da alta sociedade local e nacional na condução das investigações e sua divulgação”. Até parece que estamos mencionando os dias atuais.... 6 – Raul Antelo, com muita diligência e fôlego, escreve sobre o monstro Febrônio Índio do Brasil, citando inicialmente Georges Bataille, que o leva à leitura de “um livro singular, “As Revelações do Príncipe do Fogo” (1926), redigido pelo mesmo Febrônio – e à citação da transcrição de um trecho do livro “Elogio da Vida Perigosa”, de Blaise Cendrars, no qual o personagem monstruoso estaria numa penitenciária do Rio de Janeiro, “enjaulado (esperando mandá-lo para o manicômio, onde esse perverso está confinado desde 1927), um monstro sádico cujos crimes e cuja loucura vertiginosa tinham apavorado as populações”. Aí a minha dúvida: esse criminoso teria sido levado de Tiradentes? No livro “A Aventura Brasileira de Blaise Cendrars (edições Quiron/MEC, 1978, de Alexandre Eulálio, página 127) consta uma anotação de Mário de Andrade: “(Havia um) preso em São José del Rei (antigo nome de Tiradentes)... Há dois anos, um mês e um dia Que estou preso...Si comi o coração dum homem...Si bebi o seu sangue quente...Que têm os outros com isso?” Depois de um espaço em branco na página vem o acréscimo: “Se o tema do prisioneiro-lobisomem de Tiradentes não foi desenvolvido por Mário, mereceu o lugar de honra num dos textos decisivos de Blaise Cendrars: “O Elogio do Risco da vida”, que ele dataria de Praia Grande (Santos), 15 de março de 1926.”. Na segunda parte do livro (páginas 246 a 301) intitulada “Acaba de Chegar ao Brasil o Bello Poeta Francez Blaise Cendrars”, assinada pelo cineasta e escritor Augusto Calil consta em forma de legendas de fotos, na página 259, além de citações a respeito do assunto o seguinte: “Tiradentes. A estação da estrada de ferro. Geral do prédio da Cadeia. Janela com grade. (L´Homme et som désir). Primeiro narrador (texto de “Elogie de la vie dengerense): escutem agora a história do lobisomen. Eu o encontrei na pequena prisão de Tiradentes. Fazia dezoito anos que ele estava preso. Tinha trabalhado muito tempo na construção da estrada-de-ferro Sul-Mineira; no dia da inauguração da estrada, assim que o trem oficial entrou na estação, saltou sobre a plataforma antes da parada do comboio. Seu rival estava na multidão. Precipita-se sobre ele, o longo punhal pernambucano na mão. Corta-lhe a carótida. Abre-lhe o peito. Arranca-lhe o coração. E antes que a fanfarra tenha terminado o compasso da batida forte do bumbo ele morde o coração palpitante e o engole.. Quando o interrogo sobre os motivos do seu ato, já imaginando alguma fabulosa teoria de atavismo, em que a luxúria, a aventura, o ouro se confundem com insolações, saques e estupros, o homem me disse: não é nada disso. Não se esqueça que sou branco, de origem holandesa. Protestante puro. Não deixe de dizer aos seus amigos poetas que a vida hoje é perigosa: quem age deve ir até as últimas conseqüências do seu ato sem se lamentar”. Muitas outras referências sobre o assunto constam no livro que tem de tudo: ensaio, cenas de filme, cronologia, depoimentos dos participantes da viagem que escritores e artistas paulistas ciceroniaram o poeta francês numa excursão histórica às cidades históricas de Minas. O texto de Raul Antelo é extenso e consistente. Associa à figura medonha do Febrônio às dos doentiamente carismáticos Antonio Conselheiro, na visão de Euclides da Cunha, e Macunaíma, na criação de Mário de Andrade.

terça-feira, janeiro 26, 2010

ARTE E RECREAÇÃO

I - ARTE Há mais de 40 anos que vivo em Divinópolis e só agora, neste janeiro, é que revejo o grande público aficcionado da arte e da cultura participar (e vibrar) diante de espetáculos transcendentes – o que o primeiro Festival de Música de Divinópolis, mentalizado e organizado por Walter Caetano, Mayra Belém e Equipe, conseguiu evocar e até, quem sabe, superar as memoráveis Semanas de Arte da década de 70, mentalizadas e organizadas pelas equipes dos redatores do jornal literário AGORA e dos líderes da antiga UED (União Estudantil Divinopolitana). A comparação pode até ser um tanto precária, levanto em conta que hoje a cidade dispõe de condições instrumentais (palcos, mídia, informática, tecnologia) inexistentes naquela época. O que agora vimos e aplaudimos: óperas, concerto de violões, de piano e de violino e de viola, cantatas, música de câmara, corais e recitais de canto lírico, foi a mais lídima expressão de obras consagradas em todo o mundo como resultados de sublimes experiências do ser humano. Isto mesmo. Sentimo-nos como se estivéssemos diante dos palcos de Belo Horizonte e de São Paulo, locais brasileiros privilegiados em tais gêneros de espetáculos especializados. E toda a bela performance deve ser creditada a Walter Caetano, um produtor cultural de mão cheia, como se diz. Que atentou esteticamente para os detalhes e para os aspectos genéricos de cada espetáculo. E que soube utilizar a verba do poder público através da Lei Rouanet (de Incentivo Cultural) , repassando ao público o fruto do dispêndio, amplamente, considerando que é o esforço do trabalho humano que leva à felicidade mais autêntica de nossa vida. O lazer sublimado pelo enriquecimento pessoal (íntimo) de cada individualidade da gama social. Walter é compositor, cantor, professor de música e, sobretudo um hábil produtor cultural, ramo de atividade pouco exercido em nossa cidade. Lúcido e esperto, munido de bom jogo de cintura e, afeito aos artifícios dos bons relacionamentos e da espontânea comunicabilidade, conseguiu (o que para os neófitos seria um passe de mágica) transpor as dificuldades e congregar, no mesmo afã, levar ao público o que há de melhor, convencendo e cooptando empresários e artistas de maneira plausível e brilhante - para o bem geral da nação divinopolitana. Que sua estrela continue a brilhar, inspirando o nascimento de outras estrelas, aqui e alhures. 

II – RECREAÇÃO. a) Conheço um lugar onde a Natureza é respeitada, amada e enaltecida. É o PIMONTE Parque Hotel, no município de São Francisco de Paula, Oeste de Minas. Nele a chuva tempestuosa tem seu vazamento controlado de tal maneira que não deixa rastro nem estrago. E a seca inclemente é neutralizada pelo aguamento dos reservatórios. E a paisagem é linda, saudável, maravilhosa. O verde colorido de flores e de outros encantos abarca toda a nossa visão, despetalando não só as flores de muitos matizes, como a passarada cantante e os bons fluidos disseminados. b) Quando nossos filhos estavam na infância, fizemos (eu e a esposa) o possível para dar um sentido feliz na vida deles. Tínhamos nossos vínculos empregatícios, mas conseguíamos bipartir o gozo das férias em janeiro e julho, coincidindo com as férias escolares deles. Assim podíamos alternar a recreação, indo às regiões minerais (Cambuquira, Lambari, Caxambu, São Lourenço, Poços de Caldas, Pocinhos de Água Verde) e Araxá.; às regiões históricas de São João Del Rei, Tiradentes, Prados, Congonhas de Campos, Ouro Preto, Mariana, Caraça, Santa Bárbara, Itapecerica, Pitangui – e também às áreas litorâneas das belas praias de Guarapari, Búzios, Cabo Frio, Porto Seguro, Angra dos Reis e Parati. Creio que assim os filhos conseguiram uma iniciação (e nós, adultos, uma inspiração) aos belos e verdadeiros valores da ecologia, da estética e da história, além do culto da saúde e da beleza. Não foi em vão, creio.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

A MARGEM DA LEITURA DE MARCEL PROUST

Ao contrário de muitos bons romancistas, Proust trabalha a linguagem com a atenciosa paciência de um cientista que estuda os microorganismos, vendo neles o princípio que leva aos meios da finalidade existencial. Sabe transformar o pequeno em grande. Um simples gesto, um mover de lábios, um rápido olhar deixa-o empenhado em transformar as palavras escritas o que, de outra forma, as palavras faladas não conseguiriam revelar. É assim que o que é aparentemente pequeno fica imensamente grande na torrencialidade de sua escrituração, por meio da qual ele acaba revelando tanta preciosidade da VIDA que, de outra forma (sucinta e sintética), seria impossível. Esmiuçando o conteúdo de um pensamento ou de um sentimento, ele vai em todas as dimensões do fato ou da idéia, com o palavreado da palavra escrita e cria e estampa o quadro das minudências agora transformado em mural das grandiloquências. As frases longas em períodos ainda mais longos, em parágrafos de páginas inteiras não cansam o leitor, que sente a todo momento o palpitar de uma vida latente, sub-repticiamente aflorada. A Solidão do Artista. O personagem com o nome do pintor Elstir “na falta de uma companhia suportável, vivia no isolamento, com uma selvageria que a gente da sociedade chamava de atitude e má educação, os poderes públicos ausência de espírito corporativo, seus vizinhos loucura, sua família egoísmo e orgulho”. E adiante o autor acrescenta: “Talvez então vivesse sozinho, não por indiferença, mas por amor aos outros”. Um dia ao ver de repente um belo vulto feminino, ele (o pintor) sente as “flechas da beleza” e se pergunta se no mundo existe “algo mais na parte de complemento do que a nossa imaginação” possa acrescentar, além da imagem dessa “mulher que passa fragmentária e fugitiva”. Ele mesmo um Artista de mão cheia, como se diz, mentaliza sobre “o encanto independente do vestuário da mulher” que rivaliza com as maravilhas da natureza, “tão frescamente pintado como o pêlo de uma gata, as pétalas de um cravo, as penas de uma pomba”. Na página 380 do romance “A’ Sombra das Raparigas em Flor”, ele volta a falar dos olhos de uma das moças visadas: “embora quietos, davam uma impressão de mobilidade, como acontece nesses dias de muito vento, em que não se vê o ar, mas nota-se a rapidez com que atravessa o fundo azul”.... “Quando nossos olhos cruzaram, como esses céus viajores dos dias de tormenta, que se aproximam de uma nuvem menos rápida, tangenciam-na, tocam-na, passa adiante. Mas não se conhecem e afastam-se um do outro”. Na página 423 ele fala sobre a amizade e o amor: “Podemos ficar falando a vida inteira sem fazer outra coisa senão repetir indefinidamente a vacuidade de um minuto, ao passo que o andar do pensamento no trabalho solitário da criação artística se efetua no sentido da profundidade, única direção que não está vedada e em que podemos progredir, embora com mais trabalho, para alcançar uma verdade”. As Palavras São Personagens? Os inumeráveis viveiros das paisagens, seres e objetos de toda espécie, das inconstantes figurações das nuvens às infindáveis aparições de imagens animais, minerais e vegetais são, aos olhos do leitor atencioso de Proust, os principais personagens de sua extensa e profunda reconstituição da juventude na excelsa coleção romanesca de sua obra literária. Muito mais do que os barões e baronesas, príncipes e princesas, senhores e senhoras do grande mundo social da aristocracia francesa do século dezenove, as nesgas de uma visão passageira, o descortinar de um recorte paisagístico marítimo ou terrestre (um conjunto de áreas virgens ou construídas), importam mais, ocupam mais espaço e significam mais. Ao leitor atencioso fica mais na memória da leitura o que ele via e pensava, escrevendo, do que os personagens diziam ou faziam lá no recôndito da vida deles - e não no primeiro plano das imprescindíveis impressões. Em qualquer página vemos mais os olhos do que as mãos do personagem – vale dizer: mais o espírito (a alma) do que o corpo (a matéria). Estou quase a dizer que, em suma, na obra dele a própria matéria fica (e muito bem) espiritualizada. E vice-versa: por que não? É assim, pois, em Proust, que mesmo no torrencial dueto da narrativa com a descrição, o clima dramático jamais recai na comédia e jamais avança na tragédia. O lirismo permeia e envolve a dramaticidade, salvando-a, ou seja, embelezando-a. Em suma, como está na página 58: “A Amizade acaba no Ano Velho, enquanto o Amor começa no Ano Novo” – assim é “o inconsciente fluir dos dias de sempre”. Os Dons e Predicados das Moças em Flor (*). O olhar na doçura da recordação. Convertido em matéria de sonhos. Um perfil intangível de uma das moças, o apertado dos lábios da outra. Algo aprofunda as superfícies singulares? Alcança as vertigens dos anseios? A voz canta ao som de um violino anímico? Os dons e predicados de uma e de outra agregam , delgados e finos, uma espécie de vida particular, otimista. Às vezes prenhes de luz macia e fogo brando, dourados como as folhas do outono, adoçando a coloração rosada, levemente malva, os olhos de uma delas atraiam a profundidade dos sentidos de quem apalpasse a sonoridade do arrulho diáfano da suavidade sensual, provando e aprovando o gosto das partes da inteira pessoa dela, na cumplicidade da volúpia. (*) Poemeto inspirado a LB ao longo da leitura.

terça-feira, janeiro 19, 2010

TRANSIÇÃO OU TRANSFUSÃO OU TRANSLADAÇÃO OU TRANSPIRAÇÃO DE TRECHOS DA COLETÃNEA “EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO” DE MARCEL PROUST (1871-1922)

Compilação e adaptação de Lázaro Barreto

I – NO CAMINHO DE SWANN. No fluxo melódico dos livros de Bergotte encontramos o refúgio para as ocupações solitárias, divagando, devagar e sempre... As prescrições ferozes fazem sentido: quem fez o tempo não o vendeu para nós. É o presente que Deus não dá duas vezes. O sonho é menos cruel do que a realidade. A nossa personalidade social é corroída na virose do ciúme, pois o amor...: o amor é que nos apresenta a angústia, a primeira ruga, o primeiro cabelo branco. Ah, o prosaísmo: o prosaísmo é um reservatório de poesia, este pedaço de céu acima do mundo. É assim, é assim que Deus me devolve uma idéia que se perdera no sentido literal do símbolo.... A sensualidade é, sim, um momento de exceção, é a música do luar na flauta do silêncio, o reino vegetal da atmosfera, as árvores feridas e não vencidas, a pupila apaixonada no rosto gelado, a horticultura aquática, a frase oculta na ociosidade da alma, o desamor que devolve o coração - é assim que Deus nos devolve a idéia sem devolver o coração.  
– A tradução do original é de Fernando Py, Edit. Globo, RJ, s/data. 

II – A SOMBRA DAS RAPARIGAS EM FLOR. O rosto mais rosado que o céu, as folhagens da alma, o lado mais estático do luar, as tranças da amada no inconsciente fluir das distâncias interiores.... O desejo de viver que em nós renasce nesta fase nova, particular, imprevisível, da felicidade e da beleza, substituindo as insinuações da morte fragmentária e sucessiva de nosso cansativo cotidiano... O amor com suas imagens renovadas (a divindade na fluidez de um sopro) e sua antiga violência e imprevista doçura, o inquietante desejo de um novo ponto de partida, o sofrimento inconcluso que a alegria neutraliza momentaneamente, constantemente. Irradia da pessoa amada e volta para o ponto de partida, momentaneamente, constantemente. Ah, o encantamento de um novo rosto inspira, inspira e constrói as catedrais góticas, os palácios e os jardins da Itália! O inopinado afluxo de lembranças, a intermitência do amor nos dias e lugares (nos belos sítios da acidentada paisagem das horas). O que fica na memória é o AMOR, pois que só depois de séculos é que uma obra-prima se torna verdadeiramente nova.... As moças da roça lembram que a beleza das criaturas humanas nunca é igual à dos outros seres: no fundo do distraído olhar, a alma sempre vaga... Com as moças a brisa estremecia a paisagem, enchia de ondulações fugidias os pilares da fachada vegetal... E uma, entre as raparigas em flor, aquela de faces onde o róseo tom acobreado, de gerânio, imprime a flutuação harmoniosa, a translação contida de uma beleza fluida. Como possuir tal jovem, sem possuir também o que há de enigmático em seus olhos? O momento da Arte é o mesmo do Amor? Os raros momentos em que a Natureza se mostra, tal como é, é ali, é ali que está a Obra de Arte. 
– Tradução do original de Mário Quintana, Edit. Globo, SP, 1999. 

III – O CAMINHO DE GUERMANTES. A virtude carnal, a riqueza da alma da pessoa e dos lugares, tudo está no corpo (sem ele a alma evapora). A beleza feminina, a realidade dessemelhante, o leite da volúpia a ferver, o secreto jardim do sono e também o silêncio no reencontro de si mesmo, e também a embriaguez do amor e todos os beijos são os primeiros, assim o animal em nós, é assim que o corpo diz ao espírito: cada mulher são todas as mulheres! Assim fica batizado o conhecimento intuitivo, as variáveis das carnações, o desejo de beijar toda a praia da visada mulher. O que é o prazer aninhado em nossa particularidade? O olhar do sol sobre a floresta em incessante festa? A transcriação literária de um soneto de Shakespeare? A súbita importância da toponímia dos acidentes geográficos?? Uma miragem da profundidade hospitaleira? A generosidade, a fidelidade do amor inconstante? O amor sexual da própria natureza? O leito do homem é o mesmo do de Deus? E as forças do eu e do não-eu, onde ficam? É bom variar de forma ao longo do conteúdo? É assim: nadar de braçadas!? 
– Tradução do texto original de Mário Quintana, Edit. Globo, Porto Alegre, RS, 1981. 

IV - SODOMA E GOMORRA. - Aquele homem que tanto alardeava virilidade, possui os traços, a expressão e o sorriso cujo talhe volumoso é igual ao de uma mulher grávida, - cujo ideal é viril e o temperamento nem tanto.... Possuído de uma disposição inata que repugna aos outros mais do que certos vícios, como o roubo, a crueldade, a má fé, mesmo assim ele conta com adeptos em sua intimidade acariciante. É assim como a mulher que gosta de outra mulher? Quem transpira mais, urina menos. As flores se valem dos insetos para a fecundação, uma vez que a masculina está sempre longe da feminina... O romance do pecado humano tem em seu primeiro capítulo (Adão e Eva) a fruta do desejo bem à frente dos olhos. No segundo capítulo (Sodoma e Gomorra) a fruta do desejo fica bem na parte de trás do corpo. Quando o futuro habita em nós, as nossas palavras delineiam uma realidade bem próxima. A recepção social da nobreza é muito enfadonha.: não há cristão que agüenta... Albertine estava perto de mim como um torrão de terra trazendo as gramíneas que o cercam. Ah, o nosso valor quase fictício das riquezas indisponíveis da alma! A morte do ente querido é uma espécie de doença, da qual a gente custa a restabelecer... Quando os seios de Albertine e de Andrée se tocam, elas enxergam o sétimo céu do gozo... O ciúme, porém atraca, ele que pertence à família das dúvidas doentias. Mas se alguém procura a dor, não vai saber livrar-se dela. O líquido salgado de nosso sangue nada mais é do que a sobrevivência interior do elemento marinho primitivo? “Acho irritantes esses meios clericais: uma seita de mel para uns, de desprezo para os outros. Detesto as panelinhas sociais, jamais diferenciei os operários dos grão-senhores, uns e outros podem ser meus amigos”: assim ele dizia a si mesmo. “Aconteceu em Paris, que deixei de amar Albertine, depois de a ter possuído pela primeira vez... Ah, o olhar furtivo e ao mesmo tempo inquisitorial e timorato do sr. de Charlus.... Fui sucedido por meus amores dessas mulheres dotadas de beleza, inteligência, bondade, vale dizer: uma corrente elétrica a mover-me, diuturnamente...”. Ele continua a monologar, diuturnamente. 
– Tradução do original por Mário Quintana – Edit. Globo, SP, 2008. 

V – A PRISIONEIRA. Um cão, um gato e uma pessoa embriagada de lembranças. A paixão jorrava nos cabelos soltos dela e também nos olhares multiplicados em muitos pedaços de mentiras e verdades. A ansiedade vai além da beleza encontrar as mil e uma variedades de sonhos. As lembranças, sempre as lembranças, chegando com seus incontidos apetites. Um novo som de violino interior? Um novo amor semeador de redemoinhos? O sofrimento literário, quando a mulher é uma série de eventos em vez de ser apenas uma mulher: o clima que se desprende da roupa; os braços não seguem o olhar, que abraça o puro cântico dos anjos.... Assim as pessoas se entendem sem nada dizerem. Assim é o flerte que leva ao grande amor. Assim aceitamos as águas que engoliram o barco. É preciso reter a imagem fugidia. As moças do povo são deusas também! A amada que não tem um desconhecido encanto, não existe, não existe, não existe. É preciso que tenha e mantenha o ornamento múltiplo e esparso no sorriso... O adultério, o amor, a família: são sinônimos? Como resistir a uma reiterada tentação? Não temer o rompimento é a melhor maneira de evitá-lo? Os sons musicais perto do invisível e do inefável, filiam-se a um outra realidade espiritual? Ah, a impossível interpenetração das almas: mais amamos o que menos possuímos? 
– Tradução de Fernando Py – Edição Clássicos de Bolso – Ediouro, RJ, 1994. 

VI - A FUGITIVA. A mágoa ressentida a tudo destrói, até mesmo a importância dos títulos nobiliárquicos, até mesmo a carnação em flor de um jovem e de uma jovem. O ciúme é incurável. Possui a força da dor, mostrando que a morte não põe nada em seu lugar. A doce imagem da amada cristaliza na memória, acrescida de todas as sensações do afeto incontido. O pássaro que recanta o nome das origens dos rios e dos acontecimentos voa sempre no ar que respiramos. A culpa fica sempre nos olhos dos outros. Passei a ser um plágio de mim mesmo? No lado moral do mundo e na zona boêmia do coração, a felicidade no alçapão, como o horizonte, está sempre adiante. Só é bom o que é difícil. A morte não põe nada em seu lugar, além da lágrima e da angústia. O mundo não foi criado de uma só vez. O necrológio da amada está no ciúme retrospectivo. Ah, deixar de ver, de tanto ver! O ruído que escapa de uma harpa: formosura, curiosidade, encanto. O esforço para separar, une mais. A claridade da pele nos olhares brilha mais. Os laços cotidianos rompidos. Rompidos? A universalidade do desejo é o pássaro a recantar o estribilho, a dizer que agora quem amamos está no passado. 
– Tradução de Fernando Py – Edit. Ediouro, RJ, 1995. 

VII - O TEMPO RECUPERADO. A fina flor da humanidade não é a paisagem nem o tempo, é a própria pessoa que trabalha tão acuradamente, tão elegantemente, minuciosamente, encantadoramente, vale afirmar: é o próprio Marcel Proust, na busca de um tempo que encontrou, ensinando-nos que a procura pode ser o próprio encontro. Os mestres de outrora sabiam conservar várias juventudes. Às vezes surpreendem a intimidade na poesia da mundanidade, mesmo ali ou na distância de uma campina tecida de pétalas de pereiras em flor, de uma praia de raparigas em flor, estão as conquistas fáceis que precedem as definitivas perdas. Amar é, então, um dos tipos da sorte aziaga? A lógica da paixão tem suas debilidades, torna a pessoa mais crédula e menos consciente, mais airosa nos parques e jardins, onde as pessoas celebram a felicidade de um defunto e não apertam as mãos de um canalha... Ah! A Criação está se finando ou recomeçando? O olhar nublado dos nevoeiros da frieza atesta que a vitória pode estar com os vencidos, os vencidos que sempre estiveram sob as sombras da morte, nas mãos dos sempre reeleitos corruptos... Os verdadeiros paraísos são os que já perdemos (o que existia antes de nós não nos pertencia). Só a frase diferente pode definir o desejo incubado, visível apenas espiritualmente. As belas idéias são árias musicais que marcam a hora que não é apenas uma hora. Ninguém escapa da hereditariedade. O livro da sabedoria essencial já existe, filho que é da obscuridade e do silêncio, ignorado que é das pessoas cruéis, que abominam a arte de viver e de manejar os pincéis ébrios do amor. O livro é um vasto cemitério, uma incrível plantação que vemos e conhecemos, que cobrimos e desnudamos: a felicidade e o desgosto, a velhice, a mente estampada no rosto, a idéia da morte como a de um outro amor. No afã de compor sua obra literária, Proust via Albertine, a enigmática e profunda Albertine... Ele a via dormindo nos braços da Criação assim, assim mesmo perpetuamente recomeçada. – Tradução de Fernando Py - Edit.Ediouro, RJ, 1995.

sábado, janeiro 16, 2010

HAITI

Ái de ti, Humanidade... A natureza castiga o ser humano, que vive, desde sempre, castigando-a... É a onipotência (divina? diabólica?) vingativa, que se vale dos raios e trovões, das inundações, dos deslizamentos nas encostas desmatadas. É assim, através do revezamento da secura e da enchente, que se configura a catástrofe, movida pela sanha financeira dos tesoureiros munidos de foice e machado, serra elétrica e caminhões... Haiti! Ái de ti, terra morta de indefesos esfolados, de vítimas de uma sádica onipotência manejando terremotos medonhos e esfaimados, munidos de pescoções e facadas e tiroteios e o diabo a quatro, amontoando cadáveres no cemitério a céu aberto... É assim e assado que age a prepotência imposta cruamente aos flagelados da incúria humana de nossa temporada de massacres. Ái de ti, Posteridade...

quinta-feira, janeiro 14, 2010

MISTÉRIO MAIS RASTEIRO

Morosa na infância, amorosa na elegância. Silenciosa seguia a lesma na superfície rugosa do passeio, ladeado de mato rasteiro... Fiquei bobo de ver! A lesma, o molusco da família dos vaginúlidas (uma fada em sua moradia andante, diria Proust): a beleza minúscula, inimaginável, que dá vontade de pegar e levar pra casa... A graça esperta na lerdeza, a conduzir a valva de nácar ou de esmalte (que ela mesmo criou!), crivada de pintas e desenhos delineados no mais fino equilíbrio de vida requintada, garrida, abrigada “no torreão ameiado de seu búzio”, como diria Proust, de uma de suas raparigas em flor, nas imorredouras praias de Balbec. De onde vem, Para onde vai, pergunto à vida insólita, que ela carrega nas costas, (a)morosamente no passeio da rua de meu bairro.

domingo, janeiro 10, 2010

DOIS PATINHOS NA LAGOA II - Conto

Procure fazer o bem através do corpo, como ensina a Carta aos Coríntios – assim pensava o cego Nadico, sentado no banco do alpendre contíguo à Venda do Toniquinho, na tarde domingueira do Arraial. Mas o que o corpo pode fazer além de dançar, jogar e trabalhar? Pode ser bonito, ora essa! – Assim ele ia seguindo nos caminhos do pensamento, ele que tinha sido roçador de pasto e sacristão da Matriz. Eta mundo velho sem porteiras! – Ele suspira. Deve estar passando alguma moça bonita lá fora, dá para sentir o perfume dela e ouvir os passos cadenciados e perceber a renovação ambiente de nova sortida de oxigênio. É beleza só, a bondade vem ai. Se a clareza não vier do escuro, de onde virá? Nisso lembra que nem sempre foi assim, que passou de uma infância serelepe a uma mocidade encurtada no casamento – e a cegueira veio depois do murro que levou do tal de Alalaô, conhecido como o Coice de Mula do Arraial. Foi um soco ou uma pedrada bem no meio da testa? Uma facada ou um tiro de garrucha? Caiu desacordado no chão da rua, tão desfalecido que ninguém dava nada por ele, os sentidos já no outro mundo – e quando os recobrou, estava cego e desconjuntado como um traste velho de casa abandonada. Assim ficou com os filhos nas costas, cinco numa escadinha de dois em dois anos, o caçula (o Neguinho) ainda no colo da mãe, a sua Rosalina dos trabalhos dobrados, agora lavadeira de roupas e buscadeira de lenha para os outros moradores das duas ruas do Arraial. Teve que vender o pequeno sítio do Lavapés, mudar para o Beco do Buracão, e espremer a família na exigüidade do casebre de taipa. Depois que a renda do que vendeu exauriu, o jeito foi esmolar na rua, guiar a cada ano por cada um dos filhos, até se fixar nas mãos do mais paciencioso, o Neguinho. Mas o mundo é grande – ele pensa. É grande porque é vivo, e o que é vivo cresce e aparece. O próprio Arraial tem crescido cada vez mais. Olha só como a Venda está cheia – ele se diz, pensativamente. Sei que está cheia por causa da conversação que ouço daqui. E o salão dos fundos da Venda, também rente ao alpendre comprido, está cheio de gente jogando víspora. Ouça só como a Esterlina canta as pedras na capanga: “dois patinhos na lagoa...O peso do João Candinho...Um cagando e outro espiando...Estrada de ferro...Chapéu de Padre...Dois ovos de égua...”. E, além disso, o adro da Igreja do Rosário está repleto de meninos jogando bola de borracha, e de marmanjos desocupados açulando a meninada, os de um time contra os do outro time, como se fossem dois bandos de guerreiros. Ouça um pedaço da zoeira deles: “Mete a bicanca na redonda, Didi! Não sabe cabecear, Remundinho? Só tem cabeça para pôr o gorro de meia? Esse Zezinho aí nem sabe onde passou a bola! Cinco minutos de tourada, Bordoega! O cotovelo na cara, Fiínho! O joelho na barriga, Mané Padiola! O pé na bunda, Zazá! Do peito para baixo tudo é de chutar, Zé do Bento!” Ah, ele torce o nariz, a pensar mais do que a ouvir. Quando o homem se afasta de Deus, é aí nesse momento que Deus chega mais perto dele. O dragão vai mesmo engolir a lua no sertão do Abaeté? Lombinho assado ninguém vem oferecer na porta da gente. O rosto da multidão, lá dentro ou lá fora, é sempre múltiplo. Nem consigo lembrar-me direito das feições do meu Neguinho: passo as mãos no rosto dele, no corpinho magrelo, vejo que é um menino normal, graças a Deus, bem feitinho em tudo, mas... Às vezes implico com esse apelido dele, de Neguinho. Por que será que o ganhou? Será depreciativo na opinião pública ou simplesmente carinhoso? A cor dele estará mais para preta do que para branca? Saiu me puxando, que sou um pouco moreno no rosto e nos braços, já que a mãe dele é branquela como leite dentro de um balde. Ah, deixa pra lá! As neuroses, uma vez contraídas, jamais serão varridas. Sendo cego não posso carregar orgulhos nem preconceitos, não posso sequer pregar os olhos no chão, e se me zango com isso ou com aquilo, arrependo-me logo. Ninguém gosta dos pobres, nem mesmo Deus – e por que Ele fez tantos neste Arraial? Mas ter que pedi esmola é o fim da picada, pois só a cabeça erguida acerta nos atalhos. Ah prefiro ouvir a Maria Chiquinha cantando as pedras do víspora na sala grande do que ficar pensando asneiras: “Pingo no pé, seis é...Bate-estica-puxa-e-rasga... A pedra noventa é a vovozinha...”. E de lá do adro vem a gritaria na rinha de galos que agora virou a pelada do jogo de bola: “Ô Escangelado, leva o pé na bigorna do Nervito! Ô Juizinho ordinário, engoliu o apito?!” Seu silêncio visual rastreia imagens e ações na tarde interminável, seguindo ora de perto, ora de longe, as reverberações pensamentais. A palavra tem a vida da planta, ninguém sabe onde vai parar depois que sai das mãos ou da boca. Ele agora apura os ouvidos para captar os sons vindos do adro da igreja (alguém mencionou o nome de seu filho no xingatório?), ali mesmo em frente, onde os amadores do futebol presenciam a pelada dos meninos da rua de baixo contra os da rua de cima. Ouve, ao mesmo tempo, os outros sons vindos do salão de dentro da casa do Toniquinho, onde as moças e rapazes jogam víspora, cantando as pedras através de símbolos e metáforas comuns a todos: “Bengala de cego – Catarro, farinha e leite – Violão sem braço – Esturricou mas não rachou...”. Ainda por cima ouve as vozes vindas da Venda, uma algaravia às vezes desconexa, da qual apura alguma intelecção inobscurecível das pessoas que batem o papo enquanto saboreiam a caninha do alambique do Liandro e os pitos de fumo de rôlo das outras Vendas do Arraial. Ah, ele pensa: o dom gratuito das efusões populares, o condão que alicia e propaga as reflexões, as seduções orais nos fios da trama, a boca fica sendo o centro da vida: a fala, a pinga e o desejo: é um entra-e-sai que não acaba mais. Mas não há de ser nada, ó maledicência dos importunados! O Neguinho, seu filho está entre os jogadores, enxerta o time dos meninos da rua de cima, que não tinha quem jogasse no gol, a posição mais ingrata do futebol. Encostado à parede, no banco ao fundo do alpendre, cigarrando e cuspindo no canteiro de flores, ele visualiza o quadro vívido e tridimensional do adro, da venda, da sala, a saber: 1) os apelos e apelidos gritados pelos torcedores entusiasmados; 2) o fraseado contextual dos fumadores e bebedores na Venda; 3) a cantação enfática das pedras do víspora, sacolejadas na capanga. Mais ou menos assim: 1) “Mete a mutamba, Mulatinho! Amarra um barbante na bola, pé torto! Perdeu o rumo do gol, Vandinho! Isso, Valdir, finta pra lá e pra cá, quebra a espinha dele!” 2) “Dois patinhos na lagoa... A idade de Cristo ... Sosinho e sem carinho ...Sá Chica e Sá Chiquinha...”. 3) “Quando cheguei diante da porta da casa e chamei “ô de casa!” – Ele já veio com o destampatório, pensando que ia me assustar. Está aí o Pedroca que não me deixa mentir. Desaforo pra casa eu não levo mesmo!” O Bileu da Norica do João Candinho está ganhando uma vez atrás da outra. A todo instante ele diz: “fiz um duque”. E depois: “um terno”. E em seguida: “amarrei!” E depois que todos perguntam: “Já?” Ele diz: “Canta a boa, Deverina, que hoje estou com a corda toda”. É o tal negócio – o Nadico monologa, mais uma vez: “bem dito o ditado que diz que quem é feliz no jogo é infeliz no amor. Todos sabem que no sábado passado, ele perdeu a Leda do Juquita para o Juca do Sebastião Neném, que voltou da guerra com o peito coberto de medalhas.... É assim mesmo: no intervalo que a vara sobe e desce, as costas do pelado folgam. Até eu já fui sortudo, quando era criança (quem diria, naquele tempo, que eu um dia ficaria cego e viraria um pedinte?). Lembro como se fosse hoje: estava na porta do Sô Ziquinha, com meu pai e minha mãe (num domingo depois da missa), quando o Mouzar chegou correndo, a dizer ao meu pai e à minha mãe: “O Nadico tirou o binóculo do Joaquim Tavares!” Eu? Eu tirei o binóculo do dono da padaria? Aquele que ele trouxe de Belo Horizonte na Feira das Exposições? Eu não, pai! Eu não, mãe! Mas o que tinha acontecido era a pura verdade: mamãe tinha comprado o bilhete da rifa em meu nome, sabendo de minha sorte, e ficou bem caladinha até o dia do sorteio. O binóculo era verde e pesado, cheio de caracteres e nomes estrangeiros, era dos bons, dos melhores – e com ele a gente podia ver lá no fim da rua a turma de conversadores na porta da Venda do Totonho: dava pra ver até os olhos e os dentes das pessoas e saber se uma delas estava rindo, xingando ou apenas falando. Se a gente subisse na torre da Igreja Matriz, dava pra ver as quatro lajes que demarcavam a extensão do patrimônio paroquial: a do Quinzinho da Barra, a do Barreto do Bom Sucesso, a do Lavapés e a da Lavrinha. E podia ver de tão longe a brancura no mato das igrejas da Estiva ao sul, da Bocaina ao norte, do São Bento e da Bemposta nas outras extremidades. Mas o Nadico depois que cresceu e casou, perdeu a sorte que tinha, ficou cego de tudo e hoje não passa de um mendigo (muito estimado e respeitado no Arraial, mas mesmo assim, um mendigo). E lembrava do que ganhava no víspora daquele tempo e também na porrinha, no jogo dos pauzinhos de fósforo, nas rifas, nas apostas dos jogos de malha e de bola de capota. E a sorte nas pescarias? Pegava os maiores peixes, encontrava as melhores frutas no mato. De tudo que ganhou, gostou mais foi do livro chamado “Manuscrito”, com a estória “A Última Corrida de Touros em Salvaterra”, uma beleza, uma chave abrideira do mundo, uma vara de condão que o levava, como que por encanto, além dos mares e oceanos para o clima dos vinhedos e das mulheres de seda e pérolas, lá das Europas. Aos poucos, ele agora cabeceia sob o efeito do fumo forte do pito de palha e do gole de pinga que o Didico trouxe da Venda. As vozes vinham assim mais baixas e de vez em quando ele recobrava o ânimo e novamente se inteirava do que acontecia naquele palco tridimensional. Na sala ao lado, a cantação das pedras: “cabeça para baixo, pé para cima”; “barba, cabelo e bigode”; “o que o tonto não faz com as pernas”; “dois machados no pau”... E lá da rua, os gritos da torcida futebolística: “limpa a área, Tiriziu!” “Ô fôrma de fazer capeta!” “Ô bicho de matar com pedra!” “Pede pra sair, Juquinha!” E no cômodo da Venda contam agora a desdita do Dico Ventania, escornado na sacaria de arroz e feijão, do lado de fora do balcão: “Esse aí está num fogo de fazer dó. E vai beber até abotoar o paletó de uma vez por todas”. Põe a mão na testa dele e vê. Tem cinco dias que sua vida é só beber e soltar foguetes. Nunca vi um fogaréu assim na minha vida”. Ele baquiou desde que a mãe morreu. Chorou duas semanas, depois vendeu a chacrinha da Tenda, pagou o que devia e o resto do dinheiro foi todo para comprar foguete e cachaça. Quem já viu uma desgraça maior que esta neste mundo? Se está sem comer há muitos dias, só bebendo, e agora a queimar de febre, ah! É sinal que a coisa não anda boa pro lado dele. Vai acontecer o que aconteceu comigo: ou morre sem ver ou passa a viver na caridade pública (e assim pensando faz o sinal da cruz, erguendo o rosto na direção da Igreja do Rosário). Hoje, quando lembro de certa quadra de minha vida é que vejo como era bobo naquele tempo da cabeça desmiolada. A boa lágrima é a que chega quente da escuridão (ele boceja novamente, depois de abrir os olhos cegos). A lágrima abre ângulos de água no círculo de ferro, aproxima os devotos de novas encarnações... Ás vezes chego perto do sol frio e aliso as arestas de luz... Peço agora as boas graças da Virgem Maria, Mãe de Deus, a favor do pobre Dico Ventania... No adro da igreja as vozes gritam: “asso no dedo se fizer gol, Mulatinho! Ô filhote de cruz credo, ô colchão amarrado, ô cara de broa mal amassada! E olhaí o Neguinho Frangueiro: está cego que nem o pai?!” “Isso não!” O Nadico exclama no alpendre, levantando-se do banco. “Estão xingando meu filho. Se eu não o defender, quem vai defendê-lo?” Apóia-se na manguara, ensaia alguns passos... Mas o que adianta de sua parte estrilar? Senta de novo, a coçar, a pigarrear, a cuspir. Um cachorro late no quintal de uma das casas próximas e outro responde na rua de cima. O Didico bem que podia trazer mais um gole de pinga... Ainda bem não tinha acabado de desejar e lá vinha o rapaz com os dois dedos de pinga no fundo do copo. “Esta foi o Orades que mandou. Ele vai para São Paulo, trabalhar na Usina Junqueira – e está pagando a rodada”. Lá fora de sua pessoa e de seus olhos os três palcos continuam cheios de vida na tarde domingueira do Arraial: “Ô pau de fumo, tição apagado! Vai ser ruim de bola assim não sei aonde, Tué! Destronca o braço ou a perna do Gabiroba, Terinho! Mete o sarrafo no Pustema, Miguelinho!” No víspora chegou a vez da Licinha cantar as pedras, com sua voz de alto sussurro, se assim posso dizer: “Dois patinhos na lagoa...Um que pinta o sete...O dedo e o anel...Orelha de mico...”. “Deu aqui!” A exclamação era novamente do Bileu, beque famoso em toda a redondeza (que morreu solteiro, ainda novo). E lá da Venda as vozes agora mudavam de tom: - Gente do céu!... Olha o que aconteceu com o Dico!... - O quê, Zéprequeté? - Acaba de exalar o último suspiro, ali deitado no saco de feijão. - Está dizendo que... - Que ele bateu as botas, está mortinho da silva. - Nossa Virgem! Está mesmo. Vai, Xandico, chamar o Padre Benjamim! - Nossa Senhora! Está morto mesmo. Já endureceu as juntas, está com os beiços roxos... Como não vimos na hora? - Aqui, na nossa presença...acontecer o desenlace... - Ela veio de repente que nem uma bala silenciosa. Coitadinho dele, era tão boa pessoa.... Morreu que nem um passarinho... - Vamos então soltar os foguetes que estão na capanga dele... - Cala essa boca, bobão! - Foi o último desejo dele... Você não sabe? - Foi mesmo. Ouvi ele falar desde antes de ontem. - Ele reservou três dúzias na capanga para serem rebentados na hora que morresse e mais três para a hora do enterro. Em menos de um minuto os fogos explodiam no ar entristecido da tarde arraialense – e muitas pessoas, ao longo das ruas pensaram que no futebol dos meninos o time da rua de cima tinha ganhado a partida do time dos da rua de baixo. Mas o jogo acabou antes da hora marcada, na falta de graça da morte do Dico, que ainda ontem tinha pagado uma lata cheia de balas para a meninada – e fez galinha gorda das balas ali mesmo no campinho do adro, na maior alegria, enquanto soltava dúzias e dúzias de foguetes de rabo e de tala.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

PINGOS E RESPINGOS

Da CANTATA 2004, de Yeda Prates Bernis: “Cai da folha a gota d’água. Lá longe o oceano aguarda”. - O Poder das Palavras Segundo Ademir Soares: Muitas vezes o homem, apesar de fazer constantemente o uso da palavra, não sabe falar e faz da palavra um instrumento de agressão e de persuasão, deixando de presenciar e vivenciar a verdade para ludibriar e iludir. Sabemos que o recurso da palavra não resume a totalidade da comunicação humana e que os sinais, as imagens e os símbolos completam a gama, a abrangência de uma comunicação ainda assim incompleta em seu objetivo de conciliar as relações humanas no tempo e no espaço. -O estudioso da química é um ser invejável. Enfrenta muita dificuldade visando lubrificar e enriquecer sua inteligência. Não é o meu caso, que tenho uma mentalidade mais rastreadora das superfícies. É gratificante, no entanto, perscrutar algo de insólito de vez em quando. Saber, por exemplo, que o gene é a combinação das letras químicas do genoma, que formam as palavras informadoras dos traços físicos e psicológicos das pessoas (cada pessoa possui cerca de 25.000 genes). Sabemos que toda pessoa nasce com um destino genético que se modifica com o tempo, sem desaparecer. O meio-ambiente da vivência influi na modificação da herança genética: um filho de pai alcoólatra pode livrar-se da herança genética se for educado em outro ambiente – isso em alguns e não em todos os casos, acredito. - Por que certos nomes (com os respectivos sobrenomes) são tão repetitivos em pessoas de improvável consangüinidade? Meu filho, Paulo Barreto, descobriu nos mapas do Google nove ruas espalhadas no Brasil com o mesmo nome dele – suscitando, nele, a pilhéria: “não sabia que eu era tão importante assim”. Eis a relação das ruas assim nomeadas, com os nomes das cidades e dos respectivos CPFs: 1 – Em São Gonçalo – Rio de Janeiro – 24720-010. 2 – Em Aracaju, Sergipe – 49085-300. 3 – Em Morada Nova, Ceará – 62940-000. 4 – Em Pirituba – São Paulo – 02937-100. 5 – Em Iataquaquecetuba – São Paulo – 008559-000. 6 – Em Londrina – Paraná – 86015-710. 7 – Em Teresópolis – Rio de Janeiro – 25958-353. 8 – Em São Bernardo do Campo – São Paulo – 09810-370. 9 – Em Nova Iguaçu – Rio de Janeiro – 26041-200. - Estou decepcionado e de certa forma desolado com a imposição televisiva de uma série romanesca sobre o famoso casal Dalva de Oliveira e Erivelto Martins (cujas canções curti tanto na época e trago ainda hoje na memória, de cor e salteado). A narração televisiva é caótica, apressada, apenas espetacular e nada verídica. A impressão que se tem é que o casal era imprestável: ela, uma bobona e ele um canalha – o que não confere com a realidade. Para contradizer basta atentar para a segurança emocional, o timbre ressoante, a sensibilidade transpirante da voz dela, e a prontidão inspiradora, o aprofundamento melódico-poético das composições dele. Basta isso para o expectador sentir que a história está mal contada. E a vida interior de ambos, mola propulsora do engenho e da arte das canções de ambos – isso não conta? Na minha opinião é a ponta da meada, como se diz. - CÉLIA LAMOUNIER DE ARAUJO, itapecericana de corpo e alma, poeta, jornalista, pesquisadora de história e de genealogia, advogada, blogueira: uma pessoa invulgar, amistosa, otimista. Nasceu e vive em Itapecerica. Estudou em Belo Horizonte, onde foi aluna do renomado historiador Waldemar de Almeida Barbosa. Cursou e se formou em jornalismo e em direito. É fundadora, editora e redatora de jornais em Itapecerica. Membro efetivo das Academias Municipalistas de Letras de Belo Horizonte, Ipatinga e Itapecerica. Participa de várias antologias poéticas e já publicou muitas livros de poesia e de pesquisas, além de manter os LINK de acesso: http://www.scribd.com/celia.lamounier. http://www.scribd.com/doc.211332022/ITAPECERICA. http://www.celialamounier.net/ebooks.htm. www.celialamounier.net/. Suas fotos publicadas no site sobre Itapecerica (que declara amar radicalmente) é de uma beleza ímpar – verdadeiros poemas visuais. Ela acaba de publicar “CADINHO DE SONHOS” – Livro de prosa e verso que vem coroar uma bela trajetória de seu talento e de sua sensibilidade.

sexta-feira, janeiro 01, 2010

PONTOS DE VISTA

1 - O universo é infinito – e não há expansão no infinito. Logo ele nunca esteve e nunca estará em expansão. Sempre quieto em sua infinitude. E a tese religiosa do criacionismo? A Bíblia é um livro inspirado por uma religiosidade de muitas faces, passível de um sem número de interpretações. O evolucionismo, por outro lado, pode ser discutido, e seu argumento prima cientificamente pela afirmação de algo coerente, munido de uma clareza não encontrável nas brumas da fé de um Deus criador do céu e da terra. Creio firmemente que o Universo foi criado e é mantido por um SER SUPREMO (Deus é a Natureza, dizia Baudelaire) que a fé religiosa não sabe definir e a pesquisa científica procura discernir. 2 – A reportagem de Leonardo Coutinho (Revista VEJA de 23/12/09 na página 81) diz: “Fundado em 1964, o MST foi alinhavado numa década antes na barra das batinas dos bispos da teologia da libertação, uma aberração que tentou enxertar o marxismo na doutrina católica. Seus adeptos fundaram a Comissão Pastoral da Terra e abrigaram sob esse teto os radicais que, depois, formariam o grupo de baderneiros”. 3 – Aquela pessoa (eu?) gabava de ostentar na palma da mão esquerda os riscos da letra N (n de nascimento?) e na mão direita a letra M (m de morte?). Ficava encabulado. Todas as pessoas que conhecia só tinham a letra M em ambas as mãos. Os dois emes queriam dizer que as outras pessoas morriam sem verdadeiramente nascer? Por que com ele seria diferente? Uma leitora de sorte (não era cigana) ficou boquiaberta ao analisar os traços das mãos deles. Espantada, disse-lhe: “Você não existe, ou não deveria existir: é uma pessoa fora de série...”. 4 – Já uma outra pessoa, infelizmente conhecida, é um cara encrencado, um bocó que leva tudo para o caminho dos porcos. E para onde leva o caminho dos pobres e inofensivos e desprotegidos porcos? Ao chiqueiro das lavagens (podriqueiras e restolhos alimentícios) para os capados destinados, depois de nutridos e obesos, aos amolados facões de boa ponta e melhor lâmina,visando nutrir e engordar seus desleais donos. 5 – Abaixo uma intercalação ritmada de aéreas metáforas de som, cor, movimento, coroando o sonho coreográfico da leveza corporal do ser humano, movida pela tessitura espiritual, num mesmo abrir e fechar do leque de uma temperatura sensual: Os lábios são aspas da boca Os seios são aspas do amor As axilas são aspas do pulmão As virilhas são aspas do sexo As nádegas são aspas do ânus Os lábios são aspas da língua Os seios são aspas As virilhas são aspas As nádegas são as aspas da redondidade global? 6 – Carta ao Leitor da Revista VEJA de 16/12/09: Em 2050 “a terra estará com a lotação esgotada. Isso na estimativa dos estudiosos. Na vida real a espaçonave Terra vem emitindo alertas regulares e contundentes de que não tem mais recursos disponíveis para abrigar, alimentar e hidratar nem sequer seus atuais passageiros”. 7 – O GATO, segundo a opinião abalizada de Jorge Luís Borges: “Por obra indecifrável de um decreto divino, te buscamos inutilmente. Mais remoto que o Ganges e o Poente tua é a Solidão, teu é o Segredo”. O fator FOFURA dos gatos, segundo Melanie Glocker, bióloga: “o cérebro humano responde de maneira positiva a essas feições. Estejam elas num bebê, num gato ou num filhote de panda, todos estimulam proteção e cuidados”. 8 – Nascem 213.000 pessoas por dia na Terra. Até 2050 a quantidade de cereais terá de crescer 3 bilhões de toneladas e a oferta de carne, de 270 milhões para 470 milhões de toneladas. Só a engenharia genética pode resolver o problema da comida no planeta. 9 – “Cedo ou tarde vamos descobrir os princípios físicos que governam todos os fenômenos naturais” – disse Stevan Weinberg, Nobel de Física em 1979. O LHC (Large Hadron Collider), o maior e mais caro acelerador de partículas do mundo poderá desvendar os segredos do Big Bang, a explosão que deu origem ao Universo há 13.7 bilhões de anos. Está instalada na fronteira da Suíça com a França.